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segunda-feira, 26 de maio de 2014
RÉU, CENSURA E BIOGRAFIA: QUE QUER O "REI"?
RÉU, CENSURA E BIOGRAFIA: QUE QUER O “REI”?
DEONÍSIO DA SILVAº
Quando vocês estiverem lendo a versão impressa destas linhas, já terei feito minha palestra na 14ª Feira do Livro de Ribeirão e autografado a reedição mais recente de um livro que vende sem parar, “De onde vêm as palavras”, cujo lançamento terá sido feito na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi daquela cidade, onde terei autografado a 17ª edição.
Edwaldo Arantes, diretor do Instituto do Livro de Ribeirão Preto (SP), me pediu que desse especial atenção ao tema dos livros proibidos, da liberdade, da censura e dos censores. E que não deixasse de fora o delicioso viés etimológico de palavras estratégicas, pois os leitores têm grande interesse nesses temas.
Vamos lá. Censor e censura são palavras que entram para a língua portuguesa ainda no século XV. Biografia vai aguardar o século XIX.
Mas com que significados? Naturalmente, não o que têm hoje. Na antiga Roma, censor era o magistrado encarregado de fazer o “census” (de “censere”, declarar), cuja melhor tradução é ainda recenseamento.
Há uma referência clara sobre este ato nos Evangelhos. Jesus nasce em Belém, a 145 km de Nazaré, onde viviam seus pais, para atender ao recenseamento ordenado por Otávio Augusto, filho adotivo de seu tio-avô, Júlio César, assassinado nos idos de março de 44 a.C.
É, pois, Otávio, sucessor de Júlio César, quem está no poder quando nasce Jesus. Esse imperador orgulhou-se de ter recebido uma Roma de tijolos e legado outra, de mármore, e apoiado escritores como Virgílio, Ovídio e Horácio.
Mas o censor, que recenseava a população, registrando seus bens e propriedades, com o fim de organizar o governo, aí incluído o ato de cobrar impostos, veio a zelar pelos bons costumes, examinando obras culturais, literárias e artísticas. E a censura, que até então fazia pouco mais do que contabilidade, depois veio a cortar, repreender e proibir. A proibição é apenas um dos recursos da censura. O controle pode incluir o contrário, isto é, o elogio, o apoio etc.
O primeiro livro do jornalista e professor Paulo César Araújo sobre Roberto Carlos, “Roberto Carlos em Detalhes”, foi proibido por acordo judicial entre o editor e o cantor, de cujas tratativas foi excluído o autor, num dos mais vergonhosos atos judiciais dos anais brasileiros, perpetrado na 20ª Vara Criminal da Barra Funda, em São Paulo.
O juiz pediu autógrafo para Roberto Carlos, presente ao acordo, autografou cedê para o “Rei” e ambos posaram para fotografias com o editor. O autor, por ética, recusou-se a integrar a farsa. Fez muito bem! E agora acaba de lançar novo livro, “O Rei e o Réu: minha história com Roberto Carlos, em Detalhes”.
Em Grego, a palavra “biographía” (de “bios”, vida, e “grafos”, escrever) já existia no século VI. Mas ao Português chegará só no século XIX. Contar a vida de alguém não é fácil. Dá muito trabalho. E quando o livro é censurado, dá mais ainda (xx).
*escritor e professor, autor de 34 livros. Está publicado em Portugal, Cuba, Itália, Alemanha, Suécia etc. Os mais recentes são “Lotte & Zweig” e “De onde vêm as palavras (17ª edição).
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