NOME DE POBRE NO BRASIL
sábado, 19 de janeiro de 2013
O JEITINHO BRASILEIRO E O PULO DO GATO
Deonísio da Silvaº
O jornal inglês Financial Times, que já tinha chamado a presidente Dilma de “rena do nariz vermelho”, disse que o ministro Guido Mantega recorreu ao famoso jeitinho brasileiro (little way, em Inglês) para maquiar a inflação ao pedir ao governador Geraldo Alckimin e ao prefeito Fernando Haddad que prorroguem reajustes de tarifas.
A política se parece com o ato de ferrar cavalos, com a diferença de que frequentemente quem sai ferrado é o cidadão, também conhecido por contribuinte. Como escreveu Millôr Fernandes, “me arrancam tudo à força, mas me chamam de contribuinte”. Quando está fixando as ferraduras nas patas do cavalo, para não assustar o animal, o ferreiro dá uma batida no cravo, outra na ferradura.
O escritor José de Alencar, disse que Dom Pedro II se comportava como um ferreiro. Ora apoiava um Partido, ora outro, que quase sempre pregava o contrário daquilo que o soberano tinha apoiado.
Foi-se o Império, veio a República, e a expressão “uma no cravo, outra na ferradura”, continuou servindo de lema para o Partido Social Brasileiro, o famoso PSD, que expressa o modo mineiro conciliador de governar.
Depois do jeitinho, de uma no cravo, outra na ferradura, virá o pulo do gato, aliás título de uma saborosa coletânea do escritor carioca Márcio Cotrim e de um programa da Rádio Bandeirantes, recordista de permanência no ar por décadas.
E também de uma telenovela de Bráulio Pedroso. O personagem principal era o ex-rico Bubby Mariano (Jorge Dória), um raposão, que vivia da venda de quadros de sua pinacoteca particular, falsificados pelo amigo Caxuxo (Milton Gonçalves).
A expressão “o pulo do gato” é do tempo em que os animais falavam. A raposa queria pegar o gato e sempre fracassava. Um dia aperfeiçoa sua conhecida esperteza e propõe um pacto político: “Chega de correr um atrás do outro, mestre gato, vamos doravante viver em paz!”.
“Não é bem assim, comadre”, diz o gato, “não é um correndo atrás do outro; é uma correndo atrás do outro, isto é, a senhora correndo atrás de mim.” “De todo modo”, prossegue a raposa, “vamos fazer as pazes e, para celebrar nosso acordo, proponho que o senhor, mestre em todos os tipos de pulo, me ensine a pular como o senhor. Cada lição será paga com um saboroso filé de rato.”
O gato aceitou e as aulas começaram no mesmo dia. Tempos depois, quando a raposa achou que já tinha aprendido todos os pulos, resolveu pôr em prática seu plano sinistro de pegar o gato e, traiçoeira como ela só, o atacou por trás.
O felino deu então um pulo que não tinha ensinado à famosa predadora e escapou do ataque mortal. A raposa reclamou: “Compadre mestre gato, este pulo o senhor não me ensinou!”. “Não ensinei, nem ensino”, riu-se o gato, “este é o segredo que me salva de traidores como a senhora, este é o pulo do gato.”
O Supremo Tribunal Federal também deu o pulo do gato, surpreendeu famosos advogados e ferrou os mensaleiros. O Brasil está melhorando! (xx)
ºEscritor, professor, vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de A Vida Íntima das Frases.
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