NOME DE POBRE NO BRASIL
sábado, 25 de agosto de 2012
OS PECADOS DO CAIXA DOIS
O homem ajoelha-se no confessionário e vai logo dizendo: “Padre, peço a vossa bênção porque pequei, não digo nada porque de nada sei”. “Perca o medo, filho, e vá contando tudo, aqui não é CPI nem STF. Aqui você tem que contar tudo, não há outro jeito de obter o perdão, a absolvição dos pecados. Comece!”
“Padre, fui eu quem, ao lado do motorista, para ele não nos roubar, fui de carro-forte até ao banco e de lá, carregado de dinheiro, do vil metal, hoje apenas em papel, mas com o eterno nome de vil metal, trouxe até meu escritório para mim distribuir pros meus comparsas.”
“Filho, para eu distribuir, pelo menos que não sejam tolerados os pecados da gramática”. “Mas foi para mim, padre, que a dinheirama veio, não dá pro senhor distribuir para ninguém mais, o senhor não é nosso companheiro". "Imbecil, respeitem a Igreja, ó vós que nada mais respeitais, que ides à Igreja só por motivos políticos, em batizados, casamentos, funerais e efemérides. Você disse “pra mim distribuir” e o certo é “para eu”, porque foi você quem distribuiu...”
“Mas eu só fiz o que o José Genoíno e o Delúbio mandaram, e eu entendi que eles estavam a mando do Zé Dirceu e este a mando do Lula, padre!”
“Seus pecados ao chegar aqui já foram três: mentiu, ao dizer que não sabe nada; desrespeitou a Igreja; desrespeitou a gramática. Quanto à dinheirama até eu já fui convencido pelo Levandowski e pelo Márcio Thomaz Bastos que se tratou de caixa dois.”
“Caixa dois o cacete! Aquele dinheiro todo não foi pra campanha, não, foi pra eles! O Zé Dirceu só toma Romané-Conti e outros vinhos caros! O senhor acha que ele corre o mundo, mantém blogue, compra casa pra mulher, distribui favores com dinheiro vindo da onde?”
“Você veio aqui para se confessar ou para confessar os outros?”.
“Ainda não chegou a hora de confessar os outros, padre, mas todos dizem que essa hora um dia chegará, que na História chegou para todos, pois se Nero mandou matar até a mãe!”
“Vai confessar o Nero, agora? Não perca o foco, você veio se confessar, confessar os seus pecados, não os dos outros, que, claro, eu bem sei, são enormes, pois que praticados por essas figuras que você citou. Neste caso, o verbo é transitivo direto. Você confessa o pecado ao padre. E confessando a coisa a mim, o verbo se transforma em transitivo direto e indireto. Vocês não estudam Português, não? Bem, deixemos a gramática pra lá, me conte da dinheirama do carro-forte, mas apenas no que diz respeito a você, não aos outros, afinal você veio confessar os seus pecados, não os dos outros, compreende?”
“Ah, compreendi!” ”Fique tranquilo! Se o voto do Levandowski prevalecer, vocês estão todos perdoados”. “E se não prevalecer?”. “Daí vocês estão ferrados também pelo STF porque pela sociedade brasileira já estão e cumprem pena há sete anos, graças à mídia e à imprensa, que vocês ainda não dominaram!”. (xx)
• Escritor e professor universitário, Deonísio da Silva, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio, tem 34 livros publicados, alguns dos quais traduzidos para outros países.
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