NOME DE POBRE NO BRASIL

sábado, 5 de outubro de 2013

GATO, LEQUE E MATA-RATOS

Tres mil historias de frases y palabras que decimos a cada rato (Três mil histórias de frases e palavras que dizemos a todo momento). Seu autor é o jornalista e contista argentino Héctor Ziemmerman. Sergius Gonzaga, meu colega de mestrado na UFRGS e também de relinchos, quando nos encontramos com o historiador Voltaire Schilling, me trouxe da Argentina este presente. Foi Mário Quintana quem me disse que amigos relincham quando se encontram. Não dizemos essas palavras a cada rato que passa por nós. Em Espanhol, rato veio do Latim raptus, furto feito com pressa, pois o gatuno precisa ser rápido. Que injustiça, aliás, chamar gato de ladrão e vice-versa. O bichano serve-se do que é seu. No conceito dele, os patrões são pessoas a serviço de Sua Majestade, o Gato. Basta olhar-lhe o porte! O digitígrado tem postura de rei, de soberano! O cachorro, não! O cachorro pode até ter ares de fidalgo, mas seu dever é servir! Rato é também camundongo. em Português, palavra trazida pelos escravos que falavam o Umbundo, que conhece o bicho por okamundongo. No Quimbundo, kamundongo designa o sujeito civilizado. Claro! O sujeito da cidade vinha à aldeia africana para fazer com eles o que os ratos faziam com os cereais na tribo vizinha: roubá-los! Já mata-ratos designa cigarro ou bebida de má qualidade. O primeiro verbete do livro que ganhei é abanico, leque. Deriva de abano, peneira. O leque precedeu os ventiladores e os ares-condicionados. Leque tem este nome porque era importado das ilhas Léquios, na China. Abano, em Português, é aceno. Mas está também na expressão “orelhas de abano”. Nas duas línguas, o étimo é o mesmo: ao saudarmos uns aos outros de longe ou ao nos refrescarmos com um leque, com um chapéu ou com qualquer coisa à mão, fazemos um gesto semelhante ao dos agricultores, que abanavam uma peneira com café, milho, arroz, feijão etc. Pulemos para Copacabana, sexta-feira passada, Hotel Sofitel, à tarde. Minha palestra era às 14h e tinha por título A Arte de Ensinar. Quando sou chamado para subir à tribuna, um dos fotógrafos abre um largo sorriso e diz que é meu ouvinte na Bandnews, onde faço três programas semanais sobre a viagem as palavras, do berço aos dias de hoje, para significar o que hoje significam. E quando descia da tribuna, vários vieram me dizer que me leem há mais tempo, toda semana, na revista Caras, e desde há algum tempo no Facebook. Sou fascinado, não por esta ou aquela maneira de fixar o modo de escrever as palavras, que em geral é arbitrário, mas pela viagem que elas fizeram e fazem ao longo da História. Sou professor e escritor desde os meus verdes anos. Nunca tive dificuldade de fazer com que alunos, leitores e ouvintes partilhassem a mesma curiosidade por esses saberes. Quem parte e reparte, fica com a melhor parte. Assim trato como amigos os alunos, leitores e ouvintes, sempre atentos ao que falamos e escrevemos. º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

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