
O pavor do homem medieval era chegar tarde da noite e encontrar fechadas as portas da cidade. Seus habitantes tinham medo até do vilão, o morador da vila, sem muralhas, e por isso vilão virou sinônimo de covarde, trapaceiro.
Hoje o grande medo é morar nas cidades. Quanto maior a cidade, maiores os perigos. E segurança tornou-se tema forte de campanhas políticas em todos os níveis.

A segurança foi um dos temas do debate entre os candidatos a governador do Rio que chegaram ao segundo turno: o “bispo” Marcelo Crivella, “da Igreja Universal do Reino Deus, e Luiz Fernando Pezão, atual governador e ex-prefeito de Piraí, de apenas 20 mil habitantes.
Pezão calça 47,5. Esta é a origem do apelido. No debate que a Bandnews promoveu entre os dois na quinta-feira passada, coube-me sentar ao lado do professor e economista Carlos Lessa, que foi presidente do BNDES nos governos Lula. Lessa me falou com entusiasmo de outra candidatura que ele está promovendo: a canonização do Padre Cícero Romão Batista, o Padim Ciço. E me convidou para ajudá-lo.
Propus-lhe um mutirão para canonizar Padim Ciço e também a catarinense Albertina Berkenbrock e o Padre Teixeira, nome de rua em São Carlos, cujos processos de santidade estão emperrados.
Concordando, ele lembrou entretanto um papel importante dos evangélicos. Migrantes de todo o Brasil, principalmente do Nordeste, sentem-se sozinhos, longe da família, nas grandes cidades onde chegam. O templo passa a ser, então, a família deles.
Enquanto a Igreja se recusa a canonizar o Padim Ciço, os pastores evangélicos utilizam a fama dele para atrair novos fiéis a seus templos.
Muita coisa precisa mudar no Brasil. E no Vaticano também. Não canoniza o Padim Ciço, Albertina, o Padre Teixeira e tantos outros.
Quem perde com isso? O povo, claro, e aqueles que com ele trabalham. Como os governos, também a Igreja tem que ouvir o povo.
(*) da Academia Brasileira de Filologia, professor e escritor, colunista da Rádio Bandnews (RJ) e diretor-adjunto da Editora da Unisul (SC).
Nenhum comentário:
Postar um comentário