NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

OS DESEJOS DAS MONJAS NOS NOMES DOS DOCES

O que têm em comum as antigas monjas e as mulheres de hoje? As monjas portuguesas e brasileiras sempre deram nomes criativos aos doces: suspiros, bem-casados, baba de moça, beijo de freira, olho de sogra e, entre outros, rabanada, cujo étimo é rabo, que em Portugal não é palavrão. Claro que os ovos, com a clara separada ou não da gema, entravam na fabricação desses doces em profusão. Você liga a televisão e não precisa procurar muito. Lá estão vários programas ensinando a fazer comida. No rádio, nos jornais, nas revistas e na internet são inumeráveis as colunas que tratam de comida, ensinam a cozinhar etc. A par disso, em outras editorias, constatamos que o Brasil venceu a fome, ao mesmo tempo em que se transformou num país de obesos. E com 20% de adiposidades acima da média, o corpo começa a correr perigo, principalmente certos órgãos, que ficam sobrecarregados, como o coração.
Comecei o artigo com a comparação entre as antigas monjas e as mulheres atuais porque, não apenas os cristãos, mas também integrantes de muitas outras religiões, teologias e filosofias proclamaram os benefícios do jejum. E hoje em dia toda mulher faz algum tipo de dieta. Ao mesmo tempo, foi nos conventos que as monjas inventaram as mais refinadas iguarias, principalmente doces, guloseimas e sobremesas. E nas designações há estreitas relações entre o desejo (não apenas o desejo de comida) e o ato de comer. O caso luso-brasileiro é exemplar. A partir do século XVI, Portugal e Brasil tornaram o açúcar um ingrediente indispensável nas casas, nas igrejas, nos conventos, não apenas no comércio. Muitas monjas tinham sido postas nos conventos à força, onde sua virgindade era protegida num tempo de muitas guerras, todas elas marcadas por estupros pouco relatados, pois a violência contra a mulher demorará a ser um escândalo.
A Igreja criou o voto de virgindade para proteger a mulher! Se ela era consagrada a Deus, não podia ser tocada. Forças especiais eram deslocadas para proteger os conventos! Mas, estando ali à força, sentiam saudades prévias do casamento e, não podendo ficar agarradinhas aos amados, faziam doces agarradinhos uns aos outros, como o bem-casado. As monjas aprendiam que Jesus jejuou por quarenta dias no deserto. E que teve fome, mas não teve sede! Os jejuns antigos e modernos, feitos por motivos rituais, de saúde ou de beleza, autorizam que se beba água à vontade. As mulheres de hoje, não sendo monjas, sabem que são ou serão esposas de homens, todos de olho grande sobre sua beleza, mas também sobre o que elas podem fazer em casa. Afinal, não se faz sexo tanto quanto se come ou se bebe.
Por fim, lembro que, nos nomes de doces e pratos, as monjas deixavam escapar outros desejos, não apenas o desejo de comer. Vejam vocês! A gula, um dos sete pecados capitais, esteve e está na origem de grandes virtudes e saberes.(xx) º escritor, colunista da Bandnews, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC). Autor de 34 livros, entre os quais De onde vêm as palavras (17ª edição). www.lexikon.com.br

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