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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

MAGOS: QUE REIS SÃO ELES?

No século XII, exatamente no ano 1164, chegaram à Alemanha, vindos da Itália, os restos mortais dos três reis magos. Hoje repousam num dos altares laterais da famosa Catedral de Colônia. Mas ninguém sabe de quem são aqueles ossos! Eles integram uma das mais belas lendas cristãs. Devem ser entendidos no contexto do comércio de relíquias e de indulgências, com o fim de obter recursos para a construção de catedrais. Houve mais de trinta evangelhos, quatros deles oficiais, os outros apócrifos. Todos foram escritos depois das Epístolas de São Paulo, em fins do século I. Os Evangelhos, embora tenham referências históricas, não são textos históricos. Os magos aparecem apenas no Evangelho de São Mateus, mas ele não diz que eram três, que eram reis, que tinham nomes. Diz apenas: “Tendo, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, uns magos chegaram em Jerusalém perguntando: ‘onde está o rei dos judeus, recém-nascido? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo ‘.” Este trecho é o alicerce da lenda dos reis magos. Lenda é uma palavra que vem do latim medieval legenda, vocábulo surgido para designar o modo como eram lidas as narrativas heroicas, as novelas de cavalaria e a vida de personalidades referenciais das religiões. Os narradores recolhiam o que era passado boca a boca, escreviam aquelas histórias, depois repetidas e traduzidas, com variações de estilo, de conteúdo e de personagens. Há outras lendas semelhantes na História. É verdade que o cadáver de Inês de Castro, aquela que “depois de morta foi rainha”, cujos ossos estão no mosteiro de Alcobaça, um dia foi levado em cortejo para o povo beijar-lhe as mãos? Há lendas mais recentes. Elvis Presley está vivo? Michael Jackson foi assassinado por seu médico? Tancredo Neves morreu de um tiro e não de infecção generalizada, e a repórter Glória Maria, da TV Globo, sabe disso? Lendas são construídas com elementos históricos e imaginários. Na Idade Média, o número de reis magos chegou a duzentos. Na Europa ainda hoje são vendidas miniaturas de antigos presépios com centenas de personagens, entre os quais muitos reis. Como os magos levaram três presentes ao Menino Jesus (ouro, incenso e mirra), tornaram-se três reis que foram visitar um rei recém-nascido. Magos, em Grego, designava sacerdotes que praticavam a astronomia e a astrologia. Séculos depois tinham nomes: Melquior, Gaspar e Baltasar, cada um deles com uma das três cores básicas da raça humana (branca, amarela, negra)! Lenda não é mentira. É um modo de contar. Mateus diz que, avisados em sonhos, os magos voltaram por outro caminho e não avisaram a Herodes que o rei dos judeus tinha nascido. Todo Natal, os reis magos são lembrados no presépio, adorando o rei recém-nascido. Os reis verdadeiros, de existência comprovada, estão ausentes. Ficaram só os reis imaginários. A lenda triunfou sobre a História! *Escritor e professor, Doutor em Letras pela USP, membro da Academia Brasileira de Filologia, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio.

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