NOME DE POBRE NO BRASIL
domingo, 22 de janeiro de 2017
FRASES FAMOSAS QUE NINGUÉM DISSE
“O Brasil está beira do abismo”, reconheceu o marechal Castello Branco, primeiro presidente do ciclo militar pós-1964.
“O Brasil deu um passo à frente”, acrescentou seu sucessor, o marechal Costa e Silva.
“Ninguém segura este país”, completou o ocupante do terceiro mandato autoritário, o general Emílio Garrastazu Médici, entronizado depois da Junta Militar que ficara no interstício entre o segundo e o terceiro.
Verdadeiras ou lendárias, estas frases teriam sido proferidas, então, num curto período histórico, por três presidentes da República. Ilustradas em tom de deboche, estavam numa edição de O Pasquim, censurada e apreendida nas bancas.
Todavia a primeira frase, “O Brasil está à beira do abismo”, é mais antiga e vem sendo pronunciada desde os tempos imperiais. Foi registrada na peça de teatro O Diabo no Corpo, de Coelho Neto, apresentada pela primeira vez em 1899, no Theatro Lucinda, no Rio, mas publicada em livro apenas em 1905.
Não raro são frases ditas por políticos, mas arrumadas e editadas por jornalistas, quando não de autoria de intelectuais que as escreveram para serem pronunciadas por autoridades, como diz Carlos Drummond de Andrade no poema O Sequestro de Guilhermino César, em que fala de “repartições públicas onde se cumpria o destino de literatos sem pecúnia,/ autores de discursos que jamais pronunciaríamos,/ pois os concebíamos para outros pronunciarem / no majestático palanque do Poder”.
Há muitos exemplos de frases atribuídas a personalidades que entretanto jamais as pronunciaram. Lembremos três delas.
“Elementar, meu caro Watson”, o célebre fecho com que o detetive Sherlock Holmes dá a entender a seu amigo Watson que tudo estava claro desde o início. Ela não é encontrada em nenhum livro do autor.
“O Brasil não é um país sério” foi atribuída ao general Charles De Gaulle. Ele nunca a pronunciou.
E para homenagear o jornalista Augusto Nunes, que sabe tudo sobre Jânio Quadros, lembremos por último “Fi-lo porque qui-lo”, imputada ao presidente, que entretanto jamais a pronunciou. Se a proferisse, diria “fi-lo porque o quis”.
Outras foram ditas e escritas, mas não do modo como se tornaram conhecidas. Eis duas delas.
“Nesta terra, em se plantando, tudo dá” é creditada ao escrivão Pero Vaz de Caminha na certidão de nascimento do País, a sua famosa Carta do Achamento do Brasil. Sim, esta terra foi achada, não descoberta. A frase está lá, mas foi escrita de outro modo: “Querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”.
“Sangue, suor e lágrimas”. Esta é atribuída ao Winston Churchill em seu primeiro discurso na Câmara dos Comuns, em 1940. Mas Churchill ofereceu, não três, mas quatro coisas: “Sangue, trabalho, lágrimas e suor”. Esqueceram o trabalho!
Para escrevê-la, o então primeiro-ministro inspirou-se num discurso de Giuseppe Garibaldi, pronunciado em 1849: “Não ofereço nenhum pagamento, nem postos, nem provisões. Ofereço fome, sede, marchas forçadas, batalhas e morte”.
O brasileiro é frajola e adora uma frase. Frajola, do Quimbundo fwala dyola, significa isso mesmo: por falar bonito, a pessoa é vista como elegante e faceira: fwala é falar; dyola é claro, puro.
Frajola designou originalmente aquele que fala com clareza uma língua que a maioria não conhece. Atualmente designa indivíduo vestido com elegância exagerada.
E assim fica o dito pelo não dito, uma outra frase famosa, aliás.
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/de-onde-vem-as-palavras-o-brasil-esta-sempre-a-beira-do-abismo/
sábado, 21 de janeiro de 2017
TEORI(A) DA CONSPIRAÇÃO E O CASAL ZWEIG
Bertrand Russell recomendava que em caso de dúvida ou suspeita procuremos os fatos. Por enquanto temos:
1. Um ministro do STF ia descansar alguns dias na casa de verão de um amigo, um rico empresário. Há ricos honestos e pobres desonestos. E vice-versa. Nada disso é suspeito.
2. Conquanto tenha passado em concurso público para juiz, Teori Zavascki recusou a nomeação e foi trabalhar para o Banco Central, de onde foi guindado ao TRF pelo quinto constitucional, que dá aos governantes o recurso de nomear sem concurso. Nada disso é suspeito.
3. Foi indicado ao STF pela então presidente da República, Dilma Rousseff, como Joaquim Barbosa o foi pelo presidente Lula, Gilmar Mendes pelo presidente FHC, outros pelos presidente Collor oiu pelo presidente Sarney. Nada disso é suspeito.
Conclusão de romancista, repito, de romancista, e de contista, cujo ofício é inventar, fazer ficção, cujo étimo é o mesmo de mentir: cada um construa sua teori(a) da conspiração.
Mas acho paradoxal que tão poucos desconfiem do suposto duplo suicídio do casal Zweig quando foram comprovadas 23 (vinte três) contradições, das quais destaco: Por que o governo Getúlio Vargas proibiu a autópsia dos corpos? Por que não foi aberto inquérito? O que foi fazer em Petrópolis (RJ) o inimigo dos judeus e pró-nazista Filinto Müller, que foi recebido por Getúlio Vargas no dia da morte do casal? Ah, daí são coincidências?
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
ALEGRIA E DOR NOS CALENDÁRIOS
A incontida alegria que a todos afeta nas sextas-feiras remete a um jazigo do inconsciente de onde podemos ressuscitar por dois dias, ainda que tenhamos que voltar na segunda.
A maioria dos calendários apresenta os dias em vermelho para os feriados, e preto ou azul para os dias úteis.
Calendários explicitam algumas coisas, mas ocultam outras tantas. A etimologia pode indicar o verdadeiro significado. Calendário veio do latim calendarium, caderno para anotar as calendae, dias de pagar as contas, quando as autoridades dedicavam-se a calere, convocar, a população para o pagamento de impostos e outras contas.
O nosso calendário é gregoriano, assim chamado em homenagem ao Papa Gregório XIII, que em 1582 ajustou uma diferença do calendário juliano, do qual foram suprimidos dez dias, para fixar corretamente a data da Páscoa, das estações e de outros eventos. Assim, o dia seguinte a 4 de outubro foi 15 de outubro.
Há calendários mais antigos, como o hebraico e o chinês. Mas hoje todos aceitam o padrão gregoriano de contar o tempo. A folhinha, como é popularmente conhecida, guarda a memória das folhas das árvores em que as sibilas, mulheres adivinhas, escreviam as profecias do ano que começava. Estas profecias há muito tempo são outras: fases da Lua, eclipses, previsão de chuvas, dias em que vão cair os feriados móveis, dias de jejum e de abstinência, efemérides etc.
Os dias úteis, marcados na cor escura para diferenciá-los dos feriados civis e dias santificados, ainda fixam como castigo o significado do trabalho, segundo a primeira condenação bíblica que expulsou nossos primeiros pais da esfera das coisas sagradas, condenando o homem a ganhar o pão com o suor de seu rosto e a mulher a sofrer nos partos.
Nesta metáfora, Adão e Eva, expulsos do paraíso e condenados ao trabalho, foram os primeiros imigrantes e refugiados do mundo. Trabalho veio do Latim tripalium, um instrumento de tortura de três paus, como indica o étimo, no qual a vítima era supliciada, como ainda o é em muitos empregos.
A incontida alegria que a todos afeta nas sextas-feiras remete a um jazigo do inconsciente de onde podemos ressuscitar por dois dias, ainda que tenhamos que voltar na segunda-feira para cumprir mais uma daquelas perpétuas parcelas semanais da mítica e antiga condenação.
As palavras que designam as cores do calendário também têm uma etimologia curiosa. Vermelho veio do latim vermiculus, minúsculo verme que fornecia o pigmento para tingir a roupa da gente fina e nobre: chefes religiosos, chefes políticos, chefes militares, às vezes englobados numa pessoa só. Seu outro nome era púrpura, molusco de difícil captura. Na antiguidade, a caça e a pesca do porphiros, seu nome grego, e da purpura, seu nome latino, eram proibidas para que somente os poderosos tivessem acesso a essa cor.
Os cardeais da Santa Sé, príncipes herdeiros da monarquia mais antiga do mundo, vestem vermelho ou púrpura, esta última a cor preferida das altas insígnias da realeza e da magistratura. De resto, tapetes vermelhos são estendidos, literal ou metaforicamente, para personalidades a honrar.
O calendário das nações lusófonas como o Brasil tem uma singularidade única: os dias da semana não homenageiam deuses pagãos desde o século VI, quando o bispo de Braga aboliu as referências ao Sol, à Lua, a Vênus e a outras divindades, que continuam homenageadas em outras línguas, de que são exemplos o Sol e a Lua no inglês Sunday e Monday.
Com exceção de sábado, do hebraico xabbat, dia do descanso, pelo Latim sabbatum, nossas semanas começam sempre com o domingo, dia de feria, que pode ser festa ou feira, e segue de segunda a sexta, lembrando que todos são dias de festejar, comprar e vender.
Quem será grande em 2017? Quem foi grande em 2016? Fazemos diversas retrospectivas, mas ainda é cedo para sabermos quem teve importância no ano passado ou terá importância no ano que começou. Como disse o romancista francês Gustave Flaubert, “quem cria os grandes homens é a posteridade”.
A posteridade cria os pequenos também. Ou apequena os grandes e engrandece os pequenos.
Deonísio da Silva é escritor
http://oglobo.globo.com/opiniao/alegria-dor-nos-calendarios-20801124
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
MEMORIAL JK PODE ESTAR COM O CORPO ERRADO
O que a seguir vou narrar lembra o SAMBA DO CRIOULO DOIDO, letra do jornalista Sérgio Porto, nosso inesquecível Stanislaw Ponte Preta: "Foi em Diamantina/ Onde nasceu JK/ Que a Princesa Leopoldina/ Arresolveu se casá/ Mas Chica da Silva/ Tinha outros pretendentes/ E obrigou a princesa/ A se casar com Tiradentes".
Leio que pode ser o corpo de Geraldo Ribeiro, o motorista de JK, morto com o presidente no acidente de automóvel, que está no Memorial JK. Os dois caixões eram iguais e pode ter havido a troca. Assim, o corpo do jazigo 410-b, na quadra 12, no Cemitério São João Batista, no Rio, pode ser o de JK e não o de seu motorista.
O corpo de Juscelino Kubitschek foi enterrado com honras de chefe de estado, em Brasília, primeiramente no Campo da Boa Esperança, num túmulo próximo ao de Bernardo Sayão, um dos pioneiros de Brasília, de onde foi exumado em 12 de setembro de 1981, sem a presença de nenhum familiar. Os restos mortais do presidente - que, repito, podem ser os de seu motorista! - foram, então, levados ao Memorial JK.
Em 15 de janeiro de 2017, fui ao Cemitério São João Batista. Procurei o jazigo 410-b na Quadra 12, tal como confirmado nos registros, agora digitalizados. O jazigo sumiu. Durante quase 2h um ex-coveiro, agora funcionário, me ajudou a procurar. Geraldo Ribeiro e JK, onde estão vocês? Brincando de esconde-esconde? Quem está em Brasília, quem no Rio? (xx)
sábado, 14 de janeiro de 2017
O AGRONEGÓCIO NÃO ENTENDEU O ENREDO DA IMPERATRIZ
Não tem pé nem cabeça a polêmica de alguns líderes do Agronegócio e da Agropecuária com a Imperatriz Leopoldinense.
No ano do centenário do escritor Antônio Callado (para mim, seu romance referencial é Quarup, cujo mito é citado no samba-enredo), nosso olhar sobre o índio, a floresta, o agronegócio e a agropecuária há de ser mais largo. Nele cabem visões diversas, plurais, não a visão maniqueísta de que uns querem destruir o que outros construíram. Não é nada disso. Contra ou favor, leia-se e ouça-se o samba-enredo, que, aliás, é muito bonito.
O CLAMOR DA FLORESTA
Samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense no Caranaval de 2017
Autores: Moisés Santiago, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna
Intérprete: Arthur Franco
Para mais informações, ver: http://www.rio-carnival.net/carnaval/escola-de-samba/imperatriz.php
BRILHOU… A COROA NA LUZ DO LUAR!
NOS TRONCOS A ETERNIDADE… A REZA E A MAGIA DO PAJÉ!
NA ALDEIA COM FLAUTAS E MARACÁS
KUARUP É FESTA, LOUVOR EM RITUAIS
NA FLORESTA… HARMONIA, A VIDA A BROTAR
SINFONIA DE CORES E CANTOS NO AR
O PARAÍSO FEZ AQUI O SEU LUGAR
JARDIM SAGRADO O CARAÍBA DESCOBRIU
SANGRA O CORAÇÃO DO MEU BRASIL
O BELO MONSTRO ROUBA AS TERRAS DOS SEUS FILHOS
DEVORA AS MATAS E SECA OS RIOS
TANTA RIQUEZA QUE A COBIÇA DESTRUIU
SOU O FILHO ESQUECIDO DO MUNDO
MINHA COR É VERMELHA DE DOR
O MEU CANTO É BRAVO E FORTE
MAS É HINO DE PAZ E AMOR
SOU GUERREIRO IMORTAL DERRADEIRO
DESTE CHÃO O SENHOR VERDADEIRO
SEMENTE EU SOU A PRIMEIRA
DA PURA ALMA BRASILEIRA
JAMAIS SE CURVAR, LUTAR E APRENDER
ESCUTA MENINO, RAONI ENSINOU
LIBERDADE É O NOSSO DESTINO
MEMÓRIA SAGRADA, RAZÃO DE VIVER
ANDAR ONDE NINGÚEM ANDOU
CHEGAR AONDE NINGUÉM CHEGOU
LEMBRAR A CORAGEM E O AMOR DOS IRMÃOS
E OUTROS HERÓIS GUARDIÕES
AVENTURAS DE FÉ E PAIXÃO
O SONHO DE INTEGRAR UMA NAÇÃO
KARARAÔ… KARARAÔ… O ÍNDIO LUTA PELA SUA TERRA
DA IMPERATRIZ VEM O SEU GRITO DE GUERRA!
SALVE O VERDE DO XINGU… A ESPERANÇA
A SEMENTE DO AMANHÃ… HERANÇA
O CLAMOR DA NATUREZA
A NOSSA VOZ VAI ECOAR… PRESERVAR!
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
POLÍCIA FEDERAL ENSINA LATIM
"Cui bono?", em Latim, (bom para quem?) é a variante de "Cui prodest?" (quem ganha? ). Foram proferidas por Cícero, mas ele citava um outro político chamado Lúcio Cássio Longino Ravilla, que as dissera num processo contra três virgens vestais acusadas de ter rompido o voto de castidade. Do sexo à política foi um pulinho.
Quebrar votos de castidade não espanta mais ninguém faz tempo, o que espanta são os crimes financeiros, cada vez mais ousados. Desta vez, os suspeitos de ganhar com os financiamentos da Caixa (foram pra Caixa eles também) são o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (já preso) e agora o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Os delegados da PF e membros do MP que dão nome às operações sibilam estas expressões pensando nos advogados regiamente pagos pelos criminosos. Quer dizer, estão ganhando bem? Então, mãos à obra: estudem um pouco de Latim, de Mitologia greco-romana, enfim de cultura clássica, muitas vezes matérias optativas no currículo dos cursos de Direito que fizeram.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
SEQUESTRO DE GUILHERMINO CÉSAR, Ao completar setent' anos
Achei tão bonita, ética e sincera a crônica de Adriana Sydor, minha amiga de infância desde antes de ontem, por artes de um amigo de décadas, o Fabio Campana, que resolvi desencavar este poema de Drummond que poucos conhecem. Vai para você, Adriana querida:
"Assim roubaremos Guilhermino César ao País do Rio Grande/
e o transportaremos ao País da Memória,/
país de cafés-sentados e redações não eletrônicas de jornais,/
de repartições públicas onde se cumpria o destino de literatos sem pecúnia,/
autores de discursos que jamais pronunciaríamos,/
pois os concebíamos para outros pronunciarem/
no majestático palanque do Poder,/
enquanto refocilávamos em orgias/
com a ninfa de coxas de espuma e seios-orquídea/
chamada Literatura/
nosso maior amor e perdição".
(Quando nosso querido professor Guilhermino César, orientador de minha dissertação de mestrado na UFGRS, fez 70 anos, em 1978, Drummond fez-lhe um poema que agora está na p. 1292 de sua Poesia Completa, publicada pela Editora Nova Aguilar, em 2003).
terça-feira, 3 de janeiro de 2017
ESTAMOS EM 2017. MAS POR QUÊ?
O tempo já foi contado de diversas maneiras. Atualmente não seguimos o calendário chinês, egípcio, hebraico, romano ou juliano. Seguimos o calendário gregoriano, assim chamado porque foi baixado pelo papa Gregório XIII, em 1582.
O primeiro calendário a servir de base para o de hoje foi fixado por Rômulo, o primeiro rei de Roma, no ano 753 a.C. Em 45. A.C., ele foi substituído pelo calendário juliano, fixado por Júlio César, então no cargo de Pontífice Máximo.
Era uma de suas atribuições intercalar os meses para ajustar o complicado calendário romano. Júlio César chamou o astrônomo grego Sosígenes e, com a ajuda dele, fixou o calendário que passou a chamar-se juliano. Para que o ajuste fosse correto, o ano anterior, 46 a.C., teve 443 dias.
O calendário juliano voltou a ser alterado por Otávio Augusto. Ele mudou o nome dos meses quintilis, o 5º mês, e sextilis, o 6º mês, a contar de março, para Julho e Agosto, para homenagear Júlio César com Julho, de Julius, e a si mesmo com Agosto, de Augustus.
Os meses seguintes não mudaram de nome. Continuaram sendo setembro, outubro, novembro e decembro, o sétimo, o oitavo, o nono e o décimo mês respectivamente, como indicam os étimos september, october, november e december, que tinham estes nomes antes do acréscimo de janeiro e fevereiro. Como o ano começava em março, julho era o quinto mês. E agosto o sexto, daí se chamarem originalmente quintilis e sextilis.
No ano de 1253 A.U.C. (iniciais da expressão Ab Urb Condita, da fundação da cidade), a Igreja tinha grande poder no império romano, pois o cristianismo já tinha sido declarado religião oficial pelo imperador Constantino I ainda no século IV. Naquele ano, correspondente ao ano 500 no calendário atual, trabalhava na Cúria Romana um monge grego chamado Dyonisius Exiguus (470-544), nascido na Cítia Menor, hoje Romênia, reconhecido como de altos saberes em história, matemática e astronomia.
O papa João I (470-526) determinou que Dyonísio, o Baixinho ou o Pequeno, seu nome em Português, organizasse um calendário cristão. Seu projeto era deixar de seguir o calendário pagão e fixar corretamente a data da Páscoa e outras festas religiosas, como o Natal.
Dyonísio assim o fez, criando a expressão Anno Domini (No ano do Senhor) como referência do tempo passado. E para indicar o que acontecera antes do ano 1, acrescentou a abreviação a.C. (antes de Cristo). Assim, a data da fundação de Roma passou a ser designada, não mais como 753 A.U.C. , mas 753 a.C., e aquele ano, 1253 A.U.C. passava a ser o ano 500, contados a partir do nascimento de Jesus no ano 1.
Primeiro, a Igreja aboliu os modos usados até então, que consideravam preferencial, mas não exclusivamente, o ano 1 como a data de fundação de Roma, designada por números seguidos da expressão A.U.C., formada pelas iniciais da expressão latina Ab Urbe Condita (desde que foi fundada a cidade). A cidade era Roma.
A própria palavra calendário veio do Latim calendarium, caderno para anotar as calendae, dias de pagar as contas, quando as autoridades dedicavam-se a calere, convocar, a população para liquidar os impostos e outras contas.
O ajuste que transformou nosso calendário em gregoriano deve-se ao fato de que o ano não tem um número exato de dias. Tem 365 dias, 5 horas 48 minutos e 46 segundos. Em 1582, a diferença de 11 minutos e 14 segundos a cada ano, já resultava em dez dias, deslocando a data da Páscoa, das estações e de outros eventos.
Foi quando o papa Gregório XIII pôs ordem na bagunça e determinou que a quinta-feira, dia 04 de outubro de 1582, fosse seguida da sexta-feira, dia 15 de outubro, suprimindo dez dias do calendário então em vigor! O curioso é que no dia da semana ele não mexeu. Dia 15 foi sexta-feira!
Se fôssemos corrigir o calendário proposto por Dyonísio, o Baixinho, estaríamos hoje no ano 2021, pois Jesus nasceu entre os anos 2 a.C. e 8 a.C., e não no ano 1. Ao fixar a data do nascimento de Jesus, Dyonísio, o Baixinho, confundiu o ano da morte de Herodes, o Grande, e a data do recenseamento ordenado por Augusto. Confundiu ou não deu importância a esses eventos, não se sabe. Mas estas imperfeições só foram descobertas no século XIX. Por isso, não se mexeu mais no calendário. O que dificultou os cálculos de Dyonísio foi que o zero, já conhecido pelos hindus, não tinha chegado ainda ao Ocidente. Até então e por muitos séculos ainda vigorariam os números romanos.
Quem será grande em 2017? Quem foi grande em 2016? Fazemos diversas retrospectivas, mas nunca sabemos quem teve importância em 2016 ou terá importância em 2017. Como disse o romancista francês Gustave Flaubert, “quem cria os grandes homens é a posteridade”. Os pequenos também. (xx)
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