NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 29 de março de 2013

NOVA DIRETORIA DA UTV - REDE DE TVs UNIVERSITÁRIAS DO RIO

Diretor Presidente Arapuan Medeiros da Motta Netto - UNISUAM Vice Diretor Presidente Deonísio da Silva - UNESA Pessoal, a Estácio Universidade, a partir desta semana passa a integrar o governo provisório da UTV pelo período de um ano. Por unanimidade, as onze instituições universitárias que compõem tão importante Rede de Televisão, elegeram um diretor-presidente e um vice-diretor presidente até maio de 2014. Já foi apresentado um plano de reformulação, brevemente virão boas novidades. Meu trabalho será o de apoiar e eventualmente substituir o jovem reitor da UNISUAM, rumo ao fortalecimento de uma dimensão tão importante para espelhar os feitos das instituições associadas CIEE-Rio, Fiocruz, Fundação Cesgranrio, IME, PUC-Rio, Universidade Candido Mendes, Universidade Estácio de Sá, Universidade Gama Filho, UNIRIO, UNISUAM, UniverCidade, Universidade Veiga de Almeida.

EFEMÉRIDES DE ABRIL: DESCOBRIMENTO, TIRADENTES, DIA DA MENTIRA ETC

ABRIL: do Latim vulgar aprilius, radicado em aprilis, em conformidade com nomes de seis dos dez meses do antigo ano romano, presididos por deuses ou deusas: Jano (janeiro), Febre (fevereiro), Marte (março), Vênus (abril), Maia (maio), Juno (junho). April tem efemérides marcantes: O poeta John Milton, já pobre, porque neto de avô católico que deserdara o pai ao descobrir seu protestantismo; e cego, em consequência de seus anos de presidiário por motivos políticos, vendeu o copyright de sua obra-prima, O Paraíso Perdido, por 10 libras, no dia 27, em 1667; Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, é enforcado e esquartejado no Rio, no dia 21, em 1792; o Brasil é descoberto no dia 22, em 1500. Quanto a primeiro de abril ser o dia da mentira, o folclore, de procedência francesa, remonta ao ano de 1564, quando o rei Carlos IX determinou que o ano começasse no dia primeiro de janeiro, no que foi imitado por vários países, que até então tinham outros calendários, pois foi somente a partir do gregoriano, assim chamado em homenagem a quem o instituiu, o papa Gregório XIII, que tal denominação começou aos poucos a imperar pelo mundo afora. Como quem realmente mandava era sua mãe, Catarina de Médicis, que o instigou à matança da noite de São Bartolomeu – ocorrida a 24 de agosto de 1572, quando cerca de 3 mil protestantes foram assassinados em Paris por uma turba de católicos enfurecidos – a denominação não pegou e nasceu aí o costume de mentir no dia primeiro de abril. Célebres mentiras já foram pregadas na data, inclusive na imprensa, como a de que a minúscula república russa de Djortostão doara seis metros quadrados de seu território a uma república vizinha para arrebatar do Vaticano o título de menor Estado autônomo do mundo. O escritor Bernardo Guimarães era contumaz pregador de mentiras de abril. E certa vez chamou o médico para atender o filho que havia tomado veneno. O doutor pensou tratar-se de mais uma mentira, e o moço morreu. O autor de O Seminarista e A Escrava Isaura caiu numa depressão da qual nunca mais se recuperou.

quinta-feira, 28 de março de 2013

PÁSCOA: DEU BARRABÁS NO PLEBISCITO

Em meu romance Goethe e Barrabás, lemos no capítulo A luz que te falta: “Salomé, com os sentimentos desarrumados por amar um homem que lança abismos e pontes entre ele e ela, mistura vigília, sono e sonho, aumentando a confusão que toma conta de suas almas, depois de vinhos rascantes e de amores insensatos”. Estava num desses eventos em que os leitores querem que o escritor fale se algumas personagens se baseiam em pessoas conhecidas, quando uma leitora muito sagaz, de 83 anos, me perguntou, respeitosa: “O senhor deu-lhe o nome de Salomé por que ela perdeu a cabeça por Barrabás num amor insensato, depois de ter feito João Batista perder a dele? Aliás, todos os amores têm um quê de insensato, mas como o senhor tomou dois personagens bíblicos, deslocando-os para atuarem unidos, pois Salomé é aquela que dançou para o rei Herodes, e Barrabás aparece na Semana Santa, eu lhe pergunto: as más escolhas de que fala o senhor são construídas por nós deliberadamente ou são obra do destino?”. O debate acontecia bem próximo a outra Páscoa e o assunto era muito pertinente. Respondi que acredito nas transcendências de nossas vidas, que somos bem diferentes de um pé de couve ou repolho, pois nascemos para olhar o que está no alto e não para chafurdar em nossa pobre condição humana. Que isso pode ser chamado de destino, talvez! Temperei com o célebre paradoxo de Blaise Pascal, escritor francês do século XVII, que disse: “o homem não é anjo, nem besta, mas quem quer ser anjo, acaba sendo besta.” A dulcíssima velhinha prosseguiu: “jamais esquecerei de outra passagem” – estava com o livro na mão e leu: “A moça descobre também que se na Judéia criassem frangos, em vez de cordeiros, Jesus teria sido o frango de Deus que tira os pecados do mundo, sem contar que para frangos e famintos o destino será sempre um só: a morte para todos. Barrabás, porém, diz à amada que a vida dele é bem diferente da de um frango. Diz também que foi Barrabás quem apareceu a Goethe, no final da vida, oferecendo-lhe a luz que faltava, mas já era tarde”. No romance, faço referência a dois personagens com o nome de Barrabás e a duas Páscoas. Na Páscoa do Antigo Testamento, os hebreus matam cordeiros e esfregam o sangue na porta das casas, para que o Anjo da Morte não mate os primogênitos. Na Páscoa do Novo Testamento, Jesus é chamado Cordeiro de Deus. Pois bem! Semana passada, depois de proferir palestra a convite do presidente do Tribunal de Justiça, em São Paulo, José Roberto Nalini, visitei outro querido amigo ali: o poeta Paulo Bonfim. E, em nossa agradável conversa, ele lembrou um livro Les deux mères (As duas mães), sobre um suposto encontro da mãe de Jesus com a mãe de Judas. Ainda não encontrei esse livro que já antevejo admirável pelo tema. Quem sabe, na próxima Páscoa possa falar dele a vocês. Tenho aprendido muito a cada Páscoa, principalmente com pessoas cuja amizade para mim é um privilégio! (xx) º Escritor e professor, autor de 34 livros, entre os quais A Placenta e o Caixão (reunião de crônicas aqui publicadas).

terça-feira, 26 de março de 2013

DEONÍSIO FALA EM SÃO PAULO SOBRE O LIVRO ALÉM DO LIVRO

NÃO COMEREI DA ALFACE A VERDE PÉTALA, Vinicius de Moraes

Não comerei da alface a verde pétala Nem da cenoura as hóstias desbotadas Deixarei as pastagens às manadas E a quem maior aprouver fazer dieta. Cajus hei de chupar, mangas-espadas Talvez pouco elegantes para um poeta Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta Que acredita no cromo das saladas. Não nasci ruminante como os bois Nem como os coelhos, roedor; nasci Omnívoro: dêem-me feijão com arroz E um bife, e um queijo forte, e parati E eu morrerei feliz, do coração De ter vivido sem comer em vão.

domingo, 24 de março de 2013

Anna Maria Ribeiro tem 83 anos. É autora de crônicas muito divertidas, saborosas, como este que hoje posto. Um bom domingo a todos. http://deonisio.blogspot.com.br/2013/03/deliciosa-cronica-sobre-um-corno-de.html

DELICIOSA CRÔNICA SOBRE UM CORNO, DE ANNA MARIA RIBEIRO

INCIDENTE POLICIAL MILITAR Anna Maria Ribeiro Faz tempo um ex-delegado de polícia, meu amigo, contou-me este incidente como verdade verdadeira por ele vivida. Rolava o ano de 1969, auge da repressão. Um senhor entra numa delegacia da Zona Sul e autoritário exige ser atendido pelo Delegado o que é dificultado por um mal humorado escrivão. O irritado tom de voz do senhor chega aos ouvidos do Comissário que aparece aos gritos: Tá pensando que isto aqui é casa da mãe Joana?! O apopléctico senhor parece que vai dar uma de “sabe com quem está falando”, mas se contém. Puxa o Comissário para um aparte e apresenta-se em segredo: é o General XX, famoso por suas ações contra-terrorismo. Cheio de mesuras o Comissário apressa-se em conduzi-lo ao Delegado. Um mutismo inexplicável ataca o General na presença do Delegado que imagina que o General ali está para solicitar a colaboração da polícia no estouro de um aparelho o que o faz perder-se num discurso laudatório às gloriosas forças armadas na defesa da ordem e dos poderes constituídos: .. estes terroristas têm mais é que ser exterminados sem dó nem... O General interrompe e pede a saída do Comissário. É indispensável o maior sigiloso. O Delegado ordena a saída do humilhado Comissário e aguarda a honrosa demanda que lhe fará o General. Este depois de muito pigarrear e hesitar termina por declarar que ali está para solicitar um flagrante de adultério: sua segunda mulher, muito jovem, o está traindo com um garotão. O Delegado disfarça o divertimento que lhe causa a ridícula situação e contrito apresenta suas condolências pontuadas com “é lamentável, lamentável...” Sigilo haverá, é claro, mas as formalidades legais terão que ser cumpridas: é necessária a presença do escrivão e do comissário além de um investigador e da sua própria. Mas fique o General tranqüilo. Ele cuidará para que nada transpire dentro ou fora da Delegacia. O General informa que irá participar da diligência e que embora a presença dos demais seja exigida deverão todos manter os olhos baixos em respeito a ele e àquela que apesar de tudo ainda é sua mulher. O Delegado com tudo concorda. Agendados dia e hora de acordo com as informações fornecidas pelo General, este deixa a Delegacia onde minutos depois explodem gargalhadas em todas as dependências. Não querendo mostrar favorecimento o Delegado promove um sorteio para indicar qual dos investigadores terá o privilégio de participar do flagrante. O escrivão, sempre relegado a uma menor importância, está exultante. No dia e hora aprazados encontram-se todos na calçada, frente a um hotel em Copacabana. O Delegado conduz a diligência como sendo uma operação de altíssimo risco. O Comissário entra sozinho, encarregado da negociação necessária à obtenção da chave do quarto. Conseguida esta, volta à calçada. O Delegado determina que os membros da diligência (incluindo o General) entrem no hotel a intervalos regulares para não chamar atenção. Deverão se encontrar na porta do quarto do pecaminoso casal. Risos dos funcionários de hotel acompanham a entrada do General evidenciando que o Comissário compartilhou com eles a história. Exigindo sigilo, é claro! Murmurando em frente ao quarto o Delegado, ordena severo: olhos baixos de preferência fechados! A presença de vocês é apenas para que se cumpra a formalidade. Ninguém olha! O escrivão escandalizado tenta se insurgir. Se não olhar como é que vai lavrar o termo? O Delegado rebate: lavra-se de memória, cretino! É tudo sempre igual: nudus cum nuda in eodem lectum*! Orgulhoso pela citação latina ele volta-se buscando o aplauso do General que furibundo diz apenas: Cale-se, idiota! Humilhado o Delegado repassa a fúria a seus subordinados como se a frase no singular fosse um lapso do General: Calem-se, idiotas! A um sinal do Delegado, o Comissário gira a chave e entram todos de supetão no quarto onde o adultério está sendo consumado a pleno vapor. Bastam alguns segundos para que a jovem senhora reaja: ela põe-se em pé na cama exibindo sua esplendorosa nudez e aos gritos dirige impropérios ao General usando palavras que aqui eu não ousaria transcrever, mas que são furiosamente anotadas pelo escrivão que se não podia ver, podia ouvir. O Delegado solene e respeitoso, olhando de banda, adianta-se tentando cobrir a nudez da jovem com um lençol. Esta se debate aplicando-lhe uma saraivada de tapas certeiros. Empenhado em defender-se e de costas para o grupo que permanece de olhos baixos ele não vê que o General acaba de puxar de uma enorme pistola apontando-a para o atlético rapaz que até aquele momento parecia estar se divertindo muito. Este apavorado percebe que sua vida está por um fio e rápido apossa-se do avantajado corpo do Delegado, fazendo-o sentar-se em seu colo, usando-o como um escudo. O Delegado em pânico se dá conta de que acaba de se transformar num alvo certeiro para o tresloucado General. E mandando para o espaço o respeito à patente, o Delegado urra para a equipe: SEGURA O CORNO! SEGURA O CORNO! * Nu com nua na cama – a modalidade mais grave de adultério segundo a legislação da época.

quarta-feira, 20 de março de 2013

O PRIMEIRO ANFITRIÃO ERA CORNO...

Anfitrião é uma palavra que veio do Grego Amphytryon, nome de um mítico chefe guerreiro de Tebas, de quem Zeus toma a forma para engravidar a esposa, enquanto Hermes – Mercúrio, em Roma – torna-se idêntico ao escravo Sósia (origem do substantivo "sósia"), montando guarda à porta, pois o marido está viajando. Mas foi do francês amphitryon, palavra dicionarizada em 1752, quase um século depois da peça Amphitryon, de Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido pelo pseudônimo de Molière, que ela veio para outras línguas. Antes do célebre dramaturgo, porém, outros autores deram a peças suas o mesmo título, como é o caso de Plauto em Amphytrio, e Luís de Camões em Anfatriões, escrito também Enfatriões, mas sem que as palavras entrassem para a língua designando o dono da casa que recebe convivas ou aquele que paga as despesas de banquetes ou refeições. A escala no francês foi decisiva para dar a anfitrião e a sósia os significados que hoje têm. Antes de designar o gesto tão nobre e generoso, indicou originalmente, então, o marido da adúltera.

terça-feira, 19 de março de 2013

UMA LÁGRIMA POR TI, QUE SABES DE ONDE ELA VEM

Lágrima: do latim lacrima, lágrima, choro. No latim, era mais usado o plural lacrimae. Assim como o riso, a lágrima é própria dos homens, mas como nem toda lágrima provém de sentimentos sinceros, o povo criou a expressão “lágrimas de crocodilo”, pois esse réptil, ao apertar certas glândulas, semelha chorar quando suas poderosas mandíbulas devoram a presa. Outra expressão muito conhecida, que dá título a um conto de Machado de Assis, é Lágrimas de Xerxes, nome pelo qual os romanos conheciam Kshatra I, rei da Pérsia. Quando o mar destruiu a ponte pela qual passaria com suas tropas, mandou açoitar as águas com trezentas chicotadas, degolou os construtores e “prendeu” o mar a grossas correntes, amarrando nelas trezentos barcos sobre os quais fez uma ponte flutuante. Mas ao passar em revista os soldados, começou a chorar: “Quantos de vós haverão de regressar?”. Machado, aludindo aos episódios, diz: “Xerxes! Lágrimas de Xerxes eram impossíveis; tal planta não dava em tal rochedo. (...) E creram finalmente que o duro Xerxes houvesse chorado”. A lágrima era tradicional recurso pedagógico. Aprender era sofrer. A infame tradição da palmatória foi a principal marca da violência escolar por alguns séculos. Lá¬grimas estão presentes no menor versículo da Bíblia, em João 11, 35: “e Jesus chorou”. Ele derramou lágrimas pela morte de Láza¬ro, a quem em seguida fez com que ressurgisse dos mortos. O dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues inventou a expressão lágrimas de esguicho para exagerar o choro. Houve um tempo em que era chique chorar. Mar-manjos soluçavam nos teatros e a etiqueta previa um lencinho no bolso do paletó para ser sacado à hora da delicada comoção. Nos teatros, os dramaturgos, contrariando a vo¬cação etimológica do nome do ofício, não escreviam dramas, mas lamentáveis drama¬lhões que tinham o fim principal de provo¬car o choro. Sintonizada com eles, a plateia esforçava-se para chorar segundo as regras da etiqueta vigente. Quem não chorasse era olhado com desconfiança pelos próximos. E no inferno romano havia uma localidade denominada Campo das Lágrimas, onde fi¬cavam os fratricidas, os ladrões, os incestu¬osos, os que provocaram guerras civis e os traidores, da pátria ou dos consortes, como os adúlteros. Ultrapassados esses lugares de punição, vinham os Campos Elíseos, onde gozavam a vida eterna os poetas, os inventores, os sacerdotes e outras pessoas de bem. Ao fundo, corria o Rio do Esque¬cimento, onde inumeráveis almas defuntas formavam-se para outras encarnações.

NÃO GASTEIS VOSSO TEMPO EM PASSATEMPO

Frei Antônio das Chagas (frade do século XVII) sobre o tempo: “Deus pede estrita conta do meu tempo / e eu vou do meu tempo dar-lhe conta, / mas como dar, sem tempo, tanta conta, / eu que gastei, sem conta, tanto tempo? / Para ter minha conta feita a tempo, / o tempo me foi dado e não fiz conta / não quis, sobrando tem¬po, fazer conta, / hoje quero acertar conta e não há tempo. / Ó vós que tendes tempo sem ter conta, / não gasteis vosso tempo em passatempo. / Cuidai, enquanto é tem¬po, de vossa conta, / pois aqueles que sem conta gastam o tempo, / quando o tempo chegar de prestar contas, / chorarão, como eu, o não ter tempo”.

sexta-feira, 15 de março de 2013

MACONDO NÃO TINHA AR-CONDICIONADO

Deonísio da Silva º - Carol, o plural de ar-condicionado é ares-condicionados, com hífen, ou “ares condicionados”, sem hífen? - Não sei, Arabela! Depois do Acordo Ortográfico, quem é que sabe? Além do mais, esta sala não tem ar-condicionado, nem com hífen, nem sem hífen. Isso está me deixando de miolos moles. - Mas você não era amiga do autor do livro dos vinte mil hifens da língua portuguesa? - Era, não! Sou! Só porque ele morreu, não deixei de ser amiga dele. E eu usava o livro, não o autor! - Não foi o que Maria andou dizendo por aí! - Que Maria de disse isso? Aquela sirigaita de São Joaquim da Barra? Aquela é uma fofoqueira, isto, sim! - O nosso amigo professor disse que a fofoca é uma prova de solidariedade. Revela que a pessoa está preocupada com a vida dos outros. E de modéstia, também. A pessoa que faz fofoca, não fala de si, fala dos outros, ela não se considera um bom assunto. - Ah, eu ouvi isso, eu estava lá no dia da conferência. Ele disse também que a pessoa fofoqueira fala pelas costas, com delicadeza, não é louca de falar na frente daquelas a quem critica, seria uma grosseria e poderia assustá-las. - Mas o professor conhece a Maricota de São Joaquim da Barra? - É como se a conhecesse porque o seu amigo juiz conta para ele como são os tipos daquela cidade. - E as casas de lá têm ares-condicionados? - Você quer trocar de assunto, Carol! Por que não quer falar do autor do livro dos hifens? - Porque estou sentindo muito calor. - É só falar nele que você começa a sentir calor? - Deixe de ser fofoqueira, Arabela! Deixe de ser Maricota. - Parece que o calor, em você, não derrete só o bestunto. - Cruzes! Que palavra é essa? De onde você tirou isso? Bestunto? - É! Juízo de besta, sem querer ofender, que não faz as sinapses direito! - Sinapses? Caramba! Comeu um dicionário? - Não. Sinapse é ligação. Você não sabe o que é sinapse? - Não! Quando eu trabalho sem ar-condicionado, fico assim, meio lesa da ideia. - Mas o nosso chefe parece que trabalha mais e melhor sem ar-condicionado! - Fale com a mulher dele, quem sabe ela nos ajuda, ele sempre ouve muito o que ela diz! - Pois é! Acho um casal muito harmonioso, mas me diga: o que é sinapse? São Joaquim da Barra tem sinapse? - Acho que tem. Porque tudo o que cheira a coisa estranha, lá tem! - O professor amigo do nosso chefe disse que a cidade parece Macondo, a vila do romance de García Márquez, Cem Anos de Solidão. Já leu esse livro? - Não. Mas deve ser sobre a vida de uma solteirona, né? - Não! Mas poderia passar-se em São Joaquim da Barra. O fundador da cidade, um valentão, quando reclamavam que ele queria mandar mais do que o imperador, dizia: “O imperador manda no Brasil. Nesta redondeza e nas minhas terras mando eu!”. - E naquele tempo havia ar-condicionado lá? - Não! - Então não mudou nada! Continuamos como em São Joaquim da Barra no tempo do Império! Haja atraso! Arabela olhou pra Carol, Maria coçou a mão, e Maricota não coçou nada, não! • Escritor e professor, autor de 34 livros, entre os quais A Placenta e o Caixão (reunião de crônicas aqui publicadas). .

quarta-feira, 13 de março de 2013

COPIAR, PLÁGIO, DENUNCIAR, LESÃO: ETIMOLOGIA DESSAS PALAVRAS

Copiar: do Latim medieval copiare, radicado nos étimos cum e opis, com meios, designando ato de multiplicar em abundância. Copiosus em Latim quer dizer abundante, em grande quantidade, cujo étimo está presente também na expressão do Português “chovia copiosamente”, isto é, chovia muito. Copiar pode ser atividade legal, quanto autorizada e amparada em lei, com a identificação do original. E pode ser ilegal, sendo caracterizada como plágio ou roubo. O principal documento que estipula como crime o plágio intelectual, científico ou artístico é a Lei 9610. Denunciar: do Latim denuntiare, do mesmo étimo de anunciar, designando em geral o ato de atribuir responsabilidade criminal a alguém. Às vezes, o crime é intelectual, como o plágio perpetrado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin (60), que inseriu em sua dissertação de mestrado trechos do livro Strategic Planning and Policy, de William R. King e David I. Cleland, professores da Universidade de Pittsburgh, Estados Unidos. Nos últimos anos, vários professores europeus, denunciados como criminosos por terem praticado plágio, tiveram seus títulos de doutor cassados. Furto: do Latim furtum, furto, roubo, coisa oculta, escondida, emboscada. Furto é palavra latina ligada a duas outras, fur e latro, ambas para designar quem rouba. Latro deu ladrão em Português, pela declinação latrone. Furto e roubo têm vários significados, designando também o plágio: o plagiário não é o autor nem o editor do texto que ele rouba. As principais vítimas de plágio são compositores, inventores, escritores, músicos, pintores e fotógrafos. Existem serviços para detectar plágio de textos na internet, como o www.plagium.com. Lesão: do Latim laesione, declinação de laesio, ferimento, cicatriz, marca, não apenas física, mas também moral. Os primeiros plágios resultaram em lesões econômicas e financeiras às vítimas, e lesões físicas e morais a quem os praticara. A marca do castigo no corpo terá contribuído para o significado de plágio e plagiário. Quem primeiro comparou aquele que rouba direitos autorais ao ladrão de mercadorias foi o escritor romano Marcus Valerius Martialis, em português Marco Valério Marcial (38-40-102), autor de 15 livros de epigramas, entre os quais Liber Spectaculorum (O Livro dos Espetáculos), publicado para celebrar o Coliseu, do Latim Colosseum, depois Coliseus no Latim tardio, radicado no Grego kolossós, estátua muito grande, com forma humana, assim chamado porque havia uma gigantesca estátua de Nero Claudius Caesar Augustus Germanicus (37-68) em frente ao famoso anfiteatro, cujo nome correto oficial era Amphitheatrum Flavium. Plágio: do Grego plágos, oblíquo, atravessado, pelo Latim plagium, roubo. Está na origem do vocábulo o significado de desvio, donde o sentido de atravessador para aquele que, não produzindo, nem comprando a mercadoria, apenas intermedia o negócio. Ainda na Roma antiga, porém, cometia plágio quem roubava escravos dos outros ou vendia homens livres como escravos. O étimo de plágio e plagiário remete ao Latim plaga, chaga, ferida, mesma origem da palavra praga, porque houve troca do encontro “pl” por “pr”. Susto: de origem desconhecida, talvez da formação expressiva emitida por quem sente medo repentino e balbucia algum som que lembra a palavra, como “isst!”, segundo o etimólogo espanhol Joan Corominas (1905-1997). O filólogo e humanista francês Marc-Antoine Miret (1526-1585) viajava pela Itália, passou mal e foi levado a um hospital do Piemonte. Estava tão mal vestido que os médicos o tomaram por mendigo e comentaram entre si, em Latim: “Faciamus experimentum in anima ou in corpore vili”. Entendendo que iam usar seu corpo como experiência e, sabendo Latim, replicou ao médico que fizera a proposta aos outros: “Vilemne animam appellas pro qua Christus non dedignatus est mori?” (“Chamas vil a uma alma pela qual Cristo não se recusou a morrer?”). Quando os médicos saíram, o sábio fugiu do hospital, achando-se curado apenas com o susto.

domingo, 10 de março de 2013

RUBEM FONSECA: A AXILA E O SOVACO

Antigamente, um locutor chamado Hélio Ribeiro, falecido em 2000, aos 65 anos, quando dirigia uma campanha política, recomendava em bordões de muito sucesso regras de boa educação, que difundia em seus programas de rádio (Jovem Pan, Tupi, Globo, Bandeirantes, Gazeta, Capital, Difusora). Instrutivo, ele ia traduzindo as letras de músicas francesas e inglesas, durante a execução, para que os ouvintes entendessem o que iam ouvir e talvez repetir. Uma dessas recomendações era “não diga sovaco, diga axilas”. Chulas ou chiques, as palavras se aproximam, como as pessoas. Reprovando o cheiro de sovaco (do latim subcavus, cavado por dentro), Fulano diz que a asa de Sicrano fede, sem se dar conta de que axila, do latim axilla, significa asa! Bem, José Magnolli, o nome verdadeiro de seu pseudônimo, em 1989 foi tentar a vida nos EUA, mas voltou se queixando, embora deixasse esposa e filhos morando em Nova York: “há muita má vontade com os profissionais brasileiros de áudio e vídeo naquele país”. Essas lembranças me vieram à mente a propósito dos novos livros de Rubem Fonseca. Um já seria de per si uma novidade. E dois de uma vez só? Foi o que fez a Nova Fronteira, ao lançar o pequeno romance José (167 páginas) e o livro de contos Axilas e Outras Histórias Indecorosas (209 páginas), em 2011. Ficção brasileira, diz de José a ficha de catalogação na fonte. Os resenhistas estão denominando novela, um gênero maior do que o conto e menor do que o romance. Na inglesa, as denominações parecem mais lógicas: novel para romance, short story para conto. Novela como romance predomina de resto nas neolatinas. O espanhol separa novela de cuento. Assim, Aura, um pequeno romance de Carlos Fuentes, é novela, mas não passa de um cuento. Não pensem os leitores que os gêneros sejam importantes apenas para as paradas gueis. Vivemos num mundo de classificações e elas são decorrência da obsessão de ordenar o caos, entrar e sair dos labirintos quando bem se queira e respeitar os limites alheios para que os nossos também sejam respeitados. De resto, esta é uma imposição que tem um fim altruísta, o convívio com o próximo. Dito isso, o sofisticado e ardiloso Rubem Fonseca leva peças de Shakespeare a seus leitores, sejam contos, sejam romances. Aos refinados serve as referências clássicas da literatura para que não o tomem por néscio quando desce ao grande público, lançando redes e arpões que pegam ou fisgam do miúdo ao mais graúdo dos peixes. Assim, logo na abertura de José, o narrador recorre a Alyosha, um personagem solar de Os Irmãos Karamázov que a ninguém deixa indiferente, para revelar sua noção de memória, uma vez que José, ao contrário do que alguns comentaristas vêm apontando, não é uma autobiografia disfarçada, mas o pedaço suculento de um memorial exuberante, entretanto interrompido antes dos trinta anos. Aguardemos os próximos capítulos, como nas telenovelas. O conceito de memória como recurso de educação – esta visão é de Alyosha e do narrador – vai atravessar todas as páginas. “E se apenas uma dessas memórias permanece em nosso coração, ela talvez venha a ser, um dia, o instrumento de nossa salvação”. Isto é, estamos perdidos em muitos sentidos, e a noção de labirinto se insinua em muitos parágrafos. Contrário a Dostoiévski, Joseph Brodsky, diz que “a memória trai a todos, é uma aliada do esquecimento, é uma aliada da morte”. Até agora não passamos das dez linhas da primeira página. E na seguinte, a abertura traz outros complexos contextos, ao evocar Proust: “a lembrança das coisas passadas não é necessariamente a lembrança das coisas como elas foram.” Dada a influência, avassaladora e inconsciente em grandes porções na prosa de Rubem Fonseca, cinéfilo obsessivo, como espectador e como roteirista, tivemos até agora como que apenas o letreiro do filme, os acordes iniciais da trilha sonora, a fotografia, os indicadores sumários do cenário do que se vai narrar. O livro termina com outra noção de memória e de biografia, esta de Isaac Bashesis Singer: “a história verdadeira da vida de uma pessoa jamais poderá ser escrita. Fica além do poder da literatura. A história plena de qualquer vida seria ao mesmo tempo absolutamente aborrecida e absolutamente inacreditável”. Santos da Igreja, alguns deles indexados mais tarde como célebres filósofos, como Anselmo, Agostinho e Tomás de Aquino, vituperaram a velocidade e louvaram a lentidão da boa ordem. Fruiremos os sabores sutis de RF, agora aos 87 anos (dia 11 de maio próximo, ele completará 88), se o lermos devagar, parando, pensando, sentindo o que nos diz com cada palavra. Acabo de ler essas duas obras-primas dispensando o tormento da pressa. E, como li os dois livros consultando outros (para meu mal ou meu bem, e azar de alguns talvez, não sou um leitor comum de RF, sobre ele escrevi três livros), termino este comentário fugaz com uma boutade do papa Gregório Magno, para me pôr no clima de Rubem Fonseca: o mundo é destruído pelos jovens e reconstruído pelos velhos, e, na reconstrução, convém sopitar o ardor dos novos e reacender o fogo dos velhos. De resto, José, Rubem Fonseca (talvez a vírgula e o itálico sejam excessivos, no contexto) e seus leitores tenham o Feitiço de Alcácer Quibir. E jamais serão “condenados a sofrer o martírio de viver entre os demônios”. As aflições do jovem Rubem eram umas, as do velho Rubem são outras. Jovem, ele destruiu para construir o que hoje remodela. Não nos enganemos, porém, com suas astúcias. Leo dormiens, mas quando acorda, volta a ser rei. E o gato a seu lado caça os ratos que roeram as redes com as quais quiseram aprisionar le roi des animaux. Um dia José vai nos contar a sua maior dor. E ela ratifica minha antiga tese: é o escritor mais entrevistado do mundo. Mas nos seus livros! Os jornalistas que se queixam de que ele não dá entrevistas, dizem isso porque não o leem, ou, se o fazem, não o leem direito, isto é, sem velocidade, dispensando o tormento da pressa nas redações e a obsessão por “dar primeiro”, como se fruísse melhor quem o fizesse antes de todos, com sofreguidão, na mesa, na cama e em outros lugares. Para as notícias, a pressa é tudo. Para a literatura, não! (xx)

sábado, 9 de março de 2013

DECANO, SÍNODO, CONSISTÓRIO, CONCÍLIO, CONCLAVE: PALAVRAS RARAS NA MÍDIA

Nossa mídia, por norma, não trata os assuntos de religião com o devido cuidado. Editores e repórteres estão mais perdidos do que cego em tiroteio nesses últimos dias. A maioria é despreparada, pois sem lastro intelectual e cultural, só sabe cobrir o que acontece com frequência, como as trovoadas, as enchentes, as corrupções etc. Ora, papas reinam a vida inteira, com exceção dos que abdicam, daí serem raras as sucessões. Esta pegou todo mundo desprevenido. Que tal um caderninho para não misturarem termos estratégicos para a compreensão? Exemplos: DECANO: o cardeal mais velho ou mais antigo no posto. A palavra veio do Latim decem, dez, e no exército romano designava o comandante de dez soldados. Depois passou a ser aplicada ao superior do convento, que comandava dez monges. Hoje designa até professores de colegiados universitários. SÍNODO: se de padres, é presidida pelo bispo; se de bispos, é presidida pelo papa. A palavra veio do Grego sýnodos, mesmo caminho. Hodos, caminho, perdeu o agá na junção com sýn. O étimo está em hodômetro, indicador de quilometragem nos automóveis. CONSISTÓRIO: reunião de cardeais, presidida pelo papa. Veio do Latim consistorium, lugar de parar uns dias ou morar. CONCÍLIO: reunião de bispos, presidida pelo papa. Veio do Latim concilium, reunião, assembleia, convocação, para conciliar divergências. CONCLAVE: reunião de cardeais, presidida pelo decano, primus inter pares (o primeiro entre os colegas) em geral o cardeal mais velho, mas nem sempre é ele o decano. Veio do Latim conclave, declinação de conclavis, isto é, cum clavis (com chave), pois se reúnem a portas fechadas. Joseph Ratizinger era o decano quando foi eleito papa. Mas nenhum dos últimos dez papas era o decano quando foi eleito. O decano atual é o cardeal Angelo Sodano, que tem 85 anos.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A NOITE DAS ÁGUAS DE MARÇO 5 DE 2013

Ontem à noite, deixei de ser audaz motorista, pois já corri em autodrómos em minha juventude, e me tornei audaz navegante, me sentindo um Pedro Álvares Cabral que chegasse ao Rio por terra em dia de chuvas torrenciais. Eram cerca de vinte horas. Eu deixava o câmpus do Rio Comprido, na Rua do Bispo. A chuva era tanta que as pessoas se abrigavam onde podiam, pois a parte coberta não era suficiente proteção, uma vez que o vento trazia a água pela frente, pelos fundos, por todos os lados. Na companhia de alguns professores e alunos que já tinham chegado para o terceiro turno, fui para uma papelaria. Sempre digo que o governo inverte a expressão "estudantes que trabalham". Eles são "trabalhadores que estudam". Sei disso porque já fui um deles. Logo a água entrou na papelaria também, e os funcionários passaram a colocar em lugares mais altos os objetos que estavam nas prateleiras de baixo, pois as águas são analfabetas e só frequentam escolas e universidades nessas horas. E sem vestibular! Com fazia a polícia nos tempos da ditadura quando invadia os câmpus. Resolvi sair do abrigo e enfrentar a chuva. Disse que meu carro estava a poucos metros dali e ofereci carona a três pessoas. Nenhuma delas quis. Seus olhos de espanto me chamavam de louco. Desconheciam meu passado inconfessável de alguém que aprendeu a dirigir em escorregadias estradas de barro no Brasil meridional. Eu não era e não sou imprudente. Mas entre ficar parado e tomar uma decisão, sempre há o que fazer. Nem que seja decidir ficar onde está. Começavam a se formar imensas cachoeiras nos dois lados da rua do Bispo. Meu carro estava na garagem em frente. O trânsito parou. Antevi o pior: ficar isolado ali. Atravessei a rua com água pelo meio das canelas, e pelo joelho no outro lado da rua, ao chegar ao estacionamento. Mas isso não era o pior. Devido ao horário, os caminhões ainda não tinham recolhido o lixo, e os sacos pareciam desjeitosos barcos redondos procurando entre as águas o melhor caminho. E o melhor caminho era bater em mim. Molhado dos pés à cabeça, paguei o estacionamento. O atendente estava molhado dentro da guarita. A água entrava também ali. Quando saí à rua, vi tudo fácil. De medo, os motoristas paravam seus carros no meio da rua, o que me facilitou a ultrapassagem. Tomei o cuidado de deixar o lado esquerdo do carro rente à calçada: assim a tração seria feita pela roda dianteira direita, que estava na parte da rua com menos água, ainda que a esquerda servisse mais de leme do que de roda. Viajei ou melhor naveguei sozinho por um longo trecho, com muito cuidado, luzes de emergência piscando e os faróis de neblina acesos, pois alguns carros vinham na contramão. Adiante, os dois trechos do túnel estavam vazios. Na Lagoa, os motoristas mais cuidadosos ou mais prudentes estavam parados, o que me obrigou a ultrapassá-los pela parte mais difícil, de novo com duas das rodas sobre o meio-fio. A essa altura, eu passei a ter companhia de outros dois carros. Depois da Lagoa o trânsito estava com poucos veículos e fluía normalmente, enquanto eu ouvia a voz terna e doce de nossa querida Mariana atendendo aos ouvintes, colhendo depoimentos, entrevistando o prefeito Eduardo Paes, pedindo ao empresário que informara ter visto e filmado um ônibus ilhado com os passageiros sobre o teto se ele podia identificar de que empresa era o veículo, com o fim de que a Band pudesse ser mais objetiva no pedido de socorro etc. Não é meu costume elogiar autoridades porque elas me dão poucos motivos para isso, mas tenho notado que o prefeito está sempre presente no centro de operações nessas horas para fazer aquilo que um dia Eça de Queiroz disse do Canal de Suez: aqui a mão do homem corrige a natureza. Sim, estamos corrigindo a natureza, mas pelo jeito ainda vai demorar. Só me pareceu engraçada a recomendação de não sair de cada. Meu problema era chegar em casa! Mas cheguei! Eram cerca de 21h30. Entrei pela lavanderia, deixei as roupas ali e fui direto para o chuveiro. Na sala me esperavam minha amada e um conhaque com limão, açúcar e mel. E, como nos contos de fada, depois de muitas peripécias, houve um final feliz. Fui dormir muito tarde, já menos tenso por saber que não havia mortos nem feridos, o que, nessas horas, já é um bom recomeço. "Há braços" pra vocês! (xx)

terça-feira, 5 de março de 2013

HAPPY NEW YEAR, VERSOS DA ABBA TRADUZIDOS

Pessoal, Meu ano jamais começa no dia indicado no calendário. Algumas colunas já estão prontas até fevereiro. Outros começos entretanto só se dão de abril em diante. Pensando nisso, desejo a todos vocês Happy New Year, Feliz Ano Novo! Amanhã serão 6 de 2 de 2013! Cabala nesses números! E abraços do Deonísio Happy New Year ABBA Happy New Year ABBA abrir original » Feliz Ano Novo Não há mais champanhe E os fogos acabaram Aqui estamos, eu e você Sentindo-nos perdidos e tristes Esse é o fim da festa E a manhã parece tão cinzenta Tão diferente de ontem Agora é o momento de dizermos Feliz ano novo Feliz ano novo Desejo que nós tenhamos uma visão de agora e sempre De um mundo onde cada vizinho é um amigo Feliz ano novo Feliz ano novo Desejo que nós tenhamos nossas esperanças nossas vontades de tentar Se nós não fizermos o que podemos assim como descansar e morrer Você e eu Às vezes eu vejo Quão bravo chega o mundo novo E eu vejo como se prospera Nas cinzas de nossas vidas Oh sim, o homem é um tolo E ele acha que tudo ficará bem Arrastando seus pés de barro Nunca sabendo que está no caminho errado E continua indo do mesmo jeito Feliz ano novo Feliz ano novo Desejo que nós tenhamos uma visão de agora e sempre De um mundo onde cada vizinho é um amigo Feliz ano novo Feliz ano novo Desejo que nós tenhamos nossas esperanças nossas vontades de tentar Se nós não fizermos o que podemos assim como descansar e morrer Você e eu Me parece agora Que os sonhos que eu tinha antes Todos estão mortos, nada mais Do que confete no chão É o fim de uma década Nos próximos dez anos Quem pode dizer o que acharemos Quais mentiras esperam no fim da linha No fim de oitenta e nove Feliz ano novo Feliz ano novo Desejo que nós tenhamos uma visão de agora e sempre De um mundo onde cada vizinho é um amigo Feliz ano novo Feliz ano novo Desejo que nós tenhamos nossas esperanças nossas vontades de tentar Se nós não fizermos o que podemos assim como descansar e morrer Você e eu

segunda-feira, 4 de março de 2013

UM POEMA DE CESARE PAVESE

Sempre gostei muito dos versos de Cesare Pavesi, especialmente destes, aqui traduzidos pelo Sergio Pachá, e compartilhados por meu querido amigo José Nêumanne Pinto. VERRÁ LA MORTE E AVRÁ I TUO OCCHI (VIRÁ A MORTE E TERÁ OS TEUS OLHOS) Verrá la morte e avrá i tuoi occhi questa morte che ci accompagna dal mattino alla sera, insonne, sorda, come un vecchio rimorso o un vizio assurdo. I tuoi occhi saranno una vana parola, un grido taciuto, un silenzio. Cos↓ li vedi ogni mattina quando su te sola ti pieghi nello specchio. O cara speranza, quel giorno sapremo anche noi che sei la vita e sei il nulla. Per tutti la morte ha uno sguardo. Verrá la morte e avrá i tuoi occhi. Sará come smettere un vizio, come vedere nello specchio riemergere un viso morto, come ascoltare un labbro chiuso. Scenderemo nel gorgo muti. Cesare Pavese Virá a morte e terá os teus olhos essa morte que nos acompanha da manhã até a noite, insone, surda como um velho remorso ou um vício absurdo. Teus olhos serão uma palavra vã, um grito preso, um silêncio. Assim os vês, cada manhã quando, sozinha, te dobras sobre o espelho. Ó cara esperança, naquele dia também saberemos que és a vida e és o nada. Para todos a morte tem um olhar. Virá a morte e terá os teus olhos. Será como abrir mão de um vício, como ver no espelho reemergir um rosto morto, como ouvir um lábio fechado. Mudos nos sorverá o remoinho.

domingo, 3 de março de 2013

DEONÍSIO FALA A JORGE BRENNAND, VIDEOMAKER

http://www.encontromarcado.net/sec_perfil.php?id=37 Bete Calligaris e Jorge Brennand Jr. me pegaram de suspensórios (sim, eu os usei durante muitos anos) neste depoimento para Encontro Marcado, o melhor programa de entrevistas de escritores e artistas brasileiros. São minutos de muita sinceridade, de boas perguntas, de ver brotar a memória (a infância em Alasi Siderópolis) e em Jacinto Machado), lembrar que meu avô materno queria levar o neto seminarista para o bordel, que horror! Ainda bem que meu pai me protegia de influências como essa...Falo também de prêmios, de Rubem Fonseca. Foi uma conversa inesquecível! Não me arrependo de nada do que disse, mas acho que hoje ninguém mais me tiraria aquilo de mim. Foram coisas de Affonso Romano Santanna (que me indicou a ser entrevistado), do Jorge Brennand, o famoso Jorginho, depois a Mariângela Luna, eu fui conhecendo pessoas simplesmente maravilhosas aqui no Rio. Agradecer é pouco, eles me deram uma visão deslumbrante do que era escrever, ler e comentar! http://www.encontromarcado.net/sec_perfil.php?id=37

sábado, 2 de março de 2013

NA MODORRA, À ESPERA DO NOVO PAPA

Com a Sé vacante, à espera do novo Papa, a Igreja governada pelo poderoso cardeal camerlengo, de kamarling, principal oficial dos reis francos nos tempos monárquicos, pensei em escrever sobre a modorra, esta malemolência que nos acomete algumas vezes, exigindo a siesta, um descanso à hora sexta, isto é, ao meio-dia, pois os romanos contavam as horas do dia a partir das seis da manhã. E os espanhóis, que têm muitos descendentes em São Carlos, pronunciavam siesta, que resolvia a modorra, de modorro, palavra que já existia na Hispania, da expressão fenícia i-spn-ea, terras da costa, quando os romanos lá chegaram, ainda antes de Cristo. São Carlos teve também, desde o século XIX, a presença maciça de imigrantes italianos. Mas quando eles aqui chegaram, cá já estavam descendentes de portugueses, como os Botelho, e daqueles que trabalhavam para eles, os escravos, trazidos da África para cá à força. Outras nacionalidades, principalmente europeias, mas não exclusivamente, se fazem representar em nossa cidade. As primeiras evidências estão nos rostos das pessoas, na cor e forma de olhos e cabelos, na língua que falam, nas roupas que usam, nos lugares onde moram, nas igrejas etc. Meu primeiro dia em São Carlos deu-se em abril de 1981, quando vim fazer o concurso para professor de Língua Portuguesa. O prefeito Maffei (italiano) foi logo substituído por Dagnone (italiano) de Melo (português). A UFSCar tinha sido capa da revista VEJA, e o Brasil inteiro ficou sabendo que havia aqui uma importante universidade federal. Talvez a matéria tenha sido deflagrada pelo novo reitor, o médico William Saad Hossne (árabe). Dr. Saad, como era e é mais conhecido, garantia o trato justo, impedindo que os professores, como antes ocorrera, fossem convidados a vir para São Carlos. Não, agora eles entravam por concursos públicos! Estava no Café Dona Júlia, fundado por Marino Pellegrini (olha os italianos aí!), quando Gerson de Toledo Piza (olha os espanhóis aí) me perguntou de que família eu era. Sou da numerosa família Silva, embora minha mãe seja Daboit, um sobrenome italiano. Outros Santos me fazem escrever neste jornal! Marcos Santos, o dono, e Marcos Escrivani, meu atual editor, um dos muitos oriundi desta cidade tão italiana! No rádio, temos Ney Santos, Alberto Santos. Quantos Santos em nossa mídia! A principal marca italiana de São Carlos na paisagem é a Catedral. Parece lembrar que nossos destinos se cruzam com os de Roma, ainda mais agora que enfim o prefeito é Paulo Altomani, outro filho dos oriundi. Que a nova administração saiba reconhecer a cultura múltipla e própria de São Carlos e não exclua ninguém! Temos referências nacionais e internacionais de cientistas, empresários, professores, músicos, escritores etc. Quem administra, deve administrar para todos! Ney Vilela foi uma boa escolha do novo prefeito, pois sempre esteve entre aqueles que defenderam esta visão de cultura. Agora é ora de praticá-la. (xx) • Escritor e professor, Doutor em Letras pela USP, autor de 34 livros.