NOME DE POBRE NO BRASIL
segunda-feira, 23 de julho de 2012
FRIO DO CÃO? VÁ PRA DEBAIXO DO EDREDOM!
Reescrevi este texto, depois de contribuições do Facebook, especialmente de Ari Riboldi. Estou em São Lourenço, Minas Gerais, e faz um frio do cão, expressão que tem duas origens: de onde os imigrantes europeus vieram, quando a estrela da Constelação do Cão, Sírio, que em grego significa “eu seco”, entra em conjunção com o Sol, faz um calor danado na Europa, e isso se dá em agosto.
Nascia aí calor do Cão, calor canicular, canícula etc. E naturalmente se misturava uma referência ao Demônio, que entre tantos nomes, tem também o de Cão. Ao chegarem ao Sul do Brasil, nossos ancestrais tiveram que mudar a expressão para frio do cão, pois em agosto faz muito frio.
E, além do mais, quando o frio é muito, o cachorro, também chamado cão, manca, pois as pernas traseiras endurecem, longe que estão do aconchego do peito. Isso é um frio do cão!
Os gaúchos têm um ditado para expressar o frio intenso: frio de renguear cusco. Renguear é mancar. Cusco é cachorro. Este nome, Cusco, nasceu da forma onomatopaica de atiçar o cão: cuz! E a esta partícula juntou-se o resto e ele passou a ser chamado cusco. Ari Riboldi, estudiosos de expressões gauchescas, diz que o motivo pode ser outro, ou mais um: “o cão sente tanto frio nas patas que caminha devagarinho, mantendo ora uma pata traseira elevada do chão, ora a outra, evitando o contato com o gelo por mais tempo, dando a impressão, para quem o olha de longe, de que está rengo.”
Está, pois, um frio do cão em São Lourenço, que, aliás, morreu no maior calor, pois foi martirizado numa grelha. Inclusive, diz-se que, ele sem se importar com a dor, disse a seus algozes: “podem me virar, que deste lado já assou.”
O frio me lembrou outras palavras correlatas. Agasalho veio do gótico gasalja, companheiro, camarada, aquele que protege o outro. E foi este o nome dado à roupa utilizada para abrigar-se, não apenas do frio, mas para proteger-se com o fim de praticar algum esporte.
Já casaco veio de “casaca”, da expressão italiana veste cosacca, roupa dos cossacos, os célebres povos da Rússia, guerreiros, bons cavaleiros, que, vivendo na Sibéria e em outras regiões muito frias, se abrigavam do frio intenso com roupas largas, vestidas sobre outras. Cossaco veio do Russo kozak, misturado ao Turco qaz, andar ao léu, sem destino, que, aliás, era o que os antigos cossacos faziam muito. Por baixo do casaco, às vezes se usa um colete, do francês coullet, depois collet, colarinho, gola, cujo étimo é cou, pescoço.
Mas se você usa jaqueta no frio, saiba que veio do francês Jacques, nome genérico para o campônio francês, que vestia uma roupa que passou à língua francesa como jacquet, roupa do Jacques. Pode ter vindo também do árabe shakk, com escala no espanhol jaco, tornando-se jacque de maille no francês, cota de malha.
Bem, roupas por cima de outras só podem ter surgido em regiões nas quais o frio ataca. Temos ainda pulôver, do inglês, pull over, pôr por cima. Com o tempo as duas palavras foram aproximadas também no inglês e se tornaram uma só: pullover.
Já lareira veio de lar, do latim lar, mais eira. Os parentes eram enterrados nos arredores da casa onde tinham morado, pois os antigos romanos acreditavam que seus espíritos, chamados Lares, protegiam o lugar onde estavam. Para concluir: edredom, do islandês aedar-dun, pelo francês édredon, era apenas a plumagem das aves, utilizada para fazer cobertas que aqueciam.
E, a continuar assim, ficamos debaixo do edredom até para ler ou assistir a filmes ou a programas preferidos na televisão, a moderna lareira das casas, ao redor da qual todos se reúnem, no frio ou no calor. Quer dizer, isto quando cada um não se isola em seu tugúrio ou quarto para ver sozinho o que bem quiser. (xx)
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