NOME DE POBRE NO BRASIL

domingo, 30 de setembro de 2012

Resumo do áudio do programa SEM PAPAS NA LÍNGUA, de Deonísio da Silva, na Bandnews FM, RJ, em companhia de Ricardo Boechat, incluindo o programa sobre o DICIONÁRIO DO PALAVRÃO. http://soundcloud.com/bandnews-fluminense

sábado, 29 de setembro de 2012

QUE SIGNIFICA SEU NOME?

Abílio quer dizer que não é mal-humorado, pois o "a" inicial nega ou põe de lado "bílio", cujo étimo é o Latim bilis, bílis no Português. Ou fel, seu sinônimo, dado como a morada dos maus humores, como a cólera. Em resumo, Abílio não tem mau humor. Poderá ficar mal-humorado, ao estudar o hífen, pois mau humor e bom humor não têm hífen, mas bem-humorado e mal-humorado têm. Carlos veio do germânico Karl. Os normandos levaram este nome para a Inglaterra nos primeiros séculos do segundo milênio. Na Península Ibérica tornou-se Carlos, no Português como no Espanhol, mas no Francês virou Charles, no Italiano, Carlo, no Inglês, Carl, e no Alemão, Karl. O significado original é "homem do povo", simples. E embora não tenhamos "Abília", temos Carla, para as mulheres. Ainda na letra "C," ou "K", usada como variante, temos Cristiano, Cristina, Kristina etc. O étimo é o latim Christianus, que no Inglês virou Christian e no Alemão, Kristen. Na Europa, em muitos países aparece o mesmo étimo em Kristine, Cristine, Cristina etc. Todos eles aludem à seita dos seguidores de Christus, nome latino de Jesus, depois transformada em religião oficial do Império Romano. O Latim Christus é adaptação do Grego Khristós, ungido, abençoado, que no Hebraico é Maxiah, de onde veio Messias. Gilberto também é nome de origem germânica. É adaptação de Williberht, palavra composta de Will, vontade, e berarht, brilhante, marcante. Do mesmo étimo procede Gisele, cujo significado é refém famosa, pois Gisal ou Gisil tinha no antigo germânico o significado de refém. Márcio, que tem o feminino Márcia, e Marcos, sem feminino, procedem do latim Martius, Marte, o deus da guerra. Significa lutador(a), guerreiro(a). Paulo, do Latim Paulus, baixinho, foi de Roma para a Europa e virou Paul, Paolo, Pablo, Paulino, com os femininos equivalentes. Rita é diminutivo do Latim Margarita, pérola. E Rosana ou Rossana é junção de Rosa, flor, e Hannah, graça, rosa graciosa. Helena, do grego Heléne, tocha, que ilumina, acesa. Ana, do hebraico Hannah, graça. Beatriz veio do latim beatrice, beata, a que dá beatitude, isto é, felicidade a quem está com dela. A mais famosa é Beatriz Portinari, namorada de Dante Alighieri, que a imortalizou na Divina Comédia. Sueli e as variantes Soeli, Suellen etc vêm do germânico Suel, Luz, e quer dizer luminosa. Manuela é o feminino de Manuel, do hebraico Immanuel, Deus está conosco, pela formação immánu (conosco) e El, Deus. Rodrigo procede do germânico Hrodric, príncipe (rik), que tem fama (hruot). Michele, feminino de Miguel, do hebraico Mikhael, é uma pergunta: mi-hayáh (quem é como Deus?). E, por fim, Deonísio, o meu nome, procede do grego Dionysios, consagrado ao deus Dionyso, deus do vinho e dos prazeres. Ave! Mas chegou por último ao Olimpo, a morada dos deuses, depois das Parcas, pois não tinha pressa. (xx) *Escritor, autor de 34 livros, Doutor em Letras pela USP, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Escreve aos domingos neste espaço.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O HINO ERA OUTRO (hoje em O Globo, p.23)

O Hino Nacional que cantamos não é a canção que venceu o concurso público para escolha deste importante símbolo nacional. O povo não aprovou a música de Leopoldo Miguez e a letra de Medeiros e Albuquerque, embora tivessem obtido em concurso público o primeiro lugar, entre 36 candidatos. Também não tinha aprovado a letra anterior, de Américo Moura: “Gravai com buril nos pátrios anais o vosso poder/ Eia! Avante, brasileiros! Sempre avante”, Então, o marechal Deodoro da Fonseca, monarquista que proclamara a República, determinou que o Hino Nacional continuava a ser aquele dos tempos do Império, letra do professor de português do Colégio Pedro II, Joaquim Osório Duque Estrada, e música de Francisco Manuel da Silva. A letra classificada em primeiro lugar é bonita, mas falsa! Diz: “Nós nem cremos que escravos outrora/ Tenha havido em tão nobre País..." Outrora era 1888! Fazia pouco mais de um ano que não havia mais escravos no Brasil, por força da Lei Áurea, assim chamada por ter sido assinada pela princesa Isabel com uma caneta de ouro! Tal como na letra que hoje cantamos, o riacho Ipiranga também está lá, parecendo o Amazonas, pelo estilo pomposo: "Do Ipiranga é preciso que o brado/ Seja um grito soberbo de fé!". Igual decepção tiveram os cruzados quando chegaram à Terra Santa. Acostumados a ver rios europeus grandiosos, como o Danúbio e o Reno, achavam que o Jordão fosse ainda maior! E encontraram um riacho! Portanto não era tão grande a dificuldade de Réprobo, nome original de São Cristóvão, atravessá-lo com o Menino Jesus às costas. Aquarela do Brasil não é hino nacional, mas talvez seja mais coerente com a História do Brasil: “Ah! Abre a cortina do passado/ Tira a mãe preta do cerrado.” A menos que os atuais censores de Monteiro Lobato vejam racismo nesse autor também. Ary Barroso, órfão desde os oito anos, que “teria um desgosto profundo se faltasse o Flamengo no mundo”, venceu todas na vida, mas perderia para os censores. Porque "a burrice, no Brasil, tem um passado glorioso e um futuro promissor", como disse o ex-seminarista Roberto Campos. Enquanto não mudarmos a letra do Hino Nacional ou não a aprendermos, continuaremos dando o vexame de não saber cantá-la ou não saber o que cantamos. Poucos entendem versos tão rebuscados, compostos de palavras estranhas, algumas já fora de circulação! A prova dos nove de que todos sabem o Hino Nacional dar-se-á quando até os jogadores da seleção brasileira, este “impávido colosso”, cantarem seus versos “em brado retumbante", saudando o "Brasil, florão da América", devidamente perfilados diante do “lábaro estrelado”, iluminados pelos "raios fúlgidos" do patriotismo e protegidos pelo “formoso céu risonho e límpido”, onde “a imagem do Cruzeiro resplandece.” E sem “o heroico brado”. “Herói cobrado?”. Cada um deles é um herói pago! Os mais famosos não são mais pagos em cruzeiros, velhos ou novos, nem em reais, e, sim, em dólares, euros, dinares etc. Então, que pelo menos saibam cantar o Hino Nacional, afinal “a seleção é a pátria de calções e chuteiras”, segundo a frase imortal de Nelson Rodrigues. (xx) * O escritor e professor Deonísio da Silva, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, é Doutor em Letras pela USP e autor de Avante, soldados: para trás (10ª edição) e de De onde vêm as palavras (16ª edição).

terça-feira, 25 de setembro de 2012

AMOR DE MENINO E MULHER

Trecho de meu romance GOETHE E BARRABÁS (Editora Novo Século, 2008)

RAIMUNDO LÚLIO: O LIVRO DAS BESTAS

Raimundo Lúlio (Lull, em catalão) casou, teve dois filhos, mas abandonou tudo para persuadir os governantes civis e religiosos a praticar e defender a coisa pública. Nasceu na ilha de Maiorca, em 1232, e faleceu em 1316, aos 84 anos. Não é dos mais conhecidos entre nós, mas vale a pena voltar a ele para entender o Brasil atual. Ele criou um personagem chamado Félix, um andarilho que se “maravilha” com “as maravilhas do mundo”, figura referencial de narrativas que aparecem ora sob um título, ora sob outro, pois nem sempre as edições são integrais e passam a ser conhecidas pelo título com que circula um fragmento. No Livro das Bestas, Félix vai a um lugar onde animais selvagens estão escolhendo o rei deles. A estratégia do autor é criticar usos e costumes epocais pela mistura de pessoas e bichos como personagens, em que esses últimos são interpretados pelo comportamento dos primeiros, como nas fábulas. De quebra o leitor é informado da “microfísica do poder” da sociedade feudal, da absoluta prevalência das paixões humanas na política e da eterna luta entre o Bem e o Mal, em que o segundo quase sempre vence o primeiro. Paz no reino Logo no primeiro capítulo a eleição é embargada porque a Raposa se dá conta de que o Urso, o Leopardo e a Onça, fortes candidatos e esperançosos de serem eleitos, levantam uma questão de ordem para que seja decidido qual é o animal mais digno de ser rei. Ela fica desconfiada. Lúlio era clérigo e dá um tempero interessante à narrativa, ao referir a escolha de um bispo que estava demorando muito a concretizar-se. Um cônego que almejava o cargo episcopal, presente à votação, pede a palavra para dizer o seguinte: “Se o Leão se torna rei, e o Urso, a Onça e o Leopardo se opõem è eleição, depois serão para sempre malquistos pelo rei. Se, porém, o Cavalo tornar-se rei, e o Leão lhe fizer alguma ofensa, como poderá o Cavalo vingar-se, se não é tão forte como o Leão?” Eleito rei o Leão, este tem dificuldade de compor o ministério, a esse tempo conhecido por Conselho do Reino. A Raposa, depois de várias articulações, consegue ser nomeada chefe do gabinete civil, isto é, porteira da Câmara Real. O cargo era muito cobiçado porque competia ao titular cuidar da agenda do rei, cobrar os devedores de impostos, podendo para isso citar e penhorar os bens dos devedores. Certa vez o Leopardo viaja e o Leão comete adultério com a Leoparda. A Onça, em defesa do rei, trava briga feroz com o Leopardo. A Serpente pergunta ao Galo quem vai vencer a briga. O Galo responde: “Fez-se o combate para que a verdade confunda e destrua a falsidade. Deus é a verdade. Todo aquele que sustenta a falsidade luta contra Deus e contra a verdade.” O Leopardo mata a Onça e antes a obriga a dizer, diante de todos, que o rei Leão era falso e traidor. Tomado de vergonha e embaraçado, mas cheio de ódio, o Leão aproveita que o Leopardo está cansado da briga e liquida com o atrevido crítico de seu reinado. Depois deste momento decisivo, a paz volta ao reino graças a algumas mudanças no Conselho de Ministros. Texto iluminado O desfecho é impressionante: o Leão dá um urro fortíssimo para que não apenas o Coelho e o Pavão, que estavam com medo de denunciar as fraudes da Raposa, mas também a Raposa – enfim, todos os bichos – entendam que o medo de falar a verdade deveria ser substituído pelo medo de mentir. A seguir, o Leão mata a Raposa. E expulsa do reino o Coelho e o Pavão, que tinham medo dela e por isso não diziam tudo o que sabiam, e traz para ministros o Elefante, o Javali e outros bichos. A narrativa de Lúlio tem o título de Livro das Bestas, mas bem quem poderia chamar-se Livro dos Metidos a Bestas. É um texto que ilumina como poucos esse momento decisivo pelo qual passa o Brasil, com sua luta pelo poder nas eleições municipais, o julgamento do mensalão e outros temas referenciais desta conturbada passagem histórica, que a mídia repercute sem cessar a todo instante. *** [Deonísio da Silva escritor e professor, tem 34 livros publicados. É autor dos romances históricos Avante, soldados: para trás (10ª edição), já traduzido para outras línguas, e Lotte & Zweig (2ª edição), ambos publicados pela Editora Leya. É vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro]

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

DESSA ÁGUA NÃO BEBEREI

Se você tem memória de elefante e acorda com as galinhas, saiba que onde come um, comem dois. E não é por ter estômago de avestruz que tem o olho maior do que a barriga. Mas, nem que esteja com cara de quem comeu e não gostou, fica com bafo de onça, não dá o braço a torcer, dá as caras num boteco e, depois de dar com os burros n´água, toma chá de sumiço! Mesmo com o queixo caído de admiração, não dê nó em pingo d´água, pois, quem diz cobras e lagartos, deve ficar de olho e não dormir no ponto, do contrário outros pagam na mesma moeda e as coisas vão por água abaixo, ainda que saibamos que você não dá ponto sem nó. Acontece que quem gosta de sombra e água fresca, o que quer é tapar com o Sol com a peneira. E daí o tiro sai pela culatra porque, macacos me mordam, macaco velho não põe a mão em cumbuca, pois a cavalo dado não se olham os dentes e ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Quem nunca come mel, quando come se lambuza e come um boi por uma perna. Não se pode contar com o ovo no cu da galinha, pois nem só de pão vive o homem e peixe morre pela boca. O que não mata, engorda. Quem comeu a carne que roa os ossos. São favas contadas. Cuidado para não viajar na maionese! Ou ficar chupando o dedo. É melhor botar a mão na massa e não tomar gato por lebre. Pessoas de meia tigela às vezes acertam na mosca, mas pisam no tomate e comem com os olhos, mas são todas farinha do mesmo saco. Pensam que pimenta nos olhos dos outros é refresco e, sabendo que a carne é fraca, vão plantar batatas. Juntam a fome com a vontade de comer, comem de tudo um pouco porque o que não mata, engorda. Depois dão uma banana para a gente, colocam a azeitona na empadinha dos nossos desafetos, mudam da água para o vinho e dão com a língua nos dentes. Sem quebrar os ovos, nada de omelete, então que não se fale mais abobrinhas! E nada de trocar alhos por bugalhos, é mau negócio. Com a faca e o queijo na mão, não vá com muita sede ao pote. Como descascar o abacaxi se estou empepinado? E nada de chorar as pitangas, porque de grão em grão a galinha enche o papo e a gente fica aqui enchendo linguiça, agora sem trema, pois beleza não põe mesa. Apressado come cru. É preciso comer o mingau pelas beiradas no frigir dos ovos e cozinhar em banho-maria, do contrário comemos o pão que o Diabo amassou, não conseguimos vender o nosso peixe e ficamos sem ganhar o leite das crianças. E ainda enfiamos o pé na jaca para ver quem paga o pato porque esse angu tem caroço! Depois não adianta chorar pelo leite derramado porque todos puxam a brasa para sua sardinha. Onde se ganha o pão, não se come a carne. Quem dá mais do que chuchu na serra que vá lamber sabão porque o meu nome não é osso para ficar em boca de cachorro. Essas frases são de lamber os dedos e dão água na boca. Você está com uma batata quente nas mãos? A batata dele está assando e sua chapa está esquentando! E, por fim, se escreveu e não leu, o pau comeu. (xx) (Primeira Página, São Carlos –SP, 13/11/2011(

sábado, 22 de setembro de 2012

PIMENTA: O TEMPERO DA PRIMEIRA CORRUPÇÃO DEONÍSIO DA SILVA* No Brasil a corrupção começou ainda no Descobrimento. A viagem de Pedro Álvares Cabral foi financiada em grande parte pelo rei Dom Manuel. O dinheiro tinha sido arranjado pelos diplomatas portugueses junto às casas bancárias dos Médici, na Itália. Ao voltar a Portugal, depois de perder metade das naus, Cabral recebeu autorização para superfaturar o carregamento de especiarias trazidas do Oriente. A pimenta, o cravo, a canela, a noz moscada e o gengibre foram vendidos a peso de ouro. Poucos professores de História explicam direito aos alunos por que razão as especiarias valiam tanto. A mim explicaram nos meus mais tenros anos, ainda no Seminário São Joaquim, em São Ludgero (SC), cujo professor desta matéria, aliás, era o Padre Ludgero Waterkemper, xará do santo. Professor de História e Geografia, exercia também as funções de ecônomo, isto é, o padre responsável por não faltar alimento para todos os habitantes daquele imenso prédio. Voltemos à pimenta e às outras especiarias. Quando se aproximava o inverno, os camponeses europeus precisavam abater boa parte de bovinos, ovelhas e cabras porque logo as nevascas e a geada acabariam com os pastos, matando os pobres animais de fome. O sal conservava um pouco os guardados, mas somente com molhos muito apimentados era possível digerir aquela carne. Mas a pimenta era muito cara. Antes dos Descobrimento, era comprada na Índia (primeiro imposto) de onde seguia para Meca (segundo imposto), dali ia pelo Mar Vermelho até Ormuz (terceiro imposto), de onde partia para a Judeia (quarto imposto). Seguia então em lombo de camelos para o Cairo (quinto imposto), depois para Roseta (sexto imposto) e enfim chegava a Alexandria (sétimo imposto). Ali, galés vindas de Veneza e Gênova pegavam a pimenta e a distribuíam por toda a Europa. Imagine a que preço o tempero chegava à mesa dos camponeses que tinham sacrificado as reses à entrada do inverno. Depois da queda de Constantinopla, em 1453, ficou ainda pior: os árabes deram o monopólio do comércio da pimenta aos venezianos. Inconformados, os genoveses financiaram a Era dos Descobrimentos, ajudando não só com dinheiro, mas também com geógrafos, pilotos, letrados etc, fornecendo, além dos recursos financeiros, uma vasta e complexa mão de obra, boa parte obtida nas ordens religiosas. Junto com Cristóvão Colombo, de Gênova, viajava Américo Vespúcio, de Florença, que trabalhava para os Médici. Por isso, há tantos segredos ainda nos descobrimentos da América e do Brasil. E por isso o nome do continente é América e não Colômbia. Bancos, dinheiro, poder. Mistura explosiva. Pode dar em financiamento de boas obras, como o Descobrimentos, ou em coisas como o mensalão, quando o PT, confundindo Estado, Governo e Partido, se aliou a um banco para manipular o Legislativo, dois poderes independentes. Quem está nos salvando é o Judiciário. Dom Manuel jamais faria o que tantas autoridades fizeram no mensalão! Ele tinha vergonha na cara! (xx) *Escritor, autor de 34 livros, Doutor em Letras pela USP, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CENSURA NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS? COMO E POR QUÊ?

Toda disfarçada de defensora da moral e dos bons costumes, eis a censura de volta. Acabam de proibir Monteiro Lobato nas escolas! A Academia Brasileira de Letras censurou uma teleconferência do professor Jorge Colli (Unicamp ) por ele ter m ostrado o quadro A Origem do Mundo, que Gustave Coubert pintou em 1866? Então o Museu d' Orsay, em Paris, vai ser proibido aos estudantes brasileiros? O quadro está exposto lá. Continua proibida a biografia de Roberto Carlos, feita por Paulo César de Araújo. Etc.

domingo, 16 de setembro de 2012

O POLACO E O NEGÃO NO MENSALÃO O ministro Joaquim Barbosa já é herói das redes sociais, da mídia, dos jornais, dos cartuns, ele está em toda a parte. E no STF vive entre tapas e bate-bocas com o ministro Ricardo Lewandowski. Outro dia Joaquim Barbosa estava no programa do Pânico (Rede Bandeirantes). Surgia da névoa do estúdio, rápido, ameaçando um personagem caracterizado como boa-vida, que queria sombra e água fresca e ameaçava mudar-se para Brasília, onde poderia viver do dinheiro dos outros, como fazem tantos políticos. A figura do ministro apareceu ex abrupto na telinha e a cada desejo que o boa-vida declinava, dizia: é peculato, é desvio de verba, é roubo, é isso, é aquilo, dá cadeia etc. Joaquim Barbosa tem sido o principal algoz dos mensaleiros. Sofrendo dores lancinantes na coluna, espicha-se todo em cadeira especialmente preparada para ele reclinar-se algumas horas e de lá, qual Júpiter iracundo, lança seus claros raios para iluminar a noite escura que o PT e seus partidos asseclas (mas não apenas o PT, o PSDB também teve o seu mensalão...) fizeram descer sobre o Brasil. Mas encontraram pela frente um ex-sócio, o deputado federal Roberto Jefferson, que procedeu como o escorpião: tascou uma ferroada no sapo, tal como na fábula, e suas denúncias já resultaram na condenação de vários réus, entre os quais o deputado federal João Paulo Cunha, do PT da região metropolitana de São Paulo, conhecida como o ABC. Por que Joaquim Barbosa é tão iracundo? Ele não julga apenas. Ele julga com som e fúria. E atraiu todos os holofotes porque desperta grande admiração no público um homem ter a coragem que ele tem. Talvez lhe sobre consciência de que chegou ao STF, não por suas inegáveis qualidades, seu notório saber, sua reputação ilibada, mas por ser negro. Apesar de a cor da pele ser símbolo dos novos tempos de inclusão social, isso seria razão adicional. O principal é que ele atenda aos primeiros quesitos, como de fato atende. O caso de Ricardo Lewandowski é bem diferente. Trabalhou como assessor jurídico de prefeitura do ABC, não aparenta ter notório saber, seus conhecimentos jurídicos estão bem abaixo das alturas às quais devem chegar ministros do STF e, em vez de reputação ilibada, pesam-lhe suspeitas de que atua mais como advogado de defesa de alguns réus do que como juiz que deve absolvê-los ou mandá-los para a cadeia, mesmo ficando com gosto de jiló na boca, como disse o presidente do STF, ministro Ayres Britto. De todo modo, dois representantes de duas das etnias mais excluídas do Brasil brigam todos os dias no STF. Cousa é que admira e consterna, como diria Machado de Assis. O sociólogo Octavio Ianni, da USP, autor de vários livros referenciais, disse que “o polaco é o negro do Paraná”. Um dos últimos imigrantes europeus, o polaco foi escravizado pelos primeiros, já bem-sucedidos, como o alemão e o italiano. Pois é! E agora o polaco e o negão brigam no STF! Cronista semanal, registro que observei este pormenor. Os leitores que façam seu juízo, naturalmente por conta própria. Leitor é livre! (xx)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"BRAZUCA", "PARALÍMPICO", POR QUÊ?

No momento em que este escritor e professor escreve seu habitual artigo para nosso Observatório, a imprensa e a mídia brasileira vacilam entre “brasuca” (certo) e “brazuca” (errado), e entre “paraolimpíada” e “paraolímpico” (certos) e “paralimpíada” e “paralímpicos” (errados). Mas por quê? Fixemos um quadro de referência, não muito remoto, por desnecessário para os fins deste artigo, mas indispensável porque se trata de recaída em problemas que poderíamos ter evitado. Para designar a controversa reserva de vagas nas universidades, a serem preenchidas por critérios diferentes do habitual vestibular, o mais correto seria quota, mas vem predominando a variante cota. Por quê? Não sabemos por quê. Por que o simples, que é mais claro, se o complicado também serve? Poucos dizem o porquê. Porque prezamos a confusão, a ambiguidade, o terreno às vezes movediço, às vezes pantanoso, da verborragia, de que o juridiquês é uma, mas não a única evidência. Sem contar o desconhecimento de normas singelas da língua culta. “A nível de” Na semana passada a presidente Dilma tropeçou na língua ao usar “porque” na pergunta, quando repreendeu duas de suas ministras. Não tem importância. Na próxima vez não errará. Ela, que deve ter lido Engels, haverá de lembrar-se de uma das máximas do pensador alemão: “A ciência é a eliminação progressiva do erro”. Vai ser difícil, pois pode ser influenciada pelo antecessor, cujo objetivo é a eliminação progressiva da verdade. Nem bem o STF começou a julgar e punir o mensalão, ele deu entrevista ao prestigioso jornal New York Times para assegurar que o mensalão não existiu. O jornalista Augusto Nunes, que já foi revisor, quando a imprensa tratava com mais cuidado a língua portuguesa, não perdoou o deslize: “Nesta quinta-feira [30/8], a presidente Dilma Rousseff foi novamente internada no Sanatório Geral por não saber como e quando usar porque ou por que, como atesta o bilhete endereçado às ministras Izabella Teixeira e Ideli Salvatti.” O jornalista Celso Arnaldo destacou que ela errara também o nome de uma das ministras, que não é “Isabela”, mas “Izabella”. Errar é humano. Aceitar correções também é humano. Perseverar no erro é que é diabólico. Todavia vivemos num tempo em que um ministro do STF acha que é preciso fazer desagravo a um dos ministros do governo Lula porque as denúncias que pesavam sobre ele não puderam ser comprovadas no mensalão, cujo nome também foi mudado para Ação Penal 470, com o fim de aliviar a barra daqueles que foram pegos com a boca na botija, assaltando o erário ou os cofres públicos. Às vezes aparece também “erário público”, uma redundância descabida. Se a moda pegar, haverá montanhas de desagravos país afora, a começar pelos cidadãos que, viajando direitinho pelas estradas, são interceptados pelo guarda que quer saber se está tudo em ordem com carro, motorista, passageiros, carga etc. O guarda está cumprindo seu dever, é preciso fiscalizar. Voltando a cota, por que cota e não quota? Quota, do Latim clássico quot (quantos) ou de quota, feminino de quotus, evita ambiguidades. Cota sugere várias: pode ser o lado oposto ao gume nos objetos cortantes (canivete, faca etc.); pode ser um local fortificado; pode ser roupa, manta, proteção para o joelho; pode ser gibão; pode ser sobrepeliz. É verdade que o contexto dirime as dúvidas, mas por que complicar? O modismo pegou e agora se escrevermos quota, corremos o risco de sermos corrigidos por algum Manual de Redação, que vai mudar para cota. Uma das mais sólidas leis da moda é a seguinte: se algo está em moda, está também saindo de moda, palavra que nos chegou do Francês mode, adaptação do Latim modus, quando o próprio Latim, para designar a mesma coisa, usava mos, costume. Logo cota vai escafeder-se, como fez “a nível de”, que não significava nada, pois tudo passa, e, mais que a moda, os modismos passam. Acordo vigente Agora é a vez de “brazuca” e “paralímpico”, notórias submissões à turma daqueles que ameaçaram dar um pontapé no traseiro de um ministro que, segundo eles, andava a passos de tartaruga com obras que o governo brasileiro deveria providenciar com mais rapidez para eles ganharem dinheiro aqui também, como já fizeram em outros países. Terminada a Copa, os estádios que sejam explodidos, ainda que tenham custado o equivalente a muitos hospitais e escolas. Pois a turma não se conforma com “brasuca” e “paraolímpico”, assim indexados no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. O nome da ferramenta diz tudo: Vocabulário Ortográfico. É preciso escrever direito. O médico precisa escrever corretamente o nome do remédio que receitou ao doente, do contrário a enfermeira responsável por aplicar a injeção, em vez de curá-lo, poderá agravar a situação do enfermo ou até matá-lo. Mas, não. Eles preferem e estão impondo como certos os dois erros. E vêm obtendo relativo sucesso nesse assalto à Língua Portuguesa. Por que os errados “brazuca”, “paralímpico” e “paralimpíada”, em vez dos corretos brasuca, paraolímpico e paraolimpíada, assim tombados no VOLP, como é mais conhecido o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras? Brasuca veio de Brasil. Paraolimpíada e paraolímpico têm como étimo comum a palavra olimpíada, do Grego olympiás, como eram chamados os jogos realizados de quatro em quatro anos na cidade de Olympía, na Grécia antiga. E o são ainda hoje em todo o mundo. O nome da cidade foi adotado como homenagem por Policena, mãe de Alexandre, oGrande, que, sem cassar-lhe uma só letra, trocou Policena por Olímpia. Paraolimpíco radica-se em compostos gregos: pará, ao lado de, junto a, e o Latim olympicus, olímpico, cuja origem remota é naturalmente o étimo grego. Entretanto, contrariando a lógica, as leis da língua, o bom senso e principalmente os costumes, que são os melhores intérpretes das leis, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) determinou substituição de “paraolímpico” por “paralímpico”, mutilando, com a omissão de muitos, a língua portuguesa, que não é deles, é patrimônio público do Brasil. Por absurdo que pareça, a alegação é que a palavra “paraolímpíco” é propriedade do Comitê Olímpico Internacional (COI). Propriedade? De quem? Até aqui achávamos que a língua portuguesa falada e escrita no Brasil era nossa; falada e escrita em Portugal era de nossos irmãos portugueses; falada e escrita nas nações africanas de língua portuguesa era de nossos irmãos da África. Se todas as nações lusófonas se uniram para fazer o consenso do Acordo Ortográfico, já em vigor, por que vamos ceder em tais violações da ortografia? Quem é o COI para determinar como devemos escrever as palavras? As autoridades não vão se pronunciar? Autoridade legítima Este escritor e professor está perplexo com tais omissões. E sabe que também estão inconformados milhares de brasileiros, entre os quais os ouvintes da crônica Sem Papas na Língua, que apresenta na Bandnews fluminense, todas as quintas-feiras, às 10h, em companhia do jornalista Ricardo Boechat, e os leitores da página de Etimologia, que faz há vinte anos, semanalmente, na revista Caras. Sei disso porque recebi inúmeros pedidos de socorro, inclusive nas redes sociais. Se nossas autoridades quiserem, dado o poder imperial que muitas delas têm, não sairá um real dos cofres públicos se os mutiladores do idioma insistirem com esses desjeitosos “brazuca” e “paralímpico”. O meio mais rápido de corrigi-los é reter as verbas até que seja restaurada a autoridade legítima que temos sobre a nossa língua. *** [Deonísio da Silva escritor e professor, tem 34 livros publicados. É autor dos romances históricos Avante, soldados: para trás (10ª edição), já traduzido para outras línguas, e Lotte & Zweig (2ª edição), ambos publicados pela Editora Leya. É vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro]

domingo, 2 de setembro de 2012

PESO, PÊSAMES, PESADELOS, VIÚVA NEGRA ETC

O peso (da balança), o pesar (tristeza), os pêsames (condolências, de doer e dor - "dolere" e "dolor", em latim - e os pesadelos (sonhos inquietos) têm o mesmo étimo. Mario Oliveira, querido amigo, você foi muito intutivivo com a língua, c...omo sempre. O étimo de pêsames é o mesmo de pesar (na balança), com o sentido de comparar, examinar, meditar. Condolência tem mais o sentido de doer, do latim dolere, de dolor, dor.Tenho um amigo sírio que aprendeu português no Brasil a partir do alemão! E ele chegou a um velório um dia, apertou a mão da viúva com muita reverência e disse bem alto: "meus pesadelos". Foi impossível para muitos conter as risadas que se seguiram. Ele queria dizer "pêsames". Quase acertou, mas ficou engraçado! As palavras são assim, este é o grande encanto delas para mim, a viagem que fizeram até significar o que hoje significam e que antes não significavam. Viúva negra não é a mulher negra que perdeu o marido: é aranha, é assassina. Viúva branca não é o cônjuge supérstite de cor branca, é a mulher cujo marido morreu antes da estreia. Viúva é também borboleta de cor escura e linha quebrada, para os tipógrafos. E nas antigas aldeias ou povoações, a mulher disponível para relações ocasionais, pois às vezes era uma "viúva alegre", que também está nos dicionários. E "cônjuge supérstite", expressão muito usada no Direito, na linguagem jurídica, é aquele que restou sobre a terra, o outro está sob a terra. Enfim, como na boa prosa, uma palavra puxa outra.

sábado, 1 de setembro de 2012

DONA CONSTITUIÇÃO É A IMPERATRIZ DO BRASIL

O lema do Ministério Público Federal é "seu direito, nosso dever". O atual Procurador-geral da República, Roberto Monteiro Gurgel Santos, encerrou a denúncia do mensalão, lida no STF, com estes versos de Chico Buarque: "Dormia/ A nossa pátria mãe tão distraída/ Sem perceber que era subtraída/ Em tenebrosas transações".Ele é cearense, nasceu no dia 24 de setembro de 1954, tem dois filhos e se formou em Direito pela UFRJ. Ao Destino agradam as simetrias, diz num de seus textos mais encantadores o escritor argentino Jorge Luís Borges, nascido em Buenos Aires no dia 24 de agosto de 1899. Muitos jornalistas se esforçaram para avivar aos olhos e aos ouvidos dos brasileiros de bem o quanto é grave a questão do mensalão. Um dos mais importantes a fazer isso é Augusto Nunes da Silva, nascido a 24 de setembro de 1949 em Taquaritinga. Trabalhou na versão impressa da revista Veja entre 1973 e 1986 e tinha apenas 23 anos quando integrou aquela equipe memorável, fazendo a maior revista semanal de informação do Brasil. Há alguns anos está de novo na Editora Abril, desta vez na Veja.com, onde escreve, entrevista e apresenta alguns minutos deliciosos e imperdíveis também em vídeo. Aqueles que navegam pouco ou jamais o fazem na mídia digital talvez não saibam que basta um brasileiro corajoso escrever e dizer o que pensa para receber uma chusma de insultos e calúnias, que seus autores pensam ser anônimas ou pelas quais não vão responder em juízo. Vão, sim, e já estão respondendo. Um blogueiro que caluniava Augusto Nunes, mandava seus comentários do computador de uma empresa estatal, que, revelada a trama, pediu desculpas públicas ao jornalista, mas o processo contra o caluniador continua. Muitos pensaram algo semelhante sobre o mensalão. "Vai dar em nada", diziam. Pois está dando em tudo! Na semana passada começaram a sair as primeiras condenações por placares que foram de 9 x 2 em alguns casos. E as simetrias do Destino? Lula esperava que os ministros nomeados por ele para o STF absolvessem a todos os réus do mensalão! Enganou-se! Foi o presidente da República quem os nomeou, não ele! Lula apenas ocupava o cargo naquele período. Numa democracia não há imperador, há imperatriz, e a imperatriz é a Lei! A pátria acordou! Quem acordou os sonolentos foram a palavra e aqueles que a utilizam com ética, como vêm fazendo esses heróis das redes sociais e do jornalismo em todas as suas versões: no rádio, na TV, na internet. Poucas vezes o Brasil deveu tanto a tão poucos e tão corajosos. Escreveu Camões: "Enfim, não houve forte capitão,/ Que não fosse também douto e ciente,! ". Menos no Brasil, onde a ignorância passou a ser virtude de uns anos para cá. Mas as coisas estão mudando! O STF que o diga!(xx)