NOME DE POBRE NO BRASIL
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
PARAÍBA NÃO É JERUSALÉM: JESUS ENCHE DE PORRADA O CENTURIÃO
Aconteceu numa cidadezinha lá nos confins da Paraíba. O dono do circo, em passagem pela cidade, sabendo quão religiosa era sua comunidade, resolveu encenar a PAIXÃO DE CRISTO na Sexta-feira Santa.
O elenco foi escolhido dentre os moradores locais e, no papel principal - de Jesus Cristo – colocaram o cara mais 'gato' da cidade.
Os ensaios iam de vento em popa quando, às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, o corno deu-se conta que não podia fazer escândalo: iria pôr a perder todo o trabalho e o investimento que fizera para montar a peça. Pensou, pensou... E acabou encontrando a solução.
Na véspera do espetáculo, comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do CENTURIÃO! - Mas como? - reclamaram todos, - você não ensaiou! - Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala!
Mesmo sem gostar, o elenco teve que aceitar. Afinal, o cara era o dono do show.
Chegou o grande dia. A cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa em profundo silêncio e ´Jesus´ carregando a cruz. De repente o 'centurião' começa a bater e enche ´Jesus de porrada. E desce o chicote de verdade.
´Jesus´reclama em voz baixa, quase cochichando: -Oxente, cabra, cê tá me machucando! - É pra dar mais veracidade à cena, devolve o 'centurião'. E cada vez bate mais no pobre ´Jesus’ que a essa altura está com o lombo cheio de manchas vermelhas e roxas. E lept, lept, o ‘centurião´ enfurecido não para de bater e bate cada vez com mais força.
Vendo que o ´centurião´ não parava de bater e ia esfolá-lo vivo, 'Jesus' largou a cruz no chão, puxou a peixeira, a famosa faquinha do nordestino, e partiu pra cima do 'centurião ', desafiando-o: - Vem, desgraçado, vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso!
Assustado, o 'centurião' saiu correndo e 'Jesus' partiu atrás dele com a peixeira. A plateia, em delírio, gritava: “ É isso aí, ´Jesus´, fura ele! Fura que aqui é a Paraíba, não é Jerusalém.
domingo, 28 de outubro de 2012
O REI SALOMÃO ESTEVE NO BRASIL?
Meme, do Grego mneme, memória, palavra criada pelo biólogo Richard Dawkins, designa algo propagado como um vírus, abundantemente, como se deu, antes da internet, com o famoso comercial de Washington Olivetto, presente também no livro O primeiro a gente nunca esquece , do qual sou coautor, com a crônica O primeiro apagão a gente nunca esquece, publicada na revista ÉPOCA, quando dirigida por Augusto Nunes. “Sutiã” foi substituído para formar novos significados para a expressão.
Memes partilhados no Facebook vêm comentando vestígios da presença dos fenícios no Brasil, comprovada em inscrições e pinturas em rochedos nos estados do RJ, PI e AM. Ali foram identificados caracteres babilônicos, etruscos, gregos, latinos e até hieróglifos egípcios.
O filólogo francês Henrique Onffroy de Thoron, no livro Viagem dos Vassalos de Salomão ao rio Amazonas, assegura ter encontrado nas amostras grande semelhança entre as línguas citadas e o hebraico, o tupi e o quíchua, idioma do outrora poderoso império inca, no Peru. Também o pesquisador austríaco Ludwig Schwennhagen (chamado popularmente professor Chovenágua) e o cônego Raimundo Ulisses de Pennafort, cearense, documentaram abundantemente esta presença.
Os resquícios do Hebraico em algumas palavras que o Brasil acrescentou ao Português estão também em nomes de lugares, até então atribuídos ao tupi, ao guarani e a outras línguas dos índios brasileiros. Bem, a designação de “índio” para o habitante do Brasil, como sabemos, já é fruto de um engano homérico, pois os navegadores achavam ter chegado às Índias.
Francisco da Silveira Bueno, professor da USP, em seu Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, diz que é controversa a origem tupi de Maceió, explicada como ma-sai-ó, coisa extensa. Talvez venha do Hebraico Maassiôt (Maceió), narrativa lendária; Retsif (Recife, dado como do árabe arrasif, estrada de pedra) é ancoradouro; Beith Lehem (Belém) é padaria.
O historiador Diodoro da Sicília (séc. I a.C.) escreveu que navegadores fenícios foram levados por fortes tempestades para uma ilha muito além das colunas de Hércules (Gibraltar), onde encontraram muito ouro. Em 565, um monge irlandês a descreveu, dando-lhe o nome de HY Brazil.
Até o nome “Brasil” pode ter vindo do hebraico Barzel, pau-ferro, que dava também a tintura para a veste dos poderosos, e foi levado junto a muito ouro por navegadores fenícios a serviço do rei Salomão (fins do primeiro milênio a.C.) para construir o templo de Jerusalém. Lemos no capítulo 10 do I Livro dos Reis que a rainha de Sabá, negra, “chegou a Jerusalém com camelos carregados de ouro e de pedras preciosas”. Ela, encantada pela sabedoria dele. Ele, pela beleza dela. E talvez também pela carga dos camelos. Na oportunidade, ela o presenteou com mais de 4.000 kg de ouro, em medida antiga.
(xx)
• Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
PÃO, VINHO, AZEITE E ALFABETO
Escrevi semana passada sobre uma história meio doida e encantadora: a presença dos fenícios no Brasil, sete séculos antes da descoberta oficial do país por Pedro Álvares Cabral.
Mas quem eram os fenícios? O que mais sabemos deles é que foram os inventores de um alfabeto que depois serviu a muitos outros idiomas. A Fenícia ficava no Norte da Palestina, em territórios hoje ocupados pela Síria e pelo Líbano. Desde que ali se fixaram, os fenícios se dedicaram à cultura de cereais (pão), videiras (vinho), oliveiras (azeite), pesca e artesanato.
A proximidade do mar e o comércio agrícola com os egípcios foram decisivos para deflagrar um ciclo de navegações, amparadas por cidades-estado surgidas ao longo da costa, como Biblos, Tiro, Sídon e Ugarit, cada uma delas com um governo autônomo para as questões políticas e administrativas. Todas eram dirigidas pela elite que dominava o comércio marítimo. O regime de governo era uma talassocracia, ou seja, um governo comandado por homens ligados ao mar.
O domínio de rotas comerciais, anteriormente controlada pelos habitantes de Creta, remonta a pelo menos o ano 1500 a.C., mas é por volta do ano 100 a.C. que os centros urbanos da Fenícia chegam ao auge, quando contaram também com o apoio dos hebreus. Tendo se exacerbado a concorrência com os gregos, os comerciantes de Tiro buscaram o comércio com regiões do Norte da África e da Península Ibérica, onde depois surgiriam Espanha e Portugal.
Dentre as contribuições dos fenícios tiveram destaque os avanços em astronomia e as técnicas de navegação necessárias à prática comercial.
No campo religioso, os fenícios incorporaram o politeísmo das sociedades antigas, então predominante. Baal, cujos adoradores são duramente criticados por Moisés no episódio do bezerro de ouro (uma ode à pecuária), era o deus associado ao sol e às chuvas. Aliyan, seu filho, era a divindade das fontes. Astarteia era a deusa da riqueza e da fecundidade.
Os fenícios não eram guerreiros. Tampouco tinha projeto de descobrir novas terras. O que eles queriam era navegar com o fim de abrir novos entrepostos comerciais. Assim, visitaram toda a orla mediterrânea da Europa e com suas formidáveis frotas comerciais penetraram no Mar Negro, percorreram a costa setentrional da África, atravessaram o Atlântico e visitaram um “Novo Continente”.
O historiador Diodoro da Sicília (séc. I a.C.) escreveu que navegadores fenícios foram levados por fortes tempestades e correntezas a uma grande ilha, de praias lindas, rios navegáveis, muitas serras no interior, cobertas por imensas florestas e, graças a um clima ameno, abundante em frutas, caça e peixe, usufruídos por uma população pacífica e inteligente”. Era o Brasil!
• Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
PALAVRAS DE DIREITO, MEU NOVO LIVRO (NASCENDO...)
Letras & Direito têm vínculos de fogo encantadores e flamejam em cada palavra. O verdadeiro significado da palavra diz alguma coisa ainda antes de ela ser proferida ou escrita.
Desde a tese de doutoramento que defendi na USP, cujo tema foram os 508 livros proibidos pós-64, que não me dedicava a essas conexões. Depois do FENEDE, voltei animadíssimo com as pessoas que lá conheci, como atuais e ex-alunos da Estácio Universidade, entre os quais um ministro do STJ, uma juíza, uma promotora de Justiça, dos quais falarei em outro post.
Eis a capa de meu próximo livro sobre o tema, a ser lançado ainda este ano, desta vez sem as imposições da práxis da luta intelectual, apenas os sabores dos saberes do Direito.
Manuelinha, minha única filha, é Promotora de Justiça, formada na USP, e desde os 14 anos dela, quando se decidiu por Direito, contemplo com os ollhares de uma paixão arrebatadora este curso que, não fora eu um homem de Letras desde quase o berço, teria sido a minha melhor escolha.
sábado, 20 de outubro de 2012
FALA, OSCAR FUSSATO NAKASATO, MELHOR ROMANCISTA DO JABUTI
"Meu nome é Oscar Fussato Nakasato, completei 49 anos este mês (setembro). Nasci em Maringá, mas meus pais tinham um sítio em Floresta – PR, onde morei até completar 8 anos. A partir de então, passei a residir em Maringá. Atualmente resido em Apucarana, na Vila Agari, e sou professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Graduei-me em Letras na Universidade Estadual de Maringá depois de uma dolorosa experiência de dois anos e meio no curso de Direito. Também sou mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual Paulista."
DEU BODE NA AVENIDA BRASIL
Somos herdeiros da civilização greco-romana. Na antiga Grécia, muitas noites eram ocupadas com o teatro, edifício referencial da cidade-estado. Ali eram representados os dramas e as comédias da vida cotidiana. Hoje, tudo isso passa na televisão. Isto é, havia novela das oito em Atenas, com outros autores, outros personagens, outras tramas e outros espectadores.
A tragédia infundia terror e piedade no público. Tragédia veio do Grego tragoides, bode. Nas tragédias, era morto um bode para expiar as culpas de todos, pois a função primordial do teatro era fazer a kátharsis, purificação, palavra que designava também a menstruação, pois menstruar é purificar-se todo mês. O latim mens, mês, está presente no verbo.
Para mostrar que do destino ninguém escapava, Sófocles (João Emanuel Carneiro da Grécia antiga) faz com que Édipo, cujo destino era matar o pai e casar-se com a mãe, faça isso sem saber.
Laio, seu pai, fica sabendo da profecia. Manda, então, furar os pés do menino (Édipo, em grego, quer dizer pés inchados) e jogá-lo de um penhasco.
A mãe, Jocasta, entrega a criança a um pastor. O menino acaba sendo adotado por Políbio, rei de Corinto, e por Mérope, sua esposa.
Já adulto, Édipo vem a saber pelo oráculo que seu destino é matar o pai e desposar a mãe. Aterrorizado, deixa a casa onde mora, muda de cidade, com o fim de evitar o destino.
Mas alguém escapa do destino? Fugindo do destino, numa encruzilhada ele mata Laio, que ele não sabe quem é, e ao chegar a Tebas vence o concurso respondendo corretamente a uma pergunta da Esfinge: qual o animal que de manhã anda com quatro pés, ao meio-dia com dois e à tarde com três? Ele responde que é o homem: quando criança, engatinha (quatro); crescido, anda de pé (dois); velho, usa uma bengala (três). O prêmio é casar-se com a viúva do rei Laio. A viúva é Jocasta, sua mãe.
Tempos depois, já pai de quatro filhos, que na verdade são seus irmãos, vemos Édipo governando a cidade-estado de Tebas com sabedoria e justiça. Mas irrompe então uma série de desgraças: peste do gado, fome, péssimas colheitas, mortalidade infantil etc. O oráculo é consultado e responde que a causa de todos os flagelos é que em Tebas vive um homem que matou o pai para casar-se com a mãe.
Governante bom e justo, Édipo determina que o culpado seja encontrado. É quando o adivinho Tirésias revela que o culpado é ele, Édipo. Jocasta, apavorada, se suicida. Édipo, que prometera punir o assassino, fura os próprios olhos. Este é o desfecho. A redenção pelo sofrimento.
Semelhando as tragédias da Grécia antiga, depois de cumprir três anos na cadeia pelo assassinato de Max, Carminha volta para o lixão, de onde veio, para recomeçar a vida.
Logo vai começar outra novela, isto é, recomeçar. Desde a antiga Grécia, a história é quase a mesma. Só mudam os modos de narrar! Os temas são eternos! (xx)
• O autor é escritor e Doutor em Letras pela USP, tem 35 livros publicados (alguns traduzidos em diversos países) e é Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, no Rio.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
RESULTADOS DO PRÊMIO JABUTI SAÍRAM HOJE, 18 DE OUTUBRO
Enviado por Márcia Abos, de São Paulo - 18.10.2012 | 17h49m
Câmara Brasileira do Livro anuncia vencedores do Prêmio Jabuti
Nota zero de jurado define ganhadores de melhor romance, e os livros dos jornalistas do Globo Mauro Ventura e Miriam Leitão foram premiados na categoria reportagem
Numa reviravolta decidida por um dos três jurados do Prêmio Jabuti, “Nihonjin” (Editora Benvirá), do paranaense Oscar Nakasato, foi o romance vencedor da premiação, uma das mais importantes da literatura brasileira. O “jurado C” — segundo o regulamento do Jabuti, a composição do júri só é divulgada após o prêmio ser entregue — optou por dar notas entre zero e 1,5 a cinco dos dez finalistas. Esses votos definiram o resultado final, surpreendendo o público presente na apuração, realizada ontem na sede da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em São Paulo.
A avaliação mais baixa do “jurado C” foi para o romance “Infâmia” (Alfaguara), de Ana Maria Machado: notas zero nas categorias enredo e construção de personagens e nota 0,5 na categoria estilo. O romance tinha sido o segundo mais votado na primeira fase do prêmio e, nesta fase final, recebeu cinco notas dez e uma nota 9,5 dos outros dois integrantes do júri, sendo o mais bem avaliado entre todos os outros concorrentes.
— Ficamos chocados e desnorteados com as notas zero e meio de Ana Maria Machado — reconhece José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio Jabuti, descartando a possibilidade de anulação do prêmio. — Não me senti confortável em questionar o voto do jurado C após a apuração. Se crio uma regra e dou a ele as cédulas para votar, não posso questionar a soberania de um voto feito dentro do regulamento. Dar as notas que bem entender é um direito do jurado, ainda que como curador eu não concorde com a estratégia que ele adotou. Não considero o jurado C adequado ao prêmio, ele usou uma falha minha e abusou do poder que tinha. Vou reavaliar sua participação. Mas não posso mudar o resultado. Ele é inquestionável e não pode ser anulado.
O “jurado C” também deu notas até 1,5 para obras de Wilson Bueno (o mais bem votado na primeira fase), Luciana Hidalgo, Paulo Scott e Menalton Braff. Ele ainda deu notas cinco para Domingos Pellegrini, e entre 9,5 e dez para Julián Fuks. Ana Maria Machado disse que não sabia das notas e não cabia a ela opinar sobre o caso:
— O único que posso dizer é que o grande julgamento é do leitor. É ele que sabe se gosta ou não do personagem. Um jurado é um leitor com poder neste momento, mas é só mais um leitor.
O segundo e terceiro lugar da categoria romance foram respectivamente para as obras “Naqueles morros, depois da chuva” (Hedra), de Edival Lourenço, e “Estranho no corredor” (Editora 34), de Chico Lopes. A obra vencedora foi publicada graças ao Prêmio Benvirá, que escolheu o romance do desconhecido Nakasato entre 1.932 concorrentes. É o primeiro romance do professor de Ensino Médio e graduação.
— Prêmios são subjetivos. Meu livro foi inscrito no Prêmio São Paulo de Literatura e não chegou a lista de finalistas. Fosse outra a comissão julgadora do Jabuti, o resultado seria totalmente diferente — disse o escritor. — Estava na fila do caixa do supermercado com minha mulher quando recebi a notícia. Não esperava, pois sei da qualidade dos outros autores que estavam no páreo.
Thales Guaracy Ferreira, diretor editorial de ficção e não ficção da editora Saraiva, da qual faz parte o selo Benvirá, afirma que não questiona a premiação, pois ela “tem condições de sustentar suas própria decisões”.
— Parabenizo ao jurado, seja ele quem for, por dar ao Brasil a oportunidade de descobrir um grande autor — disse Ferreira. — Assim como esse jurado, nossa editora tem preferido publicar autores novos em vez medalhões. Não por ideologia, mas simplesmente porque os originais que recebemos destes escritores estreantes são melhores do que os dos consagrados.
Até o ano passado, os jurados do Jabuti só podiam dar notas de oito a dez aos finalistas. Segundo Goldfarb, a regra foi mudada este ano porque alguns jurados davam notas menores do que oito, implicando sua anulação. O curador diz que em 2013 o prêmio poderá voltar à regra antiga ou ter quatro jurados, descartando as notas mais baixas:
— Me causa algum alívio saber que as obras vencedoras foram bem pontuadas pelos outros dois jurados. Tínhamos dez ótimos finalistas.
O livro “Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda” (Record), da colunista do GLOBO Míriam Leitão, foi o vencedor da categoria reportagem do Jabuti. Na obra, Míriam traça um panorama da história econômica do país nos últimos anos, da hiperinflação até a estabilização da moeda com o Plano Real. Outro jornalista do GLOBO, o repórter Mauro Ventura, do Segundo Caderno, conquistou o terceiro lugar na mesma categoria com “O espetáculo mais triste da Terra” (Companhia das Letras), que reconta a trágica história do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em 1961, em Niterói. “O cofre do Dr. Rui” (Civilização Brasileira), de Tom Cardoso, foi o segundo colocado.
Míriam, que está no interior de Minas Gerais fazendo uma reportagem, ficou emocionada ao saber da vitória e diz ter levado um susto com o anúncio do prêmio.
— Estou muito honrada. Não tinha criado expectativa sequer de ser finalista e quando vi os concorrentes desta fase achei que seria muito difícil. Sonhei muito com este livro e o escrevi querendo muito explicar ao leitor essa saga que foi a luta contra a inflação — contou ela.
Outros premiados incluem “Alumbramentos” (Iluminuras), de Maria Lúcia Dal Farra, na categoria poesia; “O destino das metáforas” (Iluminuras), de Sidney Rocha, na categoria contos e crônicas; “Benjamin: Poemas com desenhos e músicas” (Melhoramentos), de Biagio D'Angelo (infantil); e “A mocinha do Mercado Central” (Globo), de Stella Maris Rezende (juvenil). O primeiro lugar de cada categoria receberá R$ 3.500 e um troféu na premiação de 28 de novembro, quando também serão conhecidos os prêmios de Livro do Ano de Ficção e de Não Ficção.
Confira abaixo a lista dos ganhadores das principais categorias:
Romance
“Nihonjin” (Saraiva), de Oscar Nakasato
“Naqueles morros, depois da chuva” (Hedra), Edival Lourenço
“Estranho no corredor” (34), de Chico Lopes
Reportagem
“Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda” (Record), de Miriam Leitão
"O cofre do Dr. Rui" (Civilização Brasileira), de Tom Cardoso
"O espetáculo mais triste da Terra" (Cia das Letras), de Mauro Ventura
Biografia
“Fernando Pessoa: uma quase autobiografia” (Record), de José Paulo Cavalcanti Filho
"Claudio Manuel da Costa" (Cia das Letras), de Laura de Mello e Souza
"Antonio Vieira" (Cia das Letras), de Ronaldo Vainfas
In memoriam - “Eu vi o mundo” (Cosac & Naify), de Cícero Dias
Contos e crônicas
“O destino das metáforas” (Iluminuras), de Sidney Rocha
“O anão e a ninfeta” (Record), de Dalton Trevisan
“O livro de Praga” (Cia das Letras), de Sérgio Sant'Anna
Infantil
“Benjamin: Poemas com desenhos e músicas” (Melhoramentos), de Biagio D'Angelo
“O herói imóvel" (Rovelle), de Rosa Amanda Strausz
"Votupira, o vento doido da esquina" (SM), de Fabrício Carpinejar
Juvenil
“A mocinha do Mercado Central” (Globo), de Stella Maris Rezende
“A guardiã dos segredos de família”, (SM), de Stella Maris Rezende
“As memórias de Eugênia” (Positivo), de Marcos Bagno
Poesia
“Alumbramentos” (Iluminuras), de Maria Lúcia Dal Farra
"Vesuvio" (Cia das Letras), Zulmira Ribeiro Tavares
"Roça barroca" (Cosac & Naify), Josely Vianna Baptista
terça-feira, 16 de outubro de 2012
SEXTA-FEIRA, 13, AZAR E SUPERSTIÇÕES: QUAL A ORIGEM?
Feitos & Desfeitas CREDOS E CRENDICES
Sexta-feira, 13 e outras superstições
Por Deonísio da Silva em 16/10/2012 na edição 716 do Observatório da Imprensa
O número 108 da revista História Viva (ano 9) traz como principal matéria um dossiê sobre as superstições. E pergunta aos leitores na capa: “De onde elas vêm e por que provocam tanto medo?”. A série de textos nada diz sobre a história das palavras que designam essas crendices. Os informes e análises limitam-se a constatá-las e sobre elas tecer pertinentes arrazoados.
O dicionário Caldas Aulete informa que a palavra superstição chegou ao Português vinda do Latim superstitio, escrita superstitione em outros dicionários, que preferem indicar uma de suas declinações na língua-mãe. Não usam o modo mais correto de identificar a etimologia, uma vez que, havendo várias declinações, às vezes a palavra entra pelo caso acusativo, outras vezes pelo genitivo, outras vezes pelo ablativo. Para quem não conhece o Latim, é preciso lembrar que a grafia da palavra muda de acordo com a posição que o vocábulo ocupa na frase.
As superstições (são muitas!) estão em diversas línguas há milhares de anos, mas ao Português escrito chegaram no século 16. Antes talvez estivessem disfarçadas em outras palavras e expressões. Uma das mais comuns é o número 13, estranho às culturas que tinham como referência o 12, nascido da multiplicação dos lados do quadrado (quatro lados) pelos lados do triângulo (três lados). O dia tem 12 horas e a noite mais 12, totalizando 24 horas. A hora tem 60 minutos, 5 x 12. O minuto tem 60 segundos. Jacó teve 12 filhos, chefes iniciais das 12 tribos em que se fundou o Estado de Israel. O 12 prosseguiu no Novo Testamento: Jesus teve 12 discípulos. O número 12 nasceu, pois, num contexto que tentava conciliar o sagrado e o profano.
O número 13, ao quebrar esta harmonia, passou a identificar o azar. Ainda hoje vários hotéis dos EUA não têm o 13° andar. Há hospitais sem o quarto 13 e aviões, trens e ônibus sem o assento 13. No tarô, o número 13 a figura que o ilustra é um esqueleto carregando a gadanha, uma espécie de foice, simbolizando a Morte. A gadanha ou a foice corta a grama ou colhe o trigo na seara. E a Morte colhe a Vida.
Cálculo malfeito
Mas quando foi que tudo isso começou? Num desfile, o rei Felipe da Macedônia (século 4 a.C.), pai de Alexandre, o Grande, mandou incluir uma estátua sua às dos 12 deuses que eram levados à frente da procissão e pouco depois morreu assassinado. E Jesus, que formava 13 junto aos 12, morreu traído por um deles.
A outra superstição tenebrosa é a sexta-feira. Quando a sexta-feira cai num dia 13, o que ocorre em média duas vezes por ano, a coisa fica ainda mais complicada. Jesus morreu crucificado numa sexta-feira. No dia anterior, quando foi preso, tinha feito a última ceia com os 12 discípulos.
O rei francês Felipe 4º mandou prender o grão-mestre dos famosos templários numa sexta-feira, 13 de outubro de 1307, condenando-o à fogueira. Durante a Revolução Francesa, um de seus grandes comandantes, Jean Paul Marat, foi morto pela camponesa Charlotte Corday no dia 13 de junho de 1793. O Duque de Orléans, filho mais velho de do rei Luís Filipe, morreu num acidente, dentro de sua caleche, no dia 13 de julho de 1842, no 13º ano do reinado do pai. Mais recentemente, a NASA pagou caro por não pular o número 13 na série das naves Apollo e a missão da Apollo 13, em 1970, deu no que deu.
A civilização ocidental é cristã e nas superstições com o número 13 e com a sexta-feira jazem as lembranças do dia da morte de Jesus, por volta das 3h da tarde.
Trevos e morcegos
Outras superstições tratadas na matéria:
>> Espelhos quebrados: era preciso que os empregados tivessem muito cuidado, pois eram caros quando surgiram; dava azar quebrá-los;
>> Abrir um guarda-chuva dentro de casa: era comum machucar alguém que estivesse próximo; então dava azar. Guardá-lo molhado ajudava a enferrujar as hastes; então, dava azar também.
>> Derrubar sal sobre a mesa: o sal era um bem tão precioso que era meio de pagamento, origem da palavra salário;
>> Passar por debaixo da escada: a escada forma um triângulo, a figura perfeita, até Deus é representado nele com um olho no centro na conhecida figura em que aparece escrito ‘Deus me vê” ou “Deus tudo vê” etc. E poderia cair algo em cima da cabeça de quem passasse ali: uma telha, um tijolo, um pedaço de pau, uma lata de tinta etc; então dava azar.
>> O dedo do meio da mão, chamado de médio não pelo tamanho, pois é o maior, simbolizava o deus Saturno, venerado nas saturnálias, festas romanas em que rolava muito sexo; passada a festa, indica ofensa e trazia a sodomia, não mais como prazer, mas como sofrimento;
>> Bater na madeira três vezes: muitas árvores eram deusas, a própria floresta formava um panteão; era comum fazer-lhes pedidos, dando pancadinhas nelas; móveis são feitos de madeira: batem-se neles;
>> Jogar uma moeda na água: a origem é dar uma moeda ao barqueiro Caronte, que levava as almas para além do rio Estige; quem fosse enterrado sem uma moeda na boca, vagava eternamente por aquelas brumas; a Fontana di Trevi, monumento barroco do século 13, em Roma, já recebeu milhões de moedas, atiradas ali por turistas de todo o mundo, junto com os pedidos que fazem.
Trevos de quatro folhas, morcegos, sapos, gatos e corujas completam um arsenal de superstições que invadiram a civilização, onde estão presentes até hoje, desdobrando-se em outros tipos de comportamentos. Afinal, como dizem os espanhóis, nem para tudo a era científica tem explicações: No creo em brujas, pero que las hay! (Não creio em bruxas, mas elas existem!).
***
[Deonísio da Silva é membro da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), doutor em Letras pela USP, escritor e vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros]
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
O PORTUGUÊS GANHA O MUNDO
Por que o Português é a nova língua do poder e dos negócios?", pergunta em matéria de capa a revista MONOCLE, dos EUA!
Vamos começar a semana com a trilha sonora de Ennio Morricone, ilustrada com uma foto da belíssima Claudia Cardinale, que teve esplêndida atuação em ERA UMA VEZ NO OESTE?
E por que não encontramos mais nas casas do ramo outros filmes marcantes, como os de Sam Peckinpah? "Tragam-me a cabeça de Alfredo Gacia!".
http://www.youtube.com/watch?v=2s0-wbXC3pQ
sábado, 13 de outubro de 2012
LYGIA FAGUNDES TELLES & AMIGOS EM SP
Lygia Fagundes Telles, Anna Maria Martins, outra escritora que não consegui identificar e eu na casa de João Sérgio Telles, num dos habituais jantares de meus tempos paulistas, sempre muito agradáveis. Hoje, mato as saudades lendo todos eles, mas com Anna Maria me encontrei na semana passada e vamos nos encontrar de novo, agora na finalíssima do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
O REI SALOMÃO ESTEVE NO BRASIL?
DEONÍSIO DA SILVA *
Meme, do Grego mneme, memória, palavra criada pelo biólogo Richard Dawkins, designa algo propagado como um vírus abundantemente, como se deu, antes da internet, com o famoso comercial de Washington Olivetto, presente também no livro O primeiro a gente nunca esquece , do qual sou coautor, com a crônica O primeiro apagão a gente nunca esquece, publicada na revista ÉPOCA, quando dirigida por Augusto Nunes. “Sutiã” foi substituído para formar novos significados para a expressão.
Memes partilhados no Facebook vêm comentando vestígios da presença dos fenícios no Brasil, comprovada em inscrições e pinturas em rochedos nos estados do RJ, PI e AM. Ali foram identificados caracteres babilônicos, etruscos, gregos, latinos e até hieróglifos egípcios.
O filólogo francês Henrique Onffroy de Thoron, no livro Viagem dos Vassalos de Salomão ao rio Amazonas, assegura ter encontrado nas amostras grande semelhança entre as línguas citadas e o hebraico, o tupi e o quíchua, idioma do outrora poderoso império inca, no Peru. Também o pesquisador austríaco Ludwig Schwennhagen (chamado popularmente professor Chovenágua) e o cônego Raimundo Ulisses de Pennafort, cearense, documentaram abundantemente esta presença.
Os resquícios do Hebraico em algumas palavras que o Brasil acrescentou ao Português estão também em nomes de lugares, até então atribuídos ao tupi, ao guarani e a outras línguas dos índios brasileiros. Bem, a designação de “índio” para o habitante do Brasil, como sabemos, já é fruto de um engano homérico, pois os navegadores achavam ter chegado às Índias.
Francisco da Silveira Bueno, professor da USP, em seu Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, diz que é controversa a origem tupi de Maceió, explicada como ma-sai-ó, coisa extensa. Talvez venha do Hebraico Maassiôt (Maceió), narrativa lendária; Retsif (Recife, dado como do árabe arrasif, estrada de pedra) é ancoradouro; Beith Lehem (Belém) é padaria.
O historiador Diodoro da Sicília (séc. I a.C.) escreveu que navegadores fenícios foram levados por fortes tempestades para uma ilha muito além das colunas de Hércules (Gibraltar), onde encontraram muito ouro. Em 565, um monge irlandês a descreveu, dando-lhe o nome de HY Brazil.
Até o nome “Brasil” pode ter vindo do hebraico Barzel, pau-ferro, que dava também a tintura para a veste dos poderosos, e foi levado junto a muito ouro por navegadores fenícios a serviço do rei Salomão (fins do primeiro milênio a.C.) para construir o templo de Jerusalém. Lemos no capítulo 10 do I Livro dos Reis que a rainha de Sabá, negra, “chegou a Jerusalém com camelos carregados de ouro e de pedras preciosas”. Ela, encantada pela sabedoria dele. Ele, pela beleza dela. E talvez também pela carga dos camelos. Na oportunidade, ela o presenteou com mais de 4.000 kg de ouro, em medida antiga.
(xx)
• Da Academia Brasileira de Filologia (cadeira 33), Doutor em Letras pela USP, escritor e Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, autor de Lotte &Zweig, entre outros 33 livros.
domingo, 7 de outubro de 2012
ELEIÇÕES: O BOLSO É UM SÓ, O SEU!
DEONÍSIO DA SILVA *
Ainda hoje a maioria dos municípios vai saber qual será seu novo prefeito (Executivo) e quais serão os novos vereadores (Legislativo). Dos três poderes, apenas os juízes (Judiciário) são selecionados por concurso público de provas e títulos. Prefeito e vereadores são eleitos.
Eleição é tempo de boquinha, que designa emprego, gorjeta ou função de poucas responsabilidades e boa remuneração. São muitos os que esperam que os eleitos os atendam, naturalmente com o dinheiro alheio. E o que é pior: às vezes é o próprio candidato quem promete amamentar os pedintes descarados.
Eleição é também tempo de brigadeiro, docinho criado em homenagem ao brigadeiro Eduardo Gomes. Uma senhora fez o quitute e ofereceu ao então candidato, que era celibatário. Ele elogiou o sabor. A doceira, para agradá-lo ou vender mais, passou a utilizar o endosso militar para divulgar o doce paisano.
Outros dizem que o doce tem este nome porque a mineira soube que no episódio de Os Dezoito do Forte, em 1922, ele perdera os testículos. Como o doce é sem ovos e foi inventado nos anos seguintes à Segunda Guerra, época de escassez de muitos produtos no Brasil, a imaginação popular é que teria criado a denominação.
Candidato significa sem sujeira. Na Roma antiga, aqueles que postulavam cargos vestiam-se de branco, um símbolo de honradez que a cor branca sempre teve. Nas democracias, marcadas por escolhas periódicas de representantes do povo, os candidatos passaram a vestir-se de muitas outras cores, mas o significado permaneceu. E tem havido muita decepção, principalmente com aqueles que criticavam os corruptos e se tornaram piores do que aqueles que denunciavam.
Também o cargo de prefeito veio da Roma antiga. Era a autoridade posta à frente das fortificações que cercavam o município. Praefectus prae facere, fazer antes, antecipar-se, isto é, planejar. Originalmente, a função do prefeito não era a de esperar ou transferir responsabilidades, mas antecipar-se, resolvendo problemas apontados pelos vereadores, ouvindo-os e executando o que determinaram na câmara. Havia prefeitos que eram sacerdotes ou guardadores de rebanhos. Foi depois chamado praefectus villae, cuidador do povoado, administrador da vila, depois identificada pelo Império Romano por municipium, município, assim chamado porque ali era o lugar de o cidadão romano buscar seu munus capere, isto é, exercer seus direitos.
Vereador era chamado também de edil. O edil tinha a missão de inspecionar e tomar providências para a conservação dos edifícios. Mais tarde vereador substituiu edil, designando a mesma função, mas cuidando também das veredas, as vias públicas. Fazia seu projeto e apresentava a seus pares na Câmara, assim chamada porque o lugar onde se reuniam era coberto por uma abóbada, camara em Latim.
Vai votar hoje? Não vote em quem vai roubar para ele ou para o Partido dele, o que dá no mesmo, pois o bolso é um só: o seu! E daí vai faltar dinheiro para saúde, educação, cultura, ruas, estradas etc. (xx)
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
RATINHAS DE CURITIBA
Essas são as ratinhas de Curitiba, que percorrem as ruas da cidade pedindo votos para o candidato Ratinho Júnior, que quer ser prefeito!
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO, de J. D. Salinger (J, de Jerome; D, de David), falecido em 2010, aos 91 anos, é um livro que foi verdadeira coqueluche para a geração que hoje tem mais de 40, 50 ou 60 anos. Mas de repente ficou esquecido. Eis uma capa recente, apresentada pelo escritor gaúcho Carlos Henrique Schroeder na página de Sérgio Rodrigues, na Veja on-line.
O romance ambienta-se num fim-de-semana vivido pelo personagem solar, um adolescente chamado Holden Caulfield, de 16 anos, pertencente a uma rica família de Nova York. Estudando em internato masculino, ele tira notas muito ruins em todas as matérias, e é expulso do colégio naquele inverno. Não quer encontrar logo a família e por isso faz outras viagens antes de voltar para casa. Empreende então uma série de reflexões sobre a vida, antes de decidir o que fazer dali por diante. E conversa com pessoas importantes para ele: um professor, uma antiga namorada e a sua irmã. Confidencia a todas elas o momento confuso que vive. Este romance redefiniu a adolescência, antes considerada apenas porta de passagem para a juventude, e criou uma cultura jovem, que ainda hoje influencia muito a vida moderna, notadamente nos EUA. A indústria, principalmente do vestuário, de entretenimento etc, passou a lançar produtos especialmente para aquea faixa etária, como hoje faz com as crianças, grandes incentivadoras de consumo para os pais. Experimente levar uma criança naquele carrinho de supermercado. As crianças, sentadas ali como imperatrizes, vão derubando as prateleiras e as mais mal-educadas, se não são atendidas, abrem um berreiro. xx)
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
A LUTA AMOROSA COM AS PALAVRAS
(texto escrito por Mário Quintana para a revista “Isto É” de 14/11/1984)
Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade.
Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton! Excusez du peu.
Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante 5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Veríssimo – que bem sabem (ou souberam), o que é a luta amorosa com as palavras.
( Mario Quintana )
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Quanto à censura a Lobato, recomendo um filme que vi em Portugal, em dezembro passado, logo depois do lançamento: A Toupeira. No Brasil é O Espião Que Sabia Demais, baseado no romance de John Le Carré, "Tinker, taylor, soldier, spy", publicado em 1974. Na linha do que fiz Michel Foucault em "A Microfísica do poder", você fica sabendo como funcionam os complexos mecanismos do controle político. O chefão, aliás, é chamado apenas "O Controle". E a equipe, "O Círculo". É preciso saber tudo em detalhes, mas poder exercer o poder, que inclui vetar, controlar, censurar.
Defendi minha tese de doutoramento na USP, en 1989! Titulo: "Nos bastidores da censura", mesmo título do livro, lançado naquele mesmo ano pela Estação Liberdade, do nosso Jiro Takahashi. (Saudades de você, Jiro, querido amigo, inesquecível editor!)Poucos sabem, mas até a revista Playboy se interessou pelo assunto e eu obtive o primeiro lugal no Prêmio Abril de Jornalismo, pois sempre quis que fora dos muros universitários os leitores soubessem do que ali se produzia, que em geral é de boa qualidade e não tem público. SUSTENTO QUE A CENSURA NÃO É EXCEÇÃO, É NORMA. JOYCE, DANTE, FLAUBERT, D. H. LAWRENCE, OSCAR WILDE ETC, FORAM CENSURADOS NA FRANÇA, NOS EUA ETC. NO BRASIL, O CASO-SÍNTESE É RUBEM FONSECA, OBJETO DE MINHA TESE. AGORA AS HORDAS CENSÓRIAS SE VOLTARAM PARA MONTEIRO LOBATO. O FENÔMENOS NÃO É APENAS BRASILEIRO. NOS EUA, JÁ TIRARAM A PALAVRA "NIGGER" DAS OBRAS DE MARK TWAIN! A censura a Lobato vem no bojo do "controle" do "está tudo dominado", percebem? O objetivo é um só: impedir que o leitor leia e que os autores publiquem o que queiram, inclusive na mídia. O sonho deles é CONTROLAR! Porque daí podem assaltar o erário, os cofres públicos, e ninguém fica sabendo, percebem? No Brasil, fuciona assim: o rebanho estará entretido em discutir, repartido, as proibições a Monteiro Lobato, que é a bola da vez e mais uma tentativa de controlar o distinto público. Enquanto isso, eles fazem outras coisas, não é mesmo? No momento, estão concentrados em dizer que não houve mensalão. Que combater e levar a julgamento ladrões do dinheiro público é conspirar contra a democracia. Nunca antes neste pais vi ladrões se compararem a Getúlio Vargas!
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