NOME DE POBRE NO BRASIL
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
PORTUGUÊS DE PORTUGAL: TRAULITADA NO CRONISTA
Sou aderente (assinante) e não paro no pedágio, mas o guarda me pede os documentos do autocarro. Olha-os bem e diz: “Está tudo em ordem, mas cuidado porque lá adiante, depois daquela azinhaga (rua) ao lado do prédio, há uma azêmola (besta) na pista. Se pisar no breque, assustado, o carro pode despistar. O senhor não está entre as dez e as onze (bêbado), está?
Respondo que não ingiro bebida de álcool nunca! Semana passada estava numa festa, o escanção (sommelier) passava toda hora com a jarra de vinho, eu sempre recusava, e ele sempre oferecia de novo. Essa gente perdeu a memória! Mas o bom homem coça a fusca (arma) no coldre e me manda prosseguir.
Chego à praia, depois de passar pela azêmola (besta de carga), mas era um badano (cavalo). O guarda confundira-se. O banheiro (salva-vidas) está instalado bem acima das ondas, vestido de calção vermelho, pronto a salvar algum afogado. Algumas mães estão a levar os putos (meninos) para a sanita, que outros conhecem por retrete. No Brasil dizem privada, sanitário, toalete também w.c., abreviando a expressão do Inglês water closet (armário d´água).
Vejo ao longe um puto (menino) cheio de adesivos (esparadrapos). Pergunto a uma rapariga (moça), só para bater uma prosa, pois ela é um borrachinho (gatinha), o que houve com ele. Responde-me que está assim estrafegado porque foi atacado por um canzarrão. Foi grande o chulé (bagunça).
Posto-me atrás da bicha (fila) e espero a minha vez. Estão a servir algo pronto-a-comer, que no Brasil chamam fast food . De novo o Inglês. Atrás de mim, senta-se um senhor que me parece um cabeça de turco, que no Brasil chamam testa de ferro. Nos arredores, todos sabem que ele é dono de três boates onde trabalham brasileiras! Portanto, as casas pertencem a outros donos!
Voltei a sentar-me. Peguei o telemóvel, mas deu impedido o telefone da Maria. Ia desligar, porém no écran (tela) passou a rodar o trecho de um filme sobre a lua-bebé (satélite) dos russos. Fiquei a pensar: como filmaram essa luinha no espaço sideral? Mas deveria ser filminho brasileiro: estava escrito “com o Sputnik, os comunistas venceram a primeira batalha da guerra espacial, em 1957”. Em russo, Sputnik quer dizer companheiro!
Chamei o garçom, pedi uns pipis (miúdos de frango), que comecei a comer com gosto, regados a um copo de vinho alentejano. Mas quase que não pago: o dinheiro que trazia, eu o tinha gasto no pagamento de propina (taxa) na universidade, hoje foi dia de matrícula! Quase que fico com o rabo à seringa!
Quando ia saindo, um reguila (briguento) passou a discutir com alguns escalda-favais (idem) e espirra-canivetes (ibidem). E estavam comendo reineta (maçã), bem pândegos (alegres)! O garçom era meio saloio (bobo), deveria ter chamado a polícia logo!
Que sarilho (bagunça) que deu no liceu (escola), meu Deus! (xx)
PS. Agradeço ao jornalista Roldão Simas, autor de Dicionário Lá & Cá (Editora Thesaurus).
º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).
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