NOME DE POBRE NO BRASIL

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A FOME E O SEXO GOVERNAM O MUNDO

Se você tivesse que escolher, primeiro mataria a fome por comida ou daria preferência a matar a fome por sexo? Desculpe a conversa clara em assunto tão delicado, mas você não tem escolha. Ou melhor, só pode escolher matar a fome por um prato, não a fome de alguns momentos de sexo, com ou sem amor. O sexo pode ser adiado, sublimado, evitado, compensado por outras ocupações. E há gente adulta, sobretudo mulheres, que garante não fazer sexo há muito tempo. Muito tempo, mesmo. Isto é, não apenas semanas ou meses, mas anos ou décadas. Não sabemos de ninguém que tenha ficado sem comer tanto tempo. A satisfação da fome é inadiável. Transferir as refeições por algumas horas já pode resultar em grandes problemas. Alguém pode morrer de fome, mas pode viver sem sexo! O homem começou a comer raízes, frutas e folhas, mas depois, imitando aves de rapina e feras, acrescentou carne crua à dieta. Descoberto o fogo, a carne veio a ser chamuscada, depois assada, depois cozida, depois apenas posta ao sol ou salgada, virando carne-seca ou charque. O homem foi diversificando a dieta. O leite vindo do peito da mãe na infância profunda, logo foi substituído ou complementado por leite de vacas, jumentas, camelas, cabras, éguas, búfalas, renas. O poeta grego Hesíodo, vivendo no século VIII a.C., tece vários elogios ao leite de cabra, manifestando ser este o seu preferido, o mesmo fazendo Virgílio, o grande poeta de Roma, quase oito séculos depois. Passados os tempos de verdes, carne, leite, ovos, queijos e outros derivados, veio o pão. As padarias deixaram de ser particulares e se tornaram públicas por volta do ano 150 a.C., pois o povo já se contentava com pão e circo naquele tempo. Jesus, para melhor se fazer entender, disse que era o pão da vida. Um pouco antes, na aurora da Humanidade, Deus pragueja contra o primeiro homem: “Ganharás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra, de onde foste tirado”. Já em Portugal o arroz doce era sobremesa e, tão popular, recebeu o apelido de arroz de festa, pois era item indispensável nas celebrações e festejos, religiosos, cívicos ou simplesmente populares. Tanto que nasceu a expressão "arroz de festa" para designar a pessoa que está sempre presente em qualquer evento. Pratos e doces receberam nomes curiosos na língua portuguesa. Umbigo de freira e barriga de freira designaram doces feitos com a gema do ovo, pois a clara era utilizada para engomar o hábito e outras roupas. Expressões curiosas atestam a presença da comida na língua portuguesa. Fulano tem olho grande, o olho é maior do que a barriga, come um boi por uma perna etc. O título desta crônica não é frase minha, é do escritor alemão Friedrich von Schiller, grande amigo de Goethe. É dele a letra do Hino da Comunidade Europeia, cuja música é de Beethoven. Schiller passou a vida inteira indeciso entre o amor de duas mulheres. Parece que amou verdadeiramente as duas. E sempre teve o que comer. (xx) º Escritor e Professor, Doutor em Letras pela USP. Da Universidade Estácio de Sá e da Academia Brasileira de Filologia

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