NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

PÃO, VINHO, AZEITE E ALFABETO

Escrevi semana passada sobre uma história meio doida e encantadora: a presença dos fenícios no Brasil, sete séculos antes da descoberta oficial do país por Pedro Álvares Cabral. Mas quem eram os fenícios? O que mais sabemos deles é que foram os inventores de um alfabeto que depois serviu a muitos outros idiomas. A Fenícia ficava no Norte da Palestina, em territórios hoje ocupados pela Síria e pelo Líbano. Desde que ali se fixaram, os fenícios se dedicaram à cultura de cereais (pão), videiras (vinho), oliveiras (azeite), pesca e artesanato. A proximidade do mar e o comércio agrícola com os egípcios foram decisivos para deflagrar um ciclo de navegações, amparadas por cidades-estado surgidas ao longo da costa, como Biblos, Tiro, Sídon e Ugarit, cada uma delas com um governo autônomo para as questões políticas e administrativas. Todas eram dirigidas pela elite que dominava o comércio marítimo. O regime de governo era uma talassocracia, ou seja, um governo comandado por homens ligados ao mar. O domínio de rotas comerciais, anteriormente controlada pelos habitantes de Creta, remonta a pelo menos o ano 1500 a.C., mas é por volta do ano 100 a.C. que os centros urbanos da Fenícia chegam ao auge, quando contaram também com o apoio dos hebreus. Tendo se exacerbado a concorrência com os gregos, os comerciantes de Tiro buscaram o comércio com regiões do Norte da África e da Península Ibérica, onde depois surgiriam Espanha e Portugal. Dentre as contribuições dos fenícios tiveram destaque os avanços em astronomia e as técnicas de navegação necessárias à prática comercial. No campo religioso, os fenícios incorporaram o politeísmo das sociedades antigas, então predominante. Baal, cujos adoradores são duramente criticados por Moisés no episódio do bezerro de ouro (uma ode à pecuária), era o deus associado ao sol e às chuvas. Aliyan, seu filho, era a divindade das fontes. Astarteia era a deusa da riqueza e da fecundidade. Os fenícios não eram guerreiros. Tampouco tinha projeto de descobrir novas terras. O que eles queriam era navegar com o fim de abrir novos entrepostos comerciais. Assim, visitaram toda a orla mediterrânea da Europa e com suas formidáveis frotas comerciais penetraram no Mar Negro, percorreram a costa setentrional da África, atravessaram o Atlântico e visitaram um “Novo Continente”. O historiador Diodoro da Sicília (séc. I a.C.) escreveu que navegadores fenícios foram levados por fortes tempestades e correntezas a uma grande ilha, de praias lindas, rios navegáveis, muitas serras no interior, cobertas por imensas florestas e, graças a um clima ameno, abundante em frutas, caça e peixe, usufruídos por uma população pacífica e inteligente”. Era o Brasil! • Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.

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