NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O JOÃO-DE-BARRO E A VACA SEM RABO

Um joão-de-barro estava atrasando as obras de uma estrada. A árvore onde ele fizera sua casinha não podia ser derrubada. Ambos estavam sob a proteção das leis vigentes. Todos foram à Justiça. A sociedade para o progresso do joão-de-barro e as entidades protetoras dos pássaros, dos morcegos e de outros animais voadores pleitearam a interrupção das obras. Quanto às vidas humanas perdidas naquela curva sinistra e aos demais que ali morreriam, ninguém propôs sua defesa! Por sua vez, a empreiteira e o Estado reclamaram o direito de fazer estradas.
único que não recorreu ao Judiciário foi o Furnarius Rufus, como é conhecido em Latim o joão-de-barro. Que de barro não é, de barro é apenas a casinha que ele faz desde tempos imemoriais, sem jamais ter estudado engenharia ou arquitetura. Todavia nenhum juiz precisou deliberar. Um capiau ofereceu a solução. De vez em quando dava um temporal ali e muitas árvores eram arrancadas.
O capataz não demorou a entender a sabedoria da proposta do caipira. E em noite de trovoada encostou a lâmina de uma das máquinas na árvore, derrubando-a. No dia seguinte, um fiscal compareceu para atestar que o responsável pela nova situação tinha sido um vendaval. Como ainda não se leva a natureza aos tribunais, o caso ficou por isso mesmo. Estava relembrando o ocorrido, quando o juiz José Maria da Costa, autor do Manual de Redação Jurídica, relatou caso semelhante, ocorrido em município do interior de São Paulo, em cuja comarca o processo foi instaurado. Um caminhão atropelou uma vaca de raça. Em consequência do acidente, o animal, avaliado em quinhentos mil na moeda da época, perdeu o “apêndice caudal”, de acordo com o atestado emitido pelo veterinário para “fins indenizatórios”. Cá para nós, animal, in casu, era o motorista, que não entendeu os sinais de luz dos outros carros, vindos em sentido contrário, alertando para o perigo na estrada. A vaca sobreviveu, mas perdeu o rabo na trombada. Sem o “apêndice caudal”, ela não pôde mais espantar as moscas, que encheram de larvas a parte traseira de suas carnes. Ela não alcançava espantá-las com as orelhas ou com as guampas. E muitos bernes surgiram ali!
Sem o “apêndice caudal” – como se sabe, a maioria dos advogados abomina a simplicidade no ato de escrever e exagera nas complicações de estilo – a vaca não pôde mais ser exibida em exposições, onde eram realizados os concursos de miss vaca, e seu dono pleiteou indenização dos danos sofridos. Vejam o que nossos juízes são obrigados a julgar! O juiz encarregado do processo confidenciou a um colega do fórum: “nem que a vaca tussa vou dar sentença favorável ao dono do animal”. “Mas assim a vaca vai pro brejo”, disse o colega, já às risadas. “Ele quis nos dar o drible da vaca”, replicou o primeiro juiz. E a indenização foi negada. De cabo a rabo, esta é a crônica desta semana. (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

TRADUZINDO O QUE AS MULHERES PENSAM QUE PENSAMOS

Tascabili, plural de tascabile, aplica-se no Italiano a algo pequeno, que se pode carregar consigo, na tasca, bolsa, que veio de taska, uma palavra da língua dos francos que passavam por Frankfurt, na Alemanha; aliás, deram nome àquela cidade. Os italianos, ancestrais de tanta gente que ora me lê, e meus ancestrais também, por parte de minha mãe Da Boit, precisam saber que tascabile se aplica também à mulher bonita que seja baixinha, a um pequeno automóvel, ampliando o significado original de tasca, que é bolsa. A cidade alemã tem este nome porque ali o rio Meno dava vau, e os francos podiam passar com suas tropas. Por isso o nome completo é Frankfurt am Main (Passo dos Francos no rio Meno). A editora dos livros de Umberto Eco faz esses tascabili em Milão, do Latim Mediolanum, depois Mediolano em Italiano, consolidando-se em Milano, cidade fundada pelos celtas e conquistada dos ínsubres pelos romanos no ano 222 a.C. De quebra, lembremos que as duas cidades, Frankfurt e Milão, fazem algumas das maiores feiras mundiais, de que são exemplos a do Livro na primeira, e as de moda, na segunda. Estou fazendo como o escritor de Bologna, que cerca o assunto de todos os lados com sua vasta erudição e, logo às primeiras páginas, dá mostras de que os apressados devem procurar outro livro.
Ele começa dizendo que tradurre (traduzir) não é coisa para despreparados. Os próprios dicionários ajudam pouco, ainda que ele cite apenas os melhores. Em geral, traduzir é dare l´equivalente (dar o equivalente). Já vimos que não é fácil fazer isso. O equivalente de tascabile pode aplicar-se a um livro, um automóvel ou uma mulher baixinha... Na infância, ouvi muito esses versos: “Coisa que eu não gosto/ É de mulher baixinha/ Entra pela sala e sai pela cozinha”. O compositor estava enganado! Até Roberto Carlos louvou a mulher baixinha numa canção.
E em Portugal, afinal sou um da Silva, a jornalista Catarina Fonseca revelou “as dez coisas que os homens mais olham” nas mulheres. Em ordem decrescente são: “seios, pernas, roupa, cabelos, altura, boca, cintura fina, rabo, olhos e voz”. E sobre os enganos das três coisas que as mulheres acham que os homens acham importantes nelas, eis: 1ª: Trabalho: “Só começam a preocupar-se com o nosso trabalho depois de terem ido para cama conosco cinco vezes”. 2ª: Quilos a mais: “Se formos apenas um bocadinho rechonchudas, vão achar lindo”. 3ª. Perfume: “Os homens só notam se tivermos despejado o frasco em cima. E estivermos nuas”. Às vezes, as mulheres nos parecem confusas, mas sempre nos desconcertam e surpreendem. Não vivemos sem elas! Sem traduções, também não vivemos! Mas daí é só recorrer aos livros e aos outros! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

terça-feira, 15 de outubro de 2013

DIA DO PROFESSOR

Hoje é Dia do Professor. Nunca é demais lembrar que o ensino básico, ressalvadas as ilhas de excelência, que são poucas e são ilhas, é um mar de ignorância e de descaso, com salas descuidadas, escolas sem bibliotecas etc. Autoridades da Educação, na ânsia de melhorar os indicadores de qualidade, dão ordens para baixar o nível de exigências, com vistas a fazer com que os alunos sejam aprovados de qualquer modo. Mas estudos isentos demonstram que boa parte dos alunos não sabe nem ler, DEPOIS de concluído o ensino médio. O primeiro país do mundo a exigir que todos fossem à escola, dando condições satisfatórias de ensino e de aprendizagem a professores e alunos, foi a Alemanha de Bismarck, portanto ainda antes da unificação. No Brasil do século XIX, como comprova o anúncio abaixo, publicado no Estadão, havia docentes altamente qualificados, até para trabalhar nas fazendas como professoras particulares. Outro exemplo é Lição de Amor, o filme de Eduardo Escorel, resultado da adaptação de um conto de Mário de Andrade. E eu dou o terceiro testemunho deste post: fiz o Curso Primário no Grupo Escolar Jacinto Machado, onde eram professoras Edite Zanatta (que me alfabetizou), Alda Frassetto (mãe de meu amigo de infância, Enio Frassetto), Priscila Trevisol (tia de minha querida amiga Eliane Trevisol Tomazi), Alzira (cujo sobrenome esqueci), Estela (que vim a saber no seminário, no ano seguinte, ser estrela em Latim, a quem homenageei no conto O Rato na Balança, porque sou do signo de Balança) e outras igualmente inesquecíveis. Mas minha profunda saudade será sempre de dona Edite, que, como tenho proclamado, tinha um cheirinho bom. Foi ela quem lavrou a terra deste ser onde anos depois os padres, nos seminários de São Ludgero e de Tubarão, ambos em SC, lançariam as sementes que fizeram de mim a pessoa que sou, em tudo na contramão dos usos e costumes que depois se arraigariam no Brasil, com apedeutas mandando nos cultos, e ignorantes determinando o que é bom para todos nós, e escolarizados subservientes cheios de indulgências para com os de cima e cruéis para com os de baixo. Tenho dito. Mas, resta a esperança! Como diz Olavo Bilac, em seus célebres versos abençoando a tantos, bendito seja "o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto/Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;/E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto;/ E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo”. E, por fim, exalta quem “descobriu a Esperança, a divina mentira,/ Dando ao homem o dom de suportar o mundo”. Sempre que tive problemas no ato de ensinar, eles não decorreram dos meus defeitos, que são muitos, mas de minhas qualidades, que são poucas, e ainda assim desarrumam a alguns excessivamente sossegados com suas astúcias para enganar os parvos. É assim que vejo o Dia do Professor, hoje! Se houver reencarnação e eu puder escolher, quero ser a professora do anúncio!

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

PORTUGUÊS DE PORTUGAL: TRAULITADA NO CRONISTA

Sou aderente (assinante) e não paro no pedágio, mas o guarda me pede os documentos do autocarro. Olha-os bem e diz: “Está tudo em ordem, mas cuidado porque lá adiante, depois daquela azinhaga (rua) ao lado do prédio, há uma azêmola (besta) na pista. Se pisar no breque, assustado, o carro pode despistar. O senhor não está entre as dez e as onze (bêbado), está? Respondo que não ingiro bebida de álcool nunca! Semana passada estava numa festa, o escanção (sommelier) passava toda hora com a jarra de vinho, eu sempre recusava, e ele sempre oferecia de novo. Essa gente perdeu a memória! Mas o bom homem coça a fusca (arma) no coldre e me manda prosseguir.
Chego à praia, depois de passar pela azêmola (besta de carga), mas era um badano (cavalo). O guarda confundira-se. O banheiro (salva-vidas) está instalado bem acima das ondas, vestido de calção vermelho, pronto a salvar algum afogado. Algumas mães estão a levar os putos (meninos) para a sanita, que outros conhecem por retrete. No Brasil dizem privada, sanitário, toalete também w.c., abreviando a expressão do Inglês water closet (armário d´água). Vejo ao longe um puto (menino) cheio de adesivos (esparadrapos). Pergunto a uma rapariga (moça), só para bater uma prosa, pois ela é um borrachinho (gatinha), o que houve com ele. Responde-me que está assim estrafegado porque foi atacado por um canzarrão. Foi grande o chulé (bagunça). Posto-me atrás da bicha (fila) e espero a minha vez. Estão a servir algo pronto-a-comer, que no Brasil chamam fast food . De novo o Inglês. Atrás de mim, senta-se um senhor que me parece um cabeça de turco, que no Brasil chamam testa de ferro. Nos arredores, todos sabem que ele é dono de três boates onde trabalham brasileiras! Portanto, as casas pertencem a outros donos! Voltei a sentar-me. Peguei o telemóvel, mas deu impedido o telefone da Maria. Ia desligar, porém no écran (tela) passou a rodar o trecho de um filme sobre a lua-bebé (satélite) dos russos. Fiquei a pensar: como filmaram essa luinha no espaço sideral? Mas deveria ser filminho brasileiro: estava escrito “com o Sputnik, os comunistas venceram a primeira batalha da guerra espacial, em 1957”. Em russo, Sputnik quer dizer companheiro! Chamei o garçom, pedi uns pipis (miúdos de frango), que comecei a comer com gosto, regados a um copo de vinho alentejano. Mas quase que não pago: o dinheiro que trazia, eu o tinha gasto no pagamento de propina (taxa) na universidade, hoje foi dia de matrícula! Quase que fico com o rabo à seringa! Quando ia saindo, um reguila (briguento) passou a discutir com alguns escalda-favais (idem) e espirra-canivetes (ibidem). E estavam comendo reineta (maçã), bem pândegos (alegres)! O garçom era meio saloio (bobo), deveria ter chamado a polícia logo! Que sarilho (bagunça) que deu no liceu (escola), meu Deus! (xx) PS. Agradeço ao jornalista Roldão Simas, autor de Dicionário Lá & Cá (Editora Thesaurus). º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

AINDA FRANKFURT

Estou aguardando ser convidado para alguma Feira Internacional de algum outro tema, cujo homenageado seja o Brasil, para falar de Literatura Brasileira ou ao menos das Literaturas de Língua Portuguesa (incluindo Portugal e outras nações lusófonas). Vocês imaginam o país X ser homenageado em alguma Feira Internacional de Livro, e seus escritores, ou alguém em nome deles, falarem, por exemplo, da demanda de Raio-X para dizer que no interior daquele país ainda é frequente baterem em crianças e quebrarem seus ossos; que tais ou quais etnias são excluídas; que a distribuição de renda é injusta etc.? E de Literatura? Quando falaremos? Em feiras de Couro & Calçado, Soja, Milho, Arroz, Minérios? Em redação, quando o aluno sai do tema, ganha zero! Em discursos deveria valer o mesmo critério. Machado de Assis - o maior escritor de todos os tempos que o Brasil já teve (pobre, órfão, epiléptico, gago, sem escola, mulato num país escravocrata e vitimado por muitas outras mazelas - jamais aproveitou-se disso para dar uma de coitadinho. Ao contrário, quando convidado por uma revista de Nova York a falar da Literatura Brasileira, legou-nos o clássico ensaio "Instinto de Nacionalidade", ainda hoje bibliografia indispensável! Cansei! E, ao lado dessas fraudes de temas, vem a mídia reclamar que tal ou qual autor vende muito e não foi a Frankfurt representar o Brasil. Pois eu digo, este foi um dos poucos acertos dos organizadores! Quando é que as vendas serviram de critério para avaliar um bom autor? À semelhança da jabuticaba, só no Brasil!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O BRASIL NA FEIRA DO LIVRO DE FRANKFURT

Vários escritores brasileiros dão a impressão de que falam apenas em nome de si mesmos em Frankfurt. Podem falar, mas não têm minha procuração para dizer o que estão dizendo. Muitos deles são os mesmos que só conseguem falar de si mesmos nos livros que escrevem. "De te fabula narratur", diziam os antigos romanos, mas o entendimento deles tinha complexas sutilezas, não era autobiografia. Quem só consegue falar de si mesmo, de seus familiares etc. nos romances, não sabe lidar com uma qualidade indispensável ao bom romancista, a imaginação! Penso diferente: meu tema é a vida alheia, porém inventada. E também não estou gostando nem um pouquinho das declarações de brasileiros na Feira de Frankfurt, reclamando a presença de escritores de outras etnias, de outras minorias, não sei o quê mais....O único critério a ser respeitado é o talento. De novo, estou num exército pequeno: não endosso as críticas de Paulo Coelho (se seus amigos fossem, a exclusão estaria resolvida...) nem a forma de organizar a lista. Para começar, nenhuma literatura do mundo teve, tem ou terá em qualquer tempo 70 escritores para enviar a uma Feira Internacional! As editoras, sim, essas podem mandar quantos quiserem, pois estão fazendo negócio. Mas às custas do Estado? Com o seu, o meu, o nosso dinheiro?

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O PORTUGUÊS DO BRASIL

Desconheço o autor do texto abaixo. Se souberem, me avisem, por favor pelo e-mail teresa97@terra.com.br! Obrigado! "*Na recepção dum salão de convenções, em Fortaleza* - Por favor, gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso. - Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde? - Sou de Maputo, Moçambique. - Da África, né? - Sim, sim, da África. - Aqui está cheio de africanos, vindos de toda parte do mundo. O mundo está cheio de africanos. - É verdade. Mas se pensar bem, veremos que todos somos africanos, pois a África é o berço antropológico da humanidade... - Pronto, tem uma palestra agora na sala meia oito. - Desculpe, qual sala? - Meia oito. - Podes escrever? - Não sabe o que é meia oito? Sessenta e oito, assim, veja: 68. - Ah, entendi, *meia* é *seis*. - Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: A organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar? - Quanto tenho que pagar? - Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam *meia*. - Hmmm! que bom. Ai está: *seis* reais. - Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende? - Pago meia? Só cinco? *Meia* é *cinco*? - Isso, meia é cinco. - Tá bom, *meia* é *cinco*. - Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia. - Então já começou há quinze minutos, são nove e vinte. - Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia. - Pensei que fosse as 9:05, pois *meia* não é *cinco*? Você pode escrever aqui a hora que começa? - Nove e meia, assim, veja: 9:30 - Ah, entendi, *meia* é *trinta*. - Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado? - Sim, já estou na casa de um amigo. - Em que bairro? - No Trinta Bocas. - Trinta bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no Seis Bocas? - Isso mesmo, no bairro *Meia* Boca. - Não é meia boca, é um bairro nobre. - Então deve ser *cinco* bocas. - Não, Seis Bocas, entende, Seis Bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu? - Acabou? - Não. Senhor é proibido entrar no evento de sandálias. Coloque uma meia e um sapato...

DEONÍSIO E JOSUÉ CULTIVAVAM MILHO E REPOLHOS

Houve um tempo em que, na sociedade do escritor Josué Guimarães, a quem eu amava como a um pai, cultivamos repolhos e milho. Depois, para não inflacionar o mercado, e, dadas as dificuldades de transporte, tanto as espigas quanto os repolhos cresciam muito com os insumos literários, abandonamos o cultivo daquela gramínea (sim, o milho é uma gramínea) e dos hortifrutigranjeiros, e nos dedicamos apenas ao jornalismo, à docência e à literatura. Mas Josué Guyimarães só aceitou ser professor fora da sala de aula!

domingo, 6 de outubro de 2013

SUSAN BENNETT: O ROSTO DE SIRI, VOZ DE CELULARES E IPADs

"Quem tem um Iphone ou um Ipad sabe que pode fazer uma série de perguntas ou organizar a sua agenda com a ajuda de Siri. A assistente pessoal tem resposta para quase tudo. No caso dos EUA, é uma mulher que dá voz a Siri, alegadamente por os norte-americanos serem mais recetivos a uma voz feminina. Mas no Reino Unido, por exemplo, é um homem. Segundo o site Slate, a Apple pensou que os britânicos teriam mais confiança numa voz masculina. Não existe ainda a versão portuguesa. Susan Bennett, que no passado já deu a sua voz a máquinas multibanco e sistemas de navegação por satélite, contou à CNN que só soube que era dela a voz da Siri norte-americana quando foi alertada para um amigo. "A primeira vez que ouvi a minha voz como Siri foi quando um amigo me enviou um email e disse: 'És tu?", contou Bennett. "Fui ao site da Apple e foi aí que ouvi a voz", explicou. As gravações para a voz de Siri foram feitas em julho de 2005, ao longo de um mês, durante quatro horas por dia. "Não fazia ideia onde iria acabar", disse Bennett." (Diário de Notícias, Lisboa, dia 6 de outubro de 2013)

sábado, 5 de outubro de 2013

GATO, LEQUE E MATA-RATOS

Tres mil historias de frases y palabras que decimos a cada rato (Três mil histórias de frases e palavras que dizemos a todo momento). Seu autor é o jornalista e contista argentino Héctor Ziemmerman. Sergius Gonzaga, meu colega de mestrado na UFRGS e também de relinchos, quando nos encontramos com o historiador Voltaire Schilling, me trouxe da Argentina este presente. Foi Mário Quintana quem me disse que amigos relincham quando se encontram. Não dizemos essas palavras a cada rato que passa por nós. Em Espanhol, rato veio do Latim raptus, furto feito com pressa, pois o gatuno precisa ser rápido. Que injustiça, aliás, chamar gato de ladrão e vice-versa. O bichano serve-se do que é seu. No conceito dele, os patrões são pessoas a serviço de Sua Majestade, o Gato. Basta olhar-lhe o porte! O digitígrado tem postura de rei, de soberano! O cachorro, não! O cachorro pode até ter ares de fidalgo, mas seu dever é servir! Rato é também camundongo. em Português, palavra trazida pelos escravos que falavam o Umbundo, que conhece o bicho por okamundongo. No Quimbundo, kamundongo designa o sujeito civilizado. Claro! O sujeito da cidade vinha à aldeia africana para fazer com eles o que os ratos faziam com os cereais na tribo vizinha: roubá-los! Já mata-ratos designa cigarro ou bebida de má qualidade. O primeiro verbete do livro que ganhei é abanico, leque. Deriva de abano, peneira. O leque precedeu os ventiladores e os ares-condicionados. Leque tem este nome porque era importado das ilhas Léquios, na China. Abano, em Português, é aceno. Mas está também na expressão “orelhas de abano”. Nas duas línguas, o étimo é o mesmo: ao saudarmos uns aos outros de longe ou ao nos refrescarmos com um leque, com um chapéu ou com qualquer coisa à mão, fazemos um gesto semelhante ao dos agricultores, que abanavam uma peneira com café, milho, arroz, feijão etc. Pulemos para Copacabana, sexta-feira passada, Hotel Sofitel, à tarde. Minha palestra era às 14h e tinha por título A Arte de Ensinar. Quando sou chamado para subir à tribuna, um dos fotógrafos abre um largo sorriso e diz que é meu ouvinte na Bandnews, onde faço três programas semanais sobre a viagem as palavras, do berço aos dias de hoje, para significar o que hoje significam. E quando descia da tribuna, vários vieram me dizer que me leem há mais tempo, toda semana, na revista Caras, e desde há algum tempo no Facebook. Sou fascinado, não por esta ou aquela maneira de fixar o modo de escrever as palavras, que em geral é arbitrário, mas pela viagem que elas fizeram e fazem ao longo da História. Sou professor e escritor desde os meus verdes anos. Nunca tive dificuldade de fazer com que alunos, leitores e ouvintes partilhassem a mesma curiosidade por esses saberes. Quem parte e reparte, fica com a melhor parte. Assim trato como amigos os alunos, leitores e ouvintes, sempre atentos ao que falamos e escrevemos. º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

ETIMOLOGIA DE CHAMPANHE, MÁGICO, TAÇA, PAUTA

Champanha: do Francês champagne, por influência da região chamada Champanhe, a leste de Paris, onde a bebida foi originalmente fabricada. Designa vinho espumante, em geral branco, podendo ser também rosado, quando, por influência do Francês, é mais conhecido como rosé. Vinhos do mesmo tipo, ainda que fabricados em outras regiões, passaram a ser conhecidos pelo mesmo nome e chegaram a outros países. Assim, o Brasil, grande produtor de vinhos, também fabrica champanha.
Mágico: do Grego magikós, pelo Latim magicus, que encanta por realizar feitos cuja lógica desconhecemos, como tirar um coelho da cartola. Há mágicos profissionais, mas os há também amadores, como é o caso do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro (72). Em seu livro de memórias, A Sociologia como Aventura, o cientista social paulista José de Souza Martins (75) narra este episódio: “Sem dizer nada, pegou uma laranja e cortou-a ao meio, sem descascá-la. Tirou de dentro da fruta uma nota de um dólar americano, devidamente molhada pelo caldo. Os circunstantes ficaram boquiabertos. (...) João Ubaldo explicou-lhes que Cuba estava perdendo dinheiro. Exportava laranjas a preços ínfimos, quando bastava cortá-las e extrair de dentro o dólar que cada uma continha. Puseram em dúvida o que haviam visto. João Ubaldo cortou outra e tirou de dentro outro dólar. Desafiado, cortou uma terceira e novo dólar saiu de lá. Os cubanos devem estar até hoje procurando entender como é que ele conseguia fazer aquilo. Eu estou.”
Naipe: de origem obscura, provavelmente do Catalão antigo naip. Designa sinal gráfico para distinguir cada um dos quatro grupos das cartas do baralho: ouros, copas, paus, espadas. Aplica-se também na aferição de qualidades de profissionais, separando-os: não são do mesmo naipe, isto é, têm talentos ou valores diferentes. Uma curiosidade dos quatro reis do baralho é que as figuras foram baseadas em soberanos muito conhecidos na História: Davi (1015-975 a.C.), rei de Israel, é o de copas; Carlos Magno (768-814), rei dos francos e imperador dos romanos, é o de espadas; a Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), rei da Macedônia e um dos maiores generais da Antiguidade, coube o de paus; e o general romano Júlio César (101-44 a.C.), que jamais foi rei nem imperador, mas teve muito poder, ficou com a carta de ouro. Pauta: do Latim pacta, plural de pactum, pacto, tratado, contrato. Designa lista de assuntos sobre os quais se vão fazer reportagens. Também a pauta musical, conjunto de um a cinco linhas (ou mais) horizontais, paralelas e equidistantes, entre as quais e sobre as quais são escritas as notas, tem origem no mesmo étimo, uma vez que o verbo latino é pangere, cravar, espetar, fixar, marcar. Nos dicionários, são encontrados muitos outros significados, daí lermos: “pauta de exportações”, onde aparece a relação dos produtos; folhas com pautas, para diferenciá-las das folhas brancas destinadas à impressão e não a manuscritos. Na escola antiga, era usado um tipo de caderno cujas linhas semelhavam uma pauta singular. Eram os cadernos de caligrafia, cujas folhas traziam marcados e separados os lugares para as letras minúsculas e maiúsculas, e ainda limitavam a extensão dos caracteres acima e abaixo, de modo a garantir uma boa mancha para o manuscrito. Rádio: da redução de radiofonia, palavra composta de étimos latino, radius, e grego, phoné, voz, som. Designa preferencialmente o conjunto de emissora e receptor, juntos ou separados, obra do engenheiro eletricista italiano Guglielmo Marconi (1874-1937), inventor do rádio e do telégrafo sem fio. Taça: do Persa täsht, bacia, pires, pelo Árabe vulgar tâsa, designando vaso provido de pé, para beber. Tornou-se em muitos contextos sinônimo de copo. Acerca dos dois modelos clássicos de taça de champanha, há uma curiosidade sobre o copo mais largo, apoiado numa haste: o molde teria sido um dos seios da rainha francesa Maria Antonieta (1755-1793). Ela teve destino trágico, ao final de tantas festas regadas a champanha, especialmente no Palácio de Trianon, presente de seu marido, o delfim, que se tornaria o último rei francês sob o nome de Luís XVI (1754-1793): ambos foram decapitados na Revolução Francesa.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

PIROPO EM PORTUGAL, GALANTEIO NO BRASIL

No Brasil, o piropo tem outro nome. O piropo é antigo em Portugal! Foi sempre tolerado, às vezes aceito por uma minoria, mas hoje o Diário de Notícias relata uma tragédia por causa de um piropo. Para nós, brasileiros, a melhor "tradução" para piropo talvez seja galanteio, quase uma cantada.
"Francisco, de 15 anos, está no hospital em coma após ter sido esfaqueado no pescoço por Cláudio, de 17, que não gostou que ele tivesse atirado um piropo à sua namorada."