NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

TODA MULHER TEM MEDIDAS PROVISÓRIAS

Um pouco mais esbeltas em certas épocas, um tantinho mais reconchudinhas em outras. As variáveis são muitas: idade, alimentação, exercícios e influências hormonais levam-nas a modificar mais o corpo do que o espírito, talvez. Mas é a alma feminina que sofre mais com essas variações de estilo. A brasileira Marta Hacker Rocha tinha duas polegadas a mais e perdeu o título de Miss Universo em 1954 para a americana Miriam Stevenson. Todavia todos os homens do mundo, menos o júri daquele ano, é claro, acharão sempre que a vencedora tinha duas polegadas a menos! Ninguém quer amar um cabide! Só os mentirosos e os hipócritas ousam dizer que amam um cabide! Isso é coisa de costureiro e de quem não gosta de mulher!
Até a americana olhou com inveja para os quadris da brasileira. Mas uma inveja doce. Ficou tão surpresa com a vitória, que deu à perdedora o automóvel recebido de presente da direção do concurso. Os próprios organizadores, cobertos de remorso, deram um prêmio especial de “Garota Popular” a Marta Rocha. A decisão tinha sido no tapetão. As duas tinham chegado empatadas à finalíssimas, mas o patrocinador, um fabricante de maiôs, queria vender mais peças no mundo inteiro, não apenas no Brasil e na África, e por isso adotou a silhueta dominante entre aquelas que podiam comprar maiôs: as mulheres americanas e europeias. Naquele ano participaram 33 candidatas do mundo inteiro. Nenhuma americana tinha ainda vencido o Miss Universo. E era a primeira vez que o Brasil participava do certame. Quando Yolanda Pereira venceu, em 1930, a competição não era oficial e por isso o título não foi reconhecido. A americana Olivia Culpo venceu o concurso Miss Universo de 2012 e recebeu o título das mãos da angolana Leila Lopes. A Miss Universo anterior tinha sido a mexicana Ximena Navarrete, quebrando uma sequência de várias venezuelanas. Ainda não saiu a edição 2013.
A gaúcha Ieda Maria Vargas, natural de Pelotas, tornou-se Miss Universo em 1963. E a baiana Marta Vasconcelos, professora de alfabetização em Salvador, repetiu o feito em 1968. Todas as vencedoras foram celebradas, mas a derrota de Marta Rocha marcou a alma dos brasileiros para sempre, semelhando a derrota da seleção brasileira para o Uruguai na Copa do Mundo de 1950. Foi um quadriênio de derrotas inesquecíveis. Perdemos também a Copa de 50 e caímos nas quartas de final diante da Hungria por 4 x 2. A derrota de Marta Rocha foi tratada com humor até mesmo pela perdedora, que gravou a marchinha de Alcir e Pedro Caetano, cujos versos mais insistentemente lembrados diziam: “Por duas polegadas mais/ Passaram a baiana pra trás/ Por duas polegadas!/ E logo nos quadris/ Tem só, seu juiz!”. No próximo ano, uma efeméride difícil de esquecer: sessenta anos da derrota de Marta Rocha no concurso de Miss Universo. Mas por que não esquecemos isso? Algumas derrotas nos ensinam mais do que as vitórias! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

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