NOME DE POBRE NO BRASIL
sexta-feira, 24 de maio de 2013
QUATRO SANT`ANNAS E AÉCIO NEVES
Na semana passada, todo o Brasil parou para saber qual era a nova seleção brasileira. O técnico Luís Felipe Scolari, o Filipão, estava onipresente em toda a mídia.
Apareceu mais do que o senador e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, lançado pré-candidato à presidência da República. Por enquanto, ele ainda não empolgou tanto o público quanto Filipão.
Empolgar é um verbo curioso. Estávamos acostumados a usá-lo para designar entusiasmo, palavra que tem Deus no meio, o Grego Theos, presente mais explicitamente em teologia. O étimo indica que o entusiasmado se anima, isto é, move a alma, porque está tomado por centelha divina.
A memória tem suas armadilhas. Não nos esqueçamos dos tremendos sustos, historicamente ainda recentes, como o das bombas que iam ser explodidas no meio de uma multidão de 18 000 jovens, no Riocentro, no Rio. Era o dia 30 de abril de 1981 e eles estavam num show em homenagem ao Dia do Trabalho.
O então coronel Job Lorena de Sant´Anna atribuiu à esquerda o projeto de atentado e disse que o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que morrera com uma das bombas no colo, dentro de um Puma dirigido pelo capitão Wilson Luiz Carlos Chaves Machado, tinha empolgado aquela bomba...
Empolgado? Os jornalistas precisaram ir aos dicionários para atestar o insólito sentido da palavra invocada pelo coronel nas suas explicações.
E sabem do que mais? Quem socorreu e levou o capitão do Exército ao hospital foi Andréa Neves, irmã de Aécio Neves, ambos netos de Tancredo Neves, aquele que, como a viúva Porcina, foi sem nunca ter sido, pois que, eleito presidente da República, morreu no hospital às vésperas da posse, no dia 21 de abril de 1985.
Enquanto terroristas fardados tentavam abortar a redemocratização, Telê Sant´Anna, o segundo Sant´Anna do contexto, formava uma das mais lindas seleções brasileiras de todos os tempos, mas que, como não ganhou nada, perdeu-se no dia de outra tragédia, a do Estádio Sarriá, em Barcelona, na Copa do Mundo de 1982, realizada na Espanha, quando, tendo o melhor time da competição, o Brasil perdeu para a Itália por 3 x 2.
O terceiro Sant´Anna é o poeta Affonso Romano de Sant´Anna, que marcou aqueles anos com estes belos versos sobre a mentira: “Mentiram-me. Mentiram-me ontem/ e hoje mentem novamente. Mentem/ de corpo e alma, completamente./ E mentem de maneira tão pungente/ que acho que mentem sinceramente.”.
Política e futebol têm muito em comum, inclusive conchavos que ninguém entende. O ex-craque Romário, hoje deputado federal, disse que CBF é sigla de Confederação Brasileira de Falcatruas.
O jeito é lutar, como dizia outro mineiro (poxa, minha crônica está repleta de mineiros hoje...), Carlos Drummond de Andrade. “Lutar com palavras/ É a luta mais vã./ Entanto Lutamos/ Mal rompe a manhã”.
E, de reforço, fazer uma prece a Sant´Anna, mulher de São Joaquim, sogra de São José, avó de Jesus, filho de Maria. A Sagrada Família não pratica nepotismo. Todos podem pedir o que quiserem. Peçamos que nosso povo não perca a memória! (xx)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Puxa Dionísio, você é mesmo o CARA aquele que escreve palavras que nos deleita e nos enriquece, memória fantástica e articulador invejável, só tenho a lhe dizer que o respeito muito, cada vez que leio suas crônicas acrescento mais um ponto aos meus conhecimentos, Parabéns... dessa vez vou driblar o primeira Página, já li em primeira mão, ou melhor no face...
ResponderExcluir