NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

JOAQUIM BARBOSA E O BRASIL DE PARAFUSO SOLTO

O ministro Joaquim Barbosa, hoje figura solar do Brasil, é filho da Abolição, da República e do Livro. Mas o Brasil está com o pavio aceso, tem um parafuso solto e ameaça entrar em curto-circuito, ou em turco-circuito, no caso dos malufícios que Paulo Maluf tornou emblemáticos na arte de governar. Todas essas expressões fizeram uma longa viagem até chegar ao Português, a última flor do Latim. Tudo começa na herança greco-latina fixada para sempre na alma da língua portuguesa. Trata-se de uma herança pouco estudada. O descaso com a cultura legada pelo Latim, mãe da língua portuguesa, empobrece o sistema de ensino e torna nossa juventude refém de ignorantes que lhe impõem o que bem entendem. Nossos jovens ficaram sem parâmetros. E agora têm dificuldade de avaliar o que é um texto bem escrito, onde estão os bons romancistas, os bons contistas, os bons poetas, os bons ensaístas, quais são seus livros de referência. Para agravar a crise, professores despreparados e sobrecarregados de aulas pouco podem fazer por seus alunos. Todavia o mundo em que vivemos é plural e complexo. Nele a família, a Igreja e o sistema escolar já não têm mais a hegemonia que tinham na transmissão dos saberes. Hoje a moçada aprende muito na mídia, principalmente na internet. Essa mudança, aliás, é histórica e tinha começado em fins do século XV, com Gutenberg. O poeta Castro Alves foi quem a viu com mais clareza. No poema O Livro e A América, ele diz: “Filhos do século das luzes!/ Filhos da Grande nação!/ Quando ante Deus vos mostrardes,/ Tereis um livro na mão:/ O livro — esse audaz guerreiro,/ Que conquista o mundo inteiro”. Desde minha adolescência profunda, sei este poema de cor, e minha vontade quando o cito é recitá-lo inteirinho, como quem mostra, não o rosto, os seios ou as pernas de uma mulher bonita, mas a mulher inteira, para que possamos também ver sua alma, pois é a alma que espalha a beleza por pelos e cabelos. Castro Alves continua assim: “Por uma fatalidade/ Dessas que descem de além,/ O sec'lo, que viu Colombo,/ Viu Gutenberg também./ Quando no tosco estaleiro/ Da Alemanha o velho obreiro/ A ave da imprensa gerou.../ O Genovês salta os mares.../ Busca um ninho entre os palmares/ E a pátria da imprensa achou...”. Outro dia, no Pitadas do Deonísio, na Bandnews, recitei e receitei versos de Castro Alves, dizendo o quanto ele fizera pela Abolição e pela República, na segunda metade do século XIX. E disse que sua arma tinha sido o livro, que naquela época estava também nos jornais, em forma de fragmentos, capítulos, poemas etc. Diz mais o poeta baiano, formado em Direito no Largo São Francisco, na USP, e falecido tão cedo, aos 24 anos: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros... livros à mão cheia.../ E manda o povo pensar!” Vamos ler para entender onde estão os parafusos soltos e os fios desencapados. E prestemos atenção ao ministro Joaquim Barbosa! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

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