NOME DE POBRE NO BRASIL

sábado, 29 de dezembro de 2012

Este foi meu artigo mais lido no Blog Deonísio em 2012. A ORIGEM DO MUNDO E A VULVA: REAÇÕES
Este quadro do francês Gustave Coubert, pintado em 1866 e intitulado A origem do mundo, ainda hoje provoca inusitadas reações. Em vários artigos, vulva, do latim vulva, pele de fruta, é designada vagina do latim vagina, bainha, donde a expressão homem-espada (se bem que não peixe-espada: a língua portuguesa é sutil - o feminino de peixe-boi não é peixe-vaca, é peixe-mulher...). Há mais de 160 sinônimos para vulva. Um deles, xibiu, de provável origem indígena, designando diamante, coisa preciosa, deve reaparecer agora na novela Gabriela, na versão com Juliana Paes no papel-título, que o foi de Sonia Braga. O costume de as brasileiras fazerem depilação total foi parar no Dicionário Oxford para mais um sentido de Brazilian...Poucos escrevem sobre essas questões repletas de complexas sutilezas, mas lembro que pênis, do latim penis, cauda, rabo, penduricalho, opõe-se a falo, do grego phallós, pelo latim phallus, donde falocracia. Recomendo a leitura do Dicionário do Palavrão, de Mário Souto Maior, com prefácio de Gilberto Freyre, um dos 508 livros proibidos no período pós-64. .

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

LÁ SE FOI MAIS UM FIM DO MUNDO

Meu livro A Placenta e o Caixão (Editora Leya) reúne seleção de crônicas que faço semanalmente, há trinta anos, para o jornal Primeira Página. O título lembra duas embalagens: numa viemos, noutra iremos. Deram outro livro, De onde vêm as palavras (Editora Novo Século, 16ª edição), as colunas que faço semanalmente para a revista CARAS. Talvez dê também um livro ou um cedê o programa Sem Papas na língua, que faço com os jornalistas Ricardo Boechat, Mariana Procópio, Jônatas Ferreira e Rodolfo Schneider, na Rádio Bandnews, às quintas-feiras, às 10h. Essa crônica semanal falada tem o apoio do editor Carlos Augusto Lacerda, com o seguinte bordão: “Sem papas na língua, com Deonísio da Silva, oferecimento Dicionários Caldas Aulete, onde você encontra escritas as palavras faladas aqui.” O programa já estava consolidado, Carlos Augusto e eu tomávamos um refresco de café num barzinho da Gávea quando inventamos a parceria que, pelo que nos diz a Band, está dando certo, pois a audiência vem crescendo. Aliás, eu mesmo constato isso, inclusive nos táxis que tomo. Há 30 mil táxis no Rio e muitos deles sintonizam a Bandnews. Nenhum pediu para desligar quando estava no ar Sem papas na língua, me dizem os motoristas. Faço-lhes pequena inconfidência. Adoro ouvir alunos, professores, colegas, mas também taxistas, porteiros, frentistas, garçons, chefs, maitres, donos de restaurantes, de botequins, de biroscas etc. O Brasil real passa por eles! No penúltimo de 2012, pedi que a trilha sonora fossem os versos d’A Moda do Fim do Mundo, de Rolando Boldrin. Afinal o tema nos rondou o tempo todo, porque, segundo a advertência de muitos, o calendário maia garantia o fim do mundo para este ano. Ricardo Boechat lembrou ao vivo que um ouvinte dissera que o Brasil não poderia realizar o fim do mundo, por não ter infraestrutura para um evento desse porte. Outro, que vive no Japão, disse que o fim do mundo aconteceria primeiro no Oriente. Então, que os brasileiros ficassem tranquilos: assim que o fim do mundo chegasse lá, ele avisaria como tinha sido. Ainda assim, alguns doidos se refugiaram em cavernas ou procuraram locais bem acima do nível do mar, onde vagas e ondas oceânicas não os alcançassem. Isto é, a verdade é aquilo em que você acredita. No ano de O fim do mundo que não houve, a frase do ano teve um palavrão que ganhou o mundo. Vada a bordo, cazzo! (Volte a bordo, caralho!), foi a ordem do comandante da Capitania do Porto de Livorno, o italiano Gregório di Falco, a outro italiano, o piloto Francesco Schettino, que abandonou o navio Costa Concordia, assim que ele adernou, no dia 13 de Janeiro de 2012! O socorro vinha sendo feito sem comando algum! Várias pessoas morreram afogadas. Faz cerca de 1800 anos que o astrônomo grego Cláudio Ptolomeu dividiu a hora em 60 partes, chamando cada uma delas pars minuta prima (primeira parte pequena), que virou minuto, depois dividida em pars minuta secunda (segunda parte pequena), que virou segundo. Para fazer isso, sele se baseou no círculo, que tem 360 graus. E assim, para que meses, semanas e dias de 2012 passassem, passaram também 8760 horas, com seus respectivos minutos e segundos. Contar daí pra frente já é coisa para a matemática, esse ramos das ciências ocultas, ou ao menos ocultas para mim, como as engenharias. Adeus, ano velho! Você está morrendo! Vai virar defunto. Defunctus quer dizer pronto em Latim. E todo defunto começa uma nova vida, como nos asseguram cristãos, espíritas, budistas, muçulmanos etc. (xx) *Escritor e professor, Doutor em Letras pela USP, membro da Academia Brasileira de Filologia, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio.

domingo, 23 de dezembro de 2012

O NATAL DO FIM DO MUNDO

Este ano o Natal foi precedido de anúncios do fim do mundo para o dia 21 de dezembro. O fim do mundo já foi anunciado muitas vezes. Os primeiros cristãos acreditavam que Jesus voltaria no ano 100, ao fim do primeiro século, para julgar os vivos e os mortos. Originalmente a palavra “século” designava um longo tempo, que poderia ser de cem ou de mil anos. Depois tornou-se sinônimo de centúria, de centenário, modo de contar o tempo, mas também de contar soldados, pois centúria era o conjunto de cem homens do exército romano. Seu comandante era o centurião. Os soldados romanos encarregados de executar a sentença de morte de Jesus no ano 33 eram comandados por um centurião chamado Longinus, aquele que enfiou uma lança no peito do Crucificado, de onde saíram água e sangue. Longinus tinha uma doença nos olhos, curou-se com os respingos e passou a ver com perfeição. E chegou a Portugal e depois ao Brasil com o nome de São Longuinho, alteração de São Longino, aquele que ajuda a encontrar objetos perdidos, por ver melhor do que nós. Jesus é um dileto filho do Judaísmo e nasceu por volta do ano 6 a.C. Um monge chamado Dionísio datou o nascimento dele no ano 753 da fundação de Roma, renomeado ano 1. Atento ao fato de que Maria dera à luz ao Menino Jesus por ocasião do recenseamento ordenado pelo imperador César Augusto e executado na Palestina, Judeia e outras províncias romanas pelo governador Quirino, da Síria, esqueceu-se entretanto de que Herodes, o da matança dos inocentes, morrera quatro anos antes. Então Jesus já era nascido! O próprio papa Bento XVI procura conciliar o Natal com a História em seu livro recente A infância de Jesus. Ele diz que a Estrela de Belém foi um evento astronômico: a conjunção de Júpiter, Saturno e Marte, aliás três deuses romanos. Quando o cristianismo tornou-se religião oficial do império, no século IV, sob Constantino, o Grande, narrativas lendárias se consolidaram, entre as quais a dos reis magos, que não eram três, não eram reis e não tinham nomes. Os Evangelhos dizem apenas que eram magos (sacerdotes, astrônomos) vindos do Oriente. Entretanto os ossos de Gaspar, Melquior e Baltazar (representando brancos, amarelos e negros) repousam na Catedral de Colônia, na Alemanha. Na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, há quatro ripas da manjedoura onde Jesus foi posto depois do parto. Essas são algumas das mais famosas relíquias do Natal! O cristianismo triunfou primeiramente entre os pagãos, no meio rural, e nas bordas das cidades. Paganus, em Latim, é quem vive nos pagos. Para aquelas pessoas simples, pastores, agricultores e pecuaristas, as narrativas tinham que apelar mais aos sentimentos do que à razão. E graças a isso temos histórias, músicas e imagens belíssimas, que anunciam o Natal como um evento que “dá glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!” O Papai Noel, as renas, a cor vermelha, a neve, a Lapônia etc são a face comercial de um evento que se modificou ao longo dos anos. (xx) * escritor e professor universitário, Doutor em Letras pela USP.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

NOS TEMPOS DE ROMEU E JULIETA, EM 1970!

Eram os tormentosos anos 70 que tinham começado. Eu morava no convento dos padres saletinos no Jardim Social, em Curitiba, e naquela madrugada fomos acordados pelo padre superior que nos mandou en terrar na hora todos os livros suspeitos, pois nosso contato avisara que a polícia viria revistar o convento cela por cela, tão logo amanhecesse o dia. Assim o fizemos. Entre os meus livros enterrados estava "Pedagogy of the opressed", de Paulo Freire, capa azul anil, lindo, e "Educação como prática da liberdade". No fim daquela tarde fui com minha namorada, que não sabia de nada, Soeli da Silva, oito anos depois mãe de nossa filha Manuela, assistir no cine Vitória ao filme "Romeu e Julieta". Eu estudava Inglês no Centro Cultural Americano. Obtivera a melhor média de um aluno que já tinha passado por lá, até àquela data: 9,47. Eu já sabia todo aquele Inglês, tinha aprendido no seminário, mas a pronúncia não era boa, e o professor Dick teve que ter muita paciência comigo nos "repeat, please, Deonísio!", e "again" e nas "substitution tables", faladas! O passado é insaqueável. Aqueles que, em nosso nome e em nosso lugar, décadas depois, roubaram o nosso patrimônio, dizendo que foram eles que derrubaram a ditadura, faziam o quê nesses anos? Alguns de seus líderes estão sendo condenados por roubo do dinheiro público, desvios, sobretudo éticos etc. Voltemos ao Amor, pois só pelo Amor vale a vida! A letra, baseada em William Shakespeare, musica por Nino Rota (olha o nível!) dizia assim: "Deve existir Um bom lugar Só para nós e nosso amor, Cheio de esplendor! Um bom lugar para viver A vida... Que eu sonhei viver só com você! Vou procurar e irei achar Um bom lugar Só para nós. Me dê a mão Vamos sair, e procurar Um bom lugar Para ser feliz! Então o mundo há de saber Que o nosso amor Que o nosso amor Não morrera jamais." Hoje cada um de nós vive outros tempos! Mas a História não seja jamais apagada, pois ninguém constrói mentindo, omitindo e fazendo de conta que só vale o instantâneo. Não! Todos seremos para sempre, como disse Ortega y Gasset, nós e as nossas circunstâncias. Um bom dia a todos vocês! Sim, houve uma vez um verão, mas houve uma vez também uma ditadura. Eu queria ser escritor, era meu sonho, e dali a quatro anos seria preso pelo meu primeiro conto publicado. Solto, escrevi um livro, premiado pelo MEC como melhor livro publicado no Brasil naquele ano (1976, prêmio recebido em 1977) e levado à televisão por Antunes Filho. Desde então, outros livros e essas madrugadas tão diferentes, em que nenhum padre superior vem dizer que você precisa esconder os livros que lê.

sábado, 8 de dezembro de 2012

A VIDA BREVE DAS SIRIGAITAS

“Vai cuidar da tua mulher, sirigaita essa polaca,/Namora com meio mundo e te botou chapéu-de-vaca”. Assim cantava a dupla gaúcha Kleiton e Kledir, nos anos 80. Não temos o masculino de sirigaita, nem seu equivalente. O mais próximo é galinha, aplicado tanto à mulher quanto ao homem. Sirigaita é o tratamento popular mais leve para a namorada do homem casado. A semana que passou trouxe à baila a namorada do ex-presidente Lula. A ex-primeira dama emudeceu. O marido também. Não temos um livro sobre as primeiras-damas, mas não faltam histórias sobre elas. Ao que sabe, a maioria teve vida exemplar. Nair de Tefé von Hoonholtz desposou o presidente Hermes da Fonseca em 1913, um ano depois de ele enviuvar. Era 27 anos mais nova do que ele. Estava com 37 quando enviuvou também. E jamais se casou outra vez, morrendo em Petrópolis, em 1981, aos 95 anos. Seu marido morrera em 1923, aos 68 anos. O padrão de comportamento das esposas dos governantes foi fixado ainda antes de Cristo com estonteante claridade por Júlio César, um dos homens mais poderosos de todos os tempos, ao separar-se de Pompeia, sua segunda mulher (a primeira chamou-se Cornélia) e casar-se com Calpúrnia, terceira e última. Nada foi provado contra Pompeia, mas ainda assim ela foi repudiada. Como espécie de primeira-dama, Pompeia estava encarregada de organizar os festejos sagrados da Bona Dea (Boa Deusa), exclusivo para mulheres. Um homem vestiu-se de mulher e entrou na festa. O ato foi considerado uma violação das leis. César reconheceu que Pompeia não teve culpa alguma, mas proferiu a frase famosa, dali por diante usada não apenas em relação à mulher, mas ao poder: “Não basta à mulher de César ser honesta, ela deve parecer honesta.” Seu marido não tinha outra, tinha outros. Mas seus soldados não cantavam os versos de Kleiton e Kledir: “Teu nome é Júlio César, mas te chamam de Odete/ De dia tu é muito macho, de noite vira gilete”. Pois nos campos de batalha mostrava que essa opção sexual não lhe diminuía a coragem. Punha seu manto de púrpura e montava num cavalo branco para deixar bem visível o lugar que ocupava na batalha. Era realmente um líder. Na guerra civil recomendou a seus soldados veteranos que ferissem no rosto os jovens comandados por Pompeu. Ele sabia que os moços eram vaidosos da aparência e não queriam deformar as frescas faces nas batalhas. E César mais uma vez venceu. Ele só não venceu a traição. Morreu cravado de punhais dos amigos da base aliada, depois de desprezar os presságios da matriz, Calpúrnia, que tivera sonhos sanguinolentos com ele. No governo Collor, a sirigaita de um ministro foi outra ministra. A sirigaita do então presidente do Senado, Renan Calheiros, posou para a Playboy e ganhou um bom dinheiro mostrando a todos o que somente o senador via. Agora chegou a vez da sirigaita de Lula. A vida é breve para as sirigaitas. Dura somente até o próximo escândalo. (xx) • Autor de Lotte &Zweig, prêmio de melhor romance do ano da Academia Catarinense de Letras.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A MOÇA QUERIA CASAR-SE COM UM HOMEM RICO PEGOU A MODA DE LEILOAR-SE E-mail da MOÇA: "Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos. Sou bem articulada e tenho classe. Estou querendo me casar com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste jornal, ou alguma mulher casada com alguém que ganhe isso e que possa me dar algumas dicas? Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso. E 250 mil por ano não vão me fazer morar em Central Park West. Conheço uma mulher (da minha aula de ioga) que casou com um banqueiro e vive em Tribeca! E ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente. Então, o que ela fez que eu não fiz? Qual a estratégia correta? Como eu chego ao nível dela? (Raphaella S.)" Resposta do editor do jornal: "Li sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente no seu caso e fiz uma análise da situação. Primeiramente, eu ganho mais de 500 mil por ano. Portanto, não estou tomando o seu tempo a toa... Isto posto, considero os fatos da seguinte forma: Visto da perspectiva de um homem como eu (que tenho os requisitos que você procura), o que você oferece é simplesmente um péssimo negócio. Eis o porquê: deixando as firulas de lado, o que você sugere é uma negociação simples, proposta clara, sem entrelinhas : Você entra com sua beleza física e eu entro com o dinheiro. Mas tem um problema. Com toda certeza, com o tempo a sua beleza vai diminuir e um dia acabar, ao contrário do meu dinheiro que, com o tempo, continuará aumentando. Assim, em termos econômicos, você é um ativo sofrendo depreciação e eu sou um ativo rendendo dividendos. E você não somente sofre depreciação, mas sofre uma depreciação progressiva, ou seja, sempre aumenta! Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar linda pelos próximos 5 ou 10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano. E no futuro, quando você se comparar com uma foto de hoje, verá que virou um caco. Isto é, hoje você está em 'alta', na época ideal de ser vendida, mas não de ser comprada. Usando o linguajar de Wall Street , quem a tiver hoje deve mantê-la como 'trading position' (posição para comercializar) e não como 'buy and hold' (compre e retenha), que é para o quê você se oferece... Portanto, ainda em termos comerciais, casar (que é um 'buy and hold') com você não é um bom negócio a médio/longo prazo! Mas alugá-la, sim! Assim, em termos sociais, um negócio razoável a se cogitar é namorar. Cogitar...Mas, já cogitando, e para certificar-me do quão 'articulada, com classe e maravilhosamente linda' seja você, eu, na condição de provável futuro locatário dessa 'máquina', quero tão somente o que é de praxe: fazer um 'test drive' antes de fechar o negócio...podemos marcar?" fim

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O BEBEZÃO DE ROSEMARY, A OUTRA (MULHER) DE LULA

Lula não inovou na arte de enganar a matriz. O problema não é este. Cortesã, amante, amásia, cacho, cabritinha, filial, esta última claramente uma comparação comercial ─ a língua portuguesa tem nomes em abundância para designar a outra! Essas são as denominações mais leves e revelam um dos pontos de vista, que são muitos! A matriz dispõe de outro arsenal de ofensas: galinha, perua, cadela e vaca buscam fixar a mulher entre os bichos domésticos. A mais leve é sirigaita. O que há, então, de estranho em Lula ter uma amante, como tantos homens, poderosos ou não, tiveram ou têm? Ah, é esta a questão. Ele a fez teúda e manteúda com o meu, o seu, o nosso dinheiro. O problema da filial é lá com ele e a matriz. Este outro é nosso, é de todos, é público. E não é só isso. A outra fazia negócios para ela, parentes e asseclas, não com o dinheiro de Lula, com o dinheiro público. Dinheiro que falta para educação, saúde, estradas, cultura. Se o bebezão de Rosemary quisesse refestelar-se ou refocilar-se com ela, este não seria um problema nosso. Mas tornou-se pelos métodos empregados. São tantos, mas tantos os indícios sobre o modo de proceder de Lula, que ninguém mais aceita as indulgentes versões que desabam em catadupa a cada novo escândalo, exaradas por interessados confessores! Confessores, sim, porque confessam, entre as palavras e mesmo nos silêncios que a si mesmos se impõem, interesses espúrios na defesa ou no silêncio, afinal, como diz Eduardo Portela, “o silêncio é aquilo que se diz naquilo que se cala”. Não são repolhos ou alfaces do jornalismo, mas referências solares da arte de noticiar, analisar e interpretar os fatos, que vêm, aparentemente em vão, alertando os brasileiros para os estratagemas ilusionistas de Lula. Entre outros, Augusto Nunes, Elio Gaspari, Ricardo Noblat, Reinaldo Azevedo, José Nêumane Pinto, Eliane Cantanhêde etc. Os jornalistas citados fizeram não poucas vezes solitários solos desafinados da grande orquestra. Eram poucos. Não são mais! O fim está próximo. Abraham Lincoln, que morreu assassinado, o lenhador que chegou à presidência dos EUA, resumiu assim a questão: “Pode-se enganar a todos por algum tempo. Pode-se enganar alguns todo o tempo. Mas não se pode enganar a todos todo o tempo.” Nesses tempos em que tantos pigmeus vieram para o proscênio político, substituindo notáveis estadistas, Rosemary Noronha não pode ser comparada a Marilyn Monroe, nem Lula a Kennedy. Assim, o conselho do americano ─ “não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu país” ─ sofreu devastadora inversão. As bandas de Lula e seus red caps não perguntam o que eles podem fazer pelo país, eles perguntam o que o país pode fazer por eles. Este escritor e professor está entre aqueles que acreditam que ela foi enganada pelo homem que amou por tanto tempo ou talvez ainda ame. Pelo menos até prova em contrário. Toda forma de amor vale a pena. Ninguém está reprovando o romance, o brasileiro não é o americano, aqui na pátria amada ninguém liga para isso. O que deve estar doendo nela, suponho, deve ser o seguinte: então, ela faz tudo o que PR lhe ordenou fazer e agora ele se diz apunhalado pelas costas? No Brasil, tudo o que é difícil para um homem, é infinitamente mais difícil para a mulher! Nós precisamos ouvi-la. Se Rose se tornar A Mulher Silenciosa, ainda assim vai dizer muita coisa, uma vez que, desculpem a repetição, “o silêncio é aquilo que se diz naquilo que se cala.” Rosemary Noronha está numa daquelas encruzilhadas que podem transformar mulheres comuns em heroínas. Ela ganhará a estatura de uma Maria Quitéria, de uma Anita Garibaldi, ou será apenas mais uma mequetrefe a serviço de corruptos. A escolha é dela!

domingo, 2 de dezembro de 2012

O DOUTOR CORONEL PREFEITO E OS IMPOSTOS

Anos 30 do s←culo passado, em alguma cidade do interior do Brasil. O coronel era autorit£rio, mas n ̄o era burro. O chefe dos Correios pediu-lhe um particular: "Chegou um telegrama urgente. O governo federal pede para abrir um procedimento administrativo com o fim de apurar por que raz ̄o o coletor de impostos n ̄o coleta nada." "Coleta, sim, eu mesmo pago todos os impostos devidos." "Mas n ̄o envia ao governo o que arrecada." O coronel espantou-se, mas logo decidiu: "Vamos l£ no Cart￳rio que eu vou mandar lavrar a certid ̄o de ￳bito deste incompetente." A Coletoria ficava num pr←dio cinza. Bateu forte com a aldrava, o argol ̄o fez um barulho danado, os vizinhos estranharam, veio ¢ porta ao lado at← uma ex-donzela que ontem mesmo tinha dado de gra￧a a virgindade a um capataz. Um dia, dali a muitas d←cadas, uma catarinense ia leiloar o que todas at← ent ̄o davam de gra￧a. O coronel mandou, delicado, mas firme, que a mo￧a se retirasse: "N ̄o ← nada com a menina, volte pra dentro e continue o que estava fazendo". Ela obedeceu e voltou a mijar, queixando-se da ard↑ncia e perguntando para uma tia solteirona se era normal ir tantas vezes ao penico. "Se avexe, n ̄o, minha filha, n ̄o ← pelo que voc↑ fez ontem, ← porque bebeu muita £gua, ser£ sempre assim." O coletor veio atender a porta e em instantes estavam todos no Cart￳rio, onde o coronel ordenou ao chefe, indicado para a fun￧ ̄o tamb←m por ele: "Lavre a certid ̄o de ￳bito desse aqui", disse, apontando para o indigitado coletor, do contr£rio todos voc↑s estar ̄o enrascados e eu tamb←m." O coletor empalideceu. O coronel estava pertinho dele e disse, severo: "Fique tranquilo, ← pro seu bem". O homem come￧ou a chorar. E o coronel: "N ̄o, n ̄o vou te matar, voc↑ n ̄o vale a bala que eu mande te botar no quengo nem a faca que talvez te sangre. Coletou s￳ pra ti, pro governo, n ̄o?". "Mas foi assim que eu entendi", disse o coletor, "o senhor n ̄o me esclareceu". "Animal burro", disse o coronel, "era para coletar para o governo." Lavrado o ￳bito, o coronel disse ao chefe dos Correios: "Junte a certid ̄o e informe a quem mandou o telegrama que o coletor era ladr ̄o, sim, mas morreu sem deixar bem nenhum, nem herdeiro, de modo que o malfeito dele n ̄o pode ser cobrado. Com a certid ̄o de ￳bito, eles v ̄o arquivar o processo". Tempos depois, morreu o chefe do Cart￳rio. Arrependido, o ex-coletor, j£ morto oficialmente, pediu o emprego. Foi nomeado, o coronel era compreensivo. Mais um tempo se passou e o coronel morreu. O chefe do Cart￳rio, j£ velho, divertia-se mostrando a p£gina do livro onde estava assentado o seu ￳bito, muitas e muitas p£ginas antes do do coronel. Quando o ex-lar£pio morreu, n ̄o foi lavrada outra certid ̄o de ￳bito. Ele n ̄o podia morrer duas vezes. E se algu←m mexesse naquilo, alguns antigos ￳rf ̄os iam perder a pens ̄o. (xx) PS. Dedico esta cr￴nica a Rob←rio Nunes dos Anjos, doutor em Direito pela USP, desembargador aposentado, a quem agrade￧o o jantar, o vinho e principalmente a prosa, degustados em Boa Vista, Roraima, em novembro de 2012. " Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Est£cio de S£, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.