NOME DE POBRE NO BRASIL

sábado, 20 de outubro de 2012

DEU BODE NA AVENIDA BRASIL

Somos herdeiros da civilização greco-romana. Na antiga Grécia, muitas noites eram ocupadas com o teatro, edifício referencial da cidade-estado. Ali eram representados os dramas e as comédias da vida cotidiana. Hoje, tudo isso passa na televisão. Isto é, havia novela das oito em Atenas, com outros autores, outros personagens, outras tramas e outros espectadores. A tragédia infundia terror e piedade no público. Tragédia veio do Grego tragoides, bode. Nas tragédias, era morto um bode para expiar as culpas de todos, pois a função primordial do teatro era fazer a kátharsis, purificação, palavra que designava também a menstruação, pois menstruar é purificar-se todo mês. O latim mens, mês, está presente no verbo. Para mostrar que do destino ninguém escapava, Sófocles (João Emanuel Carneiro da Grécia antiga) faz com que Édipo, cujo destino era matar o pai e casar-se com a mãe, faça isso sem saber. Laio, seu pai, fica sabendo da profecia. Manda, então, furar os pés do menino (Édipo, em grego, quer dizer pés inchados) e jogá-lo de um penhasco. A mãe, Jocasta, entrega a criança a um pastor. O menino acaba sendo adotado por Políbio, rei de Corinto, e por Mérope, sua esposa. Já adulto, Édipo vem a saber pelo oráculo que seu destino é matar o pai e desposar a mãe. Aterrorizado, deixa a casa onde mora, muda de cidade, com o fim de evitar o destino. Mas alguém escapa do destino? Fugindo do destino, numa encruzilhada ele mata Laio, que ele não sabe quem é, e ao chegar a Tebas vence o concurso respondendo corretamente a uma pergunta da Esfinge: qual o animal que de manhã anda com quatro pés, ao meio-dia com dois e à tarde com três? Ele responde que é o homem: quando criança, engatinha (quatro); crescido, anda de pé (dois); velho, usa uma bengala (três). O prêmio é casar-se com a viúva do rei Laio. A viúva é Jocasta, sua mãe. Tempos depois, já pai de quatro filhos, que na verdade são seus irmãos, vemos Édipo governando a cidade-estado de Tebas com sabedoria e justiça. Mas irrompe então uma série de desgraças: peste do gado, fome, péssimas colheitas, mortalidade infantil etc. O oráculo é consultado e responde que a causa de todos os flagelos é que em Tebas vive um homem que matou o pai para casar-se com a mãe. Governante bom e justo, Édipo determina que o culpado seja encontrado. É quando o adivinho Tirésias revela que o culpado é ele, Édipo. Jocasta, apavorada, se suicida. Édipo, que prometera punir o assassino, fura os próprios olhos. Este é o desfecho. A redenção pelo sofrimento. Semelhando as tragédias da Grécia antiga, depois de cumprir três anos na cadeia pelo assassinato de Max, Carminha volta para o lixão, de onde veio, para recomeçar a vida. Logo vai começar outra novela, isto é, recomeçar. Desde a antiga Grécia, a história é quase a mesma. Só mudam os modos de narrar! Os temas são eternos! (xx) • O autor é escritor e Doutor em Letras pela USP, tem 35 livros publicados (alguns traduzidos em diversos países) e é Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio.

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