NOME DE POBRE NO BRASIL

terça-feira, 18 de outubro de 2011

ETIMOLOGIA: CHARADA, ESFEROGRÁFICA, NÉCESSAIRE ETC

Charada: do francês charade, ligada ao provençal charrado, conversa para passar o tempo, donde algumas charadas publicadas na imprensa serem denominadas também passatempo. Malba Tahan, pseudônimo do brasileiro Júlio César de Mello e Souza (1895-1974), apresenta várias charadas em seus livros, como esta, extraída de Matemática Divertida e Curiosa: vários sábios reunidos no palácio de um califa pedem ao geômetra persa Beremiz Samir que escreva uma expressão igual a 100 na qual constem, sem repetição, nove algarismos. Ele responde com a seguinte: 1+2+3+4+5+6+7+8 x 9=100. E ainda lhes dá uma segunda opção: 91+542/638=100. Em geral, charada designa um problema que pode ser resolvido mediante reflexão e criatividade, como na expressão “matou a charada”, isto é, encontrou uma solução para o problema.

Denominar: do latim denominare, formado da preposição de e do verbo nominare, nomear, com sentido diferente, pois nomear aplica-se mais a indicar oficialmente para um cargo e designar é dar nomes, seja a pessoas, seja a lugares, para identificá-los. No Brasil, há nomes folclóricos, como Hímen: o irmão mais velho do nascituro era fã da personagem He Man, o pai não soube dizer direito e o escrivão fez o resto do estrago, sem se dar conta de que referia um seriado infantil da televisão. Também têm denominações curiosas alguns municípios do País, como Doutor Pedrinho (SC), nome do filho do governador da época, e Anta Gorda (RS), que foi mudado para o do então governador, mas não foi aceito pela população, que consolidou o nome do animal. Brasil: Almanaque de Cultura Popular registra outros nomes curiosos de municípios, como Varre-Sai (RJ) e Não-Me-Toque (RS).

Esferográfica: do grego sphaîra, esfera, e graphikós, gráfico, referente ao ato de escrever. Quem inventou esse tipo de caneta foi o judeu húngaro Laszló Biró (1899-1985), em 1938. Ele e o irmão Georg, químico, solicitaram a patente da esferográfica na Hungria, na França e na Suíça, em 1938. Fugindo dos nazistas, Laszló e Georg receberam a patente em Paris. Na Iugoslávia, Laszló conheceu Agustín Pedro Justo (1976-1943), presidente da Argentina entre 1932 e 1938. Para lá emigraram e, com a ajuda do amigo argentino Juan Jorge Meyne, os irmãos Biró fundaram a companhia Biró y Meyne, em 1940. Essa segunda patente saiu em 1943. Em 1944, foi vendida a um grupo industrial norte-americano por 2 milhões de dólares, mas reservando a propriedade na Europa a Marcel Bich (1914-1994). Para facilitar a pronúncia do sobrenome, a caneta passou a ser comercializada sob a marca Bic, na Europa, em 1949; em 1959, nos Estados Unidos; e a seguir em muitos outros países.

Municipal: do latim municipalis, ligado a municipium, pela formação munus, cargo, ofício, e capere, referente e ligado a jurisdições maiores, originalmente províncias de Roma e hoje unidades políticas e administrativas dos Estados, com o fim de assegurar direitos aos cidadãos romanos. A origem remota é a raiz indo-europeia “*mei”, mudar, trocar. As palavras municipium e municipalis tinham no latim vinculações com munus facere, desempenhar o cargo, fazer alguma coisa, donde praefectus, prefeito, ligado ao verbo praeficire, evoluído de prae facere, fazer antes, antecipar-se.

Nécessaire: do francês nécessaire, redução de nécessaire de toilette, estojo, maleta, valise ou bolsa contendo objetos indispensáveis, no Brasil mais usada por mulheres, que levam no recipiente batom, pente, pó, escova e outros recursos de toalete e maquiagem rápida, embora seja designada nécessaire também quando utilizado para levar agulha, linha e outres itens de costura, ou, ainda, pequenas ferramentas de uso manual em alguns ofícios. A palavra ainda não foi aportuguesada, embora esteja há três séculos entre nós.

Tamanho: provavelmente do latim tam magnus, tão grande, mas que acabou se tornando termo de comparação também para coisas menores. O Brasil é tão grande que só no Município de Altamira (PA), o maior do País, caberiam quatro Holandas, mas é habitado por apenas 105000 pessoas. O menor do Brasil em extensão é Santa Cruz de Minas (MG). Já os cerca de 800 habitantes de Borá (SP), o menor município do Brasil, caberiam num avião.

‘Sociedade 43 x governo zero’

A liberdade de expressão é importante para quem quer ser livre, mas é mais importante ainda para a sociedade, que tem o direito de saber o que pensam aqueles que escrevem. E daí, sim, discordar ou concordar com eles.

Antes de ser levada ao ar, a peça publicitária com Gisele Bündchen foi escrita, isto é, pensada. Podemos falar sem pensar, o que vale para muitas desculpas, mas escrever sem pensar, não! A letra de cada palavra é digitada e isso toma muito tempo.

Felizmente, o Brasil que presta se mexeu, como diz Augusto Nunes em suas criativas indignações. E a manhã do dia 13 de outubro de 2011 vai ficar na História do Brasil e principalmente nos anais da defesa da liberdade de expressão. O Conselho de Ética do Conar recomendou o arquivamento da Representação Hope/Gisele Bündchen.

A decisão da 1ª. e da 8ª. Câmaras do Conselho de Ética foi tomada por unanimidade: 43 votos a zero a favor da manutenção da peça publicitária da campanha da Hope, fabricante de lingeries. A ministra Iriny Lopes pode recorrer da decisão. Não se sabe se exercerá esse direito.

Recordemos! A peça publicitária, estrelada por Gisele Bündchen, foi criada pela Giovanni+DraftFCB. Diz a ata: “Os membros do Conselho de Ética presentes à sessão de julgamento, realizada na manhã de hoje, na sede do Conar, em São Paulo, acompanharam o voto do relator, que considerou que os estereótipos presentes na campanha são comuns à sociedade e facilmente identificados por ela, não desmerecendo a condição feminina”.

A representação tinha sido aberta por denúncias formuladas ao Conar por cerca de 40 consumidores e também pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Representantes da Secretaria, do anunciante e da agência participaram da sessão de julgamento.

A ministra Iriny Lopes anda metendo os pés pelas mãos há algum tempo. Já enviou ofício à Rede Globo sugerindo uma mudança no andamento de Fina Estampa. O personagem Baltazar (Alexandre Nero) humilha e bate na esposa, Celeste (Dira Paes). A ministra pede que Celeste vá atrás da Rede de Atendimento à Mulher por meio do número telefônico 180. Além disso, quer que Baltazar seja levado a algum centro de reabilitação, conforme previsto na Lei Maria da Penha. Se Os irmãos Karamazóv ou qualquer outro livro de Dostoiévski for transposto para a telinha, o que vai “sugerir” a ministra? Que os filhos não matem os pais? Para Crime e Castigo vai sugerir que Raskolnikov seja punido por agressão a idosa? Até Chapeuzinho Vermelho está em perigo. Por que vovó foi abandonada num asilo florestal?

O fascismo não consiste apenas em proibir uma coisa. Os fascistas querem obrigar a dizer ou a fazer outra! O autor do roteiro de Fina Stampa, o escritor Aguinaldo Silva, quem diria, sucede a Dias Gomes também nesse particular: Roque Santeiro foi proibido durante a ditadura militar, mas nenhum censor atreveu-se a ensinar Dias Gomes a escrever. Essa ministra quer mais: ela sugere, compreendem?