NOME DE POBRE NO BRASIL

domingo, 18 de maio de 2014

AS ILUSÕES PERDIDAS DE TODOS NÓS

http://www.jornalpp.com.br/colunista/item/60688-as-ilusoes-perdidas-de-todos-nos
Um dos livros mais lidos do mundo não é autoajuda, não é biografia desautorizada, não tem fadas nem duendes. É um livro de economia. O título é “O capitalismo no século XXI”, do francês Thomas Piketty. Comecemos por um grande problema que afeta também o Brasil. Os muito ricos não pagam impostos. Quem paga é o pobre e a classe média. Foi isso que o governo brasileiro quis esconder ao sonegar as informações de renda aos pesquisadores de Piketty? O Brasil ficou de fora dos levantamentos. A classe média sabe que paga, pois em geral paga na fonte, no contracheque ou em outras formas de recebimento. O pobre nem sabe que paga, pois, mesmo aqueles que recebem bolsas disso e daquilo, ao comprarem água, comida, luz, remédios, roupas, brinquedos, carros etc., pagam impostos. Tudo o que compramos vem com altos impostos embutidos, depois financiadores da corrupção que assola o Brasil. Thomas Piketty propõe que as pessoas mais ricas paguem mais imposto de renda. Os EUA já tiveram alíquotas que chegaram a 90%, logo após a Segunda Guerra, mas na década de 70 começaram a cair e hoje nenhuma ultrapassa 40%. Por consequência disso, a concentração de renda passou a subir e hoje é recorde no país (o estudo de Piketty abrange um século de dados).
"Níveis muito altos de desigualdade são indesejáveis sob muitos pontos de vista - por exemplo, para o bom funcionamento das sociedades democráticas - e desnecessários para o crescimento". A equação apresentada por Thomas Pikkety e seus colegas de pesquisa não é simples, mas pode ser entendida por leigos em economia. O fator decisivo das análises que ele faz é R é maior do que G, isto é, a taxa de rendimento do capital é sempre maior do que a taxa de crescimento da produção. R já acumula 600% de G, isto é, por mais que você trabalhe e produza riquezas, jamais vai alcançar o que ganham aqueles que vivem dos rendimentos do capital. As grandes fortunas, que já eram grandes, vão ficar maiores ainda. Às custas de quem? Dos muitos que trabalham para que esses poucos fiquem cada vez mais ricos.
Se nada for feito, as desigualdades tendem a aumentar. Um bom governo seria aquele que taxasse mais o capital e menos o trabalho. Este, sim, seria um governo democrático. Se você tem alguma ilusão, dê uma olhadinha em quem vai financiar as nossas próximas eleições presidenciais, independentemente de qual seja o partido. Depois de Thomas Piketty, minha sugestão é que vocês, caros leitores desta cônica semanal, leiam ou releiam “As ilusões perdidas”, de Honoré de Balzac. O jovem escritor Deonísio da Silva/Lucien Chardon troca o interior do Brasil/França pela cidade. E ambos comprovam que a ética e a verdade não são o forte dos que mandam nas instituições onde eles trabalham. Na França de 1820 e no Brasil do século XXI a corrupção, o suborno e as trapaças vitimam a todos, às vezes até a seus algozes. PS. Na semana que passou, Soeli Maria Schreiber da Silva, Doutora em Linguística pela Unicamp e professora da UFSCar, lançou novo livro na Livraria Machado de Assis, em sessão de autógrafos como há muito tempo não se via na cidade. Parabéns! (*) Escritor e professor, autor de 34 livros. Está publicado em Portugal, Cuba, Itália, Alemanha, Suécia etc. Os mais recentes são “Lotte & Zweig” e “De onde vêm as palavras (17ª edição).

Um comentário:

  1. Excelente artigo! Evidencia o que poucos percebem: a incompetência é mais danosa que a corrupção. Os efeitos maléficos têm maior duração e levam décadas para serem corrigidos.

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