NOME DE POBRE NO BRASIL

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

"DEU UM NÓ", "NÓ GÓRDIO" E SUPERSTIÇÕES

Deu um nó nos três poderes referenciais da República. Executivo, Judiciário e Legislativo parecem de repente amarrados uns aos outros, e não independentes. Mas será um nó górdio? Ao signatário cabe apenas lembrar a origem das duas frases tão célebres: DAR UM NÓ e NÓ GÓRDIO. Acerca de sua significação política atual, o titular da coluna, o jornalista Augusto Nunes, desceu, como sempre, o seu “claro raio ordenador”. A primeira frase, DEU UM NÓ, procede de Portugal e da Índia, que tiveram laços perigosos durante muito tempo. Na terrinha, dar um nó era casar. E, como os vínculos do matrimônio católico, além de indissolúveis, eram e são perpétuos, quando se dizia que alguém tinha dado um nó , era indicação de que tinha casado. Na Índia não era metafórico, era literal. Era costume dar um nó na cauda das roupas da noiva e do noivo. Passou depois a indicar situação complicada, mas ainda como casar aparece em As variedades de Proteu, de Antonio José da Silva, o Judeu (1705-1739), escritor brasileiro de apenas 34 anos, executado em Lisboa no garrote vil e depois queimado, enquanto a algumas quadras dali estava em cartaz uma peça de sua autoria. O trecho diz: “E antes te aperte o nó do Himeneu/ do que na garganta te aperte outro nó”. Ele teve premonição da tragédia que o vitimou! Deu um nó na garganta e não foi metafórico, foi literal. Já a expressão NÓ GÓRDIO designa extraordinária dificuldade em determinada questão. Define o cerne de um assunto complicado, como é o caso. A história desta frase remonta aos tempos de Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), senhor de um império que incluía quase o mundo inteiro. De acordo com a lenda, quem desatasse o nó que atava a canga ao cabeçalho do carro feito por um camponês frígio, dominaria o Oriente. O carro estava no templo de Zeus, na Frígia, região onde hoje está a Turquia. Do nó, feito com perfeição, não se viam as pontas. Alexandre tentou desamarrar e, não conseguindo, cortou-o com a espada. E desde então este gesto tem servido de metáfora para designar ações ousadas com o fim de resolver problemas. Não chamem políticos supersticiosos para a tarefa. Tancredo Neves, quando viajava pela Índia, ao receber de presente um elefante de jade, ouviu o conselho de desfazer-se da oferenda porque o bicho estava com a tromba virada para baixo e isso dava azar. Ele, sem que o indigitado transeunte entendesse o gesto, deu a estatueta ao primeiro que encontrou. Todos sabem o que lhe aconteceu: morreu na véspera de assumir a presidência da República. E foi substituído pelo vice, José Sarney, conhecido também por “madre superiora”, autor do romance O dono do mar, entre outros livros, mas cujo título completo, se fosse autobiografia, deveria ser O dono do Maranhão. É que, segundo o humorista José Simão, faltou espaço para a palavra completa na capa. Os políticos nos divertem, “um divertido horror”, como diria Nelson Rodrigues, mas às vezes nos assustam muito. Foi o que aconteceu na semana passada. Alguns deles nos divertiram, mas outros nos assustaram muito. (xx)

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

FOR ALL e FORRÓ

Ao deflagrar a operação For All, cujo alvo é a banda Aviões do Forró, a Polícia Federal suscitou a controvérsia que cerca a etimologia de FORRÓ. Na década de 90, recebi e publiquei a informação de que a origem eram festas oferecidas para todos (For All, em Inglês) por enheiros ingleses quando construíam ferrovias no Nordeste, no século XIX, ou por militares americanos nas bases de Natal (RN) durante a Segunda Guerra Mundial. Mais tarde descobri que é redução de FORROBODÓ, forma de teatro popular festivo, documentada em 1912, portanto bem antes da Segunda Guerra Mundial, tal como informam, entre outros, a escritora Edinha Diniz no livro "Chiquinha Gonzaga: uma história de vida". Também não é festa de negros forros. Neste caso, forro e não forró, provém do Árabe "hurr", livre. O professor Evanildo Bechara (88), da Academia Brasileira de Letras, dá uma etimologia ainda mais remota para forrobodó, que seria o galeco-português "forbodó", já uma corruptela do Francês "faux-bordon", desentoação. O poeta, prosador e filólogo galego Fermín Bouza-Brey (1901-1973), da Real Academia Galega, autor de "Cabalgadas en Salnés", afirma que na região noroeste da Península Ibérica (Galícia e norte de Portugal), "a gente dança a golpe de bumbo, com pontos monorrítmicos monótonos desse baile que se chama forbodó".

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

CHAPÉU-COCO NADA TEM VER COM COCO

A ESTRANHA LÓGICA DA ETIMOLOGIA Em 1849, um aristocrata inglês chamado Edward Coke, cansado de perder cartolas nas caçadas à raposa, encomendou um chapéu mais baixo e mais resistente para cavalgar no mato. Pagou 12 xelins por ele. Ao recebê-lo, pisou nele várias vezes para ver se era de fato resistente. Era.
"Coke" virou coco no Português, pela semelhança com o fruto da palmeira, que nada tem a ver com aquele inglês e nem com a bebida americana "coke", redução de "cocaine", por sua vez vinda do Alemão "Kokain", planta da qual é extraído o conhecido alcaloide, originalmente "kuka" no Aimará, língua falada pelos bolivianos do altiplano, que provavelmente vieram da Ásia, fixando-se na Geórgia (alguns), enquanto outros prosseguiram para a América. Compare os beiços dos povos georgianos e bolivianos: a semelhança entre os dois povos está na cara! E na língua que falam, naturalmente. Quem me chamou a atenção para esta língua dos bolivianos, o Aimará, foi o poliglota brasileiro Carlos Freire, que vive em Florianópolis. Ele conhece mais de 160 línguas.

sábado, 15 de outubro de 2016

ATENÇÃO! A VÍRGULA NÃO FOI ABOLIDA

Tenho visto inúmeros "parabéns professor" hoje. A homenagem está errada. Sei quando começou esta falta de vírgulas. Foi no governo FHC com o programa "AVANÇA BRASIL". Como o ministro Paulo Renato de Souza, ex-reitor da Unicamp, era meu amigo, informei o erro, que era de uma agência de publicidade. Ah, os publicitários! Seus erros de Português são devastadores, pois que ouvidos, lidos e vistos por milhões de pessoas. Vejam abaixo a historinha que dá uma aula de VÍRGULA, do Latim "virgula", diminutivo de "virga", vara. Portanto, vírgula é uma varinha. Conhecem a historinha da herança?
“DEIXO MEUS BENS A MINHA IRMÃ NÃO A MEU SOBRINHO JAMAIS SERÁ PAGA A CONTA DO PADEIRO NADA DOU AOS POBRES.” Morreu, antes de fazer a pontuação. A quem deixava ele a fortuna? Eram quatro concorrentes: o sobrinho, a irmã, o padeiro e os pobres. 1) O SOBRINHO fez a seguinte pontuação: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres. 2) A IRMÃ chegou em seguida. Pontuou assim o escrito : Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres. 3) O PADEIRO puxou a brasa pra sardinha dele: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres. 4) Então, chegaram os POBRES da cidade. Espertos, fizeram esta interpretação: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.

PALAVRAS DO DIA DOS PROFESSORES

De graça, para todos vocês, mas se quiserem mais, peguem o livro "De onde vêm as palavras". 1.PROFESSOR. Esta palavra entrou para o Português no século XV, vinda do Latim vulgar "professor", do verbo PROFITEOR, declarar publicamente (declarar que sabe um assunto e contar com o endosso de uma autoridade de que sabe, de fato), sinônimo de DOCTOR, do verbo DOCERE, ensinar, origem de DOCENTE, sinônimo de MAGISTER, cujo étimo persiste em magistério. "Magister" virou "maistre" (pronunciava-se "maístre" no Francês antigo e não "méstr", como atualmente), depois "maestre" no Provençal e consolidou-se "maestro" no Italiano, mas com o sentido restrito para dirigir uma orquestra, do Grego "orchéstra", lugar onde o coro dançava. Dançar em grego é "orchêistai". 2. ALUNO. Esta palavra entrou para o Português no século XVI. Veio do Latim "alumnus", do verbo "alere", alimentar, criar, do mesmo étimo de "alimentum". Designou originalmente a criança de peito e o órfão, ambos necessitados de alguém que se encarregasse de educar, do Latim EDUCARE, alimentar, criar, ensinar, ligado ao verbo DUCERE, guiar, orientar, conduzir. Aquele que seguia o MAGISTER para além da DOMUS, casa, de onde veio domicílio, e da SCHOLA, escola, intervalo do trabalho, não era apenas ALUMNUS; era DISCIPULUS, dicípulo, quer dizer, aprendia mais do que a DISCIPLINA que ele ensinava, aprendia a viver.
3. AULA Esta palavra veio do Grego AULÉ, palácio, corte. As primeiras aulas eram ministradas às classes superiores em palácios, de políticos, de chefes religiosos ou de ricaços. No Latim virou AULA, designando ainda palácio, mas também recinto fechado e parcialmente coberto, onde o magister caminhava e ensinava, por vezes ao ar livre, como fazia Platão em Atenas, no gramado onde estava a estátua do herói grego AKADÉMOS, de onde veio a palavra academia. Na antiga Roma, a AULA estava situada entre a porta que dava para a rua e o VESTIBULUM, onde o hóspede deixava a capa, o manto e outras vestes protetoras para entrar na DOMUS. Foi de VESTIBULUM que veio a palavra vestibular. 4. LIÇÃO Veio do Latim LECTIO, escolha que o LEGENTE (depois LENTE, sinônimo de professor e de mestre) fazia para LEGERE, ler, a seus ALUMNI, alunos. LEGERE, em Latim, designou originalmente o ato de colher (colhêr), pois ler é colher palavras, como se colhe o trigo no campo. PEDAGOGIA, PEDAGOGO e DIDÁTICA vieram do grego. Em outro post poderei dar a etimologia destas outras palavras.

domingo, 9 de outubro de 2016

"O POVO É SOBERANO! EDUQUEMOS O SOBERANO!" (Sarmiento).

Nossas escolas desabam nos indicadores nacionais e internacionais que medem a qualidade. O aluno não entende o que lê, escreve errado (principalmente ortografia e sintaxe) e defende a ignorância? Não faz mal! Há indulgências plenárias para isso em escolas e universidades. Se assim procedem, os professores estão enganando os alunos. E todos vão para o brejo das almas. Os mestres obtiveram seus empregos utilizando uma língua que agora não ensinam? Ora, no Brasil, é com a LÍNGUA PORTUGUESA que são ensinadas todas as disciplinas. Por isso, o ensino desta língua é estratégico! Depois que, por exemplo, o aluno aprende ortografia, ele pode, com a ajuda de mestres qualificados, ir além, e aprender que existem muitas variantes para o que ele diz e escreve, no Português e em outras línguas. MAS, DEPOIS, NÃO ANTES. Do contrário, ele pensa que tanto faz...
Nós escrevemos LIVRO, mas a maioria de nossos vizinhos escreve LIBRO. Porque sua língua é o Espanhol. As duas línguas tomaram o étimo do Latim LIBER. Assim como fez o Italiano, que escreve LIBRO. O Francês, da mesma família, escreve LIVRE. O Romeno escreve CARTE, porque o étimo é outro: o Latim CHARTA, do Grego KHARTÉS, folha de papiro, que deu CARTA em Português, com outro significado. No Inglês é BOOK. No Alemão é BUCH. No Holandês é BOEK. No Dinamarquês é BOG. Há razões para estas diferenças. Nestas últimas línguas, o étimo remoto tem a ver com CARVALHO, madeira de que era feita a ferramenta para escrever. Esta ferramenta chamava-se STYLOS, em Grego, e STILUS, em Latim, que deu ESTILO em Português, mudando de significado para designar o modo de escrever. Porque com esta varinha, de metal ou de madeira, tirava-se o excesso de palavras nas lousas, do Latim LAUSIA, a pedra de ardósia onde se escrevia, ou na TABULA, o étimo remoto de TABLET. Nas línguas neolatinas, o étimo remoto de LIVRO e LIBRO indica a película entre a casca e a árvore, utilizada originalmente como PAPEL, cujo étimo é o Latim PAPYRUS, papiro, o arbusto do Egito utilizado para fazer velas de navio e para escrever, que, por sua vez, veio do Grego PÁPYROS. Este material, embarcado no porto fenício de BIBLOS, vinha para a Grécia. Esta palavra deu BÍBLIA, BIBLIOTECA, BIBLIOGRAFIA. Como se vê, numa simples nota de Facebook, pode-se dar uma ideia de que ensinar não é ofício simplório e que não é baixando o nível que você democratiza o saber. Seria melhor preparar os alunos o curso superior que escolheram. Mas muitos podem querem fazer outra coisa, um curso técnico, por exemplo. Há muitos ofícios para os quais não é necessário um curso superior! Não é abrindo a universidade para despreparados que nós vamos qualificá-los. Não adianta. Lá adiante a sociedade e o mercado vão rebaixá-los, começando por diminuir a remuneração! Mas, se o aluno chegou à universidade, aproveitemos a oportunidade e nos comportemos como médicos na UTI: o projeto é não deixar morrer nenhum! Para isso, vamos recorrer à didática, do Grego DIDAKTIKÉ, a arte de ensinar. É uma arte! Estou com Miguel de Unamuno, o reitor da Universidade de Salamanca: "A universidade é um templo e eu sou seu sumo sacerdote". O templo é sagrado, respeitemos os sacerdotes. O povo é soberano. Eduquemos o soberano.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

EM MUITAS CIDADES, "NINGUÉM" VENCEU AS ELEIÇÕES DE 2016

Em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre, a maioria dos eleitores não quis nenhum dos candidatos. Rio de Janeiro 1. Ninguém: 1.866.621 votos 2. Crivella (PRB): 842.201 votos 3. Freixo (PSOL): 553.424 votos São Paulo 1. Ninguém: 3.096.186 votos 2. Dória (PSDB): 3.085.181 votos 3. Haddad (PT): 967.190 votos Curitiba 1. Ninguém: 360.348 votos
2. Rafael Greca (PMN): 356.539 votos 3. Ney Leprevost (PSD): 219.727 votos Porto Alegre: 1. Ninguém: 382.535 votos 2. Marchezan (PSDB): 213.646 votos 3. Melo (PMDB): 185.655 votos De post de Marcus Fabiano

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O PADRE, A MOÇA E O VENTO

Um vilarejo lá no fim do mundo. O jovem padre dá a unção dos enfermos ao vigário. O moribundo cochicha algo. Um comerciante chamado Fortunato ouve o nome de Mariana, sua filha adotiva, filha legítima de um garimpeiro que faliu. Quando a menina adolescia, tornou-se amante do pai de criação. Este quis casar-se com ela, mas o vigário não permitiu. Depois do enterro do vigário, o novo padre concorda com o casamento, mas descobre que a moça gosta dele, o padre substituto, e ele também gosta dela. E agora? O poema é de Carlos Drummond de Andrade, o filme é de Joaquim Pedro de Andrade. Desde jovem, ensino língua portuguesa e suas literaturas com textos escolhidos por mim, jamais orientado por quem está sendo apresentado na mídia como autor importante. Quem quiser conferir, veja quem era autor importante na mídia das década de 90 para cá. Um horror!

domingo, 2 de outubro de 2016

DAR UMA DE JOÃO-SEM-BRAÇO

A expressão “joão-sem-braço” designa o preguiçoso, o omisso ou o trapaceador. Originalmente, o pedinte amarrava sob a roupa um dos braços ou os dois, fingindo ser mutilado de guerra para obter a esmola pretendida, dando uma de joão-sem-braço. Mas havia outros sinceros joões-sem-braços, muitos dos quais eram atendidos pelas Santas Casas de Misericórdia, a primeira das quais foi fundada em Portugal, no século XV, pela rainha Dona Leonor, a “princesa perfeitíssima”. No Rio, a Rua dos Inválidos atesta a tradição. Ela ainda conserva o mesmo nome que tinha em fins do século XVIII, por ter sido edificado ali um asilo para militares reformados, isto é, aposentados. Eles estavam temporariamente impedidos de trabalhar. E muitos iam para a rua mendigar. Portugal formou-se e consolidou seu poder por meio de sucessivas guerras, travadas no próprio território ou em suas colônias, produzindo muitos mutilados de guerra.