NOME DE POBRE NO BRASIL
sábado, 14 de setembro de 2013
SETEMBRO TRARÁ O INVERNO DA NOSSA DESESPERANÇA?
O ministro Marco Aurélio Mello, um dos mais cultos e mais irreverentes do STF, julgava o mensalão na semana passada quando citou passagem do livro O inverno da nossa desesperança, do escritor americano John Steinbeck, cujo título é uma frase da peça Ricardo III, de William Shakespeare. O título em Inglês é Winter of our discountent (Inverno de nosso descontentamento). A edição de bolso é da L&PM.
Esta não foi a primeira vez que ele citou o trecho desse livro. Já o fizera em junho passado quando lamentou a revogação da decisão que punia os “contas sujas”.
Desta vez o ministro lembrou uma das cenas finais do romance, quando é dito algo muito inquietante sobre a escuridão. Ela é uma, quando nenhuma luz foi ainda acesa, mas “quando uma luz se apaga, fica ainda mais escuro do se jamais ela tivesse brilhado”.
Um resumo deste romance pode ser encontrado facilmente na internet, mas nada substituirá o prazer e o conhecimento da alma humana, dos mecanismos da sociedade que a moldam. No romance, entra em cena a família Hawley, composta por Ethan, a esposa Mary e os filhos Allen e Ellen. Eles moram na cidade inventada de New Bayton, nos EUA.
Ethan descende de navegadores que povoaram a região, mas sua família perdeu tudo em investimentos que deram errado, e ele agora trabalha de balconista na mesma mercearia que era de seu pai, mas que teve que vender a um imigrante italiano chamado Marullo para poder pagar dívidas.
Em casa, Ethan faz de tudo para disfarçar seus conflitos internos e se mostra bem-humorado para a esposa, Mary, que tem o apelido de Dona Ratinha.
Os dois filhos adolescentes vivem perguntando ao pai quando é que eles vão ficar ricos de novo: “Ontem à noite, Ellen me perguntou: ‘Papai, quando vamos ficar ricos?’. Mas eu não lhe disse o que sei: ‘vamos ficar ricos logo, e você que lida mal com a pobreza, vai lidar mal com a riqueza do mesmo jeito’. É verdade. Na pobreza, ela é invejosa. Na riqueza, ficará esnobe. O dinheiro não transforma a doença, muda apenas os sintomas”.
Ele denuncia o dono, que está ilegal no país, e se apossa da mercearia. Sua família é desunida, e ele faz de tudo para ganhar mais dinheiro, pensando que o conforto material seja a solução dos problemas. Para fazer isso, falta com a ética herdada dos ancestrais, praticando uma delação.
Com esse romance Steinbeck nos mostra como e em que entranhas da alma estão ocultos os motivos que levam as pessoas a parecerem o que não são. E que mesmo pessoas muito simples têm graves conflitos éticos dentro de si.
Na quinta-feira saberemos que personagem o ministro Celso de Mello vai desempenhar no romance da vida. Seu voto vai determinar se os mensaleiros vão para a cadeia ou não. Se fossem ladrões de galinha, já estariam presos, provavelmente sem julgamento. “Delúbio Mãos de Tesoureiro”, um dos réus, disse certa vez que logo o mensalão seria uma piada de salão.
O Brasil inteiro espera e torce para que o STF não nos decepcione!
º Da Academia Brasileira de Filologia, escritor e professor, doutor em Letras pela USP (xx).
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