NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

ANEDOTA É O QUE NÃO FOI PUBLICADO

Compro muitos livros pelas internet, mas nada substitui a livraria, onde você pode procurar novidades nas estantes, não nos “sites”, onde jazem escondidas em profundos sepulcros. Semana passada, visitava a Manu, minha filha, que me trouxe um filho, o Rodrigo, pois filha traz um filho, e o filho abandona os pais, e na Livraria Cultura, sem procurar, encontrei uma obra deliciosa. É “Enciclopedia degli aneddoti”, do italiano Fernando Palazzi, falecido em 1962, aos 78 anos. O autor escrevia para o “Resto del Carlino”, jornal de Bolonha, cujo nome faz referência a uma antiga moeda, dos tempos do estado pontifício, cunhada entre os séculos XIII e XVIII, conhecida como “carlino”, em referência à efígie de Carlos I (Carlo D’Angiò, na Itália; Charles D’ Anjou, na França). Ficou presente na expressão popular “dare il resto del carlino” a alguém, isto é, dar pouco, quando ela valia em torno de dez centavos da lira. Depois evoluiu para “dare ad ognuno il so avere” (dar a cada um o que lhe pertence, isto é, pouco ou menos do que deseja). No Português do Brasil é “dar a cada um o que merece”, mas num sentido vingativo. Outras são “regolare i conti” (acertar as contas), não em sentido matemático, e “pungolare i potenti i fustigare i prepotenti” (aguilhoar os fortes e açoitar os prepotentes). Em Português popular, “descer o cacete”. Eis algumas amostras destas anedotas. Quando menino, Beethoven, cansado de repetir as mesmas músicas ao violino, mudava as notas, desapontando o pai. “Não te agrada esta variação?”. “Agrada, mas primeiro aprende e depois inventa”. De Carlos IX, logo após o massacre dos protestantes em 24/8/1572, contemplando o cadáver de um almirante: “ como é agradável o fedor do inimigo assassinado”. Mecenas de escritores e de artistas, o mesmo rei francês disse deles: “são como cavalos de raça: devem ser bem alimentados, mas sem engordá-los, senão não correm direito”. O tirano Dionísio, depois de saquear vários templos, navegava de volta a Siracusa, sob ventos favoráveis e disse: “os deuses providenciam bons ventos para os sacrilégios”. Reclamaram de Bismarck que suas tropas tinham destruído animais empalhados do Instituto dos Cegos, na invasão da Itália. Ele reclamou: “Vocês fizeram pior: dispararam sobre nossos soldados, todos jovens, fortes e sãos”. O étimo de anedotas é o Grego “anékdota”, não publicado. Mas, quando publicadas, se a redação é boa, guardam os sabores deliciosos de como são contadas na fala. (xx)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

CARTAS COMPROVAM QUE AS CIGANAS MENTEM

Scone é um tipo de doce de farinha de trigo. O nome veio do médio Alemão schoon (bonito, puro) brood (pão). O presidente dos EUA (Einsenhower) e sua esposa gostaram tanto dos scones servidos pela rainha Elizabeth II, que pediram a receita. Ela a enviou por carta. “Ingredientes de scones para 16 pessoas: “bata os ovos (2) o açúcar (4 colheres grandes) e 50% do leite (2 xícaras); acrescente a farinha (4 xícaras), misture bem, adicionando o restante do leite, o bicarbonato (2 colheres pequenas) e o creme de tártaro (3 colheres pequenas); junte a manteiga derretida (2 colheres grandes) e misture tudo”. Esta e outras cartas estão no livro “Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis” (Companhia das Letras). Há outras igualmente curiosas. Groucho Marx escreve a Woody Allen, que estava magoado porque GM demorava já dezesseis anos para responder. Charles Dickens escreve ao “Times” propondo que a pena de morte seja aplicada em privado, não em público, como ele, horrorizado, tinha assistido. Fidel Castro, então com 12 anos, escreve ao presidente dos EUA (Roosevelt), pedindo “uma nota verde americana de dez dólares”. Elvis Presley, que colecionava distintivos policiais, pede mais um a Nixon: do Departamento de Narcóticos e Drogas Perigosas, oferecendo-se para ser dedo-duro Há ardentes cartas de amor e frios memorandos presidenciais. Num deles, Nixon é preparado sobre o que dizer em caso de desastre da Apolo 11 na Lua: “Neil Armstrong e Edwin Aldrin sabem que não há esperança de resgatá-los”. Beethoven escreve a seus irmãos revelando que sofre de surdez desde os 26 anos. Tem 32 e pensa em suicidar-se. Não o faz e duas décadas depois compõe a 9ª Sinfonia. Mário Puzo escreveu a Marlon Brando informando que terminara “O poderoso chefão”. A Paramount não quer MB no filme. Coppola faz apenas uma tomada e a exibe aos executivos. Eles mudam de ideia. Depois MB recusou o Oscar que ganhou pelo filme. Estas cartas mostram que viver é travar lutas. Umas, agradáveis. Outras, terríveis! (xx)

VIDA MISTERIOSA DO FUNDADOR DA NEWSWEEK

Meu artigo de hoje, 13/2/2015, no jornal O Globo.
Há poucos anos, um vídeo de apenas cinco minutos, feito pelo brasileiro Edson Bruno e exibido pela CNN, falado em inglês, mostrava que o fundador da famosa revista Newsweek está enterrado em Agrolândia, pequena localidade de apenas 9.323 habitantes, no interior de Santa Catarina, a 274 km de Florianópolis.
Em janeiro de 2015, estive lá, com o fim de pesquisar este novo mistério catarinense. Sou um detalhista apaixonado por minúcias. Nas biografias que leio, já nas primeiras páginas vou desconfiando de ninharias desprezadas pelos autores. Foi assim quando escrevia o romance Lotte & Zweig, cujas personagens solares são o escritor judeu-austríaco StefanZweig e sua esposa, a judia-polonesa Elizabeth Altmann. Donald Prater, o biógrafo inglês de Stefan Zweig, deu pouca importância ao diabo das pequenas coisas, presente na vida do casal. O jornalismo atual exagera no uso do telefone e da internet, ignorando fontes preciosas, só acessíveis aos olhos e aos ouvidos de quem vê e ouve para depois narrar. Quando estava na Espanha para escrever outro romance, Teresa d´Ávila, perguntei a um de meus interlocutores por que razão o túmulo de um dos Herodes estava no caminho para Ávila. Ele me disse: “Homem, a pessoa é enterrada onde morre”. Pois o fundador da Newswek, o aviador inglês Thomas John Cardell Martyn, derrubado pelos alemães na Primeira Guerra, está enterrado no cemitério de Agrolândia (SC). Ele está enterrado ali, mas sua perna direita, não! Ele a perdeu na queda e usava uma prótese mecânica. A Newsweek, fundada em 1933, tornou-se uma das maiores revistas de informação do mundo e chegou a circular em 132 países, com edições de 3,2 milhões de exemplares (agora, está apenas na internet). Thomas Martyn conheceu Irmgard Stahnke no Rio, onde ela trabalhava de doméstica, indicada por soldado de Agrolândia recrutado para a guarda presidencial. O certo é que se casaram em São Paulo, em 8/4/1961. Ela estava com quarenta, ele com 65 anos. Muitos anos depois foram morar em Agrolândia para que, quando o marido morresse, a esposa tivesse o amparo dos familiares. Mas ela morreu primeiro, em 1973, aos 53 anos, de câncer no útero, segundo a certidão de óbito. O irmão dela, o alfaiate Afonso Stahnke, atualmente com 79 anos, diz que o câncer foi no ânus e ela sofreu muito com um tratamento à base de cauterizações, feito nas semanas finais de sua existência. O marido, que tinha acrescentado Mary ao nome da mulher, declarou ao cartório, “por respeito”, que ela falecera de complicações cardíacas por causa de um câncer no útero. Mas pediu que o declarante fosse o cunhado. Martyn morreu em 1979, aos 84 aos, também de câncer, uma das maiores causas de morte na região. Talvez em decorrência de tantos inseticidas nas plantações de fumo. A maioria dos documentos foi queimada, como se faz com o fumo. Mas por quê? Este é apenas mais um dos mistérios na vida deste homem invulgar. (xx)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

TELEFONE CELULAR VIROU PRAGA

(versão impressa desta crônica, amanhã, no PRIMEIRA PÁGINA)
“A praga tem este nome porque todos os telefones estão ligados por células fixadas em antenas postas em torres de tantos em tantos quilômetros, eu estava pensando nisso quando sentei ao lado da minha mulher, ela já dedilhava o seu celular, temos dois vasos, um ao lado do outro no mesmo recinto, daí levantei sacudi bem o dito cujo, coisa que as mulheres não precisam porque nelas nada é dependurado, lavei as mãos, escovei os dentes, ela continuava no celular, fiquei pelado, pendurei o pijama, abri o chuveiro, minha mulher continuava no celular, tomei um longo banho, me enxuguei, ela continuava no celular, eu lhe disse ’vou me vestir, tomar café e ir pro trabalho, hoje o dia vai ser difícil, veja como está começando’, ela disse ‘ok, bom trabalho’, mas eu só fui ver isso porque ao entrar no quarto o meu celular estava apitando, que coisa, ela preferiu me mandar uma mensagem pelo whatsapp a falar comigo, as relações, mesmo entre marido e mulher, estão deste jeito, me vesti, tomei café, saí e encontrei a vizinha que voltava da rua puxando dois cachorros, o pirralho caminhava ao lado, mãe e filho dedilhavam cada qual o seu celular, o porteiro estava dedilhando o dele também, desci para a garagem, meu vizinho estava saindo em seu carro, nem me olhou, estava falando ao celular aos berros, com o carro todo fechado, só percebi pela mímica raivosa, pensei em cometer algum ato que tirasse a todos daquele torpor, nisso se aproxima uma linda mulher com um shortinho feito de um guardanapo, uma blusa que apertava peitos e bunda siliconados, ela estava com um celular na mão e foi logo dizendo ‘poderia fazer uma foto minha para eu mandar pro meu marido?’, eu disse ‘só se for para a senhora mandar pro seu amante’, ela me disse ‘o senhor é vidente?’, eu disse ‘sou, a senhora quer de frente ou de costas?’, ‘de costas, claro’, ela disse, ‘meu marido ficou lá no banheiro dedilhando o celular e vai adorar receber uma foto minha’, eu só pensei ‘não há mais gente, estou cercado de repolhos neste condomínio”.