NOME DE POBRE NO BRASIL

domingo, 15 de setembro de 2013

A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL NÃO FOI COMO SE CONTOU

http://www.rtp.pt/icmblogs/rtp/comunidades/?k=Dom-Pedro-a-independencia-e-os-18-filhosPor-Deonisio-da-Silva-.rtp&post=45634 O jornalista Laurentino Gomes lançou três grandes livros sobre momentos decisivos da História do Brasil. Todos têm números nos títulos: 1808, 1822, 1889. Os temas solares são respectivamente a vinda da Família Real para o Brasil, a Independência e a República. Nas universidades, ele é olhado com admiração por uns, por conciliar o rigor da pesquisa com um modo quase romanesco de contar a História do Brasil, e contemplado de soslaio por outros, que, num misto de inveja e despeito, não admitem que os saberes cheguem aos leitores numa linguagem em tudo diferente dos conhecidos e tediosos jargões universitários, que frequentemente fazem com que os livros sejam do interesse de muito poucos leitores. Laurentino Gomes deu recente entrevista (09 de setembro de 2013) ao programa Roda Viva, da TV Cultura, de São Paulo, conduzido por Augusto Nunes, um dos maiores jornalistas brasileiros sob qualquer prima que se o examine. Aliás, cuidadoso com a língua portuguesa, o apresentador deve sentir-se desarrumado com o título do programa que dirige. Afinal, está mais do que na hora de se colocar um hífen no título da programação, pois o que quer designar é uma roda-viva, em que o entrevistado, em movimentos incessantes de enquadramento das câmeras, dê uma entrevista quase coletiva a uma plêiade de entrevistadores. Como é setembro, aproveitemos o mote e escrevamos sobre os idos de setembro de 1822. Eles foram antecipados no Brasil. O Grito do Ipiranga deu-nos a independência política e um defensor perpétuo do Brasil. Dom Pedro I não foi um mau administrador, como quiseram nos fazer crer os republicanos para difamá-lo e assim caluniar toda a Família Real. É verdade que Dona Maria I, avó de Dom Pedro I, era louca, mas não era corrupta. Deve ser julgada no contexto em que vivia. A sua atuação na devassa, quando decretou a morte de Tiradentes por enforcamento, tendo determinado ainda que pedaços de seu corpo fossem salgados e dependurados em postes, deve ser examinada à luz do que outros monarcas, diante de ameaças semelhantes, faziam. Todos os outros inconfidentes foram poupados da morte, ainda que tenham recebido outros castigos, como o exílio. Excetuando-se Cláudio Manuel da Costa, que provavelmente morreu assassinado na prisão, ainda que tenha sido dada como suicídio a sua morte, outros tiveram melhor sorte. E o exílio de Tomás Antônio Gonzaga na África foi dourado. Logo ele esqueceu Dorothéa, a Marília de seus versos, por quem estava apaixonado sob o codinome de Dirceu, e arrumou outros amores por lá. Dom Pedro I deixou o Brasil nas mãos de Dom Pedro II, o filho pequeno, ainda uma criança, e atravessou o Atlântico para derrotar o irmão Dom Miguel, tornando-se rei de Portugal por uma semana. Logo abdicou também daquela coroa, passando o poder à filha, Dona Glória. Ele morreu de tuberculose, aos 36 anos, na mesma cama em que nascera, no palácio de Queluz, em Portugal, no dia 24 de setembro de 1834. Uma vida de apenas 36 anos Dom Pedro I teve 18 filhos: sete com a imperatriz Leopoldina; um com Dona Amélia, sua segunda esposa; cinco com a marquesa de Santos, sua amante; dois com uma francesa chamada Noemy Thierry; um com a baronesa de Sorocaba, irmã da marquesa de Santos; um com a uruguaia Maria del Carmen; um com outra amante francesa, chamada Clémence Saisset; e um com a monja portuguesa Ana Augusta. Este seu último filho chamou-se igualmente Pedro, como o pai. O gênero biográfico entre nós é pouco apreciado, embora as biografias despertem o interesse e a curiosidade de muitos. Quase não se o pratica. E mesmo entre aqueles poucos que se dedicam a biografias, às vezes temos mais panegíricos, elogios, do que exames que situem a personalidade no contexto em que nasceu, viveu, atuou e morreu. Mas seria interessante que mais biógrafos se ocupassem de figuras históricas do Brasil, como a de Dom Pedro I. Viveu apenas 36 anos, mas em tão breve vida fez mais do que muitos que morreram, não de tuberculose como ele, abatido em plena mocidade, mas velhos de todos os anos possíveis. Dom Pedro I governou o vasto Império do Brasil com pouca mão de obra qualificada para o poder, sem telefone, quase sem estradas, sem trem. O meio de transporte mais rápido era o cavalo quando chegou aqui, menino de apenas nove anos. E ainda era o cavalo quando partiu, para morrer em Portugal. Faz 191 anos que o Brasil alcançou a independência política. Falta a independência econômica, que está demorando muito, aliás. Da independência cultural nem é bom falar: cinemas e livrarias, por exemplo, faz décadas que estão invadidos por obras de baixa qualidade, asfixiando os espaços da produção nacional em todos os gêneros. Em resumo, é indispensável proclamar de novo a Independência do Brasil e desta vez fazer com que o povo participe dos eventos, começando enfim por alfabetizá-lo de vez. Quase dois séculos depois da Independência, apenas 26% dos brasileiros ditos alfabetizados entendem o que leem, segundo pesquisas confiáveis. E nas comemorações da Independência de 2013, por força dos protestos que de repente irromperam em todo o Brasil, o povo foi mantido à distância. Como se comprova, há ainda muito o que mudar para que a Independência possa ser celebrada. De todo modo, não se pode apequenar o grande gesto de Dom Pedro I, um estadista controverso, que, chegada a hora, fez o que tinha de ser feito: proclamar a independência. Consolidá-la, porém, não poderia ser obra exclusiva do célebre imperador. Ele aqui deixou o filho Dom Pedro II que, por paradoxos que somente a nós brasileiros dizem respeito, era um monarca republicano que acabou golpeado por um marechal monarquista. Para o bem ou para o mal, parece que só no Brasil algumas coisas podem acontecer! (xx) • Da Academia Brasileira de Filologia, escritor, professor e Doutor em Letras pela USP, autor de 34 livros, entre os quais os romances históricos Avante, soldados: para trás (Prêmio Internacional Casa de las Américas, no Brasil, em 10ª edição, publicado também em Portugal, Cuba e Itália), Teresa d´Ávil e A Cidade dos Padres. Sua obra de referência em etimologia é De onde vêm as palavras (16ª edição). Seu romance mais recente, Lotte & Zweig, recebeu da Academia Catarinense de Letras o prêmio de melhor romance de 2012. Este artigo aproveita texto anterior, publicado no Observatório da Imprensa. •Deonísio da Silva -Da Academia Brasileira de Filologia, escritor, professor e Doutor em Letras pela USP, autor de 34 livros, entre os quais os romances históricos Avante, soldados: para trás (Prêmio Internacional Casa de las Américas, no Brasil, em 10ª edição, publicado também em Portugal, Cuba e Itália), Teresa d´Ávil e A Cidade dos Padres. Sua obra de referência em etimologia é De onde vêm as palavras (16ª edição). Seu romance mais recente, Lotte & Zweig, recebeu da Academia Catarinense de Letras o prêmio de melhor romance de 2012. Este artigo aproveita texto anterior, publicado no Observatório da Imprensa.

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