NOME DE POBRE NO BRASIL

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CARPACCIO, MARTÍNI, PIZZARIA: DE ONDE VÊM?

Carpaccio: conquanto ainda não tenha sido aportuguesado, carpaccio está na culinária brasileira há longo tempo, vindo do nome do italiano Vittore Carpaccio (1460-1526), pintor nascido em Veneza, em homenagem ao qual o prato foi criado. Designa carne ou peixe servidos crus em fatias finas, temperadas com azeite de oliva, limão etc., às vezes polvilhadas de queijo ralado. Quem o criou não foi um cozinheiro, mas Giuseppe Cipriani, barman italiano no Harry’s Bar, em Veneza. O local é referido com frequência pelo escritor norte-americano Ernest Heminguay (1899-1961), no romance Do Outro Lado do Rio, entre as Árvores. Quando as pessoas diziam que ele havia promovido seu bar, Cipriani replicava: “Não, fui eu e o meu bar que promovemos Hemingway. Ele recebeu o Prêmio Nobel depois, não antes”. Desconhecido: de desconhecer e este de conhecer, do Latim cognoscere, em que a partícula inicial “cog” está agregada ao étimo noscere, ainda mais claro se exemplificado com ignorare, em que está presente o mesmo étimo, sendo “ig” o elemento de negação. Ignorare, ignorar, é, portanto, desconhecer. Ignorante e ignaro têm o mesmo étimo. A fala popular intuiu que indivíduos “sem noção”, do Latim notione, declinação de notio, são ignorantes e ignaros. Se sobre eles pesam restrições, isso não ocorre com o “desconhecido”, que frequentemente é temido ou admirado. No dia 28 de novembro, lembramos o soldado desconhecido, reunindo para memória, num indivíduo, todos os que morreram em combate sem que nem pudessem ser identificados. É também o Dia Nacional de Ação de Graças. Martíni: de origem controversa, provavelmente do Italiano Martini, sobrenome de Alessandro, importador de vermute para os Estados Unidos, ou de um barman chamado Joe Martini, que o teria criado no bar de um hotel em Nova York, a pedido de John Davidson Rockfeller (1906-1978). Famosas personalidades registraram louvores ao aperitivo, segundo nos informa o chef de cozinha e apresentador inglês James Winter no livro Quem Colocou o Filé no Wellington?. Hemingway ironizou tantas receitas. Disse que, se alguém se perdesse na selva africana, era só sentar-se sobre uma pedra e preparar o aperitivo: “Garanto que em menos de 5 minutos vai aparecer alguém dizendo que a dosagem de gim e vermute está errada”. Pizzaria: de pizza, que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa não registra. Mas registra onde o prato é vendido e consumido, a pizzaria, denominação influenciada também pelo Italiano pizzeria. Os próprios italianos reconhecem que a palavra pizza tem origem no Germânico e chegou ao Italiano pelo Longobardo bizzo, mordida, bocado, semelhante a focaccia, fogaça, pão assado em brasas, sob cinza. Foi o pizzaoilo Raffaele Esposito quem criou a pizza margherita, em homenagem à rainha italiana Margarida Maria Teresa Joana de Saboia (1851-1926), quando esta visitava Nápoles, sua terra natal, em companhia do esposo, o rei Umberto I (1844-1900), depois assassinado por um anarquista da Toscana. Salada: do Francês salade, com influências do Italiano insalata, por suas variantes do norte, salata e salada. Designa prato de hortaliças, legumes, crus ou cozidos, mas especialmente alface, aos quais são acrescentados também pão tostado, sovado ou moído, ao tempero de sal, azeite, limão, vinagre etc. Mas as saladas não são apenas italianas. Duas das mais famosas são a salada russa e a salada César, esta última referida nos cardápios brasileiros de forma paradoxal: mantém-se em Português salada, e não salad, como no Inglês, mas muda-se César para Caesar, pronunciando-se “Tcízar” a palavra do Latim, como se fosse do Inglês. A iguaria foi criada durante a Lei Seca, nos anos 1920, nos Estados Unidos. As bebidas alcoólicas estavam proibidas. Para forrar o estômago de seus clientes, a comida havia acabado, Caesar Cardini (1896-1956), dono de um restaurante em Tijuana, no México, vizinha a São Diego, nos Estados Unidos, inventou o prato. Vermute: do Inglês wordwood, nome pelo qual o absinto era conhecido, com influências do Alemão Wermut e do Francês vermout. Ao lado do gim, é um dos dois ingredientes do martíni.

A VIAGEM DAS PALAVRAS: do berço ao túmulo (porque as palavras nascem, crescem e morrem)

A viagem das palavras: do berço ao túmulo (porque as palavras nascem, crescem e morrem) O Português é complicado? O jornalista gaúcho Aparício Torelli, famoso por seu humor, disse que é, porque “calça é uma coisa que se bota, e bota é uma coisa que se calça”. Mas o escritor e professor Deonísio da Silva, igualmente bem-humorado, explica que é complicado só para quem não tem a paixão do conhecimento, o gosto de extrair os sabores dos saberes de nossa amada, mas maltratada língua portuguesa. Todos nós temos história, pois as pessoas, como os dentes, têm raízes, dizia o escritor judeu-austríaco Stefan Zweig, autor de Brasil, país do futuro. As palavras também. É preciso entendê-las para amá-las, ou então seguir o conselho de Olavo Bilac: “amai para entendê-las!/ pois só quem ama pode ter ouvido/ capaz de ouvir e de entender estrelas”. Lotte & Zweig (Editora Leya), o mais recente romance de Deonísio, já publicado também na Itália, e em tradução para o Inglês e o Alemão, foi lançado no ano passado e tomou por tema o suposto suicídio do casal Lotte e Stefan Zweig. Deonísio da Silva – Esse escritor e professor, que se define como “botânico e jardineiro das palavras”, é um encantador de ouvintes e de leitores, seja nos livros, nas crônicas, nas aulas, nas conferências e palestras, e também em revistas, jornais e na rádio Bandnews, onde mantém as colunas semanais Sem papas na Língua e Pitadas do Deonísio. Doutor em Letras pela USP, ele se especializou em livros proibidos e em etimologia, suas grandes linhas de pesquisa. Escreveu 34 livros, entre romances, contos, crônicas e ensaios. Seus livros de etimologia (De onde vêm as palavras, cuja 17a edição está no prelo pela Editora Lexikon, é um bom exemplo) fascinam leitores de todas as idades pela curiosidade de palavras e expressões na longa viagem que as palavras fizeram e fazem até chegar ao Português. Algumas ainda estão vindo, como aquelas que se originam no Inglês… E seus contos e romances, já publicados também em outros países, constantemente reeditados, já receberam prêmios importantes, no Brasil (Mec, Fundação Cultural do Distrito Federal, fundações, academias etc.) e no exterior, entre os quais o Prêmio Internacional Casa de las Américas, em júri presidido pelo Prêmio Nobel José Saramago, para o romance Avante, soldados: para trás (no Brasil, em 10a edição pela Leya, e já publicado em Portugal, Cuba e Itália). Tira-gostos e aperitivo da palestra: Trabalho procede do Latim tripalium, instrumento de três paus, destinado a torturas e castigos. Salário tem uma história amarga. Veio do Latim salarium, quantia dada pelo comandante a seus soldados para eles comprarem sal. Quando a remuneração passou a ser feita em moeda, do Latim Moneta, deusa que guardava o templo onde eram cunhadas as moedas, chamou-se soldo, da redução do nome da moeda que os soldados recebiam, nummus solidus. Houve outras viagens pelo caminho e uma delas deu em dinarium, dinheiro, já no Latim vulgar. Com dinarium na bursa, bolsa, o militar, do Latim militaris, podia comprar uma calcea, calça, para cobrir as pernas e proteger-se do frio, alongando o calceus, calçado. Ficou muito confortável usar a calcea no calceus, por isso ela se tornou parte integrante do vestuário, desdobrando-se em calcea, calça, quando inteira, e media, media, meia, quando curta. A moda femina entretanto aproveitou as duas palavras e fez a meia-calça, que é meia, mas não é calça! E o diminutivo calcinha já nada tem a ver com a palavra que lhe deu origem, o calceus, calçado, pois não é veste para o pé, do Latim pedes, étimo que está presente também em tripudiar, do Latim tripudiare, saltar de pés calçados sobre o inimigo, espezinhando-o ou derrubando do pedestal o seu busto, do Latim bustum, queimado, presente em combustão, porque os antigos romanos colocavam no lugarda cremação do cadáver uma representação em mármore ou em bronze da cabeça e do tórax do defunto, do Latim defunctus, pronto, lembrando o lugar onde seu corpo, do Latim corpus, tinha sido cremado, do Latim cremare. E tchau procede de escravo, do Italiano schiavo, depois que, em dialeto, os italianos passaram a pronunciar ciavo e não schiavo, ao dizerem, em forma gentil de tratamento, sono vostro “chiavo”, ciavo, que virou ciao, saudação na chegada e na saída. Pronto, tchau! (fim) Dia 30 de novembro (sábado) A partir das 15h Entrada Franca (senhas distribuídas às 14h)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

LIVRO PREFERIDO

https://www.facebook.com/deonisio.dasilva/posts/651332528222404?comment_id=99291610&offset=0&total_comments=1&ref=notif¬if_t=share_comment Deonísio da Silva (escritor) Castro Alves - O Navio Negreiro - Saraiva Castro Alves - O Navio Negreiro - Saraiva"O meu livro preferido é uma dúvida atroz: Dom Casmurro, de Machado de Assis, ou os poemas Vozes da África e O Navio Negreiro, de Castro Alves? Ou ainda o Gênesis ou o Evangelho de São Mateus? Fico com O Navio Negreiro, bela e trágica narrativa em poesia sobre a travessia dos escravos da África para o Brasil. Quem é contra as quotas, deveria reler O Navio Negreiro. Tudo o que de bem fizermos para os negros será pouco diante do mal que lhes causamos ao longo da História!"

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

JOAQUIM BARBOSA E O BRASIL DE PARAFUSO SOLTO

O ministro Joaquim Barbosa, hoje figura solar do Brasil, é filho da Abolição, da República e do Livro. Mas o Brasil está com o pavio aceso, tem um parafuso solto e ameaça entrar em curto-circuito, ou em turco-circuito, no caso dos malufícios que Paulo Maluf tornou emblemáticos na arte de governar. Todas essas expressões fizeram uma longa viagem até chegar ao Português, a última flor do Latim. Tudo começa na herança greco-latina fixada para sempre na alma da língua portuguesa. Trata-se de uma herança pouco estudada. O descaso com a cultura legada pelo Latim, mãe da língua portuguesa, empobrece o sistema de ensino e torna nossa juventude refém de ignorantes que lhe impõem o que bem entendem. Nossos jovens ficaram sem parâmetros. E agora têm dificuldade de avaliar o que é um texto bem escrito, onde estão os bons romancistas, os bons contistas, os bons poetas, os bons ensaístas, quais são seus livros de referência. Para agravar a crise, professores despreparados e sobrecarregados de aulas pouco podem fazer por seus alunos. Todavia o mundo em que vivemos é plural e complexo. Nele a família, a Igreja e o sistema escolar já não têm mais a hegemonia que tinham na transmissão dos saberes. Hoje a moçada aprende muito na mídia, principalmente na internet. Essa mudança, aliás, é histórica e tinha começado em fins do século XV, com Gutenberg. O poeta Castro Alves foi quem a viu com mais clareza. No poema O Livro e A América, ele diz: “Filhos do século das luzes!/ Filhos da Grande nação!/ Quando ante Deus vos mostrardes,/ Tereis um livro na mão:/ O livro — esse audaz guerreiro,/ Que conquista o mundo inteiro”. Desde minha adolescência profunda, sei este poema de cor, e minha vontade quando o cito é recitá-lo inteirinho, como quem mostra, não o rosto, os seios ou as pernas de uma mulher bonita, mas a mulher inteira, para que possamos também ver sua alma, pois é a alma que espalha a beleza por pelos e cabelos. Castro Alves continua assim: “Por uma fatalidade/ Dessas que descem de além,/ O sec'lo, que viu Colombo,/ Viu Gutenberg também./ Quando no tosco estaleiro/ Da Alemanha o velho obreiro/ A ave da imprensa gerou.../ O Genovês salta os mares.../ Busca um ninho entre os palmares/ E a pátria da imprensa achou...”. Outro dia, no Pitadas do Deonísio, na Bandnews, recitei e receitei versos de Castro Alves, dizendo o quanto ele fizera pela Abolição e pela República, na segunda metade do século XIX. E disse que sua arma tinha sido o livro, que naquela época estava também nos jornais, em forma de fragmentos, capítulos, poemas etc. Diz mais o poeta baiano, formado em Direito no Largo São Francisco, na USP, e falecido tão cedo, aos 24 anos: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros... livros à mão cheia.../ E manda o povo pensar!” Vamos ler para entender onde estão os parafusos soltos e os fios desencapados. E prestemos atenção ao ministro Joaquim Barbosa! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

CASTRO ALVES, O POETA DOS ESCRAVOS

No Dia da Consciência Negra, recitei, agora há pouco, no Pitadas do Deonísio, na Bandnews, fragmentos destes versos do poeta dos escravos. Eu os sei de cor desde menino. São lindos! E trazem uma epígrafe em Latim, do Lutero (Invideo quia quiescunt.); outra em Português, do Alexandre Herculano (Tu que passas, descobre-te! Ali dorme o forte que morreu). A CRUZ DA ESTRADA Castro Alves Caminheiro que passas pela estrada, Seguindo pelo rumo do sertão, Quando vires a cruz abandonada, Deixa-a em paz dormir na solidão. Que vale o ramo do alecrim cheiroso Que lhe atiras nos braços ao passar? Vais espantar o bando buliçoso Das borboletas, que lá vão pousar. É de um escravo humilde sepultura, Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz. Deixa-o dormir no leito de verdura, Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs. Não precisa de ti. O gaturamo Geme, por ele, à tarde, no sertão. E a juriti, do taquaral no ramo, Povoa, soluçando, a solidão. Dentre os braços da cruz, a parasita, Num abraço de flores, se prendeu. Chora orvalhos a grama, que palpita; Lhe acende o vaga-lume o facho seu. Quando, à noite, o silêncio habita as matas, A sepultura fala a sós com Deus. Prende-se a voz na boca das cascatas, E as asas de ouro aos astros lá nos céus. Caminheiro! do escravo desgraçado O sono agora mesmo começou! Não lhe toques no leito de noivado, Há pouco a liberdade o desposou.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

PIZZA, SALADA, FILÉ: QUEM OS INVENTOU?

A pizza Margherita, com muçarela, tomate e manjericão, para indicar as três cores da bandeira italiana, foi inventada por um pizzaiolo chamado Raffaele Esposito. A rainha Margherita visitava Nápoles em 1889 e ele resolveu homenageá-la. E quem inventou a Salada Caesar, pronunciada “Tcízar” no Brasil, sem que traduzam salada? Na década de 20, com a vigência da Lei Seca, o ítalo-americano Caesar Cardini abriu um restaurante em Tijuana, no México, na fronteira com os EUA, para poder atender os clientes de San Diego, na Califórnia, onde ele não podia vender bebidas alcoólicas. Atravessar a fronteira para comer a célebre salada tornou-se pretexto de pessoas simples e famosas.
E no entanto o prato nasceu acidentalmente. O restaurante encheu demais num certo dia, e o seu proprietário não sabia o que fazer. Havia apenas alface, azeite, alho, ovos, pão e limão. Pois com algumas folhas de alface, seis colheres de sopa de azeite, um dente de alho, um ovo caipira, uma colher de suco de limão, um pouco de molho inglês, uma pitada de pimenta, duas fatias de pão branco cortadas em cubinhos e 25 gramas de queijo parmesão ralado grosso, ele passou a fazer o prato para servir quatro pessoas, que se tornou apreciado por gente como Wallis Simpson (Duquesa de Windsor), Clark Gable, Yves Saint Laurent e o barão de Rothschild, que atravessavam a fronteira para juntar o prazer de comer e beber, quando a segunda atividade era crime nos EUA. “A descoberta de um novo prato traz mais alegria à humanidade do que a descoberta de uma nova estrela”,escreveu o celebérrimo gastrônomo francês Anthelme Brillat-Savarin no seu livro referencial A fisiologia do gosto. E não é que me cai às mãos o livro de James Winter, Quem colocou o filé no Wellington?, que acabei de ler. O subtítulo indica o assunto: 50 clássicos da culinária: quem os criou, quando e por quê.
O Filé à Wellington do título não foi criado pelo Duque de Wellington, vitorioso sobre Napoleão em Portugal, na Espanha e principalmente na Bélgica, onde jogou a pá de cal sobre os planos do Corso na famosa Batalha de Waterloo. É verdade que no período entre 1813 e 1815, quando ele liquidou o sonho napoleônico de dominar a Europa, o exército inglês consumia 300 bois por dia. Todavia o prato não foi inventado por ele. Já Napoleão criava pessoalmente pratos para celebrar suas vitórias. Um dos mais famosos é o Frango à Marengo, criado na Primavera de 1800 para comemorar sua vitória na Batalha de Marengo, no Piemonte. É dele a frase: “qualquer exército marcha com seu estômago”. Não sei cozinhar e talvez por isso aprecie tanto quem saiba, pois admiramos mais o que não sabemos fazer e outros fazem tão bem. Não cozinho, não pinto, não danço, só toco teclado e assim mesmo exclusivamente por pauta. Escrever e ensinar, não, isso posso fazer de ouvido...e de livros. São o que ignoro menos, talvez! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

UM ENGANO SOBRE A FEIJOADA

Na Rádio BandNews FM, hoje, com Pollyanna Bretas e Maíra Gama, falamos de comida: um prato típico, a feijoada. E desfizemos o engano de que foi inventado por escravos! Isso não é verdade! Temos meios e documentos de provar o contrário. Foram os portugueses que trouxeram e Portugal este prato, onde já existia ainda no primeiro milênio, tornando-se muito popular depois da invasão árabe, no ano 700, só que com feijão branco, aqui substituído pelo feijão-preto. A feijoada é um prato carioca! Foi inventado no famoso Restaurante G. Lobo, popular, fundado em fins do século XIX, que servia pratos bons e baratos. Era pronunciado "Globo", nome de um restaurante chique, que servia pratos finos e caros. Foi fechado em 1905 porque a rua onde ficava, desapareceu. Seu chef e proprietário alterou a receita, acrescentando arroz, laranja, couve, farofa e torresmos. Os dicionários registram mais de 170 tipos de feijão, uma palavra que veio do Grego, passou pelo Latim e chegou ao Português. Alguns com nomes muito curiosos, começando pelo feijão-carioca, feijão-frade, feijão-fradinho, feijão-padre, feijão-papa, feijão-mulato, feijão-mulatinho, feijão-mulata-gorda, feijão-lagartixa. E consolidou a expressão feijão-com-arroz, comida típica do brasileiro, que designa a simplicidade no modo de dizer e fazer as coisas. O caminho foi o seguinte: a feijoada portuguesa virou feijoada à brasileira, registrada no jornal Diário de Pernambuco, na edição do dia 7 de agosto de 1833. Em 1848 o mesmo jornal anunciava a venda de toucinho. No dia 6 de janeiro de 1849, o Jornal do Commércio, do Rio, anuncia que que "o Novo Café do Commércio servirá feijoada à brasileira às terças e quintas-feiras". A feijoada era comida da elite até então!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

TODA MULHER TEM MEDIDAS PROVISÓRIAS

Um pouco mais esbeltas em certas épocas, um tantinho mais reconchudinhas em outras. As variáveis são muitas: idade, alimentação, exercícios e influências hormonais levam-nas a modificar mais o corpo do que o espírito, talvez. Mas é a alma feminina que sofre mais com essas variações de estilo. A brasileira Marta Hacker Rocha tinha duas polegadas a mais e perdeu o título de Miss Universo em 1954 para a americana Miriam Stevenson. Todavia todos os homens do mundo, menos o júri daquele ano, é claro, acharão sempre que a vencedora tinha duas polegadas a menos! Ninguém quer amar um cabide! Só os mentirosos e os hipócritas ousam dizer que amam um cabide! Isso é coisa de costureiro e de quem não gosta de mulher!
Até a americana olhou com inveja para os quadris da brasileira. Mas uma inveja doce. Ficou tão surpresa com a vitória, que deu à perdedora o automóvel recebido de presente da direção do concurso. Os próprios organizadores, cobertos de remorso, deram um prêmio especial de “Garota Popular” a Marta Rocha. A decisão tinha sido no tapetão. As duas tinham chegado empatadas à finalíssimas, mas o patrocinador, um fabricante de maiôs, queria vender mais peças no mundo inteiro, não apenas no Brasil e na África, e por isso adotou a silhueta dominante entre aquelas que podiam comprar maiôs: as mulheres americanas e europeias. Naquele ano participaram 33 candidatas do mundo inteiro. Nenhuma americana tinha ainda vencido o Miss Universo. E era a primeira vez que o Brasil participava do certame. Quando Yolanda Pereira venceu, em 1930, a competição não era oficial e por isso o título não foi reconhecido. A americana Olivia Culpo venceu o concurso Miss Universo de 2012 e recebeu o título das mãos da angolana Leila Lopes. A Miss Universo anterior tinha sido a mexicana Ximena Navarrete, quebrando uma sequência de várias venezuelanas. Ainda não saiu a edição 2013.
A gaúcha Ieda Maria Vargas, natural de Pelotas, tornou-se Miss Universo em 1963. E a baiana Marta Vasconcelos, professora de alfabetização em Salvador, repetiu o feito em 1968. Todas as vencedoras foram celebradas, mas a derrota de Marta Rocha marcou a alma dos brasileiros para sempre, semelhando a derrota da seleção brasileira para o Uruguai na Copa do Mundo de 1950. Foi um quadriênio de derrotas inesquecíveis. Perdemos também a Copa de 50 e caímos nas quartas de final diante da Hungria por 4 x 2. A derrota de Marta Rocha foi tratada com humor até mesmo pela perdedora, que gravou a marchinha de Alcir e Pedro Caetano, cujos versos mais insistentemente lembrados diziam: “Por duas polegadas mais/ Passaram a baiana pra trás/ Por duas polegadas!/ E logo nos quadris/ Tem só, seu juiz!”. No próximo ano, uma efeméride difícil de esquecer: sessenta anos da derrota de Marta Rocha no concurso de Miss Universo. Mas por que não esquecemos isso? Algumas derrotas nos ensinam mais do que as vitórias! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

SÃO CARLOS FAZ 156 ANOS! VIVA!

As cidades, como as pessoas e as palavras, envelhecem. Dia 4 de novembro, São Carlos (SP) vai fazer 156 anos. Esta idade é superada apenas por palavras , uma vez que nenhuma pessoa chega a tanto. Tenho muitos leitores e amigos em São Carlos e prezo muito os vínculos com a cidade, que incluem a UFSCar, onde ensinei por mais de vinte anos, e o jornal Primeira Página, do qual sou cronista há cerca de trinta anos. Por isso, devo uma palavrinha sobre o aniversário, que não é apenas da cidade, é do município. Pero Vaz de Caminha diz ao rei Dom Manuel em sua famosa crônica, a Carta, que não deixará de falar da nova terra, “ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer”. É o meu caso. Se merecer aprovação, que seja alheia. Quem tem que gostar da crônica é o leitor, não o autor! São Carlos começou a existir com a Sesmaria do Pinhal, fixada em 1831, com 4 léguas de comprimento e uma de largura. Sesmaria é a sexta parte da divisão de um território. O étimo está presente também em semestre. Para uma ideia da extensão das terras, uma légua tinha 3.000 braças ou 6.600 metros. Uma sesmaria tinha, pois, 17.424 hectares ou 174.240.000 m2. Légua é palavra que veio do Celta leak, pedra. As distâncias eram marcadas com pedras. Braça veio do Latim bracchia, braços, plural de bracchium, pois eram usados os dois braços estendidos para fixar essa medida. Em 1857, no dia 4 de novembro, os proprietários e moradores da Sesmaria do Pinhal, na maior parte herdeiros das famílias Arruda e Botelho, celebram a fundação de São Carlos, que é elevada a vila em 1865, com cerca de 6.000 habitantes, e à condição de cidade em 1880. Naqueles 15 anos, a população cresceu mais de 150%. No censo de 1886, São Carlos aparece com 16.104 almas. O município logo teve café e escravos. E não seria o que se tornou sem imigrantes, principalmente italianos. Havia até um vice-consulado da Itália na cidade. E não seria o que hoje é sem os migrantes que para cá vieram, principalmente para suas indústrias, escolas, faculdades e universidades, notadamente a USP, em 1953 (com um câmpus), e a UFSCar, em 1970.
Como a conversa clara e não a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, o trato justo do aniversário de São Carlos passa pelo exame de seus problemas, que eram outros ontem e foram resolvidos, como o fim da escravidão. Mas vieram novos atrapalhos! Vive-se bem em São Carlos, mas todos viveriam melhor se pessoas de valor não fossem excluídas, ora por um, ora por outro governo. Esta pequenez não faz bem nem aos que a praticam!
O governo municipal tem que ser o primeiro a garantir a qualidade de vida. E essa busca de qualidade em todos os setores passa pelo aproveitamento de quadros à luz de critérios que todos possam respeitar! Erros crassos não devem ser repetidos. Dito isto, feliz aniversário a São Carlos! A celebração é de todos e tem muitos motivos! (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).