NOME DE POBRE NO BRASIL

sábado, 28 de setembro de 2013

QUATRO ANOS: TEMPO SUFICIENTE PARA MUDAR TUDO

A maioria dos políticos quer a reeleição. Alegam que não podem fazer nada em quatro anos. O papa João XXIII mudou a Igreja e o mundo em quatro anos! Kennedy mudou os EUA em três! JK mudou o Brasil em quatro anos. Os campeões do mundo mudaram o futebol brasileiro em três semanas. Etc. Dia 3 de junho de 1963. Este escritor e professor, então um menino, tem uma dor que não passa. Perdeu dois irmãos que morreram afogados. Vieram avisá-lo no seminário, onde cursa o ginásio. Agora o mesmo padre sinistro, que dera o aviso, reúne os seminaristas para anunciar que acaba de morrer o Papa João XXIII, o papa buono, como era chamado até por inimigos.
Em alguma cidade do interior de São Paulo, os rádios estão ligados. É meio-dia! O locutor imposta bem a voz, semelhando um cantor, talvez um barítono, que, em vez de cantar, fale. São dadas a previsão do tempo, notas de falecimento, avisos de que nasceu mais um rebento ou pimpolho. Ou, se menina, desabrochou uma flor no sagrado lar de algum dos moradores. Só desabrocham as meninas. Dos meninos, o locutor só não diz que vêm a furo, como as espinhas e os tumores, à força, porque o redator é meio contido no estilo. Proclama-se também que Fulano e Sicrana vão contrair matrimônio! Para algumas doenças, o verbo é o mesmo. Assim, contrai-se catapora, sarampo ou caxumba. Se der tempo, falará da colheita e das estradas. Notícias da capital do Estado ou de Brasília, inaugurada há pouco mais de dois anos e construída pelo presidente JK em apenas quatro anos, só aquelas do jornal impresso. A menos que o Repórter Esso, a testemunha ocular da História, irrompa em edição extraordinária. A futura engenheira química e agora presidente da Petrobrás, filha de um Foster e uma da Silva, chama-se Maria das Graças e esta com dez anos. A filha do búlgaro Pétar Rusév e da brasileira Jane da Silva foi registrada como Dilma Vana Rousseff e debutou no ano interior, aos quinze anos, como de praxe. Um dos filhos de uma professora e do prefeito de outra Macondo vai fazer catorze anos. Chama-se Augusto Nunes da Silva. Dali a alguns anos será um dos maiores jornalistas do Brasil.
O locutor noticia o nascimento de algum Paulo ou Rosana, nada de Clayton ou Jessica. Pois justamente neste momento a dona da “rádia” passa pela porta de vidro do estúdio um bilhete escrito a lápis: “A Rádio Vaticano informou que morreu ontem o papa João XXIII ”. Ela soubera pela Rádio Mayrink Veiga, na noite anterior. E o Estadão ainda não chegou àquela Macondo. Sua “rádia” vai dar um furo regional. O locutor emposta a voz para agradar a patroa. Sua voz é boa, mas ele desconhece os algarismos romanos. E sapeca: “...morreu o papa João....(gagueja um pouco)....João xixi”. Apesar da heresia de ter transformado o Sumo Pontífice num mijão, a dona não segura o riso. E o locutor é o primeiro a não entender nada! Assim, João XXIII mergulha nos mistérios insondáveis da pós-morte sorrindo também. À semelhança de Francisco, o atual papa, era alegre o velhinho. Os tristes deixam a vida mais triste. Com sua alegria, em quatro anos, ele mudara para melhor a Igreja e o mundo! (xx)

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