NOME DE POBRE NO BRASIL

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

DEUS SEJA LOUVADO, DEUS NOS ACUDA!

Jefferson Aparecido Dias, Doutor em Direito pela Universidade de Olavide, na Espanha, é procurador da República em Marília (SP). Ele quer retirar das cédulas de nosso dinheiro a expressão “Deus seja louvado”, que aparece ali desde 1986, por determinação do então presidente José Sarney, que não é Doutor, mas é esperto. Quando a moeda mudou de cruzado para real, em 1994, o ministro da Fazenda era Fernando Henrique Cardoso. Ele manteve a frase nas novas cédulas, por “tradição”. É que aprendera uma dura lição de Jânio Quadros que o derrotara para prefeito de São Paulo dez anos antes e não queria perder a eleição para presidente da República. Na eleição de 1985 o tema “Deus” tinha sido então decisivo. Em debate na televisão, o jornalista Boris Casoy perguntara-lhe se ele acreditava em Deus. Fernando Henrique respondera: “nós combinamos que você não me faria esta pergunta”. Foi uma tremenda bola fora. E Jânio Quadros usou a seu favor os tropeços do professor. FHC era inteligente, mas pouco esperto. Disse a um jornalista que “era ateu, graças a Deus” e que na juventude tinha experimentado maconha. Jânio dizia nos comícios que seu adversário era ateu e colocaria maconha na merenda das crianças, caso vencesse. A bobagem sobre Deus não foi a única. Às vésperas da eleição, posou na cadeira de prefeito para a foto de capa da revista VEJA sobre a vitória, que parecia certa. Outros jornais pegaram carona e todos prometeram publicar a foto apenas no dia 16, mas a Folha de S. Paulo rompeu o acordo e a publicou no dia da eleição, 15 de novembro de 1985. Comunicação não é o que você diz, é o que fica no interlocutor. E nos telespectadores o que ficou foi uma imagem de arrogância de FHC. Antes de Sua Excelência, o Eleitor, se pronunciar, ele posava como prefeito. Perdeu a eleição. Jânio Quadros ainda dedetizou a cadeira de prefeito antes de tomar posse. O procurador que exigiu a retirada da frase das cédulas de dinheiro a expressão “Deus seja louvado” que me desculpe, mas os inteligentes precisam aprender algo com os espertos. Ele não devia mexer nisso. Sabemos que se trata de pessoa inteligente, do contrário não teria chegado aonde chegou. Olhemos o exemplo de Lula, outro “safo”, segundo um ministro do STF: de boquirroto contra o famoso julgamento, passou a boquifechado depois que o STF mandou para a cadeia os mensaleiros! Humilde sugestão de quem assina essas linhas: que o procurador da República não dê chance a quem não presta! Que exija a retirada dos juros extorsivos de nosso dinheiro, entre os mais altos do mundo, e deixe a frase em paz. E já que se chama Aparecido, vá a Aparecida do Norte, reze uma ave-maria e retire sua exigência, não a frase! Ora et labora (reza e trabalha), recomendou São Bento! Ainda que você não acredite em rezas, rezar é pensar! E pensar antes e depois do fazer, faz bem! (xx) • Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.

domingo, 11 de novembro de 2012

MACONDO, BRASIL: O JUIZ CONDENOU O SANTO

MACONDO, BRASIL: O JUIZ CONDENOU O SANTO DEONÍSIO DA SILVA * Muitos leitores escreveram para dizer que provavelmente o romancista prevalecera sobre o cronista quando publiquei na revista ÉPOCA a crônica Santo Antônio tenente-coronel e almirante. As revelações constam do livro Santo Antônio de Lisboa, Militar no Brasil, da autoria de José Carlos de Macedo Soares (Rio, Editora José Olympio, 1942). Aqui vão, mais de dez anos depois, outros informes curiosos. Santo Antônio nasceu Fernando de Bulhões. Era bisneto de um cruzado francês de sobrenome Martin (diz-se Martán). Morreu em 1231, aos 36 anos! Tornou-se santo em 1232, não em 1832, como informa certa enciclopédia KH, iniciais de Koogan-Houaiss que não evitaam o cacófato. No ano de 1595, uma frota francesa foi lançada ao mar para destruir a cidade da Bahia. Nos combates travados contra as forças portuguesas, ainda nas costas da África, restou uma imagem de Santo Antonio, encontrada de pé, na areia, depois dos naufrágio de algumas naus agressoras. Derrotados os franceses, algum tempo depois a imagem foi levada à Câmara da Bahia, onde foi homenageada em sessão solene. Afinal, somente ela restara em pé, no areal. No ato foi exarado um documento oficial em que o santo foi declarado soldado e passou a receber pagamento. No século XVIII foi promovido a capitão por Dom João V. Em 1718, o vice-rei da Bahia nomeou-o também alferes da infantaria. Em 1814, Dom João VI deu nova promoção ao santo, desta vez elevando-o a tenente-coronel. E o soldo foi pago até 1923. Um dos recibos foi passado no Rio de Janeiro em 15 de junho de 1846. Lê-se o seguinte: “Recebi do ilustre tenente-coronel Manoel José Alves da Fonseca, tesoureiro e pagador-chefe das tropas desta capital, a quantia de 80 mil réis, importância relativa ao mês de maio último, do glorioso Santo Antônio, como tenente-coronel do Exército”. O santo sofreu processo no Brasil quando morreu um escravo que trabalhava numa de “suas” fazendas. Um juiz entendeu que quem deveria responder pelo crime do escravo era seu dono. Ora, o dono era Santo Antônio. Todos os padres tiveram escravos no Brasil em suas paróquias e conventos até a Abolição, cuja campanha começou com uma reunião na Favela da Rocinha. Aliás, a Rocinha foi pioneira em mais coisas: ali foram instalados o primeiro poste de luz e o primeiro ponto de água encanada. E o sobrenome Dos Santos, tão comum no Brasil, remonta a descendentes dos escravos dos santos, como os padres eram chamados. Intimado, o santo não compareceu. Para não ser julgado à revelia, foi arrancado do altar da igreja em que estava, no interior da Bahia, amarrado ao lombo de um burro e levado sob vara para o julgamento. O juiz chamava-se José Dantas dos Reis. Só no Brasil! Tal como na famosa vila do romance de Gabriel Garcia Márquez, Prêmio Nobel de Literatura, algumas coisas só acontecem em São Joaquim da Barra, a nossa Macondo. (xx) • Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.