NOME DE POBRE NO BRASIL
sexta-feira, 4 de abril de 2014
ZÉ DE ANCHIETA, O SANTO DA VEZ
"Era chegado o momento da execução do último francês. Para a sua desgraça, seu suplício foi aumentado por causa da incompetência do carrasco Joselito, que deu uma laçada muito malfeita. O homem se debatia pendurado pelo pescoço, sem morrer. Para dar breve fim a essa aflição, Padre Anchieta deu uma bronca no carrasco, para que fizesse direito seu trabalho. O laço foi então refeito do modo correto, e o francês finalmente morreu, tendo abreviado os seus tormentos." - See more at: http://ocatequista.com.br/archives/12684#sthash.APaT1SEL.dpuf)
Depois do café, na casa onde ele mora, na serra, nos arredores de Petrópolis, Leonardo Boff me convidou a deflagrarmos uma campanha para canonizar o profeta Gentileza.
Eu todo animado com a minha santinha, estou escrevendo sobre a catarinense Albertina Berkenbrock, já beatificada e prestes a ser canonizada, e o Boff chamando atenção para outro santo. “Ele ainda não fez nenhum milagre”, ponderei. “Ah, milagre”, me disse o meu conterrâneo, catarinense de Concórdia, “milagre a gente inventa”.
E agora o Papa Francisco resolveu canonizar o padre José de Anchieta, que estava na fila da subida aos altares há vários séculos! Não que ele quisesse ser o que sempre foi, santo, mas é que o complexo e por vezes caviloso processo de canonização é transformado em combate contra as forças patrocinadoras de certos candidatos.
Uma campanha de canonização custa caro! Mas, além dos custos orçamentários, alguma coisa a mais houve intramuros na Santa Sé para a canonização de Anchieta ser prorrogada para o dia seguinte.
Todavia esse Papa é da ponta daquele mastro onde fica a cesta da gávea e onde estava o anônimo marinheiro que descobriu o Brasil!
Viram a volta que dei para não dizer um palavrão? Mocinhas cariocas, quando admiradas de alguma coisa ou pessoa, ou apenas irritadas, dizem “caraca!” Francisco, conquanto argentino, é admirado e corajoso paca! Paca e carraca são eufemismos, modos de designar a mesma coisa.
José de Anchieta foi canonizado por decreto! Tinha que ser um jesuíta para ter um atrevimento desses e proceder como Getúlio Vargas. Negociava com o Congresso ou baixava um decreto. Assim foi criada a “Petrobrás”, que semana passada entrou para a berlinda da corrupção e perdeu o assunto por ser sigla, mas não é! Resume “petróleo” e de “brasileiro”.
E o profeta Gentileza? José Datrino, este o nome dele, era paulista de Cafelândia, onde nasceu em 1917. Tinha 11 irmãos, a família era pobre e ele ganhava a vida de carroça, vendendo lenha. Sabia como poucos amansar burros e com métodos semelhantes se disse mais tarde “amansador de burros da cidade que não tinham esclarecimento”.
Ele criou o lema “gentileza gera gentileza”, daí seu apelido. Era proprietário de vários caminhões quando um incêndio destruiu um circo em Niterói, em 17 de dezembro de 1961, matando mais de 500 pessoas. O bandido Dequinha, demitido dias antes, confessou o crime.
Destacaram-se no atendimento às vítimas um jovem médico chamado Ivo Pitanguy e José Datrino que, depois disso, vendeu tudo o que tinha e saiu às ruas pregando gentileza. Ainda hoje suas frases podem ser lidas em pilastras da Avenida Brasil, no Rio.
Homenageado em canções, o profeta Gentileza foi também personagem da telenovela “Caminho das Índias”, de 2009, representado pelo ator gaúcho Paulo José (Gómez de Sousa).
Estão na fila das canonizações: Gentileza, o padre Teixeira, que é nome de rua em São Carlos, e Albertina Boeing Berkenbrock.(xx).
• Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, autor de 34 livros publicados, vários deles traduzidos e premiados.
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A santificação do Pe.Jose de Anchieta sem ter feito milagre algum, mas que ajudou na pena de morte abreviando o sofrimento do condenado, arrumando a corda no pescoço do mesmo, é bem ilustrado em vosso comentário e mostra que o fato imperioso é de que Anchieta era um franciscano.
ResponderExcluirA santificação do Pe.Jose de Anchieta sem ter feito milagre algum, mas que ajudou na pena de morte abreviando o sofrimento do condenado, arrumando a corda no pescoço do mesmo, é bem ilustrado em vosso comentário e mostra que o fato imperioso é de que Anchieta era um franciscano.
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