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terça-feira, 26 de novembro de 2013
A VIAGEM DAS PALAVRAS: do berço ao túmulo (porque as palavras nascem, crescem e morrem)
A viagem das palavras: do berço ao túmulo (porque as palavras nascem, crescem e morrem)
O Português é complicado? O jornalista gaúcho Aparício Torelli, famoso por seu humor, disse que é, porque “calça é uma coisa que se bota, e bota é uma coisa que se calça”. Mas o escritor e professor Deonísio da Silva, igualmente bem-humorado, explica que é complicado só para quem não tem a paixão do conhecimento, o gosto de extrair os sabores dos saberes de nossa amada, mas maltratada língua portuguesa.
Todos nós temos história, pois as pessoas, como os dentes, têm raízes, dizia o escritor judeu-austríaco Stefan Zweig, autor de Brasil, país do futuro. As palavras também. É preciso entendê-las para amá-las, ou então seguir o conselho de Olavo Bilac: “amai para entendê-las!/ pois só quem ama pode ter ouvido/ capaz de ouvir e de entender estrelas”.
Lotte & Zweig (Editora Leya), o mais recente romance de Deonísio, já publicado também na Itália, e em tradução para o Inglês e o Alemão, foi lançado no ano passado e tomou por tema o suposto suicídio do casal Lotte e Stefan Zweig.
Deonísio da Silva – Esse escritor e professor, que se define como “botânico e jardineiro das palavras”, é um encantador de ouvintes e de leitores, seja nos livros, nas crônicas, nas aulas, nas conferências e palestras, e também em revistas, jornais e na rádio Bandnews, onde mantém as colunas semanais Sem papas na Língua e Pitadas do Deonísio.
Doutor em Letras pela USP, ele se especializou em livros proibidos e em etimologia, suas grandes linhas de pesquisa. Escreveu 34 livros, entre romances, contos, crônicas e ensaios. Seus livros de etimologia (De onde vêm as palavras, cuja 17a edição está no prelo pela Editora Lexikon, é um bom exemplo) fascinam leitores de todas as idades pela curiosidade de palavras e expressões na longa viagem que as palavras fizeram e fazem até chegar ao Português. Algumas ainda estão vindo, como aquelas que se originam no Inglês…
E seus contos e romances, já publicados também em outros países, constantemente reeditados, já receberam prêmios importantes, no Brasil (Mec, Fundação Cultural do Distrito Federal, fundações, academias etc.) e no exterior, entre os quais o Prêmio Internacional Casa de las Américas, em júri presidido pelo Prêmio Nobel José Saramago, para o romance Avante, soldados: para trás (no Brasil, em 10a edição pela Leya, e já publicado em Portugal, Cuba e Itália).
Tira-gostos e aperitivo da palestra:
Trabalho procede do Latim tripalium, instrumento de três paus, destinado a torturas e castigos.
Salário tem uma história amarga. Veio do Latim salarium, quantia dada pelo comandante a seus soldados para eles comprarem sal.
Quando a remuneração passou a ser feita em moeda, do Latim Moneta, deusa que guardava o templo onde eram cunhadas as moedas, chamou-se soldo, da redução do nome da moeda que os soldados recebiam, nummus solidus.
Houve outras viagens pelo caminho e uma delas deu em dinarium, dinheiro, já no Latim vulgar.
Com dinarium na bursa, bolsa, o militar, do Latim militaris, podia comprar uma calcea, calça, para cobrir as pernas e proteger-se do frio, alongando o calceus, calçado. Ficou muito confortável usar a calcea no calceus, por isso ela se tornou parte integrante do vestuário, desdobrando-se em calcea, calça, quando inteira, e media, media, meia, quando curta.
A moda femina entretanto aproveitou as duas palavras e fez a meia-calça, que é meia, mas não é calça! E o diminutivo calcinha já nada tem a ver com a palavra que lhe deu origem, o calceus, calçado, pois não é veste para o pé, do Latim pedes, étimo que está presente também em tripudiar, do Latim tripudiare, saltar de pés calçados sobre o inimigo, espezinhando-o ou derrubando do pedestal o seu busto, do Latim bustum, queimado, presente em combustão, porque os antigos romanos colocavam no lugarda cremação do cadáver uma representação em mármore ou em bronze da cabeça e do tórax do defunto, do Latim defunctus, pronto, lembrando o lugar onde seu corpo, do Latim corpus, tinha sido cremado, do Latim cremare.
E tchau procede de escravo, do Italiano schiavo, depois que, em dialeto, os italianos passaram a pronunciar ciavo e não schiavo, ao dizerem, em forma gentil de tratamento, sono vostro “chiavo”, ciavo, que virou ciao, saudação na chegada e na saída.
Pronto, tchau! (fim)
Dia 30 de novembro (sábado)
A partir das 15h
Entrada Franca
(senhas distribuídas às 14h)
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