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sexta-feira, 30 de maio de 2014

O SEXO DO CLERO: FIM DO CELIBATO?

"Aos vinte anos, reina a vontade: aos trinta, a inteligência; aos quarenta, o discernimento". (Baltasar Gracián) Teresa d´Ávila dizia a seu confessor, o jesuíta Baltasar Gracián, além do mais um homem bonito, inteligente e culto, que tinha vontade de sexo e não ocultava isso. Dizia mais: que se sentia atraída por homens parecidos com ele, ainda que fossem seus diretores espirituais, mas que sabia lidar com isso, pois tinha sublimado essas vontades todas. Quem era esse padre? Confesso que sinto ciúmes de Teresa d´Ávila. Muitos sabem que sou apaixonado por essa santa e que escrevi um romance em que ela é a personagem solar, já adaptado para teatro. Mas é um ciúme no viés etimológico da palavra, um excesso de zelo, que, vindo do Grego “zêlos”, passou pelo Latim “zelumen”, e, vejam vocês, está presente também em “zelota”, os revolucionários que seguiam Jesus no século I de nossa era, certos de que aquele homem que expulsara vendilhões e banqueiros do templo de Jerusalém era o líder popular de quem eles mais precisavam para libertar a Palestina do jugo do poderoso império romano. Eis uma palhinha de Baltasar Gracián y Morales. Filho de médico, elevou-se literariamente à altura de Cervantes e de Quevedo, mas viu-se obrigado a escrever sob pseudônimo para escapar às perseguições. Conseguiu em parte, pois perdeu a cátedra e o direito de publicar o que escrevia, como, aliás, foi também o caso de Teresa d´Ávila, que morreu inédita. Mas o livro sempre vence, e Teresa hoje só vende menos do que a Bíblia e os livros de receita culinária, mas esses são dois tipos de leitura que sempre aparecem em qualquer classificação ou “ranking” de mais lidos. Ou pelo menos mais consultados. Gracián escrevia sobre a ética de procedimentos na vida cotidiana e sobre a arte de escrever. Seu livro de que mais gosto é “A arte da prudência”. Sim, amigos, a prudência, a par de ser uma das quatro virtudes cardeais, é uma arte! (As outras três são a justiça, a fortaleza e a temperança). Esse jesuíta espanhol influenciou Voltaire, Nietzsche, Schopenhauer e Lacan, entre muitos outros. Não foram apenas Gracián e Teresa que sofreram com o celibato. Santos que usavam cilício (cinto de preguinhos à cintura, sob o hábito), como São Jerônimo, que traduziu a Bíblia para o Latim, deixaram registrado que quanto mais se açoitavam, mais desejos tinham. Há algum tempo a psicanálise vem explicando que as penitências daquelas pessoas enclausuradas contribuíam para aumentar a excitação sexual, por buscar involuntariamente o prazer pelo sofrimento. Nos mosteiros irlandeses foi adotada a “sub introductae” (sem penetração). Monges e monjas dormiam juntos quando os conventos eram mistos para provar que eram capazes do autodomínio. A experiência, que deu certo para tantos, não deu certo para alguns, tendo resultado no nascimento de “monjinhos”, e o costume foi proibido. O papa Francisco tem dito que é preciso rever o celibato e o divórcio, ambos tabus para a Santa Madre. (xx) *escritor e professor, autor de 34 livros. Está publicado em Portugal, Cuba, Itália, Alemanha, Suécia etc. Os mais recentes são “Lotte & Zweig” e “De onde vêm as palavras (17ª edição).

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