NOME DE POBRE NO BRASIL
sexta-feira, 5 de julho de 2013
BATE-CUS, PROPINAS E TAPAS NA BUNDA
Deonísio da Silva º
Algumas palavras do futebol e da academia oferecem variantes curiosas no Português de Portugal. Aqui usamos arquibancada, mas lá é mais comum bancada apenas. “Cu”, um palavrão aqui, embora presente recuar, cueca etc, não o é em Portugal, onde em vez de “deu-lhe uns tapas nas nádegas ou na bunda” (palavrão em Portugal), é dito “deu-lhe uns bate-cus”.
No Brasil, a pessoa cai de bunda ou de nádegas, mas em Portugal cai de bate-cu, assim definido no Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora): “queda que resulta em bater com as nádegas no chão” e “pancada nas nádegas com a mão”.
O futebol trouxe da linguagem acadêmica diversas palavras, de que são exemplos titular, adjunto, auxiliar, técnico etc. E adotou também suplente, mas com outro nome: reserva.
Em compensação, gerou outras palavras e expressões para a vida acadêmica, como “fazer o meio de campo”, “jogar para o time”, “ficar na torcida”, “driblar a questão”, “suar a camisa” etc.
Aliás, a expressão “defesa de tese” traz embutida a ideia de combate, de jogo, e pressupõe o ataque. Quem ataca, não está em campo, mas está no câmpus, variante do Latim campus, que a linguagem do futebol não importou, talvez porque tende ao popular, combatendo o viés erudito. Na universidade, quem ataca, não está no banco, está na banca.
Banco e banca parecem equivalentes, mas não são. Banco, do frâncico bank, foi originalmente móvel fixado ao longo da parede da sala para as pessoas ali se sentarem, em grupo, não individualmente, como na cadeira, do Grego kathédra, pelo Latim cathedra, que nos deu catedral, onde está assentada a maior autoridade eclesiástica da região, o bispo, e também cátedra, a cadeira do professor, designando a matéria ou disciplina que ele ensina.
Essa cadeira quase sempre era posta num lugar mais alto para que o lente (do Latim legente, aquele que lê) pudesse ser ouvido por todos, fosse o pupillus, menino, fosse a pupilla, menina, anda hoje presente na pupila, a menina dos olhos, porque ali a pessoa aparece refletida como uma pupa (boneca) pequenina.
A variante da cadeira era o púlpito, do Latim pulpitum, feito de pulpa (polpa), parte da madeira sem nós nem veias, por motivos estéticos e de durabilidade, e por ser um lugar para onde todos olhavam e de onde o padre, o professor ou o orador (quase a sempre a mesma pessoa, o padre letrado) olhava a todos.
Banca, do italiano banca, também veio do frâncico bank, mas mudou de significado na Baixa Idade Média, quando se constituiu em assento em tribunais, judiciários, universitários etc, para o julgamento de réus e de candidatos a cargos públicos.
Outras diferenças com nossos queridos irmãos portugueses é que em Portugal propina é taxa de matrícula. No Brasil é suborno, corrupção. No futebol e na propina, o Brasil é campeão mundial. Um dos motivos é que os brasileiros leem pouco e apenas 26% entendem o que leem. Já a corrupção, como se sabe, é católica e sempre leva um terço!
º Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, doutor em Letras pela USP (xx).
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