NOME DE POBRE NO BRASIL
sábado, 8 de dezembro de 2012
A VIDA BREVE DAS SIRIGAITAS
“Vai cuidar da tua mulher, sirigaita essa polaca,/Namora com meio mundo e te botou chapéu-de-vaca”. Assim cantava a dupla gaúcha Kleiton e Kledir, nos anos 80.
Não temos o masculino de sirigaita, nem seu equivalente. O mais próximo é galinha, aplicado tanto à mulher quanto ao homem. Sirigaita é o tratamento popular mais leve para a namorada do homem casado.
A semana que passou trouxe à baila a namorada do ex-presidente Lula. A ex-primeira dama emudeceu. O marido também.
Não temos um livro sobre as primeiras-damas, mas não faltam histórias sobre elas. Ao que sabe, a maioria teve vida exemplar. Nair de Tefé von Hoonholtz desposou o presidente Hermes da Fonseca em 1913, um ano depois de ele enviuvar. Era 27 anos mais nova do que ele. Estava com 37 quando enviuvou também. E jamais se casou outra vez, morrendo em Petrópolis, em 1981, aos 95 anos. Seu marido morrera em 1923, aos 68 anos.
O padrão de comportamento das esposas dos governantes foi fixado ainda antes de Cristo com estonteante claridade por Júlio César, um dos homens mais poderosos de todos os tempos, ao separar-se de Pompeia, sua segunda mulher (a primeira chamou-se Cornélia) e casar-se com Calpúrnia, terceira e última. Nada foi provado contra Pompeia, mas ainda assim ela foi repudiada.
Como espécie de primeira-dama, Pompeia estava encarregada de organizar os festejos sagrados da Bona Dea (Boa Deusa), exclusivo para mulheres. Um homem vestiu-se de mulher e entrou na festa. O ato foi considerado uma violação das leis. César reconheceu que Pompeia não teve culpa alguma, mas proferiu a frase famosa, dali por diante usada não apenas em relação à mulher, mas ao poder: “Não basta à mulher de César ser honesta, ela deve parecer honesta.”
Seu marido não tinha outra, tinha outros. Mas seus soldados não cantavam os versos de Kleiton e Kledir: “Teu nome é Júlio César, mas te chamam de Odete/ De dia tu é muito macho, de noite vira gilete”. Pois nos campos de batalha mostrava que essa opção sexual não lhe diminuía a coragem. Punha seu manto de púrpura e montava num cavalo branco para deixar bem visível o lugar que ocupava na batalha. Era realmente um líder.
Na guerra civil recomendou a seus soldados veteranos que ferissem no rosto os jovens comandados por Pompeu. Ele sabia que os moços eram vaidosos da aparência e não queriam deformar as frescas faces nas batalhas. E César mais uma vez venceu.
Ele só não venceu a traição. Morreu cravado de punhais dos amigos da base aliada, depois de desprezar os presságios da matriz, Calpúrnia, que tivera sonhos sanguinolentos com ele.
No governo Collor, a sirigaita de um ministro foi outra ministra. A sirigaita do então presidente do Senado, Renan Calheiros, posou para a Playboy e ganhou um bom dinheiro mostrando a todos o que somente o senador via. Agora chegou a vez da sirigaita de Lula.
A vida é breve para as sirigaitas. Dura somente até o próximo escândalo. (xx)
• Autor de Lotte &Zweig, prêmio de melhor romance do ano da Academia Catarinense de Letras.
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