NOME DE POBRE NO BRASIL

sábado, 14 de janeiro de 2023

O SANTINHO DE ALBERTINA BERKENBROCK Deonísio da Silva * Houve quem achasse que a beleza poderia prejudicá-la. O santinho da catarinense Albertina Berkenbrock não tem o frescor adolescente da imagem real. A imagem real foi vetada pelo próprio papa Bento XVI quando a beatificou. Hoje seria parecida com Gisele Bündchen e com outras tantas beldades do Brasil meridional, um celeiro de modelos e misses de rara beleza. Mas a beata brasileira, na efígie aprovada no Vaticano, semelha uma jovem senhora. O santinho de Albertina Berkenbrock é reprodução de pintura feita por seu professor, Hugo Berndt, um oficial do exército alemão que, em viagens de núpcias, em 1913, desertou, fixando-se primeiramente no Rio de Janeiro e por fim na localidade de São Luís, no município de Imaruí (SC), onde a adolescente de apenas 12 anos foi assassinada em tentativa de estupro por empregado da família chamado Manuel Palhoça. O resumo do crime dá poucas pistas do autor, aliás identificado por método sobrenatural: outro já estava preso, mas o cadáver da menina sangrava quando Manuel Palhoça se aproximava do estrado onde tinha sido posto. O leitor encontrará escassos registros na mídia sobre o assunto. O papa Bento XVI assinou o Decreto de Beatificação em 16 de dezembro de 2006. O prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal José Saraiva Martins, veio do Vaticano a Santa Catarina com o fim de presidir à cerimônia em que ela foi proclamada bem-aventurada (20/10/2007), em Tubarão (SC). Albertina Berkenbrock, filha de Henrique Berkenbrock e de Josefina Boeing, nasceu a 11 de abril de 1919, na localidade de São Luís, em Imaruí (SC), e ali morreu no dia 15 de junho de 1931. Tinha, pois, 12 anos! Muitos parentes seus ainda moram na mesma localidade onde ela, resistindo ao estupro, morreu virgem, degolada por um empregado da família. Quem atestou que ela morreu virgem foi a parteira que ajudara sua mãe a dá-la à luz. Originalmente habitado por índios, principalmente carijós, o estado de Santa Catarina recebeu muitos imigrantes europeus, sobretudo italianos, alemães e poloneses, entre 1870 e 1914, quando ocorreram as grandes ondas de imigração daqueles que fugiam da miséria, de doenças ou de perseguições políticas advindas das revoluções que pululavam na Europa, diz o documento. Os pais de Albertina eram imigrantes católicos procedentes da Vestfália. Quem tem beleza, exerce atração. Quem exerce atração, exerce poder. Albertina Berkenbrock não foi vítima de sua beleza. Foi vítima de um assassino cruel. Quem confessou o crime foi condenado e cumpriu a pena que lhe foi imposta. (Nota posterior à publicação: Resta saber se cometeu o que confessou). * professor e escritor. Este artigo foi originalmente publicado na revista VEJA ON-LINE. º professor e escritor