NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

UM CAVALO PARA DEPUTADO FEDERAL

Na semana que ora passa, o deputado federal Natan Donadon falou aos colegas de plenário, como de costume, mas seu discurso foi de queixas: disse que horas antes estava tomando banho, todo ensaboado, quando faltou água. Disse também que foi socorrido por colegas, não da Câmara Federal, mas do Presídio da Papuda, em Brasília, onde cumpre pena, depois de julgado e condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que não cassou seu mandato.
Isso mesmo! O STF se fez de bobo e nos fez de bobos. Alguém já nomeou um cabrito para cuidar de um gramado? Uma raposa para zelar por um galinheiro? Em poucas palavras, a Câmara se encarregou de prosseguir com outras desmoralizações: desmoralizou o STF e a sociedade brasileira, absolvendo o deputado presidiário. Agora ele cumpre pena no presídio, mas exerce o mandato de deputado federal. Bem, mas sempre restam um fio de esperança e um resto de vergonha no recôndito de alguns seres. O deputado federal Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara, achou que assim era demais e, contrariando os colegas, afastou o deputado presidiário e chamou o suplente para substituir aquele de quem o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, disse: “A Papuda está homenageada. Vai causar inveja aos demais reeducandos”. Se a Câmara Federal não cumpre seu Regimento, a Papuda cumpre o dela. Um funcionário daquela penitenciária já disse que o deputado presidiário será punido, pois confessou que a água lhe foi entregue numa teresa, corda de panos amarrados uns nos outros, feita de lençóis e cobertores. O Regimento da Papuda proíbe tais presentes. Bem que faz! Começam por garrafas d´água e depois mandam o quê? Esboço de projetos de lei? Os outros presos também se tornarão legisladores, farão leis que todos deveremos cumprir? Sim, se já garantiram o mandato de um presidiário, por que não avançar um pouco mais?
Terminado o discurso, o deputado federal presidiário saiu dali algemado e voltou para o xilindró, onde está vendo o Sol nascer quadrado todos os dias. O episódio nos traz à lembrança o cavalo Incitatus, que em Latim quer dizer arrojado, impetuoso, incontrolável. Roma importava da Hispania (atual Espanha) cerca de 10.000 cavalos por ano. Numa dessas levas veio um cavalo de corrida muito garboso, a quem o imperador Calígula denominou Incitatus. Caligula em Latim quer dizer botinha, é diminutivo de caliga (bota). Ele era ainda menino e se vestia como um soldado romano quando acompanhava as tropas.
O historiador Suetônio nos conta que com todos os poderes que detinha, o imperador fez de Incitatus senador, deu-lhe dezoito assessores (criados pessoais), um colar de pedras preciosas, forrou a estrebaria onde ele dormia com mantas de púrpura, cor privativa dos trajes imperiais, e mandou também construir uma estátua de mármore no tamanho real do cavalo. Calígula morreu assassinado pelo praefectus (prefeito). Quando a Lei falha, o que podemos esperar? Inocente no contexto, só o cavalo! . º Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, doutor em Letras pela USP (xx).

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

PÉ, MEIA-CALÇA, MEIA, PEÚGA: DE ONDE VÊM ESSAS PALAVRAS?

Hoje, por volta de 20h20 na Bandnews Fluminense, PITADAS DO DEONÍSIO, com Pollyanna Bretas. Nosso pé é muito importante! Ícone da beleza feminina, enseja a produção de calçados maravilhosos, como sandálias, sapatos, meias, meias-calças etc. Com o pé a aviação mede a altitude em que voam os aviões. Vindo do Latim pedes, o étimo está também em peúga, como se chama a meia em Portugal, um lusitanismo que não pegou no Brasil. Mas no Sul pegou carpim para meia, do Italiano scarpino, diminutivo de Scarpa, sapato e também sobrenome, antes do Germânico Skarpa, saco de pele para se pôr algo dentro e onde se pôs o pé. Sapato e sapateiro são sobrenomes em muitas línguas, como é o caso do Alemão Schumacher...
Mas por que a meia no pé? Porque os soldados romanos, que usavam minissaia, ao chegarem ao clima frio da Germânia, atual Alemanha, precisaram cobrir as pernas e por isso esticaram o CALCEUS, calçado, fazendo dele botas, e dando origem à palavra calça, depois reduzida a meia-calça, depois a meia apenas, forma com que se consolidou.
Só no Português! Porque no Italiano o étimo de CALCEUS deu CALCIO, como os italianos designam o futebol para evitar o neologismo inglês que o Português adotou, o FOOTBALL, que deu futebol. E pé, do Latim PECUS ainda deu pecado, que é tropeço, quando o PEDES, pé, falha...E ainda temos o verbo TRIPUDIAR, do Latim tripudiare, do mesmo étimo de pedes, isto é, saltar calçado sobre o inimigo e maltratá-lo depois de vencido, coisa que os civilizados não devem fazer. Já de CEROULAS a origem é outra, o Árabe sirwal, como no Aramaico sirual, calça sob a calça, amarrada nos tornozelos, depois sinônimo de CUECA, entretanto veste feminina, que recebeu este nome por cobrir a primeira sílaba...que não é palavão em Portugal, mas no Brasil é.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

BOA NOTÍCIA PARA O POVO DO LIVRO

Já em 2015, para cada livro que o Ministério da Educação (MEC) comprar, as editoras terão que entregar a versão digital do mesmo título, mais conhecida por e-book, forma abreviada da expressão do Inglês electronic book, livro eletrônico. A mudança vai afetar consideravelmente o mercado do livro. Editoras, distribuidoras e livrarias – as três instâncias decisivas da produção, distribuição e venda - precisam adaptar-se imediatamente, preparando-se para os novos tempos.
Não nos esqueçamos de que esta lei é da evolução: sobrevive quem se adapta, não o mais forte! Não fosse assim, o senhor do mundo seria o elefante, o leão etc., não o homem! Que, aliás, nasce desamparado. E morre, se não é socorrido, como diz a escritora e psicanalista Betty Milan em seu mais recente romance, Carta ao Filho. Leitores de qualquer lugar do país não vão mais depender do transporte do livro físico, tal como o entendemos: impresso, com capa a quatro cores, embalado em pacotes e despachado, em geral por via rodoviária, para os mais distantes lugares, uma vez que os parques editoriais estão em sua maioria sediados ainda nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde ficam as grandes editoras, ainda que uma pequena parte seja produzida também em outros estados da federação. Galeno Amorim, ex-presidente da Biblioteca Nacional, informa no Observatório do Livro que provavelmente em 2021 o governo vá comprar os livros didáticos e paradidáticos apenas em e-book. E que em 2018 a versão impressa terá perdido a supremacia para a versão digital e se tornará uma opção, como é hoje a versão digital.
A longo prazo, os livros impressos serão um luxo, pois a versão digital será de mais fácil acesso, mais barata e estará disponível no computador ou em qualquer outro veículo onde possa ser armazenada.
Hoje, em 2013, este escritor e professor já viaja com centenas de livros disponíveis no notebook ou no telefone celular, sem que precise carregar malas cheias de volumes como fazia outrora quando passava longas temporadas fora de casa. E nem me refiro aos milhares de títulos disponíveis na internet ou nas livrarias que já vendem livros em formato digital. Os leitores não chegam ao livro pelos autores! Quem lhes diz isso é um escritor e professor! Quem produz leitores são em geral três instituições: a Igreja, a Escola e a Mídia (Rádio, TV, Jornais, Revistas etc.). Infelizmente, a Família brasileira não reconhece a importância estratégica dos livros na educação e na formação dos filhos. Ainda antes de ir à Escola, a criança ouve a leitura! Na Igreja, por exemplo. Em casa, ela ouve menos e não vê ninguém ler! Ainda são raras as famílias que leem para os filhos! Também os professores devem ser preparados para o mundo digital que acaba de chegar! Quem vai conduzir os alunos à leitura digital serão eles de novo, que já fizeram isso no tempo do livro impresso. Novos tempos batem à porta. Vai sobreviver quem se adaptar!(xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, doutor em Letras pela USP (xx).

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ETIMOLOGIA DE BALDAQUIM, GARRAFA, MORDOMO ETC & UM ERRO DO PADRE VIEIRA

Baldaquim: do Italiano baldacchino. Designa dossel com colunas e cortinas para embelezar tronos, carruagens, andores, tálamos conjugais ou simples camas, importado de Bagdá, que em Italiano antigo se chamava Baldac. O famoso orador luso-brasileiro Antonio Vieira (1608-1697), descrevendo o baldaquim do rei Salomão (século X a.C.), cujo nome quer dizer Pacífico, do mesmo étimo de Shalom, paz, chama-o carroça e diz que os pés reais se apoiavam sobre uma representação da caridade, para mostrar que também esta virtude está submetida aos reis. Ele deve ter lido uma tradução equivocada. Os originais do trecho citado, o Cântico dos Cânticos, tanto em Hebraico, como em Grego e em Latim, informam que “as filhas de Jerusalém enfeitaram com amor o revestimento do tálamo”. Antigos estudiosos da Bíblia evitavam traduzir o Latim charitas por amor.Preferiam caridade. Mas nas epístolas de São Paulo (10-67) o Latim charitas é traduzido amor: “Ainda que eu falasse todas as línguas do mundo, sem amor eu nada seria”. Criado: do Latim creatus, uma das primeiras palavras a entrar para a língua portuguesa designando a pessoa que, nascida de servidores ou agregados dos palácios e residências nobres, era criada, alimentada e educada no próprio local, fazendo serviços domésticos. Por humildade e cortesia, entrou para a forma de tratamento nas apresentações: “Fulano de Tal, seu criado”, expressão em desuso. Entre valetes, garçons, camareiras, cavalariços e demais serviçais, havia tipos como a criada invejosa e malévola, o genro metido a besta, a avó sem papas na língua, o homossexual enrustido e o mordomo pelego, às vezes caricaturados em romances e até em seriados, de que é exemplo Downton Abbey, sucesso da televisão inglesa, ora em exibição também no Brasil. Garrafal: de garrafa, de origem controversa, do Árabe giraf ou do Árabe-Persa garába, designando vasilha para transporte de grãos e de líquidos. No Português do Brasil, garrafa ensejou garrafal, adjetivo de dois gêneros para qualificar algo grande, como no caso das manchetes dos jornais ou em qualquer texto com letras bem maiores do que as outras, letras garrafais. É que, no começo da imprensa tipográfica, na fabricação dos títulos das notícias eram usados de modelo os rótulos das garrafas. Garrafão designa também um jogo de pega-pega no qual um participante faz as vezes de rolha, interditando a entrada dos outros em certa área. E no basquete o garrafão leva este nome porque aquele espaço semelha uma garrafa bem grande. Mordomo: do Latim medieval maiore domus, o criado mais importante da casa, chefe de empregados como camareiros, valetes e cozinheiros, entretanto acima da governanta, quando esta se fazia presente e não administrava sozinha a casa, fixando-se, então, como chefe das criadas que trabalhavam no interior das residências e dos palácios, chamadas camareiras, por arrumarem a câmara, do Latim camera, depois quarto, de quartus, de início a quarta parte da casa. Quantificar: de quant, étimo do Latim quantus, quanto, mais a alteração de fazer, do Latim facere e ficere, tornados ficare e depois ficar como elemento de composição, de que são exemplos classificar, simplificar e fortificar. No Português ocorre com frequência a quantificação semântica, como nas expressões “trocar seis por meia dúzia”, “são outros quinhentos” e “cheio de nove horas”. Zeugma: do Grego zeugma, vínculo, ligação. A figura de linguagem provavelmente foi inspirada em instrumento musical da Grécia antiga, composto de duas flautas reunidas, denominado Zeûgos. No zeugma se diz mais com menos palavras, pela supressão de algumas, que expressas antes, na mesma frase ou oração, não precisam ser repetidas. Bom exemplo de zeugma está no Sermão da Primeira Sexta-feira da Quaresma, do padre Antonio Vieira, ao descrever o baldaquim no qual o rei Salomão desfilava por Jerusalém nos dias solenes: “A matéria era dos lenhos mais preciosos e cheirosos do Líbano, as colunas de prata, o trono de ouro, as almofadas de púrpura, e no estrado onde punha os pés estava esculpida a caridade”. Por economia, regra de elegância, mesmo num autor de estilo copioso como o dele, o verbo ser (era) foi omitido três vezes.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

LERNER, DANTE, ELICIO: A MORTE SE VAI

O cartunista, romancista e cronista Dante Mendonça me convida para almoçar com Jaime Lerner. Está frio em Curitiba, é sexta-feira, dia 16 de agosto de 2013, e minha coluna na Bandnews foi transferida de ontem para hoje. “Está bem, Dante, mas primeiro a obrigação, depois o prazer”. Na Rádio Bandnews, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, um homem cuja conversa clara admiro, explica a Ricardo Boechat por que razão os professores do Rio de Janeiro, cuja rede tem 700 000 alunos, estão em greve e o que ele pode fazer diante do problema. O prefeito Eduardo Paes falou bastante, e o programa, que já não pôde ir ao ar ontem, vai atrasar de novo. Meu programa na Band é as 2as e 4as feiras às 20h15, e às 5as feiras à 10h, mas hoje, em nome das explicações do prefeito, será às 11h de sexta-feira.
Na minha alma ainda está o telefonema da Elia de Cresci, filha de Cyntia e Elicio de Cresci. A menina me ligou na madrugada para dizer que seu pai morreu na Santa Casa de Misericórdia de São Carlos e pede desculpas por me ligar no meio da na madrugada. Tem na alma a mesma delicadeza de menina que crescia brincando com minha filha. Pede desculpas por me acordar para avisar que o pai morreu! São 3h da manhã. Posto no Facebook a mensagem. “Curtir” e “compartilhar” são agora os verbos mais acionados. Vejo que minha amiga Ariane Zanon está acordada, como tantos outros. Quanta gente madruga, meu Deus! Os dias da semana passaram rapidamente. Agora é sexta-feira e estou à mesa com Jaime Lerner e demais amigos. Digo: ”Jaime, você não deve lembrar-se, mas eu bebericava com você nas noites frias de Curitiba nos anos 70, na Rua Quinze de Novembro”. “Lembro, sim”, me diz Jaime Lerner, ao lado de Maí e Dante Mendonça, “desde a primeira vez que nos reencontramos”. Jaime sugere uma bisteca, que ele come quase crua, com massa e temperos divinos. Tomamos um vinho muito bom, a 14% de álcool, cujo nome agora me escapa. O garçom ainda traz arroz doce de sobremesa, depois um grapa, antecedida apenas pelo cafezinho.
Já estamos na sobremesa quando me liga o Carlos Augusto Lacerda, neto de Carlos Lacerda, que me diz: “Não me pergunte como é que eu sei que eu sei que você está almoçando com o Jaime Lerner”. E acrescenta: “O Jaime Lerner vai ou não vai coordenar a coleção de arquitetura?”. Maí e Pedro, seu filho, pedem para se retirar, têm um compromisso. Ficamos a sós. Jaime rememora os anos 70 em Paris estudando arquitetura antes de voltar a Curitiba e assumir a reorganização da cidade que tornou modelo para o mundo. Continua frio. Vou a uma galeria, depois de me despedir de Jaime Lerner, e quem encontro lá? O capista de meu primeiro livro, Estudo sobre a carne humana. Ele se chama Retamozzo. E cadê Elicio de Cresci? Era meu querido amigo, falei dele no Facebook e aqui me calo! Ele morreu esta semana. Saudades! Dr, Paulo Scanavez me pergunta: “vai escrever sobre o Elicio? Seria bela homenagem”. Não consegui por ora! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, doutor em Letras pela USP (xx).

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ETIMOLOGIA DE APLICATIVO, HACKER, RETRATAR ETC.

Aplicativo: de aplicar, do Latim applicare, aproximar, abordar, ligado ao étimo de plectere, entrelaçar, unir. Designa programa de computador ou de telefone celular capaz de reduzir ou simplificar determinada tarefa do usuário. São exemplos de aplicativos a busca de passagens de todas as empresas, reunidas num site, e a leitura de muitas revistas, jornais e periódicos a partir de um único endereço eletrônico. O Colab é brasileiro e foi eleito o melhor aplicativo urbano do mundo. Seu objetivo é melhorar os serviços públicos. Fototeca: dos compostos foto e teca, do Grego photós, luz, e theke, caixa, depósito, como em biblioteca, de biblos, livro, e theke. Nem todas as famílias têm bibliotecas, mas a maioria já tem fototecas. No livro Famílias em Imagens, de autoria coletiva, publicado pela Fundação Getúlio Vargas e organizado por Bárbara Copque, Clarice Ehlers Pexito e Gleice Mattos Luz, escreve Fabiana Bruno, uma das autoras: “Quando tiramos fotos ou as deixamos aos cuidados dos outros, é, na maioria dos casos, para guardar a lembrança de acontecimentos, de encontros ou momentos rituais de todo tipo que acompanham nossas vidas”.
Hacker: do Inglês hacker, palavra ainda não aportuguesada, embora já exista o verbo raquear, uma vez que o “h” inicial do Inglês é aspirado. Hack é brecha em Inglês. O hacker é quem invade computadores à distância,descobrindo ou evitando as senhas dos sistemas de proteção da privacidade. Um dos mais famosos hackers é Kevin Mitnick (50), que enganou e raqueou até agentes do FBI, mas acabou preso. Cometeu os primeiros crimes quando tinha só 17 anos e invadiu o computador da escola para alterar notas. Hoje solto, escreveu em parceria de William L. Simon o livro Fantasma no Sistema. Juventude: do Latim Juventus, nome de uma deusa pagã que protegia os jovens. No Português, as palavras ligadas a juventude ou dela derivadas foram mescladas com outras, de outra origem, mas ligadas igualmente a deuses pagãos, como o deus Jovis, origem de jovem e jovial. As sociedades antigas foram mais rurais do que urbanas. Ao contrário de hoje, quando a maioria das pessoas mora em cidades, o povo morava na roça. Paganus, em Latim, quer dizer rural, rústico, simples. Por isso erudito é o ex-rude, aquele cuja cultura vai além da cultura da terra e do corpo, que cultiva também o espírito.
Mimeógrafo: do Inglês mimeograph, palavra formada pelos compostos gregos mimeo, de mimesis, imitação, e graph, de grapho, escrever. Designa aparelho que fazia as vezes das atuais impressoras. Foi inventado pelo norte-americano Thomas Alva Edison (1847- 1931), que obteve sua patente em 8 de agosto de 1876. As cópias eram feitas a partir de matriz perfurada em estêncil, do Inglês stencil, enfeitar com cores vivas. As matrizes eram umedecidas com álcool.
Política: do Grego politiké pelo Latim tardio politica, designando a organização da pólis, cidade, que em Latim é urbs, da qual vem a palavra urbano. Já a forma de organizá-la era resumida na palavra latina politia, que deu polícia em Português e mais tarde veio a designar apenas parte das forças de segurança, depois desdobradas em polícia civil e militar. Com o crescimento das grandes aglomerações urbanas, a pólis e a urbis tornaram-se cidades-Estados, e o próprio país passou a ser conhecido pelos nomes de suas maiores cidades: Atenas e Roma são bons exemplos do novo conceito. Atualmente, política designa o modo de conduzir a vida pública em seus vários setores, mas seu significado mais comum dá-se quando são englobados os três poderes e tudo que eles representam: Executivo, Legislativo e Judiciário. Retratar: do Latim retractare, fazer novo trato, retirar o que se disse antes, voltar atrás, pedir desculpas, corrigir ou emendar o que se disse ou se fez por engano. A palavra entrou para a língua portuguesa no século XV, mas dali a pouco mais de 100 anos ganhou outro significado: representar, em pintura ou desenho, a figura de alguém. De início apenas santos, personagens nobres ou eclesiásticos eram retratados, mas no século XVII começaram a ter vez os retratos profanos. No século XIX, com a criação da fotografia, os retratos deixaram de ser obra de pintores.

QUERIDO DIÁRIO

De volta ao Rio, deixei São Carlos na madrugada de quinta-feira passada, depois de ministrar oficina literária no Sesc, dar uns conselhos de irmão mais velho ao meu amigo Ney Vilela, Secretário da Cultura nesta promissora gestão do prefeito Paulo Altomani, meu ex-colega de padaria, como o Secretário de Ciência e Tecnologia, José Galizia Tundisi. Um bom modo de julgar um prefeito é ver a qualidade das pessoas das quais se cerca. E este começou bem! E é claro que os bons têm que fazer, senão os maus fazem...o mal! Ou impedem que o bem seja feito!
Depois fui ao SUS, aquele lugar aonde a maioria dos políticos não vai, pois para a renovação de meus planos de saúde me exigem meu número no SUS. E na Adufscar constatei que uma das funcionárias, a Regina, bibliotecária de profissão, leu todos os meus livros! Quantas pessoas em São Carlos podem dizer isso? Nem eu! Eu os escrevi. Não os li! Salve, Regina! Na véspera tinha havido uma tertúlia muito agradável com o juiz Paulo Scanavez, na companhia de seus dulcíssimos familiares e de amigos que admiro há tempos, como o meu colega de Ufscar, o Edgar Zanotto, que deu consultoria até para o Vaticano no caso da santa de Ferraz de Vasconcelos que chorava num vidro. Eu só revisei o texto e o li no original, o que considerei um privilégio. Edgar Zanotto cortou o barato dos que acreditavam no milagre ao demonstrar que a santa não chorava...Poxa, Edgar, deixa a santa chorar! Ainda bem que pediram para o Edgar o parecer. Se o pedissem para mim, eu demonstraria que a santa chorava e que precisávamos exportar suas lágrimas! E proporia à presidente Dilma uma bolsa-lágrima. Você chora? Ganha um salário mínimo por mês! Mas se ganhar essa quantia, você vai chorar mesmo...E essas lágrimas, sim, serão verdadeiras! De quebra conheci o José Guilherme Sabe, Doutor em Mecatrônica, Robótica, algo assim, pois este é um ramo das ciências ocultas, como a Feitiçaria e os Despachos nas Encruzilhadas, ou ao menos ocultas para mim, que nada entendo do que fazem Zanotto e Sebe.
E o Zanotto ainda nos mostrou um robô que limpa toda a casa, até debaixo dos sofás e móveis, sem fio nenhum, e quando termina a energia, vai sozinho à tomada e se recarrega! Se inventarem um escritor assim, adeus para essas crônicas... Parei em Cunha (SP) para visitar meu querido amigo Moacir Japiassu, um dos maiores jornalistas do Brasil e um escritor de mão-cheia, autor de vários livros, entre os quais os romances A Santa do Cabaré, Concerto para Paixão e Desatino, Quando Alegre Partiste.
E, para concluir esta crônica, veja a indicação do sítio do meu amigo: “no armazém onde a mulher do cara foi morta a facadas por um usuário de crack, você dobra à direita, ao lado de uma igrejinha”. Uns fazem ciência, outros escrevem, outros dão batente na Justiça, em empresas, escolas, universidades etc. Outros rezam em igrejinhas como aquela. Pois algo sempre deve ser feito! Senão, o Mal vence! º Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, doutor em Letras pela USP (xx).

domingo, 4 de agosto de 2013

LITUÂNIA: REI KARALIUS MINDAUGAS

FOI NO ENCONTRO COM OS ALMIRANTES NO CLUBE NAVAL, POR OCASIÃO DA PALESTRA QUE ALI MINISTREI EM 30 DE JULHO DE 2013, QUE FIQUEI SABENDO, POR MILI MINDAUGAS, DO REI KARALIUS MINDAUGAS, QUE FEZ BONITO NA LITUÂNIA NO SÉCULO XIII. KARALIUS, NA LÍNGUA DO PAÍS, É REI. A ETIMOLOGIA É A MESMA: DO GREGO CHARAX, PALANQUE ONDE SE APOIA A VIDEIRA, PELO LATIM CHARACULUS, AO PORTUGUÊS CARALHO, QUE GANHOU TAMBÉM O SIGNIFICADO DE MASTRO, PELA FIRMEZA SEMELHANTE À DO PALANQUE. NO PORTUGUÊS TORNOU-SE PALAVRÃO, AO DESIGNAR O PÊNIS.QUANTA PRETENSÃO MASCULINA NA METÁFORA. A FIRMEZA É EVENTUAL...O NORMAL NÃO É POSIÇÃO QUE TEM PRÍAPO, É O DESCANSO. ABAIXO, TRECHO DE UM TEXTO ITALIANO SOBRE O DITO REI.
Mindaugas governò la Lituania come granduca (kunigaikštis) dal 1236 ca. e come unico re (karalius) dal 1253, finché non rinunciò alla sua cristianità nel 1262 e divenne nuovamente granduca dei lituani. Egli riunì i locali ducati tribali, conquistò la Rutenia Nera e spostò la sua corte a Navahrudak (nell'attuale Bielorussia). Mindaugas e sua moglie Marta vennero battezzati attorno al 1252 dal vescovo di Kulm alla presenza del Maestro dell'Ordine Teutonico. Un membro dell'ordine di nome Cristiano venne consacrato come primo vescovo di Lituania. Le popolazioni baltiche continuarono a resistere alla conversione, e dopo la sconfitta da parte di forze pagane nel 1260, Mindaugas rinunciò alla cristianità. Venne ucciso da suo nipote Treniota e dal duca Daumantas di Nalšia. Sotto l'usurpatore Treniota, di forti convincimenti pagani, la nazione riabbracciò il paganesimo fino alla conversione avvenuta nel 1386 del granduca Jogaila. Solo con Gediminas, granduca dal 1316, ebbe inizio la rinascita della Lituania. Mentre gran parte dei granduchi lituani da Jogaila in avanti regnarono anche sulla Polonia, i due titoli rimasero separati, e Mindaugas rimase l'unico re della storia della Lituania.

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR, MAIS NADA

O sapateiro não pode ir além das sandálias, disse o pintor grego Apeles. Ele expôs à porta do ateliê uma pintura sua e ficou escondido atrás dela para ouvir os comentários de quem passava. Passou um sapateiro, olhou para o quadro e disse que a sandália de uma das figuras tinha um defeito. À noite, o pintor, reconhecendo a crítica, consertou o quadro. No dia seguinte, o mesmo sapateiro passou de novo, percebeu que o artista havia corrigido o quadro e disse que na perna da figura havia outro erro. Apeles saiu detrás do quadro e disse: "o sapateiro não pode ir além da sandália". A frase tornou-se famosa para expressar os comentários feitos por quem não entende do assunto que comenta ou critica.
Deu-se algo parecido no Rio na semana passada. O local inicialmente previsto para a realização da Jornada Mundial da Juventude é conhecido pelo nome de Campus Fidei. Ocorre que muitos a ele se referiram como “campus fidêi”. E algumas pessoas escreveram às emissoras de rádio e televisão para corrigi-las. No caso, tentavam corrigir o certo, pois na Bandnews, por exemplo, todos pronunciaram “campus fídei, a forma correta. Por que quem não sabe nem Português direito, quer corrigir Latim? Porque brasileiro acha que entende de tudo, sem estudar! Se está num cargo, se dá mais importância ainda. A propósito, que saberes reúnem muitas autoridades para exercerem os cargos que exercem? Às vezes nenhum! No caso dos “ministros” e auxiliares do Papa, lembremos que um cardeal sabe ao menos quatro ou cinco línguas, é um homem culto. A Igreja tem quadros muito qualificados na sua alta hierarquia. Tudo ao contrário do poder civil no Brasil, no caso específico do Legislativo e do Executivo, porque no Judiciário, no Ministério Público e em outras esferas, como a docência e a pesquisa, os cargos são preenchidos por concurso público! O étimo de “fídei” está também em confiança. Há muitas outras palavras do mesmo étimo na vida cotidiana do brasileiro. Fiador é aquele que garante o pagamento de outrem, dando confiança ao credor. “Fiel depositário” e “alienação fiduciária” procedem igualmente do mesmo étimo de “fides”, fé.
Também o dinheiro envolve questões de fé. Dinheiro veio do Latim denarius, moeda do império romano. Moeda veio igualmente do Latim moneta, redução do nome da deusa Juno Moneta, em cujo templo eram cunhadas e guardadas as moedas, que eram de bronze, de prata ou de ouro, categorias ainda hoje usadas nas olimpíadas..
Um denarius valia dez asses. Um sestercius de prata valia um asse e meio. O imperador Júlio César deu a uma de sua amantes seis mil sestércios de prata! Era muito denarius, mas era dele! Não fez como tantos políticos brasileiros que premiam suas amantes com recursos públicos. Certa vez mostraram a Jesus um denarius com a efígie do imperador Tibério César, ensejando que nos ensinasse a fazer diferenças: “dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. º Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, doutor em Letras pela USP (xx).

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

ETIMOLOGIA DE BRONCA, NOME, COGNOME, TRAGÉDIA

Antropônimo: dos compostos do Grego ánthropos e onimia, designando características próprias do homem. No Grego, usa-se ánthropos em oposição aos deuses; em oposição a gynaikos, mulher, é ándros, do qual vêm ginecologia e andrologia. Nomes de homens vieram para os dicionários como substantivos ou adjetivos, de que são exemplos crasso, como em “erro crasso”, vinculado ao general romano Marco Licínio Crasso (115 a 53 a.C.), que fez um erro estratégico de consequências devastadoras em ataque aos partos, originando a expressão, e sardanápalo e sardanapalesco, designando homem rico, devasso, glutão, por influência dos conhecimentos históricos sobre o rei assírio Sardanápalo (século VII a.C.). Às vezes, figuras de linguagem como a sinédoque e a metonímia aparecem em frases com antropônimos. A palavra antropônimo foi criada pelo filólogo português José Leite de Vasconcelos (1858-1941). Bronca: de bronco, do Latim vulgar bruncus, talvez mistura de brocchus, pontudo, com truncus, tronco, que deu também brocca, broca, nessa variante popular do Latim clássico. Por metáfora, a discussão em que a voz é elevada e alterada, tornando-se de sonoridade rude e áspera, passou a ser denominada por comparação a coisa que machuca, como no caso dos objetos pontudos. Os sinônimos de bronco são boçal, ignorante, labrego, lorpa, bordegão, néscio, panaca, chulo, ignaro, provinciano, mazorrão, saloio, simplório, xucro, tolo, chambão, embora apareçam mais do que outros na vida cotidiana. Já bronquite deriva do Grego brógkhion, ligado a brógkhos, e designa inflamação da traqueia-artéria. O termo original é Bronchitis, palavra criada pelo médico alemão Johann Peter Frank (1745-1821). Cognome: do Latim cognomen, a partir de cum, com, nomen, como nome, constituindo em terceiro nome. Na antiga Grécia, eram usuais nomes teofóricos, vinculados a deuses, como Apolônio e Dionísio; ou os que referiam localidades, profissões, qualidades físicas ou morais, como Édipo (Oídipous, pés furados) e Platão (Plato, de ombros largos), mas no começo era costume pôr no menino só o nome do avô. Na Roma antiga começaram com um nome e chegaram a três, às vezes acrescentando também alguma referência a localidades, como em Públio Cornélio Cipião, o Africano (235-183 a.C.), comandante das tropas romanas que venceram o general cartaginês Aníbal (247-183 a.C.) na África. Esta última denominação era chamada cognomen, cognome, predominante no Renascimento, como Leonardo Da Vinci (1452-1519) e Erasmo de Rotterdam (1469-1536). Nome: do Latim nomen. Designa mais frequentemente o nome de batismo ou de registro civil da pessoa, mas há algumas curiosidades. O mais bem-humorado e sagaz professor e historiador gaúcho, Voltaire Schilling (68), protagonista de aulas e conferências lotadas de interessados, pois ninguém quer perdê-las, já agraciado com a Ordem Nacional do Mérito, concedida pelo governo francês a personalidades que se destacam na divulgação da cultura francesa no mundo, foi registrado como Antônio na pia batismal: o padre recusou-se a dar ao menino o nome de “um inimigo da Igreja”, o filósofo francês Voltaire, nascido François Marie Arouet (1694-1778). Sardanapalesco: de Sardanápalo, do Grego Sardanápallos pelo Latim Sardanapalus, lendário rei da Assíria. Nos dicionários de Português da pátria-mãe, o verbete é sardanápalo, à semelhança de outras palavras vindas de antropônimos. A Morte de Sardanápalo, do pintor francês Ferdinand-Victor-Eugène Delacroix (1798-1863), é um dos quadros mais vistos no Museu do Louvre, em Paris. Tragédia: do Grego tragoidía pelo Latim tragoedia. Os étimos dessas palavras são o Grego trágos, bode, e oidé, ode, canção. Isto porque nesse gênero de peça de teatro, na antiga Grécia, no ritual ao deus Dioniso, enquanto o coro cantava, era sacrificado um bode. Fora do teatro, tragédias serviram a grandes obras de arte. Nas tragédias, o final é infeliz. Do teatro, a palavra veio para a vida cotidiana para designar acontecimentos tristes, funestos, geralmente com muitas mortes.