NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

JESUS VISTO POR UM MUÇULMANO

O bife à cavalo, com dois ovos sobre a carne, tem uma história obscena. Recebeu este nome por comparação com o cavaleiro, que viaja com os testículos sobre o lombo do animal. Não pensaram em amazonas, a não ser que a cavaleira não fosse exatamente mulher, mas um transexual, também designado travesti, traveca, traveco, travecão etc. O bife à Camões é pior ainda, pois sua denominação é politicamente incorreta. Um ovo num dos cantos do bife faz referência ao fato de ter sido cego Luís Vaz de Camões, o maior poeta da língua portuguesa. Ele perdeu o olho na Batalha de Ceuta, travada na África. Até hoje persistem dúvidas se era cego do olho direito ou do esquerdo, pois alguns livros trazem seu daguerreótipo impresso pelo negativo. Não me sinto autorizado a escrever um livro sobre um grande cozinheiro. Nada entendo de culinária, não sei mais do que fazer um bife, fritar um ovo, providenciar um macarrão simplório ou um arroz, como poderei examinar em detalhes o praticante de um ofício que não conheço? Os leitores terão mais proveito se eu fizer uma dessas duas coisas: dar a origem do nome dos pratos ou escrever uma historinha cujo tema seja cada um deles. Esta ponderação já havia sido feita por muitos quando José Saramago, ateu confesso, escreveu o Evangelho de Jesus Cristo.
Esses pensamentos me vieram à mente quando lia Zelota: a vida e a época de Jesus de Nazaré, do muçulmano Reza Aslam, autor e professor universitário de 41 anos, nascido no Irã, que vive nos EUA. Como cheguei a esse livro? Não foi pelas resenhas da mídia brasileira. Depois que aprendi seu mecanismo, muito pouco profissional desde já há alguns anos, não as leio mais. Presto entretanto muita atenção ao que os próprios autores dizem quando entrevistados. Por exemplo: não vou perder o Roda-Viva da próxima segunda-feira, com Romeu Tuma Júnior, autor do livro Assassinato de Reputações (Editora Topbooks), escrito em parceria do jornalista Cláudio Tognolli. O jornalista Augusto Nunes, craque no ofício, já avisou: “não haverá perguntas proibidas nem respostas incômodas”. Como a gente chega então a um livro? Pois no caso de Zelota devo a sugestão a Affonso Romano de Sant´Anna. Ressalvadas irritantes imprecisões da tradução, como chamar Ananus o Sumo Sacerdote Ananias, há muito o que aprender no novo olhar sobre Jesus, lançado por esse livro. Zelota, entretanto, não chega aos pés de Vida de Jesus, do francês Ernest Renan, que no Brasil influenciou tantos intelectuais, cristãos ou ateus, ao revelar nuances do lado humano de Jesus.
Eis duas frestas. Jesus fez sucesso porque seus milagres eram gratuitos! O autor diz que houve muitos messias na época e eles cobravam por seus prodígios. Mas se Jesus foi apenas mais um, por que dividiu o mundo entre antes e depois dele, e os outros não? Vou reler Ernest Renan! º escritor, colunista da Bandnews, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC). Autor de 34 livros, entre os quais De onde vêm as palavras (17ª edição). www.lexikon.com.br

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