NOME DE POBRE NO BRASIL
quarta-feira, 4 de julho de 2012
OS LARANJAS E OS BANANAS
Márcio Cotrim afirma em O pulo do gato 3: o berço de palavras e expressões populares (Editora Geração Editorial, p. 123) que na Guerra do Vietnã “um herbicida de monstruosos efeitos era chamado de agente laranja por causa do tom de sua embalagem”. Foisua aplicação naquele conflito que teria gerado a expressão que conhecemos como “agente laranja”. Diz ele: “O agente laranja, com fumaça amarela, encobria os soldados, assim como o laranja atual encobre o verdadeiro autor de negócios escusos”.
Falta explicar os complexos caminhos que a expressão fez para entrar na língua portuguesa, sendo um dos mais prováveis o uso do mesmo agente, décadas depois, para devastações na floresta amazônica, amplamente denunciadas pela imprensa brasileira, que depois repercutiram também na mídia internacional.
Estas são amostras do contexto em que a expressão agente laranja, depois reduzido a apenas laranja, mudara de significado, passando a designar, não mais a substância armazenada em embalagem de cor amarela, mas uma pessoa que fazia as vezes de outra, a quem ocultava, como o agente laranja encobria os soldados. Não podendo ou não querendo apresentar-se defendendo a substância, a empresa contratara, a US$ 1.500 por dia, um cientista para fazer isso.
Esses são os indícios do nascedouro da expressão, depois largamente consagrada até consolidar-se na língua portuguesa. Atualmente, os laranjas estão na ordem do dia e, como de costume, revelam-se ou estão sendo revelados a contragosto na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que está investigando os crimes atribuídos a Carlos Augusto de Almeida Ramos, mais conhecido como Carlinhos Cachoeira.
Pode ter havido, porém, importante mutação no laranjal. Há algum tempo estão aparecendo laranjas involuntários, cujo rendimento é pouco maior do que o salário mínimo, que não são cúmplices de crime nenhum, cujos nomes e dados bancários foram utilizados sem o conhecimento deles e por cujas contas bancárias, sem que eles soubessem, passaram milhões.
Neste segundo caso, eles foram tidos por outra fruta, a banana, abundante e barata, diferentemente da laranja, que é igualmente abundante, mas não barata. Veja o preço de um suco. De todo modo é abundante o número daqueles que ganham como teto o salário mínimo. Esses, porém, não foram tomados como pessoas frouxas ou sem energia, como querem os dicionários. O critério foi o preço vil com que seu trabalho involuntário é remunerado, pois foram pagos, não a preço de banana, mas uma quantia mais baixa ainda, zero.
Até lá a língua portuguesa, uma entidade viva e dinâmica, terá criado novas expressões que vão demorar a entrar para os dicionários. Não vão demorar tanto como antes, uma vez que os dicionários agora podem ser eletrônicos, e talvez demorem a ser esclarecidas ou nunca o sejam cabalmente.
PS – Agradeço a Ari Riboldi e a Cláudio Moreno as conversas que tive com eles sobre o tema.
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