NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ELA ERA BARANGA OU MEQUETREFE?

Palavra que foi destaque na mídia há pouco, baranga, que significa mulher feia, veio talvez do quicongo mbalanga, hérnia umbilical. Também destaque recente nos meios de comunicação, mequetrefe tem origem controversa — uma das hipóteses é o árabe mogatref, petulante. Autoajuda: de auto, do grego autós, por si mesmo, e de ajuda, redução de ajudar, do latim adjutare. Designa forma de tratamento psicológico, mas sobretudo estratégia mercadológica de vender produtos por meio dos quais as pessoas possam ajudar a si mesmas. A avalanche editorial de livros sobre o tema começou com Autoajuda, publicado em 1859 pelo britânico Samuel Smiles (1812-1904), que trabalhara de aprendiz com um médico. “Deus ajuda aqueles que ajudam a si mesmos”, frase de Benjamin Franklin (1706-1790), extraída do Almanaque do Pobre Ricardo (Poor Richard’s Almanac), serviu de inspiração para o autor compor seu livro, cuja primeira frase é: “O Céu ajuda aqueles que ajudam a si mesmos”. A principal crítica que se faz aos livros de autoajuda é que oferecem respostas por demais simplórias para questões complexas. Baranga: provavelmente do quicongo mbalanga, hérnia umbilical. A língua quicongo foi trazida para o Brasil pelos escravos. A pessoa com hérnia umbilical ficava com aparência de desleixada, pois os panos mal cobriam a barriga. Quando mudou de mbalanga para baranga, passou a designar mulher feia, descuidada. Como adjetivo de dois gêneros, veio a significar pessoa ou coisa de pouco ou nenhum valor. No Supremo Tribunal Federal (STF), atuando na Ação Penal 470, o mensalão, o advogado Paulo Sérgio de Abreu e Silva pensou inicialmente em caracterizar como baranga sua cliente Geiza Dias, uma das rés do mensalão, ex-gerente financeira de uma das empresas do publicitário mineiro Marcos Valério, também réu do mesmo processo. Mas optou por identificá-la como funcionária mequetrefe. Guilda: do holandês gild, pelo latim gilda, ao francês guilde, do qual chegou ao português. Designou originalmente reunião festiva, depois associação de negociantes, artesãos e artistas cujo objetivo era o atendimento mútuo. O ministro Joaquim Barbosa, do STF, relator do processo do mensalão, usou a palavra no sentido pejorativo, para tipificar os crimes de uma quadrilha que atuava orquestrada, em proveito de seus integrantes e em prejuízo do dinheiro público. Mequetrefe: de origem controversa. Os árabes, que ficaram sete séculos em Portugal, têm mogatref, petulante, pernóstico, intrometido. Os ingleses têm make trifles, designando aquele que faz bagatelas, ninharias. Todavia, a origem remota pode ser o latim moechus, pronunciado “mécus”, que virou “méque”, com os significados de malicioso, espertalhão. Somou-se ao castelhano trefe, étimo presente no português trêfego, de origem obscura, que tem os significados de inquieto, esperto, hábil na arte de enganar os outros. Mequetrefe passou a designar indivíduo sem importância, inútil, insignificante, joão-ninguém, porém sem perder as conotações pejorativas de trêfego. Como diz a poeta carioca Cecília Meireles: “Ai, palavras, ai, palavras/ Que estranha potência a vossa!/ Todo o sentido da vida/ Principia à vossa porta;/ O mel do amor cristaliza/ Seu perfume em vossa rosa;/ Sois o sonho e sois audácia/ Calúnia, fúria, derrota.” Sofocliano: do nome do dramaturgo e poeta grego Sófocles (495-406 a.C.). Ele foi autor de tragédias memoráveis e seu modo de escrever veio a designar tudo o que é dramático ou trágico ao estilo dele. Estreou nas festas dionisíacas, em Atenas, por volta de 430 a.C., com a peça Édipo Rei, que entretanto não ganhou o primeiro prêmio. A tragédia resulta do cumprimento involuntário de uma profecia: o filho (Édipo) matará o pai (Laio) e casará com a mãe (Jocasta). Tchekhoviano: do nome do escritor e médico russo Anton Tchekhov (1860-1904). O adjetivo é usado para designar o estilo marcado por concisão, objetividade e clareza na arte de narrar. Filho de comerciante, o menino ficou em sérias dificuldades quando seu pai faliu. Formou-se em Medicina pela Universidade de Moscou e trabalhou muito para custear os estudos e sustentar a família. Exercia a Medicina numa clínica rural e, juntando esse conhecimento à sua vivência de estudante, tornou-se um grande observador da vida comum, como se depreende da leitura de seus contos. Examinando a fundo banalidades da vida cotidiana, ele chega aos motivos que levam a gestos, falas e comportamentos.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

DE ONDE VIERAM AS PALAVRAS PENTE, ZEBU ETC

Revista CARAS | 29 de Julho de 2011 (EDIÇÃO 925 - ano 18) O pente, utensílio indispensável à estética e ao cuidado com os cabelos por homens e mulheres, veio do latim pectinem, com origem remota no grego péktós. Zebu, que designa várias raças de gado da Índia, como gir, nelore e guzerá, teve origem no francês zébu.
Autoria: de autor,mais o sufixo ia, comum na formação de palavras derivadas. Nem sempre é fácil identificar e fixar com precisão a autoria, seja de crimes, seja de livros. No caso desses últimos, o que vale é o original, o manuscrito, mas nem sempre eles existem. Da obra do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616) restaram apenas versões. Assim, em Otelo temos os adjetivos “indiano” e “judeu” aparecendo em textos francamente racistas, como demonstra o escritor e jornalista canadense Stephen Marche (35) em How Shakespeare Changed Everything (Como Shakespeare Mudou Tudo), ainda inédito em português. Circadiano: do latim circa diem, cerca de um dia, período de 24 horas, designando também o processo rítmico que ocorre no organismo todos os dias mais ou menos à(s) mesma(s) hora(s), independentemente de fatores sincrônicos externos. É o hipotálamo, localizado na nuca, que regula esse ritmo, de acordo com a luminosidade captada por nossos olhos. Mudou muito esse processo desde a invenção das primeiras fogueiras, há cerca de 500000 anos, e da descoberta dos óleos carburantes. Mas principalmente após a invenção da luz elétrica, que o alterou mais no último século do que em toda a história humana. Todavia, em meados do século XVII, várias cidades europeias, entre as quais Paris e Londres, implantaram redes de iluminação pública com lampiões a óleo. Até então, os moradores é que iluminavam a frente das casas com archotes, velas, lampiões. Escuridão: do latim vulgar obscuritudine, de escuro, do latim obscurus. Foi tenebrosa companheira da Humanidade por milênios. Na maioria dos países europeus a iluminação pública teve como principal argumento o combate aos criminosos, menos em Portugal, cujo Senado, em 1689, não aprovou projeto de iluminar as ruas porque os bandidos enxergariam melhor as vítimas. Fóssil: do latim fossile, tirado da terra, declinação de fossilis, ligado a fossa, fossa, cova, pelo francês fossile. Como substantivo, designa preferencialmente vestígio ou resto petrificado ou endurecido de seres vivos que habitaram a Terra antes do holoceno, conservados em depósitos sob a crosta terrestre. Nas escavações podem ser preservadas suas características essenciais, deduzidas do material encontrado. Como adjetivo, por metáfora, passou a designar o indivíduo retrógrado. Às vezes aconteceram grandes equívocos na procura de fósseis. Heródoto (século V a.C.) relata que na parte ocidental da Cítia, no Mar Negro, foram encontradas as ossadas de grifos, monstros de quatro patas, com cabeca de leão e bico de ave de rapina. Nas escavações da Antiguidade, gregos e romanos procuravam esqueletos de heróis míticos, como Ajax, Teseu e Orestes. Pente: do latim pectinem, depois pentem, utensílio indispensável à estética e ao cuidado dos cabelos por homens e mulheres, consistindo de uma haste à qual estão presos vários dentes. A origem remota é o grego péktós, fixado, compacto, espesso, coagulado. Presta-se à expressão “passar um pente fino”, isto é, procurar, pesquisar, uma vez que ao pentear os cabelos com pente fino nenhum dos fios pode vir junto a outros, todos são separados e arrumados. Nos anos de após-guerra, designou também um carro pequeno, criado por um designer húngaro e inspirado nos modelos alemães. Muito bem recebido no lançamento, em 1946, por custar a metade do então menor carro do mundo, o Topolino, no ano seguinte sua produção foi suspensa porque as reservas húngaras de petróleo se esvaziaram. Zebu: do francês zébu, designando gado da Índia que compreende várias raças, entre as quais o sindi, o gir, o guzerá, o guzerate e o nelore. O gado vindo da Ásia é conhecido pelo nome latino bos indicus e aquele que procede da Europa é o bos taurus. Os cruzamentos havidos, agora que eles são usados mais como alimento do que força de trabalho, têm o fim de prover o abate em idade mais tenra e melhorar a maciez da carne. A dificuldade que os touros europeus tinham, por causa do calor, em cobrir as fêmeas zebuínas foi resolvida com a inseminação artificial.

sábado, 25 de agosto de 2012

OS PECADOS DO CAIXA DOIS

O homem ajoelha-se no confessionário e vai logo dizendo: “Padre, peço a vossa bênção porque pequei, não digo nada porque de nada sei”. “Perca o medo, filho, e vá contando tudo, aqui não é CPI nem STF. Aqui você tem que contar tudo, não há outro jeito de obter o perdão, a absolvição dos pecados. Comece!” “Padre, fui eu quem, ao lado do motorista, para ele não nos roubar, fui de carro-forte até ao banco e de lá, carregado de dinheiro, do vil metal, hoje apenas em papel, mas com o eterno nome de vil metal, trouxe até meu escritório para mim distribuir pros meus comparsas.” “Filho, para eu distribuir, pelo menos que não sejam tolerados os pecados da gramática”. “Mas foi para mim, padre, que a dinheirama veio, não dá pro senhor distribuir para ninguém mais, o senhor não é nosso companheiro". "Imbecil, respeitem a Igreja, ó vós que nada mais respeitais, que ides à Igreja só por motivos políticos, em batizados, casamentos, funerais e efemérides. Você disse “pra mim distribuir” e o certo é “para eu”, porque foi você quem distribuiu...” “Mas eu só fiz o que o José Genoíno e o Delúbio mandaram, e eu entendi que eles estavam a mando do Zé Dirceu e este a mando do Lula, padre!” “Seus pecados ao chegar aqui já foram três: mentiu, ao dizer que não sabe nada; desrespeitou a Igreja; desrespeitou a gramática. Quanto à dinheirama até eu já fui convencido pelo Levandowski e pelo Márcio Thomaz Bastos que se tratou de caixa dois.” “Caixa dois o cacete! Aquele dinheiro todo não foi pra campanha, não, foi pra eles! O Zé Dirceu só toma Romané-Conti e outros vinhos caros! O senhor acha que ele corre o mundo, mantém blogue, compra casa pra mulher, distribui favores com dinheiro vindo da onde?” “Você veio aqui para se confessar ou para confessar os outros?”. “Ainda não chegou a hora de confessar os outros, padre, mas todos dizem que essa hora um dia chegará, que na História chegou para todos, pois se Nero mandou matar até a mãe!” “Vai confessar o Nero, agora? Não perca o foco, você veio se confessar, confessar os seus pecados, não os dos outros, que, claro, eu bem sei, são enormes, pois que praticados por essas figuras que você citou. Neste caso, o verbo é transitivo direto. Você confessa o pecado ao padre. E confessando a coisa a mim, o verbo se transforma em transitivo direto e indireto. Vocês não estudam Português, não? Bem, deixemos a gramática pra lá, me conte da dinheirama do carro-forte, mas apenas no que diz respeito a você, não aos outros, afinal você veio confessar os seus pecados, não os dos outros, compreende?” “Ah, compreendi!” ”Fique tranquilo! Se o voto do Levandowski prevalecer, vocês estão todos perdoados”. “E se não prevalecer?”. “Daí vocês estão ferrados também pelo STF porque pela sociedade brasileira já estão e cumprem pena há sete anos, graças à mídia e à imprensa, que vocês ainda não dominaram!”. (xx) • Escritor e professor universitário, Deonísio da Silva, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio, tem 34 livros publicados, alguns dos quais traduzidos para outros países.

domingo, 19 de agosto de 2012

MENSALÃO, O OITAVO PASSAGEIRO
A palavra “mensalão” está na ordem do dia. O ministro Joaquim Barbosa já fez as primeiras condenações aos criminosos no julgamento ora em curso no STF, ainda que outros quatro ministros tenham que acompanhar o voto dele. Mas quando mensalão apareceu na língua portuguesa para designar os atos da organização criminosa incrustada nos aparelhos de Estado, dentro do Palácio do Planalto, nas barbas do então presidente Lula? Ela foi registrada sorrateiramente pela primeira vez no Jornal do Brasil, no dia 24 de setembro de 2004, depois explicitamente na Folha de S. Paulo, no dia 6 de junho de 2005, quando bombou em todo o país, por força da famosa entrevista do então deputado Roberto Jefferson à jornalista Renata Lo Prete. “Mensalão” passou desde aquele dia a designar o complexo sistema de corrupção de parlamentares, identificado como “organização criminosa”, conforme denúncia oferecida ao STF mais tarde por Antonio Fernando de Souza, procurador-geral da República. Vinda do adjetivo “mensal”, já era substantivo desde há algum tempo, nas designações da Receita Federal, mas não tinha entrado para a língua portuguesa. Os impostos pagos por mês eram designados por “mensal”, “mensalinho” e “mensalão”. Todavia nenhum dos três tinha sido ainda abonado nos dicionários. Se o ministro Ricardo Lewandowski prosseguir com o estilo que tem marcado seu palavrório nessa quinzena, outra palavra vai mudar de significado. Ele não será mais revisor. Chutatis chutandi (o juridiquês adora um latinório), o revisor não pode mudar o conteúdo de um texto! Seu dever é corrigir alguns deslizes, minúcias ou detalhes eventualmente ignorados pelos autor - errare humanum est (errar é humano). Se o relator insistisse em errar, o que ele não fez, pois recuou de diversas posições adotadas antes, por força de decisões colegiadas, daí ele teria piorado seus eventuais erros, pois perseverare in erro diabolicum est (perseverar no erro é diabólico). De todo modo, o revisor jamais poderá mudar o conteúdo do que está revisando! Daí ele será o autor! E o autor, no caso, é o relator, o ministro Joaquim Barbosa! Por mais que tentem embrulhar o distinto público leitor com data venia pra cá, ex positis pra lá, o relator faz um coisa, o revisor faz outra. E uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Lei nenhuma pode mudar isso! O ministro relator fez um relatório, isto é, contou em resumo (?) como se deu a coisa. O ministro revisor poderá observar que tal ou qual aspecto da coisa merece tais ou quais reparos, mas ele não pode mudar a coisa! E muito menos transformar culpados em inocentes! (xx)

sábado, 18 de agosto de 2012

O SEGUNDO FIM DO MUNDO

O primeiro fim do mundo deu-se com o dilúvio, tal como narra o episódio bíblico da Arca de Noé. A data acima é uma interpretação do calendário dos maias, bons em astronomia, que, entre os anos 1000 a.C e 900 d.C. construíram uma civilização onde hoje ficam o México e a América Central. Mas como chegaram a essa data, agora divulgada por milhões de pessoas que estão assustadas ou pelo menos preocupadas? É que os maias consideravam que depois de 1.872.000 dias começaria um novo ciclo, a contar de 11 de agosto de 3114 a.C., quando o mundo tinha sido criado. Anthony Aveni, astrônomo e professor universitário em Nova York, escreveu um livro sobre o fim do mundo. É "The End of Time: The Maya Mystery of 2012." Mito e realidade convivem desde que o mundo é mundo, isto é, desde que o homem está na terra e passou a registrar o que se passa. E o homem sempre voltou-se para algo superior a ele, a que chamou deus. O Sol é deus em muitas culturas. A Lua também. As estrelas também. Para nossos índios, o primeiro deus foi o trovão. Eles viam o raio despencar do céu e depois ouviam um grande estrondo. Era o deus Tupã. Ainda não sabemos como foi que a civilização maia terminou e por quê. Dos milhares de livros que os maias escreveram, só restaram três. Imaginemos que nossa civilização desapareça um dia e só restem três livros de todos os que escrevemos. O que vão achar de nós? O primeiro fim do mundo foi registrado em termos lendários e míticos pela bíblia, conjunto de livros hebraicos que têm este nome porque em grego, biblos é papiro, nome do material em que foram escritos. Todavia não foi apenas a Bíblia canônica que registrou o dilúvio. O Livro de Enoque, apócrifo, diz que Noé, que significa descanso em hebraico, era filho de um anjo com uma mulher. E dos 315 Evangelhos, apenas quatro foram escolhidos como verdadeiros. Um deles, o de São João, diz que o segundo fim do mundo será por fogo. No primeiro fim do mundo, Noé salvou sua família e um casal de cada espécie. No segundo, só vão se salvar os justos! O imaginoso São João comparou os justos a ovelhas, e os maus a cabritos. Os justos vão ficaram à direita de Deus. Os maus, à esquerda. Quer dizer, sabemos pouco ainda, os mistérios continuam. É por isso que em todo o mundo milhões de pessoas têm fé e entre elas há notáveis cientistas, escritores, artistas etc. Isto é, têm fé, não por ignorância, mas por acharem que há muito mais entre o céu e a terra do que nos é dado saber pela ciência, que ainda não explicou por que em Agosto acontecem tantas coisas estranhas. (xx)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

DEONÍSIO DA SILVA BARRIGA-VERDE

EIS AÍ UM DEONÍSIO DA SILVA BARRIGA-VERDE, EM CAPA DE "OS CATARINAS DO PARANÁ", EDITADO POR MAÍ MENDONÇA, PREFACIADO POR MANOEL CARLOS KARAM E ILUSTRADO POR DANTE MENDONÇA.SÓ O TEXTO PRINCIPAL É MEU!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Todos nós já amamos alguém com este olhar, não? Tema de Débora é tal como o Tema de Lara, de Dr. Jivago: fica para sempre em nossa memória, trinando lá no fundo de nossas almas. Sim, acho que não temos uma só, já escrevi sobre isso! São ta ntas as nossas almas: a do pai, a do professor, a do escritor, a do vizinho, a do marido, a do namorado, a do amigo, enfim cada um de nós é na verdade ou tem que ser, LEGIÃO. O difícil é conciliar a unidade de todas elas. Sábios eram os antigos romanos que até para empresas deram PERSONALIDADE. Personalidade Jurídica. E dizemos hoje PESSOA FÍSIA, PESSOA JURÍDICA. Pessoa veio do latim PERSONA, máscara. Cada um de nós tem algumas, não? http://www.youtube.com/watch?v=_3UTb34_3JQ

terça-feira, 14 de agosto de 2012

NOVAS PALAVRAS DO MENSALÃO: ETIMOLOGIA APLICADA

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed707_novas_palavras_do_mensalao Entre ser considerada “baranga” ou “mequetrefe”, Geiza Dias, uma das rés do mensalão, ex-gerente financeira de uma das empresas de Marcos Valério, também réu do mesmo processo, foi qualificada como “mequetrefe” por seu advogado, Paulo Sérgio de Abreu e Silva. Os censores estão sempre de plantão: quiseram proibir “mensalão”, colocando sem seu lugar Ação Penal 470. No jogo do bicho, 470 é porco: as semânticas funcionam até por acaso. De algum modo a palavra “mensalão”, vinda do adjetivo “mensal”, já era substantivo desde há algum tempo, nas designações da Receita Federal, mas não tinha entrado para a língua portuguesa. Os impostos pagos por mês eram designados por “mensal”, “mensalinho” e “mensalão”. Todavia nenhum dos três tinha sido ainda abonado nos dicionários. A origem remota de “mensal” é o latim tardio mensuale, de mensis, mês, de uma raiz indo-européia -*me, que deu em grego métron, medida, e em latim metiri, medir. “Mensalão” passou a designar preferencialmente, desde 2005, o complexo sistema de corrupção de parlamentares, identificado como “organização criminosa”, conforme denúncia oferecida ao STF por Antonio Fernando de Souza, procurador-geral da República. A nova palavra tinha sido sorrateiramente referida no Jornal do Brasil, depois explicitamente na Folha de S. Paulo (edição de 6/6/2005), após famosa entrevista do então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ). Novos matizes Foi a partir da Folha de S. Paulo que “mensalão” espalhou-se por toda a imprensa e por toda a mídia brasileiras, obrigando inclusive a imprensa e a mídia internacionais a criar neologismos nas línguas dos respectivos países onde circulam. Por força da avalanche de publicações sobre os fatos conhecidos sob a égide geral de “mensalão” e ao rumoroso processo judicial, a nova palavra entrou para a os dicionários de português. E não pelo uso informal que dela já fazia a Receita Federal. Ainda antes de ser levado a julgamento, que ora ocorre no STF, o “mensalão” já resultou na queda de vários ministros e na cassação ou na renúncia de vários deputados, incluindo o denunciado como chefe da quadrilha, o ex-deputado federal e então ministro José Dirceu. Eram originalmente 40 os acusados, depois reduzidos a 38, que respondem por oito crimes: formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta. Na mesma denúncia, feita originalmente pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, hoje a cargo de seu sucessor no cargo, Roberto Gurgel, o publicitário Duda Mendonça responde por operações de lavagem de dinheiro, por ter recebido do PT uma montanha de dinheiro no exterior. O relator do processo no STF foi o ministro Joaquim Barbosa, o primeiro magistrado negro na mais alta corte do país. Dos 40 denunciados, cinco são mulheres. No afã de isentar os denunciados dos crimes a eles atribuídos, seus advogados vêm dando novos matizes a conhecidas palavras, deslocando significados e sentidos. E passam a substituir as designações por outras, com o fim de amenizar os crimes, tipificando-os sob novas roupagens vocabulares, em outros contextos. O exemplo mais emblemático é a tentativa de reunir sob a expressão “caixa dois” todos os crimes de que são acusados: formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta. Outras vezes dão novos matizes a conhecidas palavras, deslocando significados e sentidos, às vezes sem atentar para o fato de que a emenda pode sair pior do que o soneto. Arte de enganar O advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva vacilou entre “baranga” e “mequetrefe” no recurso tático vindo da estratégia de desqualificar os crimes mediante mudança de palavras ou de seus significados. O significado mais corrente do substantivo feminino “baranga” foi assim registrado pelo dicionário Aurélio: “Mulher muito feia ou muito maltratada, sem trato”. Como adjetivo, “baranga” designa pessoa ou coisa de “má qualidade; de pouco ou nenhum valor”. O substantivo “mequetrefe” designa, segundo o mesmo Aurélio, o “indivíduo que se mete onde não é chamado”, tendo também o significado de “biltre, patife”. O advogado provavelmente ateve-se ao significado que lhe dá o dicionário Houaiss: “Indivíduo sem importância, inútil, insignificante; borra-botas, joão-ninguém”. A etimologia ensina que “baranga” veio do quicongo mbalang, designando para as tribos africanas praticantes dessa língua “hérnia umbilical”, segundo Nei Lopes. E “mequetrefe” é de origem controversa. Os árabes, que ficaram sete séculos em Portugal, tinham mogatref, petulante. Os ingleses têm make-trifles, o que faz bagatelas, mas a origem remota de todos eles pode ser o latim moechus, malicioso, espertalhão, somado ao adjetivo trefe, de origem obscura, mas provavelmente do castelhano, com o significado de inquieto, esperto, hábil na arte de enganar os outros, étimo presente em trêfego, no português, com significados semelhantes. Mensalão, baranga, mequetrefe! Como diz Cecília Meireles: “Ai, palavras, ai, palavras/ Que estranha potência a vossa!/ Todo o sentido da vida/ Principia à vossa porta;/ O mel do amor cristaliza/ Seu perfume em vossa rosa;/ Sois o sonho e sois audácia/ Calúnia, fúria, derrota.” *** [Deonísio da Silva escritor e professor, tem 34 livros publicados. É autor dos romances históricos Avante, soldados: para trás (10ª edição), já traduzido para outras línguas, e Lotte & Zweig (2ª edição), ambos publicados pela Editora Leya. É vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

É com muito gosto que faço as "orelhas" de um livro como este, "Maria Batalhão", de Dante Mendonça, da Academia Paranaense de Letras, jornalista de estilo conciso, certeiro, bem-humorado, e cartunista criativo, de traços reveladores de reca ntos escondidos de personalidades referenciais da vida brasileira, notadamente do Brasil meridional. Como sobremesa, acresce que Dante Mendonça, que já ilustrou um livrinho meu que poucos conhecem, "ALMANÁGUA ALMANAQUE D´ÁGUA", é um querido amigo de décadas, sempre de alegre e prazeroso convívio, como os recentes que tivemos em Curitiba, com a companhia da Maí Mendonça, sua esposa, que editou um livreto com texto meu e ilustrado pelo marido, intitulado "Anita Garibaldi", na série "Os Catarinas do Paraná", ou algo assim de título geral! Este novo livro de Dante Mendonça é de uma licenciosidade divertidíssima, delicada, sem a rude grosseria de relatos sobre o tema. (xx

ENTREVISTA DE ZECA FONSECA AO BLOG DO HÉLIO

Pedro, que entrevista emocionante esta do Zeca Fonseca, irmão da Bia Fonseca do Lago, filho da Thea e do Rubem Fonseca! Gosto da família toda, mas nunca mais vi o Zeca desde que o conheci em 1974 na casa deles, num jantar agradabilíssimo e inesquecível. Eu tinha 25 anos e nenhum livro publicado! Em encontrei a Bia, empre amorável, a quem dei entrevista no belo programa que faz com escritores para a TV. Batia longos papos com a Thea, tradutora de mão cheia, dulcíssima e sempre atenioa comigo, cuja lembrança pode levar o Zeca a chorar. E com quem mais falo é com o Rubem Fonseca, que todos chamam Zé Rubem, mas eu não, por tê-lo conhecido primeiro na capa de um livro que li como aluno de Letras, O Caso Morel, e que propus para meu trabalho de semestre ao então professor de Literatura Brasileira, em vez de um livro de Machado de Assis! Mas não por não gostar de Machado e, sim, por termer não ser entendido por professores e colegas, que esperavam que eu repetisse os estudos sobre Machado, que acho pesados. Quem vai ler Machado depois de ler os estudos de Roberto Schwarz sobre o desconcertante Bruxo? Ninguém! O crítico é em geral um exterminador de leitores! Eu tento não ser isso, como professor, mas é difícil! Faltou um Deonísio na vida do Zeca, se falsa modéstia, sem falsa vaidade, ambas falsas em mim!E qum diz isso e quem escreveu trê livros e um dezena de artigos sobre livros do RF, sobre cuja obra defendi duas teses, sendo um a de doutorado n USP! Degustei palavra por palavra o livro do Zeca, O ADORADOR DE BUCETAS, que, por pudor edtorial, fingido e mentiroso, como a maioria dos pudores foi publicado apenas como O ADORADOR. Em entrevista à escritora e psicanalita Betty Milan, me defini um homem lésbico e estou desde já aguardando O LÉSBICO, de Zeca Fonseca, irmão da Bia Fonseca Do Lago, mulher do Pedro Correa do Lago, enfim eu o amo a todos, e a você também, Pedro Paulo Rosa, revelação de autor e que, ainda por cima, faz grandes entrevistas! Parabéns pelas perguntas, tão suas, tão ao seu estilo, tão originais!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

MENSALÃO: DE SÃO BERNARDO A MACHADO DE ASSIS

Assisti à primeira sessão do julgamento do mensalão por um viés singular, que aqui partilho com os leitores. Desde menino me encantam os livros, pois eles nos ajudam a entender a vida e nos explicam o mundo. Não posso conceber que tenhamos líderes que não apenas nada leem, como apregoam ser desnecessário fazer isso, louvando sem cessar os benefícios da ignorância que os alçou aos postos aonde chegaram e a um estado de bem-estar social privatizado, isto é, a política que praticam só é boa para eles mesmos. O cenário, a Torre de Papel do processo, que desejamos não se torne uma Torre de Babel, pois a confusão tem sido a principal arma da defesa, uma vez que os próprios advogados estão convencidos de que seus clientes perpetraram os crimes de que são acusados e sabem mais do que nós, pois sabem que nem tudo o que foi descoberto está ali apresentado, que há figuras referenciais que deveriam estar no banco dos réus e não estão, restando-lhes apenas chicanas como a da estreia: levantar uma questão de ordem para a qual um dos ministros, afinal vencido, tinha pronto um voto de centenas de páginas. Mesmo derrotado por 9 x 2, goleada raramente vista em jogos de futebol, o esporte nacional, ele saiu vitorioso, perfilando-se ao lado da defesa na tarefa de espalhar a confusão, contrariando seus deveres de supremo magistrado, dos quais um dos principais é ser claro, sem buscar refúgio no abominável juridiquês! O ministro Levandowski, se não foi claro no confuso palavrório, deixou claro a quem servia: aos réus! Na quinta-feira, ele foi o melhor advogado de defesa e pelo visto assim será durante todo o processo! Não por ter votado a favor do desmembramento, a tal questão de ordem da defesa, mas pela forma como o fez: demorar bastante para atrasar o julgamento o mais que puder! O ministro Marco Aurélio votou com ele, mas por motivos bem diferentes, exumados em linguagem clara, entendida por todos. Até o ministro Tofolli votou contra Lewandovski e isso de per si já é evidência de que ele exagerou na confusão que queria espalhar. O ministro Joaquim Barbosa irritou o colega porque disse as coisas como elas devem ser ditas: a questão tinha sido discutida antes e estava resolvida. E era deslealdade com os colegas da Corte trazê-la de novo! Ele não fez a argumentação ad hominem (para o homem que julgava), ele a fez ad rem (para a coisa julgada) ad claritatem (para clareza) et contra balbum (e contra o bobo), o mesmo balbus que queria fazer de bobos, não apenas os colegas da Corte, mas nós também! Mas por que este viés é singular, se estou dizendo o que todos vimos? É que lembrei de São Bernardo de Claraval, que morreu há quase mil anos, autor da frase “de boas intenções o inferno está cheio”, e que reclamou duramente da arquitetura de seu tempo. Em carta a outro abade perguntou: “Que querem dizer ao irmão que lê e contempla essas monstruosidades ridículas, essas belezas assombrosas e grotescas e essas deformidades admiravelmente belas que povoam os átrios do mosteiro? A que vêm os macacos volúveis, os lobos furiosos, os tigres malhados, os centauros horríveis, os esgrimistas lutando, os caçadores soprando os seus instrumentos musicais? Numa só cabeça, muitos corpos, e num só corpo, por sua vez, muitas cabeças.” Ele queria que seus monges se concentrassem na leitura e na meditação, e achava que os enfeites e ornamentações dos prédios distraíam os frades e os padres. Vieram os críticos de arte em seu socorro. As construções de três elementos ou de triângulos eram referências sutis à Santíssima Trindade. Águias, cordeiros, peixes, dragões, maçãs, lírios e um sem-número de outras figurações não eram apenas cópias da natureza, traziam mensagens embutidas. Mas ele não se conformava com a interpretação. “Ora uma cauda de serpente num quadrúpede, ora um peixe com cabeça de quadrúpede. Noutro lugar, eis uma rês com frente de cavalo e a parte posterior de cabra. Alhures um animal de chifres com a parte de trás de muar.” Debalde lhe explicavam os motivos que tinham baseado aquelas criações artísticas, nas quais eram vislumbradas múltiplas variedades nas mais diversas imagens. E ele concluía, tristonho e desanimado: “Com mais prazer se lê nas pedras do que nos livros, preferindo-se admirar essas singularidades a tomar a peito os mandamentos de Deus.“ Religioso, buscava a transcendência, se supreendia com tudo aquilo e exclamava: “Santo Deus, se não se peja das farsas, pelo menos por que não se tem medo dos custos?”. Para quem teve paciência de ler o artigo até o fim, num tempo em que tudo deve ser rápido e os novos leitores não podem mais concentrar-se por alguns minutos, pois imagens etéreas, veiculadas em televisores, tablets e celulares, distraem sua atenção, que já é pouca, vi nas reflexões de São Bernardo de Claraval uma alegoria do que ocorre no julgamento do mensalão. Todos sabem que o rol de quarenta mensaleiros denunciados semelha até mais do que disse São Bernardo, parece-se com o hospício imaginado pelo gênio de Machado de Assis em O Alienista. Se o que os quarenta mensaleiros fizeram não é crime, então todos podem fazer o que eles fizeram, impunes, como impunes eles têm ficado até agora, uma vez que a lei é igual para todos! Ao final de O Alienista, Doutor Simão Bacamarte, o médico que trata dos loucos, se interna no hospício e solta todos os clientes. Louco era ele, não aqueles nos quais diagnosticara a enfermidade e dos quais tratava. É o que restará à sociedade brasileira, se punição não houver. O Brasil vai virar um gigantesco hospício dirigido por pouco mais de quarenta quadrilheiros! Mas ainda dá tempo de prestar atenção às admoestações de São Bernardo de Claraval, não por ser santo, mas pelo que escreveu, e ao menos enquanto durar o julgamento deixar de contemplar as serpentes com corpos de vacas, ainda que vacas sagradas, e prestar atenção nos autos! Se aquela Torre de Papel não servir para provar os crimes, estaremos diante de um quadro sinistro: de um lado, um bando de malfeitores, que outrora dirigiam os destinos do país e que poderão voltar a fazê-lo; de outro, de profissionais altamente qualificados, que entretanto não conseguiram provar nada do que foi denunciado e que todos sabem que eram verdades, mas verdades que precisam ser provadas, e comprová-las requer competência! (xx) *escritor e professor, Deonísio da Silva é Doutor em Letras pela USP e tem 34 livros publicados, entre os quais Nos Bastidores da Censura (Prêmio Abril de Jornalismo, 1985), De onde vêm as palavras (16ª edição) e o romance Avante, soldados: para trás (10ª edição, Prêmio Internacional Casa de las Américas, 1992. O autor está publicado em francês, espanhol, italiano, alemão, sueco etc.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

MENSALÃO, PALAVRA CRIADA POR ROBERTO JEFFERSON

No dia 6 de fevereiro de 2005 deu-se o registro de uma nova palavra da língua portuguesa. Era mensalão e foi criada pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Foi formada a partir de mensal, do latim tardio mensuale, de mensis, mês, de uma raiz indo-européia -*me, que deu em grego métron, medida, e em latim metiri, medir. Este aumentativo pa ssou a designar desde então um complexo sistema de corrupção de parlamentares, feita por “organização criminosa”, conforme denúncia oferecida ao STF por Antonio Fernando de Souza, procurador-geral da República. Ainda antes de ser julgado, o mensalão resultou na queda de vários ministros e na cassação ou na renúncia de vários deputados, incluindo o denunciado como chefe da quadrilha, o deputado federal e então ministro José Dirceu. Foram acusadas 40 pessoas (35 homens e cinco mulheres), que respondem por oito crimes: formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta. Na mesma denúncia, o publicitário Duda Mendonça responde por operações de lavagem de dinheiro, por ter recebido do PT uma montanha de dinheiro no exterior.