NOME DE POBRE NO BRASIL
sábado, 29 de dezembro de 2012
Este foi meu artigo mais lido no Blog Deonísio em 2012.
A ORIGEM DO MUNDO E A VULVA: REAÇÕES
Este quadro do francês Gustave Coubert, pintado em 1866 e intitulado A origem do mundo, ainda hoje provoca inusitadas reações. Em vários artigos, vulva, do latim vulva, pele de fruta, é designada vagina do latim vagina, bainha, donde a expressão homem-espada (se bem que não peixe-espada: a língua portuguesa é sutil - o feminino de peixe-boi não é peixe-vaca, é peixe-mulher...). Há mais de 160 sinônimos para vulva. Um deles, xibiu, de provável origem indígena, designando diamante, coisa preciosa, deve reaparecer agora na novela Gabriela, na versão com Juliana Paes no papel-título, que o foi de Sonia Braga. O costume de as brasileiras fazerem depilação total foi parar no Dicionário Oxford para mais um sentido de Brazilian...Poucos escrevem sobre essas questões repletas de complexas sutilezas, mas lembro que pênis, do latim penis, cauda, rabo, penduricalho, opõe-se a falo, do grego phallós, pelo latim phallus, donde falocracia. Recomendo a leitura do Dicionário do Palavrão, de Mário Souto Maior, com prefácio de Gilberto Freyre, um dos 508 livros proibidos no período pós-64. .
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
LÁ SE FOI MAIS UM FIM DO MUNDO
Meu livro A Placenta e o Caixão (Editora Leya) reúne seleção de crônicas que faço semanalmente, há trinta anos, para o jornal Primeira Página. O título lembra duas embalagens: numa viemos, noutra iremos. Deram outro livro, De onde vêm as palavras (Editora Novo Século, 16ª edição), as colunas que faço semanalmente para a revista CARAS. Talvez dê também um livro ou um cedê o programa Sem Papas na língua, que faço com os jornalistas Ricardo Boechat, Mariana Procópio, Jônatas Ferreira e Rodolfo Schneider, na Rádio Bandnews, às quintas-feiras, às 10h.
Essa crônica semanal falada tem o apoio do editor Carlos Augusto Lacerda, com o seguinte bordão: “Sem papas na língua, com Deonísio da Silva, oferecimento Dicionários Caldas Aulete, onde você encontra escritas as palavras faladas aqui.”
O programa já estava consolidado, Carlos Augusto e eu tomávamos um refresco de café num barzinho da Gávea quando inventamos a parceria que, pelo que nos diz a Band, está dando certo, pois a audiência vem crescendo.
Aliás, eu mesmo constato isso, inclusive nos táxis que tomo. Há 30 mil táxis no Rio e muitos deles sintonizam a Bandnews. Nenhum pediu para desligar quando estava no ar Sem papas na língua, me dizem os motoristas. Faço-lhes pequena inconfidência. Adoro ouvir alunos, professores, colegas, mas também taxistas, porteiros, frentistas, garçons, chefs, maitres, donos de restaurantes, de botequins, de biroscas etc. O Brasil real passa por eles!
No penúltimo de 2012, pedi que a trilha sonora fossem os versos d’A Moda do Fim do Mundo, de Rolando Boldrin. Afinal o tema nos rondou o tempo todo, porque, segundo a advertência de muitos, o calendário maia garantia o fim do mundo para este ano.
Ricardo Boechat lembrou ao vivo que um ouvinte dissera que o Brasil não poderia realizar o fim do mundo, por não ter infraestrutura para um evento desse porte. Outro, que vive no Japão, disse que o fim do mundo aconteceria primeiro no Oriente. Então, que os brasileiros ficassem tranquilos: assim que o fim do mundo chegasse lá, ele avisaria como tinha sido. Ainda assim, alguns doidos se refugiaram em cavernas ou procuraram locais bem acima do nível do mar, onde vagas e ondas oceânicas não os alcançassem. Isto é, a verdade é aquilo em que você acredita.
No ano de O fim do mundo que não houve, a frase do ano teve um palavrão que ganhou o mundo. Vada a bordo, cazzo! (Volte a bordo, caralho!), foi a ordem do comandante da Capitania do Porto de Livorno, o italiano Gregório di Falco, a outro italiano, o piloto Francesco Schettino, que abandonou o navio Costa Concordia, assim que ele adernou, no dia 13 de Janeiro de 2012! O socorro vinha sendo feito sem comando algum! Várias pessoas morreram afogadas.
Faz cerca de 1800 anos que o astrônomo grego Cláudio Ptolomeu dividiu a hora em 60 partes, chamando cada uma delas pars minuta prima (primeira parte pequena), que virou minuto, depois dividida em pars minuta secunda (segunda parte pequena), que virou segundo. Para fazer isso, sele se baseou no círculo, que tem 360 graus.
E assim, para que meses, semanas e dias de 2012 passassem, passaram também 8760 horas, com seus respectivos minutos e segundos. Contar daí pra frente já é coisa para a matemática, esse ramos das ciências ocultas, ou ao menos ocultas para mim, como as engenharias. Adeus, ano velho! Você está morrendo! Vai virar defunto. Defunctus quer dizer pronto em Latim. E todo defunto começa uma nova vida, como nos asseguram cristãos, espíritas, budistas, muçulmanos etc. (xx)
*Escritor e professor, Doutor em Letras pela USP, membro da Academia Brasileira de Filologia, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio.
domingo, 23 de dezembro de 2012
O NATAL DO FIM DO MUNDO
Este ano o Natal foi precedido de anúncios do fim do mundo para o dia 21 de dezembro.
O fim do mundo já foi anunciado muitas vezes. Os primeiros cristãos acreditavam que Jesus voltaria no ano 100, ao fim do primeiro século, para julgar os vivos e os mortos.
Originalmente a palavra “século” designava um longo tempo, que poderia ser de cem ou de mil anos. Depois tornou-se sinônimo de centúria, de centenário, modo de contar o tempo, mas também de contar soldados, pois centúria era o conjunto de cem homens do exército romano. Seu comandante era o centurião.
Os soldados romanos encarregados de executar a sentença de morte de Jesus no ano 33 eram comandados por um centurião chamado Longinus, aquele que enfiou uma lança no peito do Crucificado, de onde saíram água e sangue.
Longinus tinha uma doença nos olhos, curou-se com os respingos e passou a ver com perfeição. E chegou a Portugal e depois ao Brasil com o nome de São Longuinho, alteração de São Longino, aquele que ajuda a encontrar objetos perdidos, por ver melhor do que nós.
Jesus é um dileto filho do Judaísmo e nasceu por volta do ano 6 a.C. Um monge chamado Dionísio datou o nascimento dele no ano 753 da fundação de Roma, renomeado ano 1. Atento ao fato de que Maria dera à luz ao Menino Jesus por ocasião do recenseamento ordenado pelo imperador César Augusto e executado na Palestina, Judeia e outras províncias romanas pelo governador Quirino, da Síria, esqueceu-se entretanto de que Herodes, o da matança dos inocentes, morrera quatro anos antes. Então Jesus já era nascido!
O próprio papa Bento XVI procura conciliar o Natal com a História em seu livro recente A infância de Jesus. Ele diz que a Estrela de Belém foi um evento astronômico: a conjunção de Júpiter, Saturno e Marte, aliás três deuses romanos.
Quando o cristianismo tornou-se religião oficial do império, no século IV, sob Constantino, o Grande, narrativas lendárias se consolidaram, entre as quais a dos reis magos, que não eram três, não eram reis e não tinham nomes. Os Evangelhos dizem apenas que eram magos (sacerdotes, astrônomos) vindos do Oriente. Entretanto os ossos de Gaspar, Melquior e Baltazar (representando brancos, amarelos e negros) repousam na Catedral de Colônia, na Alemanha. Na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, há quatro ripas da manjedoura onde Jesus foi posto depois do parto. Essas são algumas das mais famosas relíquias do Natal!
O cristianismo triunfou primeiramente entre os pagãos, no meio rural, e nas bordas das cidades. Paganus, em Latim, é quem vive nos pagos. Para aquelas pessoas simples, pastores, agricultores e pecuaristas, as narrativas tinham que apelar mais aos sentimentos do que à razão.
E graças a isso temos histórias, músicas e imagens belíssimas, que anunciam o Natal como um evento que “dá glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!”
O Papai Noel, as renas, a cor vermelha, a neve, a Lapônia etc são a face comercial de um evento que se modificou ao longo dos anos. (xx)
* escritor e professor universitário, Doutor em Letras pela USP.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
NOS TEMPOS DE ROMEU E JULIETA, EM 1970!
Eram os tormentosos anos 70 que tinham começado. Eu morava no convento dos padres saletinos no Jardim Social, em Curitiba, e naquela madrugada fomos acordados pelo padre superior que nos mandou en
terrar na hora todos os livros suspeitos, pois nosso contato avisara que a polícia viria revistar o convento cela por cela, tão logo amanhecesse o dia. Assim o fizemos. Entre os meus livros enterrados estava "Pedagogy
of the opressed", de Paulo Freire, capa azul anil, lindo, e "Educação como prática da liberdade".
No fim daquela tarde fui com minha namorada, que não sabia de nada, Soeli da Silva, oito anos depois mãe de nossa filha Manuela, assistir no cine Vitória ao filme "Romeu e Julieta".
Eu estudava Inglês no Centro Cultural Americano. Obtivera a melhor média de um aluno que já tinha passado por lá, até àquela data: 9,47. Eu já sabia todo aquele Inglês, tinha aprendido no seminário, mas a pronúncia não era boa, e o professor Dick teve que ter muita paciência comigo nos "repeat, please, Deonísio!", e "again" e nas "substitution tables", faladas!
O passado é insaqueável. Aqueles que, em nosso nome e em nosso lugar, décadas depois, roubaram o nosso patrimônio, dizendo que foram eles que derrubaram a ditadura, faziam o quê nesses anos? Alguns de seus líderes estão sendo condenados por roubo do dinheiro público, desvios, sobretudo éticos etc.
Voltemos ao Amor, pois só pelo Amor vale a vida! A letra, baseada em William Shakespeare, musica por Nino Rota (olha o nível!) dizia assim:
"Deve existir
Um bom lugar
Só para nós e nosso amor,
Cheio de esplendor!
Um bom lugar para viver
A vida...
Que eu sonhei viver só com você!
Vou procurar e irei achar
Um bom lugar
Só para nós.
Me dê a mão
Vamos sair, e procurar
Um bom lugar
Para ser feliz!
Então o mundo há de saber
Que o nosso amor
Que o nosso amor
Não morrera jamais."
Hoje cada um de nós vive outros tempos! Mas a História não seja jamais apagada, pois ninguém constrói mentindo, omitindo e fazendo de conta que só vale o instantâneo. Não! Todos seremos para sempre, como disse Ortega y Gasset, nós e as nossas circunstâncias.
Um bom dia a todos vocês! Sim, houve uma vez um verão, mas houve uma vez também uma ditadura. Eu queria ser escritor, era meu sonho, e dali a quatro anos seria preso pelo meu primeiro conto publicado. Solto, escrevi um livro, premiado pelo MEC como melhor livro publicado no Brasil naquele ano (1976, prêmio recebido em 1977) e levado à televisão por Antunes Filho.
Desde então, outros livros e essas madrugadas tão diferentes, em que nenhum padre superior vem dizer que você precisa esconder os livros que lê.
sábado, 8 de dezembro de 2012
A VIDA BREVE DAS SIRIGAITAS
“Vai cuidar da tua mulher, sirigaita essa polaca,/Namora com meio mundo e te botou chapéu-de-vaca”. Assim cantava a dupla gaúcha Kleiton e Kledir, nos anos 80.
Não temos o masculino de sirigaita, nem seu equivalente. O mais próximo é galinha, aplicado tanto à mulher quanto ao homem. Sirigaita é o tratamento popular mais leve para a namorada do homem casado.
A semana que passou trouxe à baila a namorada do ex-presidente Lula. A ex-primeira dama emudeceu. O marido também.
Não temos um livro sobre as primeiras-damas, mas não faltam histórias sobre elas. Ao que sabe, a maioria teve vida exemplar. Nair de Tefé von Hoonholtz desposou o presidente Hermes da Fonseca em 1913, um ano depois de ele enviuvar. Era 27 anos mais nova do que ele. Estava com 37 quando enviuvou também. E jamais se casou outra vez, morrendo em Petrópolis, em 1981, aos 95 anos. Seu marido morrera em 1923, aos 68 anos.
O padrão de comportamento das esposas dos governantes foi fixado ainda antes de Cristo com estonteante claridade por Júlio César, um dos homens mais poderosos de todos os tempos, ao separar-se de Pompeia, sua segunda mulher (a primeira chamou-se Cornélia) e casar-se com Calpúrnia, terceira e última. Nada foi provado contra Pompeia, mas ainda assim ela foi repudiada.
Como espécie de primeira-dama, Pompeia estava encarregada de organizar os festejos sagrados da Bona Dea (Boa Deusa), exclusivo para mulheres. Um homem vestiu-se de mulher e entrou na festa. O ato foi considerado uma violação das leis. César reconheceu que Pompeia não teve culpa alguma, mas proferiu a frase famosa, dali por diante usada não apenas em relação à mulher, mas ao poder: “Não basta à mulher de César ser honesta, ela deve parecer honesta.”
Seu marido não tinha outra, tinha outros. Mas seus soldados não cantavam os versos de Kleiton e Kledir: “Teu nome é Júlio César, mas te chamam de Odete/ De dia tu é muito macho, de noite vira gilete”. Pois nos campos de batalha mostrava que essa opção sexual não lhe diminuía a coragem. Punha seu manto de púrpura e montava num cavalo branco para deixar bem visível o lugar que ocupava na batalha. Era realmente um líder.
Na guerra civil recomendou a seus soldados veteranos que ferissem no rosto os jovens comandados por Pompeu. Ele sabia que os moços eram vaidosos da aparência e não queriam deformar as frescas faces nas batalhas. E César mais uma vez venceu.
Ele só não venceu a traição. Morreu cravado de punhais dos amigos da base aliada, depois de desprezar os presságios da matriz, Calpúrnia, que tivera sonhos sanguinolentos com ele.
No governo Collor, a sirigaita de um ministro foi outra ministra. A sirigaita do então presidente do Senado, Renan Calheiros, posou para a Playboy e ganhou um bom dinheiro mostrando a todos o que somente o senador via. Agora chegou a vez da sirigaita de Lula.
A vida é breve para as sirigaitas. Dura somente até o próximo escândalo. (xx)
• Autor de Lotte &Zweig, prêmio de melhor romance do ano da Academia Catarinense de Letras.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
A MOÇA QUERIA CASAR-SE COM UM HOMEM RICO
PEGOU A MODA DE LEILOAR-SE
E-mail da MOÇA:
"Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos. Sou bem articulada e tenho classe. Estou querendo me casar com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste jornal, ou alguma mulher casada com alguém que ganhe isso e que possa me dar algumas dicas?
Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso. E 250 mil por ano não vão me fazer morar em Central Park West.
Conheço uma mulher (da minha aula de ioga) que casou com um banqueiro e vive em Tribeca! E ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente.
Então, o que ela fez que eu não fiz? Qual a estratégia correta? Como eu chego ao nível dela? (Raphaella S.)"
Resposta do editor do jornal:
"Li sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente no seu caso e fiz uma análise da situação. Primeiramente, eu ganho mais de 500 mil por ano. Portanto, não estou tomando o seu tempo a toa...
Isto posto, considero os fatos da seguinte forma: Visto da perspectiva de um homem como eu (que tenho os requisitos que você procura), o que você oferece é simplesmente um péssimo negócio.
Eis o porquê: deixando as firulas de lado, o que você sugere é uma negociação simples, proposta clara, sem entrelinhas : Você entra com sua beleza física e eu entro com o dinheiro.
Mas tem um problema. Com toda certeza, com o tempo a sua beleza vai diminuir e um dia acabar, ao contrário do meu dinheiro que, com o tempo, continuará aumentando.
Assim, em termos econômicos, você é um ativo sofrendo depreciação e eu sou um ativo rendendo dividendos. E você não somente sofre depreciação, mas sofre uma depreciação progressiva, ou seja, sempre aumenta!
Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar linda pelos próximos 5 ou 10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano. E no futuro, quando você se comparar com uma foto de hoje, verá que virou um caco.
Isto é, hoje você está em 'alta', na época ideal de ser vendida, mas não de ser comprada.
Usando o linguajar de Wall Street , quem a tiver hoje deve mantê-la como 'trading position' (posição para comercializar) e não como 'buy and hold' (compre e retenha), que é para o quê você se oferece...
Portanto, ainda em termos comerciais, casar (que é um 'buy and hold') com você não é um bom negócio a médio/longo prazo! Mas alugá-la, sim! Assim, em termos sociais, um negócio razoável a se cogitar é namorar.
Cogitar...Mas, já cogitando, e para certificar-me do quão 'articulada, com classe e maravilhosamente linda' seja você, eu, na condição de provável futuro locatário dessa 'máquina', quero tão somente o que é de praxe: fazer um 'test drive' antes de fechar o negócio...podemos marcar?"
fim
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
O BEBEZÃO DE ROSEMARY, A OUTRA (MULHER) DE LULA
Lula não inovou na arte de enganar a matriz. O problema não é este.
Cortesã, amante, amásia, cacho, cabritinha, filial, esta última claramente uma comparação comercial ─ a língua portuguesa tem nomes em abundância para designar a outra! Essas são as denominações mais leves e revelam um dos pontos de vista, que são muitos! A matriz dispõe de outro arsenal de ofensas: galinha, perua, cadela e vaca buscam fixar a mulher entre os bichos domésticos. A mais leve é sirigaita.
O que há, então, de estranho em Lula ter uma amante, como tantos homens, poderosos ou não, tiveram ou têm? Ah, é esta a questão. Ele a fez teúda e manteúda com o meu, o seu, o nosso dinheiro. O problema da filial é lá com ele e a matriz. Este outro é nosso, é de todos, é público.
E não é só isso. A outra fazia negócios para ela, parentes e asseclas, não com o dinheiro de Lula, com o dinheiro público. Dinheiro que falta para educação, saúde, estradas, cultura. Se o bebezão de Rosemary quisesse refestelar-se ou refocilar-se com ela, este não seria um problema nosso. Mas tornou-se pelos métodos empregados. São tantos, mas tantos os indícios sobre o modo de proceder de Lula, que ninguém mais aceita as indulgentes versões que desabam em catadupa a cada novo escândalo, exaradas por interessados confessores! Confessores, sim, porque confessam, entre as palavras e mesmo nos silêncios que a si mesmos se impõem, interesses espúrios na defesa ou no silêncio, afinal, como diz Eduardo Portela, “o silêncio é aquilo que se diz naquilo que se cala”.
Não são repolhos ou alfaces do jornalismo, mas referências solares da arte de noticiar, analisar e interpretar os fatos, que vêm, aparentemente em vão, alertando os brasileiros para os estratagemas ilusionistas de Lula. Entre outros, Augusto Nunes, Elio Gaspari, Ricardo Noblat, Reinaldo Azevedo, José Nêumane Pinto, Eliane Cantanhêde etc.
Os jornalistas citados fizeram não poucas vezes solitários solos desafinados da grande orquestra. Eram poucos. Não são mais! O fim está próximo. Abraham Lincoln, que morreu assassinado, o lenhador que chegou à presidência dos EUA, resumiu assim a questão: “Pode-se enganar a todos por algum tempo. Pode-se enganar alguns todo o tempo. Mas não se pode enganar a todos todo o tempo.”
Nesses tempos em que tantos pigmeus vieram para o proscênio político, substituindo notáveis estadistas, Rosemary Noronha não pode ser comparada a Marilyn Monroe, nem Lula a Kennedy. Assim, o conselho do americano ─ “não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu país” ─ sofreu devastadora inversão. As bandas de Lula e seus red caps não perguntam o que eles podem fazer pelo país, eles perguntam o que o país pode fazer por eles.
Este escritor e professor está entre aqueles que acreditam que ela foi enganada pelo homem que amou por tanto tempo ou talvez ainda ame. Pelo menos até prova em contrário. Toda forma de amor vale a pena. Ninguém está reprovando o romance, o brasileiro não é o americano, aqui na pátria amada ninguém liga para isso. O que deve estar doendo nela, suponho, deve ser o seguinte: então, ela faz tudo o que PR lhe ordenou fazer e agora ele se diz apunhalado pelas costas?
No Brasil, tudo o que é difícil para um homem, é infinitamente mais difícil para a mulher! Nós precisamos ouvi-la. Se Rose se tornar A Mulher Silenciosa, ainda assim vai dizer muita coisa, uma vez que, desculpem a repetição, “o silêncio é aquilo que se diz naquilo que se cala.”
Rosemary Noronha está numa daquelas encruzilhadas que podem transformar mulheres comuns em heroínas. Ela ganhará a estatura de uma Maria Quitéria, de uma Anita Garibaldi, ou será apenas mais uma mequetrefe a serviço de corruptos. A escolha é dela!
domingo, 2 de dezembro de 2012
O DOUTOR CORONEL PREFEITO E OS IMPOSTOS
Anos 30 do s←culo passado, em alguma cidade do interior do Brasil. O coronel era autorit£rio, mas n ̄o era burro. O chefe dos Correios pediu-lhe um particular: "Chegou um telegrama urgente. O governo federal pede para abrir um procedimento administrativo com o fim de apurar por que raz ̄o o coletor de impostos n ̄o coleta nada." "Coleta, sim, eu mesmo pago todos os impostos devidos." "Mas n ̄o envia ao governo o que arrecada."
O coronel espantou-se, mas logo decidiu: "Vamos l£ no Cartrio que eu vou mandar lavrar a certid ̄o de bito deste incompetente."
A Coletoria ficava num pr←dio cinza. Bateu forte com a aldrava, o argol ̄o fez um barulho danado, os vizinhos estranharam, veio ¢ porta ao lado at← uma ex-donzela que ontem mesmo tinha dado de graa a virgindade a um capataz. Um dia, dali a muitas d←cadas, uma catarinense ia leiloar o que todas at← ent ̄o davam de graa.
O coronel mandou, delicado, mas firme, que a moa se retirasse: "N ̄o ← nada com a menina, volte pra dentro e continue o que estava fazendo". Ela obedeceu e voltou a mijar, queixando-se da ard↑ncia e perguntando para uma tia solteirona se era normal ir tantas vezes ao penico. "Se avexe, n ̄o, minha filha, n ̄o ← pelo que voc↑ fez ontem, ← porque bebeu muita £gua, ser£ sempre assim."
O coletor veio atender a porta e em instantes estavam todos no Cartrio, onde o coronel ordenou ao chefe, indicado para a fun ̄o tamb←m por ele: "Lavre a certid ̄o de bito desse aqui", disse, apontando para o indigitado coletor, do contr£rio todos voc↑s estar ̄o enrascados e eu tamb←m."
O coletor empalideceu. O coronel estava pertinho dele e disse, severo: "Fique tranquilo, ← pro seu bem". O homem comeou a chorar. E o coronel: "N ̄o, n ̄o vou te matar, voc↑ n ̄o vale a bala que eu mande te botar no quengo nem a faca que talvez te sangre. Coletou s pra ti, pro governo, n ̄o?". "Mas foi assim que eu entendi", disse o coletor, "o senhor n ̄o me esclareceu". "Animal burro", disse o coronel, "era para coletar para o governo."
Lavrado o bito, o coronel disse ao chefe dos Correios: "Junte a certid ̄o e informe a quem mandou o telegrama que o coletor era ladr ̄o, sim, mas morreu sem deixar bem nenhum, nem herdeiro, de modo que o malfeito dele n ̄o pode ser cobrado. Com a certid ̄o de bito, eles v ̄o arquivar o processo".
Tempos depois, morreu o chefe do Cartrio. Arrependido, o ex-coletor, j£ morto oficialmente, pediu o emprego. Foi nomeado, o coronel era compreensivo.
Mais um tempo se passou e o coronel morreu.
O chefe do Cartrio, j£ velho, divertia-se mostrando a p£gina do livro onde estava assentado o seu bito, muitas e muitas p£ginas antes do do coronel.
Quando o ex-lar£pio morreu, n ̄o foi lavrada outra certid ̄o de bito. Ele n ̄o podia morrer duas vezes. E se algu←m mexesse naquilo, alguns antigos rf ̄os iam perder a pens ̄o. (xx)
PS. Dedico esta crnica a Rob←rio Nunes dos Anjos, doutor em Direito pela USP, desembargador aposentado, a quem agradeo o jantar, o vinho e principalmente a prosa, degustados em Boa Vista, Roraima, em novembro de 2012.
" Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Est£cio de S£, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
DEUS SEJA LOUVADO, DEUS NOS ACUDA!
Jefferson Aparecido Dias, Doutor em Direito pela Universidade de Olavide, na Espanha, é procurador da República em Marília (SP). Ele quer retirar das cédulas de nosso dinheiro a expressão “Deus seja louvado”, que aparece ali desde 1986, por determinação do então presidente José Sarney, que não é Doutor, mas é esperto.
Quando a moeda mudou de cruzado para real, em 1994, o ministro da Fazenda era Fernando Henrique Cardoso. Ele manteve a frase nas novas cédulas, por “tradição”. É que aprendera uma dura lição de Jânio Quadros que o derrotara para prefeito de São Paulo dez anos antes e não queria perder a eleição para presidente da República.
Na eleição de 1985 o tema “Deus” tinha sido então decisivo. Em debate na televisão, o jornalista Boris Casoy perguntara-lhe se ele acreditava em Deus. Fernando Henrique respondera: “nós combinamos que você não me faria esta pergunta”. Foi uma tremenda bola fora. E Jânio Quadros usou a seu favor os tropeços do professor.
FHC era inteligente, mas pouco esperto. Disse a um jornalista que “era ateu, graças a Deus” e que na juventude tinha experimentado maconha. Jânio dizia nos comícios que seu adversário era ateu e colocaria maconha na merenda das crianças, caso vencesse.
A bobagem sobre Deus não foi a única. Às vésperas da eleição, posou na cadeira de prefeito para a foto de capa da revista VEJA sobre a vitória, que parecia certa. Outros jornais pegaram carona e todos prometeram publicar a foto apenas no dia 16, mas a Folha de S. Paulo rompeu o acordo e a publicou no dia da eleição, 15 de novembro de 1985.
Comunicação não é o que você diz, é o que fica no interlocutor. E nos telespectadores o que ficou foi uma imagem de arrogância de FHC. Antes de Sua Excelência, o Eleitor, se pronunciar, ele posava como prefeito. Perdeu a eleição. Jânio Quadros ainda dedetizou a cadeira de prefeito antes de tomar posse.
O procurador que exigiu a retirada da frase das cédulas de dinheiro a expressão “Deus seja louvado” que me desculpe, mas os inteligentes precisam aprender algo com os espertos. Ele não devia mexer nisso. Sabemos que se trata de pessoa inteligente, do contrário não teria chegado aonde chegou.
Olhemos o exemplo de Lula, outro “safo”, segundo um ministro do STF: de boquirroto contra o famoso julgamento, passou a boquifechado depois que o STF mandou para a cadeia os mensaleiros!
Humilde sugestão de quem assina essas linhas: que o procurador da República não dê chance a quem não presta! Que exija a retirada dos juros extorsivos de nosso dinheiro, entre os mais altos do mundo, e deixe a frase em paz. E já que se chama Aparecido, vá a Aparecida do Norte, reze uma ave-maria e retire sua exigência, não a frase!
Ora et labora (reza e trabalha), recomendou São Bento! Ainda que você não acredite em rezas, rezar é pensar! E pensar antes e depois do fazer, faz bem! (xx)
• Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
DOCUMENTO: ACORDO ORTOGRÁFICO NO JN
Documento.
http://www.youtube.com/watch?v=9kfU88IbpnA&feature=related
domingo, 11 de novembro de 2012
MACONDO, BRASIL: O JUIZ CONDENOU O SANTO
MACONDO, BRASIL: O JUIZ CONDENOU O SANTO
DEONÍSIO DA SILVA *
Muitos leitores escreveram para dizer que provavelmente o romancista prevalecera sobre o cronista quando publiquei na revista ÉPOCA a crônica Santo Antônio tenente-coronel e almirante. As revelações constam do livro Santo Antônio de Lisboa, Militar no Brasil, da autoria de José Carlos de Macedo Soares (Rio, Editora José Olympio, 1942).
Aqui vão, mais de dez anos depois, outros informes curiosos. Santo Antônio nasceu Fernando de Bulhões. Era bisneto de um cruzado francês de sobrenome Martin (diz-se Martán). Morreu em 1231, aos 36 anos! Tornou-se santo em 1232, não em 1832, como informa certa enciclopédia KH, iniciais de Koogan-Houaiss que não evitaam o cacófato.
No ano de 1595, uma frota francesa foi lançada ao mar para destruir a cidade da Bahia. Nos combates travados contra as forças portuguesas, ainda nas costas da África, restou uma imagem de Santo Antonio, encontrada de pé, na areia, depois dos naufrágio de algumas naus agressoras.
Derrotados os franceses, algum tempo depois a imagem foi levada à Câmara da Bahia, onde foi homenageada em sessão solene. Afinal, somente ela restara em pé, no areal. No ato foi exarado um documento oficial em que o santo foi declarado soldado e passou a receber pagamento.
No século XVIII foi promovido a capitão por Dom João V. Em 1718, o vice-rei da Bahia nomeou-o também alferes da infantaria. Em 1814, Dom João VI deu nova promoção ao santo, desta vez elevando-o a tenente-coronel.
E o soldo foi pago até 1923. Um dos recibos foi passado no Rio de Janeiro em 15 de junho de 1846. Lê-se o seguinte: “Recebi do ilustre tenente-coronel Manoel José Alves da Fonseca, tesoureiro e pagador-chefe das tropas desta capital, a quantia de 80 mil réis, importância relativa ao mês de maio último, do glorioso Santo Antônio, como tenente-coronel do Exército”.
O santo sofreu processo no Brasil quando morreu um escravo que trabalhava numa de “suas” fazendas. Um juiz entendeu que quem deveria responder pelo crime do escravo era seu dono. Ora, o dono era Santo Antônio.
Todos os padres tiveram escravos no Brasil em suas paróquias e conventos até a Abolição, cuja campanha começou com uma reunião na Favela da Rocinha. Aliás, a Rocinha foi pioneira em mais coisas: ali foram instalados o primeiro poste de luz e o primeiro ponto de água encanada. E o sobrenome Dos Santos, tão comum no Brasil, remonta a descendentes dos escravos dos santos, como os padres eram chamados.
Intimado, o santo não compareceu. Para não ser julgado à revelia, foi arrancado do altar da igreja em que estava, no interior da Bahia, amarrado ao lombo de um burro e levado sob vara para o julgamento. O juiz chamava-se José Dantas dos Reis.
Só no Brasil! Tal como na famosa vila do romance de Gabriel Garcia Márquez, Prêmio Nobel de Literatura, algumas coisas só acontecem em São Joaquim da Barra, a nossa Macondo. (xx)
• Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
PARAÍBA NÃO É JERUSALÉM: JESUS ENCHE DE PORRADA O CENTURIÃO
Aconteceu numa cidadezinha lá nos confins da Paraíba. O dono do circo, em passagem pela cidade, sabendo quão religiosa era sua comunidade, resolveu encenar a PAIXÃO DE CRISTO na Sexta-feira Santa.
O elenco foi escolhido dentre os moradores locais e, no papel principal - de Jesus Cristo – colocaram o cara mais 'gato' da cidade.
Os ensaios iam de vento em popa quando, às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, o corno deu-se conta que não podia fazer escândalo: iria pôr a perder todo o trabalho e o investimento que fizera para montar a peça. Pensou, pensou... E acabou encontrando a solução.
Na véspera do espetáculo, comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do CENTURIÃO! - Mas como? - reclamaram todos, - você não ensaiou! - Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala!
Mesmo sem gostar, o elenco teve que aceitar. Afinal, o cara era o dono do show.
Chegou o grande dia. A cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa em profundo silêncio e ´Jesus´ carregando a cruz. De repente o 'centurião' começa a bater e enche ´Jesus de porrada. E desce o chicote de verdade.
´Jesus´reclama em voz baixa, quase cochichando: -Oxente, cabra, cê tá me machucando! - É pra dar mais veracidade à cena, devolve o 'centurião'. E cada vez bate mais no pobre ´Jesus’ que a essa altura está com o lombo cheio de manchas vermelhas e roxas. E lept, lept, o ‘centurião´ enfurecido não para de bater e bate cada vez com mais força.
Vendo que o ´centurião´ não parava de bater e ia esfolá-lo vivo, 'Jesus' largou a cruz no chão, puxou a peixeira, a famosa faquinha do nordestino, e partiu pra cima do 'centurião ', desafiando-o: - Vem, desgraçado, vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso!
Assustado, o 'centurião' saiu correndo e 'Jesus' partiu atrás dele com a peixeira. A plateia, em delírio, gritava: “ É isso aí, ´Jesus´, fura ele! Fura que aqui é a Paraíba, não é Jerusalém.
domingo, 28 de outubro de 2012
O REI SALOMÃO ESTEVE NO BRASIL?
Meme, do Grego mneme, memória, palavra criada pelo biólogo Richard Dawkins, designa algo propagado como um vírus, abundantemente, como se deu, antes da internet, com o famoso comercial de Washington Olivetto, presente também no livro O primeiro a gente nunca esquece , do qual sou coautor, com a crônica O primeiro apagão a gente nunca esquece, publicada na revista ÉPOCA, quando dirigida por Augusto Nunes. “Sutiã” foi substituído para formar novos significados para a expressão.
Memes partilhados no Facebook vêm comentando vestígios da presença dos fenícios no Brasil, comprovada em inscrições e pinturas em rochedos nos estados do RJ, PI e AM. Ali foram identificados caracteres babilônicos, etruscos, gregos, latinos e até hieróglifos egípcios.
O filólogo francês Henrique Onffroy de Thoron, no livro Viagem dos Vassalos de Salomão ao rio Amazonas, assegura ter encontrado nas amostras grande semelhança entre as línguas citadas e o hebraico, o tupi e o quíchua, idioma do outrora poderoso império inca, no Peru. Também o pesquisador austríaco Ludwig Schwennhagen (chamado popularmente professor Chovenágua) e o cônego Raimundo Ulisses de Pennafort, cearense, documentaram abundantemente esta presença.
Os resquícios do Hebraico em algumas palavras que o Brasil acrescentou ao Português estão também em nomes de lugares, até então atribuídos ao tupi, ao guarani e a outras línguas dos índios brasileiros. Bem, a designação de “índio” para o habitante do Brasil, como sabemos, já é fruto de um engano homérico, pois os navegadores achavam ter chegado às Índias.
Francisco da Silveira Bueno, professor da USP, em seu Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, diz que é controversa a origem tupi de Maceió, explicada como ma-sai-ó, coisa extensa. Talvez venha do Hebraico Maassiôt (Maceió), narrativa lendária; Retsif (Recife, dado como do árabe arrasif, estrada de pedra) é ancoradouro; Beith Lehem (Belém) é padaria.
O historiador Diodoro da Sicília (séc. I a.C.) escreveu que navegadores fenícios foram levados por fortes tempestades para uma ilha muito além das colunas de Hércules (Gibraltar), onde encontraram muito ouro. Em 565, um monge irlandês a descreveu, dando-lhe o nome de HY Brazil.
Até o nome “Brasil” pode ter vindo do hebraico Barzel, pau-ferro, que dava também a tintura para a veste dos poderosos, e foi levado junto a muito ouro por navegadores fenícios a serviço do rei Salomão (fins do primeiro milênio a.C.) para construir o templo de Jerusalém. Lemos no capítulo 10 do I Livro dos Reis que a rainha de Sabá, negra, “chegou a Jerusalém com camelos carregados de ouro e de pedras preciosas”. Ela, encantada pela sabedoria dele. Ele, pela beleza dela. E talvez também pela carga dos camelos. Na oportunidade, ela o presenteou com mais de 4.000 kg de ouro, em medida antiga.
(xx)
• Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
PÃO, VINHO, AZEITE E ALFABETO
Escrevi semana passada sobre uma história meio doida e encantadora: a presença dos fenícios no Brasil, sete séculos antes da descoberta oficial do país por Pedro Álvares Cabral.
Mas quem eram os fenícios? O que mais sabemos deles é que foram os inventores de um alfabeto que depois serviu a muitos outros idiomas. A Fenícia ficava no Norte da Palestina, em territórios hoje ocupados pela Síria e pelo Líbano. Desde que ali se fixaram, os fenícios se dedicaram à cultura de cereais (pão), videiras (vinho), oliveiras (azeite), pesca e artesanato.
A proximidade do mar e o comércio agrícola com os egípcios foram decisivos para deflagrar um ciclo de navegações, amparadas por cidades-estado surgidas ao longo da costa, como Biblos, Tiro, Sídon e Ugarit, cada uma delas com um governo autônomo para as questões políticas e administrativas. Todas eram dirigidas pela elite que dominava o comércio marítimo. O regime de governo era uma talassocracia, ou seja, um governo comandado por homens ligados ao mar.
O domínio de rotas comerciais, anteriormente controlada pelos habitantes de Creta, remonta a pelo menos o ano 1500 a.C., mas é por volta do ano 100 a.C. que os centros urbanos da Fenícia chegam ao auge, quando contaram também com o apoio dos hebreus. Tendo se exacerbado a concorrência com os gregos, os comerciantes de Tiro buscaram o comércio com regiões do Norte da África e da Península Ibérica, onde depois surgiriam Espanha e Portugal.
Dentre as contribuições dos fenícios tiveram destaque os avanços em astronomia e as técnicas de navegação necessárias à prática comercial.
No campo religioso, os fenícios incorporaram o politeísmo das sociedades antigas, então predominante. Baal, cujos adoradores são duramente criticados por Moisés no episódio do bezerro de ouro (uma ode à pecuária), era o deus associado ao sol e às chuvas. Aliyan, seu filho, era a divindade das fontes. Astarteia era a deusa da riqueza e da fecundidade.
Os fenícios não eram guerreiros. Tampouco tinha projeto de descobrir novas terras. O que eles queriam era navegar com o fim de abrir novos entrepostos comerciais. Assim, visitaram toda a orla mediterrânea da Europa e com suas formidáveis frotas comerciais penetraram no Mar Negro, percorreram a costa setentrional da África, atravessaram o Atlântico e visitaram um “Novo Continente”.
O historiador Diodoro da Sicília (séc. I a.C.) escreveu que navegadores fenícios foram levados por fortes tempestades e correntezas a uma grande ilha, de praias lindas, rios navegáveis, muitas serras no interior, cobertas por imensas florestas e, graças a um clima ameno, abundante em frutas, caça e peixe, usufruídos por uma população pacífica e inteligente”. Era o Brasil!
• Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
PALAVRAS DE DIREITO, MEU NOVO LIVRO (NASCENDO...)
Letras & Direito têm vínculos de fogo encantadores e flamejam em cada palavra. O verdadeiro significado da palavra diz alguma coisa ainda antes de ela ser proferida ou escrita.
Desde a tese de doutoramento que defendi na USP, cujo tema foram os 508 livros proibidos pós-64, que não me dedicava a essas conexões. Depois do FENEDE, voltei animadíssimo com as pessoas que lá conheci, como atuais e ex-alunos da Estácio Universidade, entre os quais um ministro do STJ, uma juíza, uma promotora de Justiça, dos quais falarei em outro post.
Eis a capa de meu próximo livro sobre o tema, a ser lançado ainda este ano, desta vez sem as imposições da práxis da luta intelectual, apenas os sabores dos saberes do Direito.
Manuelinha, minha única filha, é Promotora de Justiça, formada na USP, e desde os 14 anos dela, quando se decidiu por Direito, contemplo com os ollhares de uma paixão arrebatadora este curso que, não fora eu um homem de Letras desde quase o berço, teria sido a minha melhor escolha.
sábado, 20 de outubro de 2012
FALA, OSCAR FUSSATO NAKASATO, MELHOR ROMANCISTA DO JABUTI
"Meu nome é Oscar Fussato Nakasato, completei 49 anos este mês (setembro). Nasci em Maringá, mas meus pais tinham um sítio em Floresta – PR, onde morei até completar 8 anos. A partir de então, passei a residir em Maringá. Atualmente resido em Apucarana, na Vila Agari, e sou professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Graduei-me em Letras na Universidade Estadual de Maringá depois de uma dolorosa experiência de dois anos e meio no curso de Direito. Também sou mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual Paulista."
DEU BODE NA AVENIDA BRASIL
Somos herdeiros da civilização greco-romana. Na antiga Grécia, muitas noites eram ocupadas com o teatro, edifício referencial da cidade-estado. Ali eram representados os dramas e as comédias da vida cotidiana. Hoje, tudo isso passa na televisão. Isto é, havia novela das oito em Atenas, com outros autores, outros personagens, outras tramas e outros espectadores.
A tragédia infundia terror e piedade no público. Tragédia veio do Grego tragoides, bode. Nas tragédias, era morto um bode para expiar as culpas de todos, pois a função primordial do teatro era fazer a kátharsis, purificação, palavra que designava também a menstruação, pois menstruar é purificar-se todo mês. O latim mens, mês, está presente no verbo.
Para mostrar que do destino ninguém escapava, Sófocles (João Emanuel Carneiro da Grécia antiga) faz com que Édipo, cujo destino era matar o pai e casar-se com a mãe, faça isso sem saber.
Laio, seu pai, fica sabendo da profecia. Manda, então, furar os pés do menino (Édipo, em grego, quer dizer pés inchados) e jogá-lo de um penhasco.
A mãe, Jocasta, entrega a criança a um pastor. O menino acaba sendo adotado por Políbio, rei de Corinto, e por Mérope, sua esposa.
Já adulto, Édipo vem a saber pelo oráculo que seu destino é matar o pai e desposar a mãe. Aterrorizado, deixa a casa onde mora, muda de cidade, com o fim de evitar o destino.
Mas alguém escapa do destino? Fugindo do destino, numa encruzilhada ele mata Laio, que ele não sabe quem é, e ao chegar a Tebas vence o concurso respondendo corretamente a uma pergunta da Esfinge: qual o animal que de manhã anda com quatro pés, ao meio-dia com dois e à tarde com três? Ele responde que é o homem: quando criança, engatinha (quatro); crescido, anda de pé (dois); velho, usa uma bengala (três). O prêmio é casar-se com a viúva do rei Laio. A viúva é Jocasta, sua mãe.
Tempos depois, já pai de quatro filhos, que na verdade são seus irmãos, vemos Édipo governando a cidade-estado de Tebas com sabedoria e justiça. Mas irrompe então uma série de desgraças: peste do gado, fome, péssimas colheitas, mortalidade infantil etc. O oráculo é consultado e responde que a causa de todos os flagelos é que em Tebas vive um homem que matou o pai para casar-se com a mãe.
Governante bom e justo, Édipo determina que o culpado seja encontrado. É quando o adivinho Tirésias revela que o culpado é ele, Édipo. Jocasta, apavorada, se suicida. Édipo, que prometera punir o assassino, fura os próprios olhos. Este é o desfecho. A redenção pelo sofrimento.
Semelhando as tragédias da Grécia antiga, depois de cumprir três anos na cadeia pelo assassinato de Max, Carminha volta para o lixão, de onde veio, para recomeçar a vida.
Logo vai começar outra novela, isto é, recomeçar. Desde a antiga Grécia, a história é quase a mesma. Só mudam os modos de narrar! Os temas são eternos! (xx)
• O autor é escritor e Doutor em Letras pela USP, tem 35 livros publicados (alguns traduzidos em diversos países) e é Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
RESULTADOS DO PRÊMIO JABUTI SAÍRAM HOJE, 18 DE OUTUBRO
Enviado por Márcia Abos, de São Paulo - 18.10.2012 | 17h49m
Câmara Brasileira do Livro anuncia vencedores do Prêmio Jabuti
Nota zero de jurado define ganhadores de melhor romance, e os livros dos jornalistas do Globo Mauro Ventura e Miriam Leitão foram premiados na categoria reportagem
Numa reviravolta decidida por um dos três jurados do Prêmio Jabuti, “Nihonjin” (Editora Benvirá), do paranaense Oscar Nakasato, foi o romance vencedor da premiação, uma das mais importantes da literatura brasileira. O “jurado C” — segundo o regulamento do Jabuti, a composição do júri só é divulgada após o prêmio ser entregue — optou por dar notas entre zero e 1,5 a cinco dos dez finalistas. Esses votos definiram o resultado final, surpreendendo o público presente na apuração, realizada ontem na sede da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em São Paulo.
A avaliação mais baixa do “jurado C” foi para o romance “Infâmia” (Alfaguara), de Ana Maria Machado: notas zero nas categorias enredo e construção de personagens e nota 0,5 na categoria estilo. O romance tinha sido o segundo mais votado na primeira fase do prêmio e, nesta fase final, recebeu cinco notas dez e uma nota 9,5 dos outros dois integrantes do júri, sendo o mais bem avaliado entre todos os outros concorrentes.
— Ficamos chocados e desnorteados com as notas zero e meio de Ana Maria Machado — reconhece José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio Jabuti, descartando a possibilidade de anulação do prêmio. — Não me senti confortável em questionar o voto do jurado C após a apuração. Se crio uma regra e dou a ele as cédulas para votar, não posso questionar a soberania de um voto feito dentro do regulamento. Dar as notas que bem entender é um direito do jurado, ainda que como curador eu não concorde com a estratégia que ele adotou. Não considero o jurado C adequado ao prêmio, ele usou uma falha minha e abusou do poder que tinha. Vou reavaliar sua participação. Mas não posso mudar o resultado. Ele é inquestionável e não pode ser anulado.
O “jurado C” também deu notas até 1,5 para obras de Wilson Bueno (o mais bem votado na primeira fase), Luciana Hidalgo, Paulo Scott e Menalton Braff. Ele ainda deu notas cinco para Domingos Pellegrini, e entre 9,5 e dez para Julián Fuks. Ana Maria Machado disse que não sabia das notas e não cabia a ela opinar sobre o caso:
— O único que posso dizer é que o grande julgamento é do leitor. É ele que sabe se gosta ou não do personagem. Um jurado é um leitor com poder neste momento, mas é só mais um leitor.
O segundo e terceiro lugar da categoria romance foram respectivamente para as obras “Naqueles morros, depois da chuva” (Hedra), de Edival Lourenço, e “Estranho no corredor” (Editora 34), de Chico Lopes. A obra vencedora foi publicada graças ao Prêmio Benvirá, que escolheu o romance do desconhecido Nakasato entre 1.932 concorrentes. É o primeiro romance do professor de Ensino Médio e graduação.
— Prêmios são subjetivos. Meu livro foi inscrito no Prêmio São Paulo de Literatura e não chegou a lista de finalistas. Fosse outra a comissão julgadora do Jabuti, o resultado seria totalmente diferente — disse o escritor. — Estava na fila do caixa do supermercado com minha mulher quando recebi a notícia. Não esperava, pois sei da qualidade dos outros autores que estavam no páreo.
Thales Guaracy Ferreira, diretor editorial de ficção e não ficção da editora Saraiva, da qual faz parte o selo Benvirá, afirma que não questiona a premiação, pois ela “tem condições de sustentar suas própria decisões”.
— Parabenizo ao jurado, seja ele quem for, por dar ao Brasil a oportunidade de descobrir um grande autor — disse Ferreira. — Assim como esse jurado, nossa editora tem preferido publicar autores novos em vez medalhões. Não por ideologia, mas simplesmente porque os originais que recebemos destes escritores estreantes são melhores do que os dos consagrados.
Até o ano passado, os jurados do Jabuti só podiam dar notas de oito a dez aos finalistas. Segundo Goldfarb, a regra foi mudada este ano porque alguns jurados davam notas menores do que oito, implicando sua anulação. O curador diz que em 2013 o prêmio poderá voltar à regra antiga ou ter quatro jurados, descartando as notas mais baixas:
— Me causa algum alívio saber que as obras vencedoras foram bem pontuadas pelos outros dois jurados. Tínhamos dez ótimos finalistas.
O livro “Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda” (Record), da colunista do GLOBO Míriam Leitão, foi o vencedor da categoria reportagem do Jabuti. Na obra, Míriam traça um panorama da história econômica do país nos últimos anos, da hiperinflação até a estabilização da moeda com o Plano Real. Outro jornalista do GLOBO, o repórter Mauro Ventura, do Segundo Caderno, conquistou o terceiro lugar na mesma categoria com “O espetáculo mais triste da Terra” (Companhia das Letras), que reconta a trágica história do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em 1961, em Niterói. “O cofre do Dr. Rui” (Civilização Brasileira), de Tom Cardoso, foi o segundo colocado.
Míriam, que está no interior de Minas Gerais fazendo uma reportagem, ficou emocionada ao saber da vitória e diz ter levado um susto com o anúncio do prêmio.
— Estou muito honrada. Não tinha criado expectativa sequer de ser finalista e quando vi os concorrentes desta fase achei que seria muito difícil. Sonhei muito com este livro e o escrevi querendo muito explicar ao leitor essa saga que foi a luta contra a inflação — contou ela.
Outros premiados incluem “Alumbramentos” (Iluminuras), de Maria Lúcia Dal Farra, na categoria poesia; “O destino das metáforas” (Iluminuras), de Sidney Rocha, na categoria contos e crônicas; “Benjamin: Poemas com desenhos e músicas” (Melhoramentos), de Biagio D'Angelo (infantil); e “A mocinha do Mercado Central” (Globo), de Stella Maris Rezende (juvenil). O primeiro lugar de cada categoria receberá R$ 3.500 e um troféu na premiação de 28 de novembro, quando também serão conhecidos os prêmios de Livro do Ano de Ficção e de Não Ficção.
Confira abaixo a lista dos ganhadores das principais categorias:
Romance
“Nihonjin” (Saraiva), de Oscar Nakasato
“Naqueles morros, depois da chuva” (Hedra), Edival Lourenço
“Estranho no corredor” (34), de Chico Lopes
Reportagem
“Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda” (Record), de Miriam Leitão
"O cofre do Dr. Rui" (Civilização Brasileira), de Tom Cardoso
"O espetáculo mais triste da Terra" (Cia das Letras), de Mauro Ventura
Biografia
“Fernando Pessoa: uma quase autobiografia” (Record), de José Paulo Cavalcanti Filho
"Claudio Manuel da Costa" (Cia das Letras), de Laura de Mello e Souza
"Antonio Vieira" (Cia das Letras), de Ronaldo Vainfas
In memoriam - “Eu vi o mundo” (Cosac & Naify), de Cícero Dias
Contos e crônicas
“O destino das metáforas” (Iluminuras), de Sidney Rocha
“O anão e a ninfeta” (Record), de Dalton Trevisan
“O livro de Praga” (Cia das Letras), de Sérgio Sant'Anna
Infantil
“Benjamin: Poemas com desenhos e músicas” (Melhoramentos), de Biagio D'Angelo
“O herói imóvel" (Rovelle), de Rosa Amanda Strausz
"Votupira, o vento doido da esquina" (SM), de Fabrício Carpinejar
Juvenil
“A mocinha do Mercado Central” (Globo), de Stella Maris Rezende
“A guardiã dos segredos de família”, (SM), de Stella Maris Rezende
“As memórias de Eugênia” (Positivo), de Marcos Bagno
Poesia
“Alumbramentos” (Iluminuras), de Maria Lúcia Dal Farra
"Vesuvio" (Cia das Letras), Zulmira Ribeiro Tavares
"Roça barroca" (Cosac & Naify), Josely Vianna Baptista
terça-feira, 16 de outubro de 2012
SEXTA-FEIRA, 13, AZAR E SUPERSTIÇÕES: QUAL A ORIGEM?
Feitos & Desfeitas CREDOS E CRENDICES
Sexta-feira, 13 e outras superstições
Por Deonísio da Silva em 16/10/2012 na edição 716 do Observatório da Imprensa
O número 108 da revista História Viva (ano 9) traz como principal matéria um dossiê sobre as superstições. E pergunta aos leitores na capa: “De onde elas vêm e por que provocam tanto medo?”. A série de textos nada diz sobre a história das palavras que designam essas crendices. Os informes e análises limitam-se a constatá-las e sobre elas tecer pertinentes arrazoados.
O dicionário Caldas Aulete informa que a palavra superstição chegou ao Português vinda do Latim superstitio, escrita superstitione em outros dicionários, que preferem indicar uma de suas declinações na língua-mãe. Não usam o modo mais correto de identificar a etimologia, uma vez que, havendo várias declinações, às vezes a palavra entra pelo caso acusativo, outras vezes pelo genitivo, outras vezes pelo ablativo. Para quem não conhece o Latim, é preciso lembrar que a grafia da palavra muda de acordo com a posição que o vocábulo ocupa na frase.
As superstições (são muitas!) estão em diversas línguas há milhares de anos, mas ao Português escrito chegaram no século 16. Antes talvez estivessem disfarçadas em outras palavras e expressões. Uma das mais comuns é o número 13, estranho às culturas que tinham como referência o 12, nascido da multiplicação dos lados do quadrado (quatro lados) pelos lados do triângulo (três lados). O dia tem 12 horas e a noite mais 12, totalizando 24 horas. A hora tem 60 minutos, 5 x 12. O minuto tem 60 segundos. Jacó teve 12 filhos, chefes iniciais das 12 tribos em que se fundou o Estado de Israel. O 12 prosseguiu no Novo Testamento: Jesus teve 12 discípulos. O número 12 nasceu, pois, num contexto que tentava conciliar o sagrado e o profano.
O número 13, ao quebrar esta harmonia, passou a identificar o azar. Ainda hoje vários hotéis dos EUA não têm o 13° andar. Há hospitais sem o quarto 13 e aviões, trens e ônibus sem o assento 13. No tarô, o número 13 a figura que o ilustra é um esqueleto carregando a gadanha, uma espécie de foice, simbolizando a Morte. A gadanha ou a foice corta a grama ou colhe o trigo na seara. E a Morte colhe a Vida.
Cálculo malfeito
Mas quando foi que tudo isso começou? Num desfile, o rei Felipe da Macedônia (século 4 a.C.), pai de Alexandre, o Grande, mandou incluir uma estátua sua às dos 12 deuses que eram levados à frente da procissão e pouco depois morreu assassinado. E Jesus, que formava 13 junto aos 12, morreu traído por um deles.
A outra superstição tenebrosa é a sexta-feira. Quando a sexta-feira cai num dia 13, o que ocorre em média duas vezes por ano, a coisa fica ainda mais complicada. Jesus morreu crucificado numa sexta-feira. No dia anterior, quando foi preso, tinha feito a última ceia com os 12 discípulos.
O rei francês Felipe 4º mandou prender o grão-mestre dos famosos templários numa sexta-feira, 13 de outubro de 1307, condenando-o à fogueira. Durante a Revolução Francesa, um de seus grandes comandantes, Jean Paul Marat, foi morto pela camponesa Charlotte Corday no dia 13 de junho de 1793. O Duque de Orléans, filho mais velho de do rei Luís Filipe, morreu num acidente, dentro de sua caleche, no dia 13 de julho de 1842, no 13º ano do reinado do pai. Mais recentemente, a NASA pagou caro por não pular o número 13 na série das naves Apollo e a missão da Apollo 13, em 1970, deu no que deu.
A civilização ocidental é cristã e nas superstições com o número 13 e com a sexta-feira jazem as lembranças do dia da morte de Jesus, por volta das 3h da tarde.
Trevos e morcegos
Outras superstições tratadas na matéria:
>> Espelhos quebrados: era preciso que os empregados tivessem muito cuidado, pois eram caros quando surgiram; dava azar quebrá-los;
>> Abrir um guarda-chuva dentro de casa: era comum machucar alguém que estivesse próximo; então dava azar. Guardá-lo molhado ajudava a enferrujar as hastes; então, dava azar também.
>> Derrubar sal sobre a mesa: o sal era um bem tão precioso que era meio de pagamento, origem da palavra salário;
>> Passar por debaixo da escada: a escada forma um triângulo, a figura perfeita, até Deus é representado nele com um olho no centro na conhecida figura em que aparece escrito ‘Deus me vê” ou “Deus tudo vê” etc. E poderia cair algo em cima da cabeça de quem passasse ali: uma telha, um tijolo, um pedaço de pau, uma lata de tinta etc; então dava azar.
>> O dedo do meio da mão, chamado de médio não pelo tamanho, pois é o maior, simbolizava o deus Saturno, venerado nas saturnálias, festas romanas em que rolava muito sexo; passada a festa, indica ofensa e trazia a sodomia, não mais como prazer, mas como sofrimento;
>> Bater na madeira três vezes: muitas árvores eram deusas, a própria floresta formava um panteão; era comum fazer-lhes pedidos, dando pancadinhas nelas; móveis são feitos de madeira: batem-se neles;
>> Jogar uma moeda na água: a origem é dar uma moeda ao barqueiro Caronte, que levava as almas para além do rio Estige; quem fosse enterrado sem uma moeda na boca, vagava eternamente por aquelas brumas; a Fontana di Trevi, monumento barroco do século 13, em Roma, já recebeu milhões de moedas, atiradas ali por turistas de todo o mundo, junto com os pedidos que fazem.
Trevos de quatro folhas, morcegos, sapos, gatos e corujas completam um arsenal de superstições que invadiram a civilização, onde estão presentes até hoje, desdobrando-se em outros tipos de comportamentos. Afinal, como dizem os espanhóis, nem para tudo a era científica tem explicações: No creo em brujas, pero que las hay! (Não creio em bruxas, mas elas existem!).
***
[Deonísio da Silva é membro da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), doutor em Letras pela USP, escritor e vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros]
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
O PORTUGUÊS GANHA O MUNDO
Por que o Português é a nova língua do poder e dos negócios?", pergunta em matéria de capa a revista MONOCLE, dos EUA!
Vamos começar a semana com a trilha sonora de Ennio Morricone, ilustrada com uma foto da belíssima Claudia Cardinale, que teve esplêndida atuação em ERA UMA VEZ NO OESTE?
E por que não encontramos mais nas casas do ramo outros filmes marcantes, como os de Sam Peckinpah? "Tragam-me a cabeça de Alfredo Gacia!".
http://www.youtube.com/watch?v=2s0-wbXC3pQ
sábado, 13 de outubro de 2012
LYGIA FAGUNDES TELLES & AMIGOS EM SP
Lygia Fagundes Telles, Anna Maria Martins, outra escritora que não consegui identificar e eu na casa de João Sérgio Telles, num dos habituais jantares de meus tempos paulistas, sempre muito agradáveis. Hoje, mato as saudades lendo todos eles, mas com Anna Maria me encontrei na semana passada e vamos nos encontrar de novo, agora na finalíssima do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
O REI SALOMÃO ESTEVE NO BRASIL?
DEONÍSIO DA SILVA *
Meme, do Grego mneme, memória, palavra criada pelo biólogo Richard Dawkins, designa algo propagado como um vírus abundantemente, como se deu, antes da internet, com o famoso comercial de Washington Olivetto, presente também no livro O primeiro a gente nunca esquece , do qual sou coautor, com a crônica O primeiro apagão a gente nunca esquece, publicada na revista ÉPOCA, quando dirigida por Augusto Nunes. “Sutiã” foi substituído para formar novos significados para a expressão.
Memes partilhados no Facebook vêm comentando vestígios da presença dos fenícios no Brasil, comprovada em inscrições e pinturas em rochedos nos estados do RJ, PI e AM. Ali foram identificados caracteres babilônicos, etruscos, gregos, latinos e até hieróglifos egípcios.
O filólogo francês Henrique Onffroy de Thoron, no livro Viagem dos Vassalos de Salomão ao rio Amazonas, assegura ter encontrado nas amostras grande semelhança entre as línguas citadas e o hebraico, o tupi e o quíchua, idioma do outrora poderoso império inca, no Peru. Também o pesquisador austríaco Ludwig Schwennhagen (chamado popularmente professor Chovenágua) e o cônego Raimundo Ulisses de Pennafort, cearense, documentaram abundantemente esta presença.
Os resquícios do Hebraico em algumas palavras que o Brasil acrescentou ao Português estão também em nomes de lugares, até então atribuídos ao tupi, ao guarani e a outras línguas dos índios brasileiros. Bem, a designação de “índio” para o habitante do Brasil, como sabemos, já é fruto de um engano homérico, pois os navegadores achavam ter chegado às Índias.
Francisco da Silveira Bueno, professor da USP, em seu Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, diz que é controversa a origem tupi de Maceió, explicada como ma-sai-ó, coisa extensa. Talvez venha do Hebraico Maassiôt (Maceió), narrativa lendária; Retsif (Recife, dado como do árabe arrasif, estrada de pedra) é ancoradouro; Beith Lehem (Belém) é padaria.
O historiador Diodoro da Sicília (séc. I a.C.) escreveu que navegadores fenícios foram levados por fortes tempestades para uma ilha muito além das colunas de Hércules (Gibraltar), onde encontraram muito ouro. Em 565, um monge irlandês a descreveu, dando-lhe o nome de HY Brazil.
Até o nome “Brasil” pode ter vindo do hebraico Barzel, pau-ferro, que dava também a tintura para a veste dos poderosos, e foi levado junto a muito ouro por navegadores fenícios a serviço do rei Salomão (fins do primeiro milênio a.C.) para construir o templo de Jerusalém. Lemos no capítulo 10 do I Livro dos Reis que a rainha de Sabá, negra, “chegou a Jerusalém com camelos carregados de ouro e de pedras preciosas”. Ela, encantada pela sabedoria dele. Ele, pela beleza dela. E talvez também pela carga dos camelos. Na oportunidade, ela o presenteou com mais de 4.000 kg de ouro, em medida antiga.
(xx)
• Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.
domingo, 7 de outubro de 2012
ELEIÇÕES: O BOLSO É UM SÓ, O SEU!
DEONÍSIO DA SILVA *
Ainda hoje a maioria dos municípios vai saber qual será seu novo prefeito (Executivo) e quais serão os novos vereadores (Legislativo). Dos três poderes, apenas os juízes (Judiciário) são selecionados por concurso público de provas e títulos. Prefeito e vereadores são eleitos.
Eleição é tempo de boquinha, que designa emprego, gorjeta ou função de poucas responsabilidades e boa remuneração. São muitos os que esperam que os eleitos os atendam, naturalmente com o dinheiro alheio. E o que é pior: às vezes é o próprio candidato quem promete amamentar os pedintes descarados.
Eleição é também tempo de brigadeiro, docinho criado em homenagem ao brigadeiro Eduardo Gomes. Uma senhora fez o quitute e ofereceu ao então candidato, que era celibatário. Ele elogiou o sabor. A doceira, para agradá-lo ou vender mais, passou a utilizar o endosso militar para divulgar o doce paisano.
Outros dizem que o doce tem este nome porque a mineira soube que no episódio de Os Dezoito do Forte, em 1922, ele perdera os testículos. Como o doce é sem ovos e foi inventado nos anos seguintes à Segunda Guerra, época de escassez de muitos produtos no Brasil, a imaginação popular é que teria criado a denominação.
Candidato significa sem sujeira. Na Roma antiga, aqueles que postulavam cargos vestiam-se de branco, um símbolo de honradez que a cor branca sempre teve. Nas democracias, marcadas por escolhas periódicas de representantes do povo, os candidatos passaram a vestir-se de muitas outras cores, mas o significado permaneceu. E tem havido muita decepção, principalmente com aqueles que criticavam os corruptos e se tornaram piores do que aqueles que denunciavam.
Também o cargo de prefeito veio da Roma antiga. Era a autoridade posta à frente das fortificações que cercavam o município. Praefectus prae facere, fazer antes, antecipar-se, isto é, planejar. Originalmente, a função do prefeito não era a de esperar ou transferir responsabilidades, mas antecipar-se, resolvendo problemas apontados pelos vereadores, ouvindo-os e executando o que determinaram na câmara. Havia prefeitos que eram sacerdotes ou guardadores de rebanhos. Foi depois chamado praefectus villae, cuidador do povoado, administrador da vila, depois identificada pelo Império Romano por municipium, município, assim chamado porque ali era o lugar de o cidadão romano buscar seu munus capere, isto é, exercer seus direitos.
Vereador era chamado também de edil. O edil tinha a missão de inspecionar e tomar providências para a conservação dos edifícios. Mais tarde vereador substituiu edil, designando a mesma função, mas cuidando também das veredas, as vias públicas. Fazia seu projeto e apresentava a seus pares na Câmara, assim chamada porque o lugar onde se reuniam era coberto por uma abóbada, camara em Latim.
Vai votar hoje? Não vote em quem vai roubar para ele ou para o Partido dele, o que dá no mesmo, pois o bolso é um só: o seu! E daí vai faltar dinheiro para saúde, educação, cultura, ruas, estradas etc. (xx)
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
RATINHAS DE CURITIBA
Essas são as ratinhas de Curitiba, que percorrem as ruas da cidade pedindo votos para o candidato Ratinho Júnior, que quer ser prefeito!
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO, de J. D. Salinger (J, de Jerome; D, de David), falecido em 2010, aos 91 anos, é um livro que foi verdadeira coqueluche para a geração que hoje tem mais de 40, 50 ou 60 anos. Mas de repente ficou esquecido. Eis uma capa recente, apresentada pelo escritor gaúcho Carlos Henrique Schroeder na página de Sérgio Rodrigues, na Veja on-line.
O romance ambienta-se num fim-de-semana vivido pelo personagem solar, um adolescente chamado Holden Caulfield, de 16 anos, pertencente a uma rica família de Nova York. Estudando em internato masculino, ele tira notas muito ruins em todas as matérias, e é expulso do colégio naquele inverno. Não quer encontrar logo a família e por isso faz outras viagens antes de voltar para casa. Empreende então uma série de reflexões sobre a vida, antes de decidir o que fazer dali por diante. E conversa com pessoas importantes para ele: um professor, uma antiga namorada e a sua irmã. Confidencia a todas elas o momento confuso que vive. Este romance redefiniu a adolescência, antes considerada apenas porta de passagem para a juventude, e criou uma cultura jovem, que ainda hoje influencia muito a vida moderna, notadamente nos EUA. A indústria, principalmente do vestuário, de entretenimento etc, passou a lançar produtos especialmente para aquea faixa etária, como hoje faz com as crianças, grandes incentivadoras de consumo para os pais. Experimente levar uma criança naquele carrinho de supermercado. As crianças, sentadas ali como imperatrizes, vão derubando as prateleiras e as mais mal-educadas, se não são atendidas, abrem um berreiro. xx)
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
A LUTA AMOROSA COM AS PALAVRAS
(texto escrito por Mário Quintana para a revista “Isto É” de 14/11/1984)
Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade.
Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton! Excusez du peu.
Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante 5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Veríssimo – que bem sabem (ou souberam), o que é a luta amorosa com as palavras.
( Mario Quintana )
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Quanto à censura a Lobato, recomendo um filme que vi em Portugal, em dezembro passado, logo depois do lançamento: A Toupeira. No Brasil é O Espião Que Sabia Demais, baseado no romance de John Le Carré, "Tinker, taylor, soldier, spy", publicado em 1974. Na linha do que fiz Michel Foucault em "A Microfísica do poder", você fica sabendo como funcionam os complexos mecanismos do controle político. O chefão, aliás, é chamado apenas "O Controle". E a equipe, "O Círculo". É preciso saber tudo em detalhes, mas poder exercer o poder, que inclui vetar, controlar, censurar.
Defendi minha tese de doutoramento na USP, en 1989! Titulo: "Nos bastidores da censura", mesmo título do livro, lançado naquele mesmo ano pela Estação Liberdade, do nosso Jiro Takahashi. (Saudades de você, Jiro, querido amigo, inesquecível editor!)Poucos sabem, mas até a revista Playboy se interessou pelo assunto e eu obtive o primeiro lugal no Prêmio Abril de Jornalismo, pois sempre quis que fora dos muros universitários os leitores soubessem do que ali se produzia, que em geral é de boa qualidade e não tem público. SUSTENTO QUE A CENSURA NÃO É EXCEÇÃO, É NORMA. JOYCE, DANTE, FLAUBERT, D. H. LAWRENCE, OSCAR WILDE ETC, FORAM CENSURADOS NA FRANÇA, NOS EUA ETC. NO BRASIL, O CASO-SÍNTESE É RUBEM FONSECA, OBJETO DE MINHA TESE. AGORA AS HORDAS CENSÓRIAS SE VOLTARAM PARA MONTEIRO LOBATO. O FENÔMENOS NÃO É APENAS BRASILEIRO. NOS EUA, JÁ TIRARAM A PALAVRA "NIGGER" DAS OBRAS DE MARK TWAIN! A censura a Lobato vem no bojo do "controle" do "está tudo dominado", percebem? O objetivo é um só: impedir que o leitor leia e que os autores publiquem o que queiram, inclusive na mídia. O sonho deles é CONTROLAR! Porque daí podem assaltar o erário, os cofres públicos, e ninguém fica sabendo, percebem? No Brasil, fuciona assim: o rebanho estará entretido em discutir, repartido, as proibições a Monteiro Lobato, que é a bola da vez e mais uma tentativa de controlar o distinto público. Enquanto isso, eles fazem outras coisas, não é mesmo? No momento, estão concentrados em dizer que não houve mensalão. Que combater e levar a julgamento ladrões do dinheiro público é conspirar contra a democracia. Nunca antes neste pais vi ladrões se compararem a Getúlio Vargas!
domingo, 30 de setembro de 2012
sábado, 29 de setembro de 2012
QUE SIGNIFICA SEU NOME?
Abílio quer dizer que não é mal-humorado, pois o "a" inicial nega ou põe de lado "bílio", cujo étimo é o Latim bilis, bílis no Português. Ou fel, seu sinônimo, dado como a morada dos maus humores, como a cólera. Em resumo, Abílio não tem mau humor. Poderá ficar mal-humorado, ao estudar o hífen, pois mau humor e bom humor não têm hífen, mas bem-humorado e mal-humorado têm.
Carlos veio do germânico Karl. Os normandos levaram este nome para a Inglaterra nos primeiros séculos do segundo milênio. Na Península Ibérica tornou-se Carlos, no Português como no Espanhol, mas no Francês virou Charles, no Italiano, Carlo, no Inglês, Carl, e no Alemão, Karl. O significado original é "homem do povo", simples. E embora não tenhamos "Abília", temos Carla, para as mulheres.
Ainda na letra "C," ou "K", usada como variante, temos Cristiano, Cristina, Kristina etc. O étimo é o latim Christianus, que no Inglês virou Christian e no Alemão, Kristen. Na Europa, em muitos países aparece o mesmo étimo em Kristine, Cristine, Cristina etc. Todos eles aludem à seita dos seguidores de Christus, nome latino de Jesus, depois transformada em religião oficial do Império Romano. O Latim Christus é adaptação do Grego Khristós, ungido, abençoado, que no Hebraico é Maxiah, de onde veio Messias.
Gilberto também é nome de origem germânica. É adaptação de Williberht, palavra composta de Will, vontade, e berarht, brilhante, marcante. Do mesmo étimo procede Gisele, cujo significado é refém famosa, pois Gisal ou Gisil tinha no antigo germânico o significado de refém.
Márcio, que tem o feminino Márcia, e Marcos, sem feminino, procedem do latim Martius, Marte, o deus da guerra. Significa lutador(a), guerreiro(a).
Paulo, do Latim Paulus, baixinho, foi de Roma para a Europa e virou Paul, Paolo, Pablo, Paulino, com os femininos equivalentes.
Rita é diminutivo do Latim Margarita, pérola. E Rosana ou Rossana é junção de Rosa, flor, e Hannah, graça, rosa graciosa. Helena, do grego Heléne, tocha, que ilumina, acesa.
Ana, do hebraico Hannah, graça. Beatriz veio do latim beatrice, beata, a que dá beatitude, isto é, felicidade a quem está com dela. A mais famosa é Beatriz Portinari, namorada de Dante Alighieri, que a imortalizou na Divina Comédia.
Sueli e as variantes Soeli, Suellen etc vêm do germânico Suel, Luz, e quer dizer luminosa.
Manuela é o feminino de Manuel, do hebraico Immanuel, Deus está conosco, pela formação immánu (conosco) e El, Deus. Rodrigo procede do germânico Hrodric, príncipe (rik), que tem fama (hruot).
Michele, feminino de Miguel, do hebraico Mikhael, é uma pergunta: mi-hayáh (quem é como Deus?).
E, por fim, Deonísio, o meu nome, procede do grego Dionysios, consagrado ao deus Dionyso, deus do vinho e dos prazeres. Ave! Mas chegou por último ao Olimpo, a morada dos deuses, depois das Parcas, pois não tinha pressa. (xx)
*Escritor, autor de 34 livros, Doutor em Letras pela USP, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Escreve aos domingos neste espaço.
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
O HINO ERA OUTRO (hoje em O Globo, p.23)
O Hino Nacional que cantamos não é a canção que venceu o concurso público para escolha deste importante símbolo nacional. O povo não aprovou a música de Leopoldo Miguez e a letra de Medeiros e Albuquerque, embora tivessem obtido em concurso público o primeiro lugar, entre 36 candidatos. Também não tinha aprovado a letra anterior, de Américo Moura: “Gravai com buril nos pátrios anais o vosso poder/ Eia! Avante, brasileiros! Sempre avante”,
Então, o marechal Deodoro da Fonseca, monarquista que proclamara a República, determinou que o Hino Nacional continuava a ser aquele dos tempos do Império, letra do professor de português do Colégio Pedro II, Joaquim Osório Duque Estrada, e música de Francisco Manuel da Silva.
A letra classificada em primeiro lugar é bonita, mas falsa! Diz: “Nós nem cremos que escravos outrora/ Tenha havido em tão nobre País..." Outrora era 1888! Fazia pouco mais de um ano que não havia mais escravos no Brasil, por força da Lei Áurea, assim chamada por ter sido assinada pela princesa Isabel com uma caneta de ouro!
Tal como na letra que hoje cantamos, o riacho Ipiranga também está lá, parecendo o Amazonas, pelo estilo pomposo: "Do Ipiranga é preciso que o brado/ Seja um grito soberbo de fé!".
Igual decepção tiveram os cruzados quando chegaram à Terra Santa. Acostumados a ver rios europeus grandiosos, como o Danúbio e o Reno, achavam que o Jordão fosse ainda maior! E encontraram um riacho! Portanto não era tão grande a dificuldade de Réprobo, nome original de São Cristóvão, atravessá-lo com o Menino Jesus às costas.
Aquarela do Brasil não é hino nacional, mas talvez seja mais coerente com a História do Brasil: “Ah! Abre a cortina do passado/ Tira a mãe preta do cerrado.” A menos que os atuais censores de Monteiro Lobato vejam racismo nesse autor também. Ary Barroso, órfão desde os oito anos, que “teria um desgosto profundo se faltasse o Flamengo no mundo”, venceu todas na vida, mas perderia para os censores. Porque "a burrice, no Brasil, tem um passado glorioso e um futuro promissor", como disse o ex-seminarista Roberto Campos.
Enquanto não mudarmos a letra do Hino Nacional ou não a aprendermos, continuaremos dando o vexame de não saber cantá-la ou não saber o que cantamos. Poucos entendem versos tão rebuscados, compostos de palavras estranhas, algumas já fora de circulação!
A prova dos nove de que todos sabem o Hino Nacional dar-se-á quando até os jogadores da seleção brasileira, este “impávido colosso”, cantarem seus versos “em brado retumbante", saudando o "Brasil, florão da América", devidamente perfilados diante do “lábaro estrelado”, iluminados pelos "raios fúlgidos" do patriotismo e protegidos pelo “formoso céu risonho e límpido”, onde “a imagem do Cruzeiro resplandece.” E sem “o heroico brado”.
“Herói cobrado?”. Cada um deles é um herói pago! Os mais famosos não são mais pagos em cruzeiros, velhos ou novos, nem em reais, e, sim, em dólares, euros, dinares etc. Então, que pelo menos saibam cantar o Hino Nacional, afinal “a seleção é a pátria de calções e chuteiras”, segundo a frase imortal de Nelson Rodrigues. (xx)
* O escritor e professor Deonísio da Silva, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, é Doutor em Letras pela USP e autor de Avante, soldados: para trás (10ª edição) e de De onde vêm as palavras (16ª edição).
terça-feira, 25 de setembro de 2012
RAIMUNDO LÚLIO: O LIVRO DAS BESTAS
Raimundo Lúlio (Lull, em catalão) casou, teve dois filhos, mas abandonou tudo para persuadir os governantes civis e religiosos a praticar e defender a coisa pública. Nasceu na ilha de Maiorca, em 1232, e faleceu em 1316, aos 84 anos.
Não é dos mais conhecidos entre nós, mas vale a pena voltar a ele para entender o Brasil atual. Ele criou um personagem chamado Félix, um andarilho que se “maravilha” com “as maravilhas do mundo”, figura referencial de narrativas que aparecem ora sob um título, ora sob outro, pois nem sempre as edições são integrais e passam a ser conhecidas pelo título com que circula um fragmento.
No Livro das Bestas, Félix vai a um lugar onde animais selvagens estão escolhendo o rei deles. A estratégia do autor é criticar usos e costumes epocais pela mistura de pessoas e bichos como personagens, em que esses últimos são interpretados pelo comportamento dos primeiros, como nas fábulas.
De quebra o leitor é informado da “microfísica do poder” da sociedade feudal, da absoluta prevalência das paixões humanas na política e da eterna luta entre o Bem e o Mal, em que o segundo quase sempre vence o primeiro.
Paz no reino
Logo no primeiro capítulo a eleição é embargada porque a Raposa se dá conta de que o Urso, o Leopardo e a Onça, fortes candidatos e esperançosos de serem eleitos, levantam uma questão de ordem para que seja decidido qual é o animal mais digno de ser rei. Ela fica desconfiada.
Lúlio era clérigo e dá um tempero interessante à narrativa, ao referir a escolha de um bispo que estava demorando muito a concretizar-se. Um cônego que almejava o cargo episcopal, presente à votação, pede a palavra para dizer o seguinte: “Se o Leão se torna rei, e o Urso, a Onça e o Leopardo se opõem è eleição, depois serão para sempre malquistos pelo rei. Se, porém, o Cavalo tornar-se rei, e o Leão lhe fizer alguma ofensa, como poderá o Cavalo vingar-se, se não é tão forte como o Leão?”
Eleito rei o Leão, este tem dificuldade de compor o ministério, a esse tempo conhecido por Conselho do Reino. A Raposa, depois de várias articulações, consegue ser nomeada chefe do gabinete civil, isto é, porteira da Câmara Real. O cargo era muito cobiçado porque competia ao titular cuidar da agenda do rei, cobrar os devedores de impostos, podendo para isso citar e penhorar os bens dos devedores.
Certa vez o Leopardo viaja e o Leão comete adultério com a Leoparda. A Onça, em defesa do rei, trava briga feroz com o Leopardo. A Serpente pergunta ao Galo quem vai vencer a briga. O Galo responde: “Fez-se o combate para que a verdade confunda e destrua a falsidade. Deus é a verdade. Todo aquele que sustenta a falsidade luta contra Deus e contra a verdade.”
O Leopardo mata a Onça e antes a obriga a dizer, diante de todos, que o rei Leão era falso e traidor. Tomado de vergonha e embaraçado, mas cheio de ódio, o Leão aproveita que o Leopardo está cansado da briga e liquida com o atrevido crítico de seu reinado.
Depois deste momento decisivo, a paz volta ao reino graças a algumas mudanças no Conselho de Ministros.
Texto iluminado
O desfecho é impressionante: o Leão dá um urro fortíssimo para que não apenas o Coelho e o Pavão, que estavam com medo de denunciar as fraudes da Raposa, mas também a Raposa – enfim, todos os bichos – entendam que o medo de falar a verdade deveria ser substituído pelo medo de mentir.
A seguir, o Leão mata a Raposa. E expulsa do reino o Coelho e o Pavão, que tinham medo dela e por isso não diziam tudo o que sabiam, e traz para ministros o Elefante, o Javali e outros bichos.
A narrativa de Lúlio tem o título de Livro das Bestas, mas bem quem poderia chamar-se Livro dos Metidos a Bestas. É um texto que ilumina como poucos esse momento decisivo pelo qual passa o Brasil, com sua luta pelo poder nas eleições municipais, o julgamento do mensalão e outros temas referenciais desta conturbada passagem histórica, que a mídia repercute sem cessar a todo instante.
***
[Deonísio da Silva escritor e professor, tem 34 livros publicados. É autor dos romances históricos Avante, soldados: para trás (10ª edição), já traduzido para outras línguas, e Lotte & Zweig (2ª edição), ambos publicados pela Editora Leya. É vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro]
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
DESSA ÁGUA NÃO BEBEREI
Se você tem memória de elefante e acorda com as galinhas, saiba que onde come um, comem dois. E não é por ter estômago de avestruz que tem o olho maior do que a barriga.
Mas, nem que esteja com cara de quem comeu e não gostou, fica com bafo de onça, não dá o braço a torcer, dá as caras num boteco e, depois de dar com os burros n´água, toma chá de sumiço!
Mesmo com o queixo caído de admiração, não dê nó em pingo d´água, pois, quem diz cobras e lagartos, deve ficar de olho e não dormir no ponto, do contrário outros pagam na mesma moeda e as coisas vão por água abaixo, ainda que saibamos que você não dá ponto sem nó.
Acontece que quem gosta de sombra e água fresca, o que quer é tapar com o Sol com a peneira. E daí o tiro sai pela culatra porque, macacos me mordam, macaco velho não põe a mão em cumbuca, pois a cavalo dado não se olham os dentes e ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.
Quem nunca come mel, quando come se lambuza e come um boi por uma perna. Não se pode contar com o ovo no cu da galinha, pois nem só de pão vive o homem e peixe morre pela boca. O que não mata, engorda. Quem comeu a carne que roa os ossos. São favas contadas. Cuidado para não viajar na maionese! Ou ficar chupando o dedo.
É melhor botar a mão na massa e não tomar gato por lebre. Pessoas de meia tigela às vezes acertam na mosca, mas pisam no tomate e comem com os olhos, mas são todas farinha do mesmo saco.
Pensam que pimenta nos olhos dos outros é refresco e, sabendo que a carne é fraca, vão plantar batatas. Juntam a fome com a vontade de comer, comem de tudo um pouco porque o que não mata, engorda.
Depois dão uma banana para a gente, colocam a azeitona na empadinha dos nossos desafetos, mudam da água para o vinho e dão com a língua nos dentes.
Sem quebrar os ovos, nada de omelete, então que não se fale mais abobrinhas! E nada de trocar alhos por bugalhos, é mau negócio. Com a faca e o queijo na mão, não vá com muita sede ao pote. Como descascar o abacaxi se estou empepinado?
E nada de chorar as pitangas, porque de grão em grão a galinha enche o papo e a gente fica aqui enchendo linguiça, agora sem trema, pois beleza não põe mesa.
Apressado come cru. É preciso comer o mingau pelas beiradas no frigir dos ovos e cozinhar em banho-maria, do contrário comemos o pão que o Diabo amassou, não conseguimos vender o nosso peixe e ficamos sem ganhar o leite das crianças.
E ainda enfiamos o pé na jaca para ver quem paga o pato porque esse angu tem caroço! Depois não adianta chorar pelo leite derramado porque todos puxam a brasa para sua sardinha.
Onde se ganha o pão, não se come a carne. Quem dá mais do que chuchu na serra que vá lamber sabão porque o meu nome não é osso para ficar em boca de cachorro.
Essas frases são de lamber os dedos e dão água na boca. Você está com uma batata quente nas mãos? A batata dele está assando e sua chapa está esquentando!
E, por fim, se escreveu e não leu, o pau comeu. (xx)
(Primeira Página, São Carlos –SP, 13/11/2011(
sábado, 22 de setembro de 2012
PIMENTA: O TEMPERO DA PRIMEIRA CORRUPÇÃO
DEONÍSIO DA SILVA*
No Brasil a corrupção começou ainda no Descobrimento. A viagem de Pedro Álvares Cabral foi financiada em grande parte pelo rei Dom Manuel. O dinheiro tinha sido arranjado pelos diplomatas portugueses junto às casas bancárias dos Médici, na Itália.
Ao voltar a Portugal, depois de perder metade das naus, Cabral recebeu autorização para superfaturar o carregamento de especiarias trazidas do Oriente. A pimenta, o cravo, a canela, a noz moscada e o gengibre foram vendidos a peso de ouro.
Poucos professores de História explicam direito aos alunos por que razão as especiarias valiam tanto. A mim explicaram nos meus mais tenros anos, ainda no Seminário São Joaquim, em São Ludgero (SC), cujo professor desta matéria, aliás, era o Padre Ludgero Waterkemper, xará do santo. Professor de História e Geografia, exercia também as funções de ecônomo, isto é, o padre responsável por não faltar alimento para todos os habitantes daquele imenso prédio.
Voltemos à pimenta e às outras especiarias. Quando se aproximava o inverno, os camponeses europeus precisavam abater boa parte de bovinos, ovelhas e cabras porque logo as nevascas e a geada acabariam com os pastos, matando os pobres animais de fome. O sal conservava um pouco os guardados, mas somente com molhos muito apimentados era possível digerir aquela carne.
Mas a pimenta era muito cara. Antes dos Descobrimento, era comprada na Índia (primeiro imposto) de onde seguia para Meca (segundo imposto), dali ia pelo Mar Vermelho até Ormuz (terceiro imposto), de onde partia para a Judeia (quarto imposto). Seguia então em lombo de camelos para o Cairo (quinto imposto), depois para Roseta (sexto imposto) e enfim chegava a Alexandria (sétimo imposto). Ali, galés vindas de Veneza e Gênova pegavam a pimenta e a distribuíam por toda a Europa. Imagine a que preço o tempero chegava à mesa dos camponeses que tinham sacrificado as reses à entrada do inverno.
Depois da queda de Constantinopla, em 1453, ficou ainda pior: os árabes deram o monopólio do comércio da pimenta aos venezianos. Inconformados, os genoveses financiaram a Era dos Descobrimentos, ajudando não só com dinheiro, mas também com geógrafos, pilotos, letrados etc, fornecendo, além dos recursos financeiros, uma vasta e complexa mão de obra, boa parte obtida nas ordens religiosas.
Junto com Cristóvão Colombo, de Gênova, viajava Américo Vespúcio, de Florença, que trabalhava para os Médici. Por isso, há tantos segredos ainda nos descobrimentos da América e do Brasil. E por isso o nome do continente é América e não Colômbia.
Bancos, dinheiro, poder. Mistura explosiva. Pode dar em financiamento de boas obras, como o Descobrimentos, ou em coisas como o mensalão, quando o PT, confundindo Estado, Governo e Partido, se aliou a um banco para manipular o Legislativo, dois poderes independentes. Quem está nos salvando é o Judiciário.
Dom Manuel jamais faria o que tantas autoridades fizeram no mensalão! Ele tinha vergonha na cara! (xx)
*Escritor, autor de 34 livros, Doutor em Letras pela USP, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.
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