NOME DE POBRE NO BRASIL
sábado, 26 de janeiro de 2013
ETIMOLOGIA: A BICICLETA DE DA VINCI NA CATEDRAL
Alcance: de alcançar, do Latim vulgar incalciare, pegar no calx, calcanhar, influenciado pelo Espanhol alcanzar. Alcance teve inicialmente o sentido de chegar perto, a ponto de atingir com coices, mas surgiram outros significados, como o de pôr as mãos sobre, abranger. Aparece na expressão “rede de alcance mundial”, tradução adaptada do Inglês world wide web, mais conhecida pela sigla www.
Bicicleta: do Francês bicyclette, a partir dos étimos kýklos e cyclus, respectivamente do Grego e do Latim, com o prefixo latino bi, duas vezes, indicando veículo de duas rodas pequenas, como foi concebido. Em processo semelhante formaram-se cycliste, tricycle, motocyclette, motocycliste, logo adaptados para o Português ciclista, triciclo, motocicleta, motociclista. O veículo já era bem conhecido no Brasil quando, aperfeiçoando jogada de Petronilho de Brito (1904-1984), também da Seleção Brasileira de Futebol, o jogador Leônidas da Silva (1913-2004), o Diamante Negro, apelido cedido por 112 reais (em valores atuais) a um fabricante de chocolate, denominou bicicleta a jogada em que, no ar e de costas, chuta a bola para trás, em direção ao gol, por cima da própria cabeça. Melhor jogador da Copa do Mundo de 1938, o gol de bicicleta que ele fez foi anulado pelo juiz, que desconhecia a jogada, apreciada pelos brasileiros desde 1932. O artista e inventor italiano Leonardo Da Vinci (1452-1519) foi quem primeiro imaginou o veículo e seu desenho deve ter sido a inspiração do pintor anônimo que o representou no vitral da igreja de uma paróquia inglesa, em 1580. Em 1817, o inventor alemão Karl von Dreis (1785-1851) tornou útil um brinquedo francês semelhante à atual bicicleta. O ferreiro escocês Kirkpatrick Macmillan (1812-1878) acrescentou pedais à roda dianteira, então muito maior que a traseira, levando seu invento para os Estados Unidos. O francês Ernest Michaux (1813-1883), fabricante de carruagens, colocou mais uma roda traseira. Em 1862, a Prefeitura de Paris criou pistas especiais para bicicletas e veículos semelhantes, para evitar as colisões com charretes. O francês Pierre Lallement (1843-1891), fabricante de carrinhos de bebê, aperfeiçoou o invento de Dreis e o patenteou em 1863. A bicicleta chegou ao Brasil, em Curitiba, em fins do século XIX.
Canja: do malaiala kanji, arroz com água. No Português, designa caldo de carne de galinha com arroz. Pelas facilidades da receita culinária, passou a designar coisa fácil de fazer. Canja é também a apresentação gratuita feita pelo músico, a pedido do público, de um ou mais números de seu repertório, quando presente em algum evento. Tornou-se ainda sinônimo da expressão do Inglês jam, abreviação de jazz after midnight.
Panamá: de origem controversa, designando em língua indígena falada no Panamá, ao tempo do descobrimento do país, abundância de peixes, de borboletas ou de árvores. Em 1888, ganhou também o significado de roubalheira, por força das fraudes de uma companhia encarregada da construção do Canal do Panamá, só concluído em 1913. E, por equívoco, dá nome a chapéu fabricado no Equador e comercializado no Panamá.
Sacramento: do Latim sacramentum, quantia que litigantes, civis ou militares, depositavam nas mãos do pontífice romano como juramento. Pontífice designou inicialmente quem fazia pontes, depois quem as fiscalizava e por fim quem as abençoava, uma função sacerdotal ainda presente em Sumo Pontífice, o papa. No dia 1º de outubro de 1977, na cidade espanhola de San Ildefonso, festejado a 23 de janeiro, foi celebrado tratado entre Portugal e Espanha pelo qual a Colônia de Sacramento e os Sete Povos das Missões passariam para a Espanha, mas depois os gaúchos retomaram os Sete Povos.
Transferência: do Latim transferentia, levar coisa ou pessoa de um lugar para outro. Depois passou a designar nos cartórios ato de registrar mudança de donos de propriedade, de cessão de direitos, de alienação de um bem. Evoluiu para indicar deslocamento de funcionário de uma secção a outra, na mesma repartição ou localidade, e também mudança para outra região. Também a psicanálise passou a utilizar a palavra para designar o processo, quase sempre inconsciente, em que uma pessoa atribui seus sentimentos a outra. E, recentemente, na informática, transferência é um dos “tes” da abreviação http: protocolo de transferência de hipertexto. Em inglês, hyper text transfer protocol.
FATALIDADE, DESTINO, TRAGÉDIA E POLITICAGEM
Fatalidades rondam aeroportos em todo o mundo, mas no Brasil pequenas tragédias estão ocorrendo todos os dias!
O jornalista Ricardo Boechat criticou em recente programa da Rádio Bandeirantes os políticos que usam indiscriminadamente tragédia e fatalidade como se fossem a mesma coisa.
Fatalidade é uma calamidade que não pode ser prevista, que nos toma de surpresa, ou que, mesmo sendo prevista, contra ela nada podemos fazer. Exemplos: tempestades em pleno voo, tisunames, terremotos e, o maior de todos, a morte, que esta é certíssima para todos nós.
Já as tragédias podem ser evitadas, como é o caso daquelas causadas por insuficiente manutenção de aviões, falta de obras de infraestrutura para remediar nossa vida e nossas viagens por terra, mar e ar.
Frei Betto lembrou em artigo recente que os nomes de nossos aeroportos nos deixam desconfiados. Vou trazer mais água para o monjolinho do escritor e frade. Galeão, do Grego bizantino galéa pelo Francês antigo galion, navio de guerra, tocado a vela e a remos, é do mesmo étimo de galé, onde os remadores tanto sofriam. O aeroporto do Galeão homenageia o maestro Antonio Carlos Jobim, que morreu nos EUA, se queixando em Inglês. Ele queria morrer em Português! O aeroporto Santos=Dumont homenageia o inventor do avião, que se suicidou, depois de constatar que seu invento servia para matar na guerra civil de 1932. Nesses aeroportos agora ha falta d´á água, de luz, de ar-condicionado! Que velem por nós os trágicos homenageados!
Congonhas veio do tupi-guarani congoi, aquilo que se bebe, se engole. Por isso veio a designar a erva-mate, que os índios cultivavam ali quando São Paulo se chamava Piratininga, em tupi-guarani, peixes secando ao sol depois das enchentes!
O aeroporto de Belo Horizonte chama-se Confins, de confim, do Latim confinis, do mesmo étimo de confinar e confinamento, um modo de castigar fora das prisões. O homenageado é Tancredo Neves, que morreu depois de uma agonia que parecia interminável. O aeroporto de Brasília homenageia Juscelino Kubitschek. Com medo de avião, morreu na Via Dutra, em 1976!
Zumbi de Palmares foi decapitado em 1695. Dá nome ao aeroporto de Maceió. O aeroporto de Fortaleza homenageia o aviador brasileiro Euclides Pinto Martins, que se suicidou na frente da amante. Joaquim Pedro Salgado Filho morreu em desastre de avião quando ia para São Borja visitar Getúlio Vargas. Dá nome ao aeroporto de Porto Alegre (RS).
O aeroporto de Guarulhos (SP) fica no bairro de Cumbica, que em tupi-guarani significa nevoeiro e também cachaça e cumbuca. O aeroporto Mário Covas, em Campinas (SP), é mais conhecido por Viracopos. O bairro tem este nome porque ali havia conhecida zona de meretrício e um famoso boteco, onde muitos copos eram virados.
Enfim, tragédia não é Maktub (estava escrito), como dizem os árabes. O nome disso é fatalidade, do Latim fatalitas, palavra ligada a fatum, Destino, Fado, coisas que não podem ser mudadas. As tragédias podem ser evitadas. (xx)
• Escritor, professor e vice-reitor da Universidade Estácio de Sá.
domingo, 20 de janeiro de 2013
MAGUILA CAI, MAS HAVERÁ DE SE LEVANTAR!
O vice-campeão mundial de boxe, o pugilista Adilson Maguila Rodrigues, 54 anos, sofrendo de Alzheimer há três, está na ala psiquiátrica de um hospital em São Paulo. Passei três dias com ele em 1985 para fazer um perfil para a revista Playboy. Ele disse 11 frases em três dias! Eu era mais um "jornalista" que ia falar com ele. Os anteriores voltavam dizendo que ele não dissera nada, era impossível fazer a matéria. Mário Escobar de Andrade, diretor de redação da Playboy, me ligou no meio da madrugada. Pagava bem, mas eu deveria passar sexta, sábado e domingo com o ídolo.
Ele me recebeu desconfiado. Em vez de entrevistá-lo, contei de minha infância, de minha mãe com 14 filhos, dos meus anos de seminário. E lhe assegurei que não era jornalista, era professor e escritor, e tinha vindo ali porque precisa muito dos mil dólares e admirava muito quem vencia na vida pelos próprios méritos. E, mais do que a revista, eu queria saber como é que ele vencera.
Certa moça bonita fazia exercícios na mesma academia, no Brooklin, em São Paulo. Maguila olhava para ela à sorrelfa. Fui lá desesperado: "Ele adora sorvete, vem tomar sorvete conosco, você é minha última esperança de que ele fale alguma coisa." "Mas, só sorvete, hein! Ele é pão-duro e não querer pagar o meu cachê. E ele nunca fala, eu treino sempre aqui, ele nunca fala. Com ninguém!".
Caramba! Eu dera de cara com uma piranha. Procurei outra, todas ali eram lindas! Primeiras palavras do Maguila: "Casada?". E ela: "noiva". "Mulher bonita sempre tem quem cuide." Foi a primeira das onze frases! A última: "Eu sou acredito em Deus e no meu braço". As outras nove estão no perfil! Outro dia um internauta me disse que tem a revista, cuja capa é com a Magda Cotrofe, vestida de noiva, com a saia levantada.
INGLÊS, CHINÊS ETC PARA A COPA 2014
Parodiando a antiga Organizações Tabajara, apresentamos um rápido curso de línguas para a Copa de 2014.
INGLÊS, O LATIM O IMPÉRIO
a.) Is we in the tape!= É nóis na fita.
b.)Tea with me that I book your face = Chá comigo que eu livro sua
cara. !!!!! ) c.) I am more I= Eu sou mais eu.
d.) Do you want a good-good?= Você quer um bom-bom?
e.) Not even come that it doesn't have! = Nem vem que não tem!
f.) She is full of nine o'clock = Ela é cheia de nove horas.
g.) I am completely bald of knowing it. = To careca de saber.
h.) Ooh! I burned my movie!= Oh! Queimei meu filme!
i.) I will wash the mare.= Vou lavar a égua.
j.) Go catch little coconuts! = Vai catar coquinho!
k..) If you run, the beast catches, if you stay the beast eats! = Se correr, o bicho pega, se ficar o bicho come!
l.) Before afternoon than never.= Antes tarde do que nunca.
m.) Take out the little horse from the rain= Tire o cavalinho da chuva.
n.) The cow went to the swamp. = A vaca foi pro brejo!
o.) To give one of John the Armless = Dar uma de João-sem-Braço.
Outras línguas:
CHINÊS
a.) Cabelo sujo: chin-xampu
b.)Descalço:chin chinela
c.) Top less:chin-chu-tian
d.) Náufrago:chin-chu-lancha
f.)Pobre: chen luz, chen agua e chen gás
JAPONÊS
a.) Adivinhador:komosabe
b.) Bicicleta:kasimoto
c.) Fim: saka-bo
d.) Fraco:yono komo
e.) Me roubaram a moto:yonovejo m'yamaha
f.) Meia volta:kasigiro
g.) Se foi:non-ta
h.) Ainda tenho sede:kiro maisagwa
OUTRAS EM INGLÊS:
a.) Banheira giratória: Tina Turner
b.) Indivíduo de bom autocontrole:Auto stop
c.) Copie bem:copyright
d.) Talco para caminhar:walkie talkie
RUSSO
a.)Conjunto de árvores: boshke
b)Inseto: moshka
c.) Cão comendo donut's: Troski maska roska
d.) Piloto: simecaio patatof
e.)Prostituta: Lewinsky
f.) Sogra (viva): storva
g) Sogra (morta): storvava
ALEMÃO
a.) Abrir a porta: destranken
b.) Bombardeio: bombascaen
c.) Chuva:gotascaen
d.)Vaso:frask
sábado, 19 de janeiro de 2013
O JEITINHO BRASILEIRO E O PULO DO GATO
Deonísio da Silvaº
O jornal inglês Financial Times, que já tinha chamado a presidente Dilma de “rena do nariz vermelho”, disse que o ministro Guido Mantega recorreu ao famoso jeitinho brasileiro (little way, em Inglês) para maquiar a inflação ao pedir ao governador Geraldo Alckimin e ao prefeito Fernando Haddad que prorroguem reajustes de tarifas.
A política se parece com o ato de ferrar cavalos, com a diferença de que frequentemente quem sai ferrado é o cidadão, também conhecido por contribuinte. Como escreveu Millôr Fernandes, “me arrancam tudo à força, mas me chamam de contribuinte”. Quando está fixando as ferraduras nas patas do cavalo, para não assustar o animal, o ferreiro dá uma batida no cravo, outra na ferradura.
O escritor José de Alencar, disse que Dom Pedro II se comportava como um ferreiro. Ora apoiava um Partido, ora outro, que quase sempre pregava o contrário daquilo que o soberano tinha apoiado.
Foi-se o Império, veio a República, e a expressão “uma no cravo, outra na ferradura”, continuou servindo de lema para o Partido Social Brasileiro, o famoso PSD, que expressa o modo mineiro conciliador de governar.
Depois do jeitinho, de uma no cravo, outra na ferradura, virá o pulo do gato, aliás título de uma saborosa coletânea do escritor carioca Márcio Cotrim e de um programa da Rádio Bandeirantes, recordista de permanência no ar por décadas.
E também de uma telenovela de Bráulio Pedroso. O personagem principal era o ex-rico Bubby Mariano (Jorge Dória), um raposão, que vivia da venda de quadros de sua pinacoteca particular, falsificados pelo amigo Caxuxo (Milton Gonçalves).
A expressão “o pulo do gato” é do tempo em que os animais falavam. A raposa queria pegar o gato e sempre fracassava. Um dia aperfeiçoa sua conhecida esperteza e propõe um pacto político: “Chega de correr um atrás do outro, mestre gato, vamos doravante viver em paz!”.
“Não é bem assim, comadre”, diz o gato, “não é um correndo atrás do outro; é uma correndo atrás do outro, isto é, a senhora correndo atrás de mim.” “De todo modo”, prossegue a raposa, “vamos fazer as pazes e, para celebrar nosso acordo, proponho que o senhor, mestre em todos os tipos de pulo, me ensine a pular como o senhor. Cada lição será paga com um saboroso filé de rato.”
O gato aceitou e as aulas começaram no mesmo dia. Tempos depois, quando a raposa achou que já tinha aprendido todos os pulos, resolveu pôr em prática seu plano sinistro de pegar o gato e, traiçoeira como ela só, o atacou por trás.
O felino deu então um pulo que não tinha ensinado à famosa predadora e escapou do ataque mortal. A raposa reclamou: “Compadre mestre gato, este pulo o senhor não me ensinou!”. “Não ensinei, nem ensino”, riu-se o gato, “este é o segredo que me salva de traidores como a senhora, este é o pulo do gato.”
O Supremo Tribunal Federal também deu o pulo do gato, surpreendeu famosos advogados e ferrou os mensaleiros. O Brasil está melhorando! (xx)
ºEscritor, professor, vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de A Vida Íntima das Frases.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
O JEITINHO BRASILEIRO SEGUNDO UM JORNAL INGLÊS
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If there’s one Portuguese word you need to learn before coming to Brazil it’s jeitinho. Literally “little way”, it refers to the nationwide habit of circumventing rules or conventions through highly creative, cunning and sometimes downright illegal tactics.
Can’t get tickets to a show or pass your driving test? Don’t worry; you just need to find a jeitinho. It also works for managing the economy, it seems.
With growth still sluggish and prices rising faster than expected, Brazil’s central bank and finance ministry are also becoming pros at the jeitinho – albeit the legal kind.
Although the central bank is expected to leave Brazil’s benchmark interest rate unchanged at 7.25 per cent on Wednesday, this Bloomberg article suggests it is opting for a “stealth rate cut” instead:
The rate that banks charge each other for overnight loans, known as DI, was 6.93 percent on Jan. 14, marking the 23rd straight day it has been more than a quarter-percentage point below the central bank’s 7.25 percent target. The 0.32 differential is more than double the average over the past decade and compares with gaps of less than 0.1 percentage point in the U.S. and neighbors Colombia and Chile.
The growing rate gap in Brazil, which was sparked by an increase in cash levels that central bank President Alexandre Tombini has left unchecked, is rendering useless traders’ models designed to calculate the probability of policy moves in coming days and months, according to Votorantim Ctvm Ltda. By allowing the overnight rate to drop, Tombini is adding stimulus to a sputtering economy without having to announce the 11th reduction in the target since 2011.
With rate increases out of the question, Finance Minister Guido Mantega is also helping out with a few jeitinhos of his own to control inflation.
São Paulo’s mayor, Fernando Haddad, told Brazil’s Rádio Estadão on Tuesday that Mantega had asked him to put off increases in the city’s bus fares for a few months to ease inflation.
Mantega is already somewhat of an expert at the jeitinho. He has spent the past couple of years dabbling with the country’s taxes to micro-manage growth and the currency. Brazil’s fiscal targets have also required some creativity, as Tony Volpon at Nomura explains:
In the first few days of the year, the government announced a series of accounting transactions to meet its fiscal primary surplus target of 3.1% of GDP. These included discounting up to BRL40.5 billion in investments made under the PAC investment program, “anticipating” BRL20.6 billion in dividend payments from state-owned banks (which in turn are “capitalized” by receiving government debt directly from the Treasury), and by withdrawing BRL12.4 billion from the Sovereign Wealth Fund (which was invested 100% in local government debt, unlike any other sovereign wealth funds, which hold foreign investments).
While none of these measures are breaking any rules (nor is Brazil the only country to use them), the market would now like to see a little more straight-taking when it comes to inflation at least, says Alberto Ramos at Goldman Sachs:
We are of the view that at a certain point the central bank needs to own the inflation problem and acknowledge that just remaining on automatic pilot may not be enough to drive inflation to the 4.5% target by year-end 2013. That was the narrative of 2012 and inflation did not converge to the target despite much weaker real growth that originally expected. In fact, the IPCA [consumer price index] printed above 5% for the third consecutive year, averaging a high 6.1% during 2010-12. This suggests that in the eyes of the market the authorities have been viewing the wide ±2.0% band around the generous 4.5% target as a “band of tolerance” rather than a “band of variation” to accommodate price shocks.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
ETIMOLOGIAS: ESTANTE, VOLUME, ÓLEO ETC.
Braço: do Grego brakhíon pelo Latim clássico brachium e daí ao Latim vulgar braccium, do qual chegou ao Português braço. Pronúncia e escrita mantiveram semelhanças nas diversas línguas neolatinas. Designa, por metáfora, comando, força, divisão de rio etc. e está ligado a braça, do Latim brachia, plural de bracchium, medida que varia de país para país. Com os braços estendidos horizontalmente, braça é a distância da ponta do dedo médio da mão direita à do esquerdo, mais ou menos 2,2 metros.
Estante: do Latim stante, declinação de stans, do verbo stare, estar, ficar de pé, em oposição a sedere, sentar, depois adsedentare, no Latim vulgar. No scriptorium, escritório, no Latim clássico, ou na bibliothéke, biblioteca no Grego, os livros eram acomodados em móveis chamados estantes, onde os livros ficavam em pé, visível a lombada, do latim lumbus, costas, lombo, onde ainda hoje constam título da obra e nome do autor.
Lente: do Latim lente, declinação de lens, já redução de legens, aquele que lê. Como os professores lessem nas aulas a matéria que os alunos deveriam aprender e mais tarde o fizessem com uma luneta ou óculos sobre o nariz, pince-nez em Francês, isto é, aparelho preso ao nariz, os mestres foram chamados também de lentes, pois em fins da Idade Média já estava em circulação a luneta, uma ou duas lentes encaixadas em armação posta sobre o nariz, mais tarde presa também às orelhas, pelas hastes. As lunetas foram as avós de nossos óculos e lentes, sendo óculos o plural de óculo, do latim oculus, olho. O plural consolidou-se em óculos desde que a leitura foi facilitada pela fixação de óculo para cada olho. Já em binóculo o étimo bin, ligado a bis, bis, dois, repetição, designa par, como em binário. No romance O Nome da Rosa, do escritor italiano Umberto Eco (80), um jovem noviço admira-se de que seu colega de cela, um velho monge, ponha tal armação sobre o nariz para fazer suas leituras de noite, quando mestre e discípulo, em viagem, passam uns dias na abadia que é palco dos trágicos eventos.
Óleo: do Grego élaion pelo Latim oleum, designando primeiramente o azeite de oliva, fruto da oliveira, cuja variante árabe az-zayt, azeite, veio a tornar-se preferencial. Palavra de outros significados, óleo designou também, desde a origem, essência para perfumar corpos e ambientes. É frequente na Antiguidade que as pessoas se purifiquem antes de ocasiões especiais. Os povos do deserto, à falta de água ou atentos a seu racionamento, passavam finas camadas de óleo na pele, depois retiradas com um pano para o fim de fazer a higiene do corpo. Na tradição hebraica, o óleo de unção, diferente do azeite, aparece ainda em Êxodo 30, 23: “O Senhor disse a Moisés: Escolha as especiarias mais cheirosas para fazer o azeite sagrado, seguindo a arte dos perfumistas. Em três litros e meio de azeite misture o seguinte: seis siclos de mirra líquida, três siclos de canela, três siclos de cana cheirosa e seis siclos de cássia, tudo pesado de acordo com a tabela oficial.” O siclo, medida de peso no Egito e na Judeia, variava de 6 a 12 gramas.
Periguete: da gíria de Salvador, na Bahia, adaptação do Português peri(go) e do Inglês girl. Peri(gosa) girl, depois peri girl e por fim periguete. Substantivo feminino. Designa mulher que se veste de maneira sensual, chamando a atenção por revelar sem pudor os contornos do corpo e aquela que, não tendo namorado fixo, procura homens para um caso rápido. A atriz mineira Ísis Nable Valverde (26) representou a periguete Suelen na novela Avenida Brasil, contribuindo para a consolidação da nova palavra na língua portuguesa.
Volume: do Latim volumen, rolo ou coisa enrolada, substantivo ligado ao verbo volvere, virar, voltar. Em tempos idos, na Grécia, como em Roma e em Israel, os livros eram escritos em rolos de papiro ou couro. Quem lia um capítulo ou trecho ia desenrolando o que estava lendo e o enrolando de novo para ler o próximo. A própria palavra capítulo vem do Latim capitulum, diminutivo de caput, cabeça no Latim clássico, que no Latim vulgar era capitia. Nos artigos das leis, nas ordenações, nas determinações de orçamentos, caput veio a designar a parte principal do artigo ou da disposição e capitulum a subdivisão. Capítulo permanece como divisão de livro.
domingo, 13 de janeiro de 2013
FULECO É PALAVRÃO. POR QUE NÃO TATU-BOLA?
Bruxaria: de bruxa, feminino de bruxo, do Latim bruxu, gafanhoto sem asas, designando ainda na Idade Média o Demônio e também o herege, acusado de ter pactos com o Maligno. A origem remota é pré-romana. É sinônimo de feitiçaria, presente também no sincretismo religioso afro-brasileiro, sob o nome de mandinga, palavra oriunda da expressão mayanga mandinga, proferida pelos mandingos, povo do norte da África. Era gritada por pessoas enraivecidas, praguejando umas contra as outras enquanto sacudiam pacotilhos presos ao pescoço, em forma de escapulários, com ameaças de feitiços, bruxarias, invocando forças malignas.
Celta: do Latim celta, mais usado no plural celtae, os celtas, povo indo-germânico do centro-sul da Europa que se espalhou por territórios hoje conhecidos por Espanha, Portugal, Reino Unido etc. Eles falavam línguas como gaélico, britânico e cúmbrico. Entre os celtas, tinham grande poder os druidas, intelectuais e conselheiros, que cultivavam a música e a poesia. Dividiam-se entre bardos (cantores e poetas) e ovates (médicos, magos e astrólogos). Alegavam conversar com os mortos e prever o futuro. Festividades modernas como Haloween (Dia das Bruxas), Dia de Todos os Santos e Dia de Finados foram invenções dos druidas.
Freudismo: diz-se “froidismo”, do sobrenome do médico austríaco e fundador da Psicanálise Sigmund Freud (1856-1939), cujas teorias são invocadas para esclarecer opiniões e comportamentos com base do bordão “Freud explica”. O jornalista carioca Paulo Francis (1930-1997) fez aguda observação sobre a influência de Freud na vida de todos: “Freud é nosso. Está entranhado em nossa vida, saibamos disso ou não, queiramos ou não. Qualquer pessoa familiarizada com suas teorias reconhece na fala diária dos outros, e na sua própria, freudianismos, em vocabulários, conceitos, formulação de motivos, análises e ideias fixas.”
Mascote: do Francês mascotte, do título da divertida opereta La Mascotte, do compositor francês Achille Edmond Audran (1840-1901). Nas tramas, uma jovem camponesa, sem entretanto perder a virgindade, acredita trazer sorte ao italiano com quem troca favores sexuais. Passou a denominar, já adaptado para o Inglês mascot, homem ou animal que dá proteção simbólica. Mas antes de chegar ao Francês, do qual veio para o Português, já existia no Provençal mascoto, designando feitiço, sortilégio, mas também talismã, já derivado de masco, radicado no Latim masca, pesadelo, assombração, espectro, disfarce, máscara. Como se vê, predominou o significado positivo. Embora muitos dicionários e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) registrem este substantivo como feminino apenas, ele é de dois gêneros, tal como o registra o Dicionário Caldas Aulete e o comprovam numerosas abonações na literatura e na mídia, entre as quais este trecho da revista Exame sobre Fuleco, o mascote da Copa do Mundo de Futebol de 2014, um tatu-bola: “O mascote tem também a sua própria canção, em parceria da Fifa com a Sony: Tatu Bom de Bola, cantada pelo sambista Arlindo Cruz.”
Ostracismo: do Grego ostrakhismós, desterro, banimento. A palavra foi formada de óstrakon, que tem forma de óstreon, ostra. Na antiga Grécia, a aplicação de penas como a desonra, o confisco de bens e o desterro era feita mediante votação em praça pública. Os cidadãos escreviam sim ou não em pedaços de concha ou de casco de tartaruga untados com cera. Com algumas centenas desses votos, o indivíduo era banido por 10 anos, o mesmo prazo que a ditadura militar aplicou na cassação de direitos políticos no período pós-1964.
Sinergia: do Grego synergein, pelo Francês synergie. No Grego é palavra formada de syn, junto, ao mesmo tempo, e érgon, trabalho. O Dicionário Aulete Digital esclarece que o verbete designa “coesão e solidariedade de um grupo, sociedade etc. em torno de objetivos comuns.” E abona tal significado com este trecho de O Globo, de 10 de julho de 2005: “Se não há sinergia entre líderes e seus subordinados (...) o clima de trabalho será sempre ruim.” Mas é nas orquestras que a ideia de cooperação mútua entre os músicos evidencia com ordem, disciplina e beleza a sinergia.
sábado, 12 de janeiro de 2013
DESSA ÁGUA NÃO BEBEREI E OUTRAS EXPRESSÕES CURIOSAS
Se você tem memória de elefante e acorda com as galinhas, saiba que onde come um, comem dois. E não é por ter estômago de avestruz que tem o olho maior do que a barriga. Mas, nem que esteja com cara de quem comeu e não gostou, fica com bafo de onça, não dá o braço a torcer, dá as caras num boteco e, depois de dar com os burros n´água, toma chá de sumiço!
Mesmo com o queixo caído de admiração, não dê nó em pingo d´água, pois quem diz cobras e lagartos deve ficar de olho e não dormir no ponto, do contrário outros pagam na mesma moeda e as coisas vão por água abaixo, ainda que saibamos que você não dá ponto sem nó.
Acontece que quem gosta de sombra e água fresca, o que quer é tapar com o Sol com a peneira. E daí o tiro sai pela culatra porque, macacos me mordam, macaco velho não põe a mão em cumbuca, pois a cavalo dado não se olham os dentes e ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.
Quem nunca come mel, quando come se lambuza e come um boi por uma perna. Não se pode contar com o ovo no cu da galinha, pois nem só de pão vive o homem e peixe morre pela boca. O que não mata, engorda. Quem comeu a carne que roa os ossos. São favas contadas. Cuidado para não viajar na maionese! Ou ficar chupando o dedo.
É melhor botar a mão na massa e não tomar gato por lebre. Pessoas de meia tigela, às vezes acertam na mosca, mas pisam no tomate e comem com os olhos, mas são todas farinha do mesmo saco. Pensam que pimenta nos olhos dos outros é refresco e, sabendo que a carne é fraca, vão plantar batatas. Juntam a fome com a vontade de comer, comem de tudo um pouco porque o que não mata, engorda. Depois dão uma banana para a gente, colocam a azeitona na empadinha dos nossos desafetos, mudam da água para o vinho e dão com a língua nos dentes.
Se escreveu e não leu, o pau comeu
Sem quebrar os ovos, nada de omelete, então que não se fale mais abobrinhas! E nada de trocar alhos por bugalhos, é mau negócio. Com a faca e o queijo na mão, não vá com muita sede ao pote. Como descascar o abacaxi se estou empepinado?
E nada de chorar as pitangas, porque de grão em grão a galinha enche o papo e a gente fica aqui enchendo linguiça, agora sem trema, pois beleza não põe mesa. Apressado come cru. É preciso comer o mingau pelas beiradas no frigir dos ovos e cozinhar em banho-maria, do contrário comemos o pão que o Diabo amassou, não conseguimos vender o nosso peixe e ficamos sem ganhar o leite das crianças. E ainda enfiamos o pé na jaca para ver quem paga o pato porque esse angu tem caroço! Depois não adianta chorar pelo leite derramado porque todos puxam a brasa para sua sardinha.
Onde se ganha o pão, não se come a carne. Quem dá mais do que chuchu na serra que vá lamber sabão porque o meu nome não é osso para ficar em boca de cachorro.
Essas frases são de lamber os dedos e dão água na boca. Você está com uma batata quente nas mãos? A batata dele está assando e sua chapa está esquentando!
E, por fim, se escreveu e não leu, o pau comeu.
***
[Deonísio da Silva é escritor, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, professor e um dos vice-reitores da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa)]
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
CHÁVEZ: CONCHAVO GUARDADO A SETE CHAVES
Hugo Rafael Chávez Frías, reeleito presidente da Venezuela, não pôde tomar posse, como previsto, no dia 10 de Janeiro. Permanece em Cuba, onde já estava para tratamento de câncer na pélvis.
Mas por que pélvis e não pelve ou bacia para identificar o lugar do corpo atacado pelo câncer?É comum, em outras enfermidades, que a região seja referida por bacia, pois nossa língua está repleta de metáforas, isto é, de comparações, para que as pessoas entendam melhor o que dizemos e escrevemos.
Metáfora é palavra que veio do Grego e quer dizer transporte. Transporta-se a palavra de onde ela está, levando-a a outro lugar, em nome da clareza. É como se quiséssemos identificar alguém no meio da multidão e o retirássemos dali para dissipar qualquer dúvida em face de perguntas como: é este, é esse, é aquele? O Português diferencia “este” de “esse” e de “daquele”. “Este” está mais perto do falante; “esse” está nas proximidades do falante, mas mais perto do ouvinte; “aquele” está longe dos dois, falante e ouvinte.
Há outras curiosidades. Chávez, em Espanhol, não é o mesmo que “Chaves” em Português, plural de “chave”, que em Espanhol é “llave”. Os dois sobrenomes vieram do nome de antiga localidade romana, Aquis Flaviis, águas termais que homenageiam o imperador Flávio Vespasiano.
O sobrenome Chaves mesclou-se no Português ao plural de chave, ao contrário do que ocorreu no Espanhol com Chávez, que não é o plural de “llave”, chave, do Latim clave. Na palavra chave o encontro “cl” mudou para “ch”, o mesmo acontecendo com conchavar, conchavo, conchavador etc.
Conclave passou a denominar qualquer reunião secreta, entretanto sem o tom pejorativo de conchavo. O Latim conclave é palavra formada da expressão cum clave, com chave, subentendendo-se recinto fechado com uma só chave, nada a ver com a expressão “segredo guardado a sete chaves”, nascida em Portugal. Os baús onde eram guardados alguns documentos e joias tinham quatro chaves, entregues a quatro funcionários de confiança. Por superstições, o número sete substituiu o quatro na expressão.
O primeiro conclave deu-se no século XIII, em Viterbo, na Itália, quando a Igreja ficou sem papa durante três anos. Reunidos em conchavos, os cardeais não chegavam a uma conclusão. A população tirou o telhado do edifício onde os privilegiados eleitores estavam reunidos, trancou todos lá dentro e só deixou que entrassem água e pão. O recurso deu certo, mas ainda assim os cardeais demoraram mais três dias para eleger o novo Papa, que escolheu o nome de Gregório X, celebrado pela Igreja no mesmo dia em que Chávez deveria ter tomado posse, 10 de Janeiro.
Desde então, todos os papas têm sido escolhidos a portas fechadas, em conclave. O que está acontecendo num hospital de Havana não é conclave, é conchavo para guardar Chávez a sete chaves.
*Escritor e professor, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
ETIMOLOGIA DE PERIGUETE
Faz alguns anos uma nova palavra entrou para a língua portuguesa. É periguete. E desta vez não veio de um dos berços habituais mais férteis, a cidade do Rio de Janeiro, especialmente suas praias e bairros, em particular Ipanema. Das metrópoles que mais influenciam a vida nacional, o Rio de Janeiro é o mais pródigo em fornecer novas palavras e expressões, desde os tempos em que, no alvorecer do século XIX, o rei Dom João VI fixou aqui as cortes portuguesas e sua numerosa comitiva, mudando a capital de Salvador para o Rio.
No século seguinte, a transferência da capital para Brasília não tirou do Rio essa supremacia cultural, que hoje divide com São Paulo, não com Brasília. Os cariocas, usualmente irreverentes e bem-humorados, encarregam-se de bater os tambores da pátria, fazendo de sua cidade e de seus bairros as principais caixas de ressonância do Brasil. Nascidas na praia e depois levadas às novelas da televisão, especialmente à novela das oito, as novas palavras e expressões se espalham por todo o território nacional.
A principal disseminadora é a TV Globo, como antes era a Rádio Nacional. Antes de vir para o Rio, de onde se alastrou para todos os Estados, periguete surgiu nos bairros de Salvador, na Bahia, que, por ser cidade eminentemente turística, sofre grande influência do inglês. Periguete formou-se da adaptação do português peri(go) e do inglês girl. Peri(gosa) girl, depois peri girl e por fim periguete.
Para as mulheres, periguete é aquela piranha que olha para seu marido ou namorado, pronta a desfrutá-lo. E ela só o quer por um dia!
Para os homens, a ancestral da periguete, moça bonita, de roupas, gestos e modos sensuais, foi antecipada nos versos de Chico Buarque, gravados também por Gal Costa, na voz de quem ficava mais convincente a transformação da mulher, que deixava de ser coisa para coisificar o homem: “Se acaso me quiseres,/ Sou dessas mulheres/ Que só dizem sim/ Por uma coisa à toa/ Uma noitada boa/ Um cinema ou botequim/ E, se tiveres renda/ Aceito uma prenda,/ Qualquer coisa assim.(...) Mas na manhã seguinte/ Não conta até vinte:/ Te afasta de mim,/ Pois já não vales nada,/ És página virada,/ Descartada do meu folhetim.” As Frenéticas deram outro colorido aos versos de Chico Buarque: “Eu sei que eu sou/ Bonita e gostosa/ E sei que você/ Me olha e me quer/ Eu sou uma fera/ De pele macia/ Cuidado garoto!/ Eu sou perigosa...” Ao contrário dos homens, a mulher, talvez por instinto materno, nela inarredável, quer proteger a vítima e reitera os avisos: “Eu tenho um veneno/ No doce da boca/ Eu tenho um demônio / Guardado no peito/ Eu tenho uma faca/ No brilho dos olhos/ Eu tenho uma louca/ Dentro de mim...” A perigosa tornou-se periguete. As palavras, como árvores e dentes, têm raízes. Algumas são muito profundas e é preciso pesquisar para encontrá-las. Desde meus verdes anos aplico-me a esse trabalho encantador! (xx) •
Deonísio da Silva, escritor e professor, é Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio.
sábado, 5 de janeiro de 2013
Quem mobilia a sua casa é você. E quem é que mobilia a sua mente? A mídia?
Livro tem o mesmo étimo de liberdade. Castro Alves fez estes belos versos em O Livro e a América, ainda no século XIX: "Oh bendito o que semeia/ livros, livros à mão cheia/ E manda o povo pensar./ O livro caindo n' alma/ É germe que faz a palma,/ É chuva que faz o mar."
Naturalmente, li muitos livros em 2012, alguns por gosto, outros por obrigação. Destaco aos poucos aqueles que li por gosto e cujas tramas, personagens e linguagem muito apreciei.
Dom Casmurro, de Machado de Assis (em Inglês, na tradução de John Gledson);
Historia de la escritura, de Louis-Jean Calvet (saiu em Francês, em 1996, e em espanhol em 2007, mas só pude ler como eu queria, devagar, e estudando tudo, agora, em 2012;
Dogs That Know When Their Owners Are Coming Home, de Rupert Sheldrak;
Curso de Literatura Inglesa, de Jorge Luis Borges;
La abadía de los crímenes, de Antonio Gomez Ruf;
Les derniers jours de Stefan Zweig, de Laurent Seksi;
Mujeres trovadoras de Dios, de Georgette Épiney-Burgard y Émilie Zum Brunn;
O verso do cartão de embarque, de Felipe Pena;
A verve e o veneno de Churchill (já traduzido e publicado no Brasil pela Editora Lexikon;
Não tropece na língua, de Maria Tereza Piacentini;
De Menino a Homem: de mais de trinta e de quarenta, de sessenta e mais anos, de Gilberto Freyre.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
MAGOS: QUE REIS SÃO ELES?
No século XII, exatamente no ano 1164, chegaram à Alemanha, vindos da Itália, os restos mortais dos três reis magos. Hoje repousam num dos altares laterais da famosa Catedral de Colônia.
Mas ninguém sabe de quem são aqueles ossos! Eles integram uma das mais belas lendas cristãs. Devem ser entendidos no contexto do comércio de relíquias e de indulgências, com o fim de obter recursos para a construção de catedrais.
Houve mais de trinta evangelhos, quatros deles oficiais, os outros apócrifos. Todos foram escritos depois das Epístolas de São Paulo, em fins do século I. Os Evangelhos, embora tenham referências históricas, não são textos históricos. Os magos aparecem apenas no Evangelho de São Mateus, mas ele não diz que eram três, que eram reis, que tinham nomes. Diz apenas: “Tendo, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, uns magos chegaram em Jerusalém perguntando: ‘onde está o rei dos judeus, recém-nascido? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo ‘.” Este trecho é o alicerce da lenda dos reis magos.
Lenda é uma palavra que vem do latim medieval legenda, vocábulo surgido para designar o modo como eram lidas as narrativas heroicas, as novelas de cavalaria e a vida de personalidades referenciais das religiões. Os narradores recolhiam o que era passado boca a boca, escreviam aquelas histórias, depois repetidas e traduzidas, com variações de estilo, de conteúdo e de personagens.
Há outras lendas semelhantes na História. É verdade que o cadáver de Inês de Castro, aquela que “depois de morta foi rainha”, cujos ossos estão no mosteiro de Alcobaça, um dia foi levado em cortejo para o povo beijar-lhe as mãos?
Há lendas mais recentes. Elvis Presley está vivo? Michael Jackson foi assassinado por seu médico? Tancredo Neves morreu de um tiro e não de infecção generalizada, e a repórter Glória Maria, da TV Globo, sabe disso?
Lendas são construídas com elementos históricos e imaginários. Na Idade Média, o número de reis magos chegou a duzentos. Na Europa ainda hoje são vendidas miniaturas de antigos presépios com centenas de personagens, entre os quais muitos reis.
Como os magos levaram três presentes ao Menino Jesus (ouro, incenso e mirra), tornaram-se três reis que foram visitar um rei recém-nascido. Magos, em Grego, designava sacerdotes que praticavam a astronomia e a astrologia. Séculos depois tinham nomes: Melquior, Gaspar e Baltasar, cada um deles com uma das três cores básicas da raça humana (branca, amarela, negra)!
Lenda não é mentira. É um modo de contar. Mateus diz que, avisados em sonhos, os magos voltaram por outro caminho e não avisaram a Herodes que o rei dos judeus tinha nascido.
Todo Natal, os reis magos são lembrados no presépio, adorando o rei recém-nascido. Os reis verdadeiros, de existência comprovada, estão ausentes. Ficaram só os reis imaginários. A lenda triunfou sobre a História!
*Escritor e professor, Doutor em Letras pela USP, membro da Academia Brasileira de Filologia, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio.
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