NOME DE POBRE NO BRASIL

domingo, 4 de agosto de 2013

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR, MAIS NADA

O sapateiro não pode ir além das sandálias, disse o pintor grego Apeles. Ele expôs à porta do ateliê uma pintura sua e ficou escondido atrás dela para ouvir os comentários de quem passava. Passou um sapateiro, olhou para o quadro e disse que a sandália de uma das figuras tinha um defeito. À noite, o pintor, reconhecendo a crítica, consertou o quadro. No dia seguinte, o mesmo sapateiro passou de novo, percebeu que o artista havia corrigido o quadro e disse que na perna da figura havia outro erro. Apeles saiu detrás do quadro e disse: "o sapateiro não pode ir além da sandália". A frase tornou-se famosa para expressar os comentários feitos por quem não entende do assunto que comenta ou critica.
Deu-se algo parecido no Rio na semana passada. O local inicialmente previsto para a realização da Jornada Mundial da Juventude é conhecido pelo nome de Campus Fidei. Ocorre que muitos a ele se referiram como “campus fidêi”. E algumas pessoas escreveram às emissoras de rádio e televisão para corrigi-las. No caso, tentavam corrigir o certo, pois na Bandnews, por exemplo, todos pronunciaram “campus fídei, a forma correta. Por que quem não sabe nem Português direito, quer corrigir Latim? Porque brasileiro acha que entende de tudo, sem estudar! Se está num cargo, se dá mais importância ainda. A propósito, que saberes reúnem muitas autoridades para exercerem os cargos que exercem? Às vezes nenhum! No caso dos “ministros” e auxiliares do Papa, lembremos que um cardeal sabe ao menos quatro ou cinco línguas, é um homem culto. A Igreja tem quadros muito qualificados na sua alta hierarquia. Tudo ao contrário do poder civil no Brasil, no caso específico do Legislativo e do Executivo, porque no Judiciário, no Ministério Público e em outras esferas, como a docência e a pesquisa, os cargos são preenchidos por concurso público! O étimo de “fídei” está também em confiança. Há muitas outras palavras do mesmo étimo na vida cotidiana do brasileiro. Fiador é aquele que garante o pagamento de outrem, dando confiança ao credor. “Fiel depositário” e “alienação fiduciária” procedem igualmente do mesmo étimo de “fides”, fé.
Também o dinheiro envolve questões de fé. Dinheiro veio do Latim denarius, moeda do império romano. Moeda veio igualmente do Latim moneta, redução do nome da deusa Juno Moneta, em cujo templo eram cunhadas e guardadas as moedas, que eram de bronze, de prata ou de ouro, categorias ainda hoje usadas nas olimpíadas..
Um denarius valia dez asses. Um sestercius de prata valia um asse e meio. O imperador Júlio César deu a uma de sua amantes seis mil sestércios de prata! Era muito denarius, mas era dele! Não fez como tantos políticos brasileiros que premiam suas amantes com recursos públicos. Certa vez mostraram a Jesus um denarius com a efígie do imperador Tibério César, ensejando que nos ensinasse a fazer diferenças: “dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. º Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, doutor em Letras pela USP (xx).

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