NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 26 de abril de 2013

SAUDADE: TRISTEZA POR ALEGRIAS PERDIDAS

Espero estar em Florianópolis, n domingo, com ex-colegas de seminário como Wilson Volpato, casado com a artista plástica Arlinda Volpato, autora da capa do meu romance mais recente, Lotte & Zweig. O ofício de escrever me tem dado bons e desinteressados amigos. Autor e leitores não querem fazer negócio algum! Querem apenas usufruir daquilo que um escreveu, e os outros, por escolha da mais absoluta liberdade deles, resolveram partilhar, lendo. Não gosto de proclamar amizades. Mas alguns repórteres que me entrevistaram recentemente, por obra e graça do prêmio com que Legislativo, Executivo e Judiciário resolveram me honrar, nesta segunda quinzena de abril em São Carlos (SP), onde vivi mais de vinte anos, me perguntaram do que é que tenho mais saudade! Algumas saudades são mais rápidas do que sustos. Pego de surpresa, não falei de um dos mais fiéis leitores desta coluna, Fernando Tinton, dono da Ciao Bello, uma cantina de pratos deliciosos, que muito frequentava. Tenho saudades fundas de coisas assim miúdas, querem ver? Um português é surpreendido num bar bebendo, com muita dificuldade, com os braços levantados, tendo numa das mãos um copo. “Mas que é isso, seu Manuel?”. “É que o médico mandou-me suspender a bebida!”. Alguém liga por engano para sapataria de propriedade de um português: “Sapataria Almeida”. “Desculpe, errei o número.” “Não tem importância. Traz o calçado aqui, que trocamos”. Alguém chega apressado à lanchonete, pede um misto-frio e pergunta: “vai demorar?”. “Coisa de uma hora, porque até agora só fizemos mistos-quentes, precisamos aguardar que a chapa esfrie”, responde o garçom português. Um carteiro português, que tem um medo danado de cachorros, hesita diante de uma casa onde ladra um cão furioso. “Pode entrar, o cachorro é castrado”, diz a dona da residência. “Minha senhora, eu tenho medo de que ele me morda, não de que ele me engravide.” E esta: o português está bebendo num clube, na mesa há várias pessoas, uma delas pensa ter-se enganado de copo e pergunta ao português: “este copo é seu?”. “Não, senhor, é do clube”. Pois todas essas piadas de português me foram contadas pelo Fernando Tinton ou pelo Luís Carlos Miele, que trabalhou um tempo na Universidade Estácio de Sá e me contou coisas singularíssimas, inclusive sobre o escritor Rubem Fonseca. Miele e Marcos Palmeira (filho de Zelito Viana, igualmente da Estácio) atuaram em minissérie de TV, baseada na obra de Rubem. Por que Florianópolis? Periodicamente, ex-seminaristas, colegas de adolescência, nos reunimos sob a presidência de Patrício de Sousa, que fabrica massas! E em maio próximo meu tradutor italiano, Giovanni Ricciardi se juntará a nós, não como tradutor, mas como mestre-cuca. Fará macarronadas apreciadas por tutti quanti. Também estará o melhor cronista do Brasil, Sérgio da Costa Ramos, que chama a todos nós de presbíteros. (xx) º Escritor e professor, autor de 34 livros, entre os quais A Placenta e o Caixão (reunião de crônicas aqui publicadas).

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