Expressão que caiu em desuso, porém está no Hino do Flamengo, ai-jesus formou-se de ai, interjeição que designa queixa e dor, mas também alegria, e de Jesus, do hebraico tardio Iexu. Já heim, que muitos dizem quando não ouvem direito o que lhes foi dito, veio do latim hem.
por Deonísio da Silva*
Ai-jesus: de ai, interjeição de origem onomatopaica, designando dor, queixa, mas também alegria, e de Jesus, do hebraico tardio Iexu, com a variante Iexua, forma abreviada de Iehoxua, Javé ajuda na salvação. No grego foi escrito Ieosous, tornado Jesus no latim, conservando a mesma grafia no português. Ai-jesus designa o queridinho, o muito amado, o xodó, o predileto. A expressão caiu em desuso, mas está no Hino do Flamengo: "Consagrado no gramado/ Sempre amado/ Mais cotado nos Fla-Flus/ É o ai-jesus". Outro verso diz: "Ele vibra, ele é fibra, muita libra já pesou". O peso dos barcos do Clube de Regatas Flamengo era medido em libras.
Hein: do latim hem, ai!, ah!, interjeição pronunciada em geral em forma de pergunta, dando a entender que a pessoa não ouviu o que lhe foi dito. Comumente expressa dor, indignação, alegria, aflição, espanto. Há controvérsia sobre a origem ser latina. Alguns defendem que seja onomatopaica, como atchim, zunzum, epa. Outros dão como origem o antigo francês ainz, radicado no latim antius, fala ou comportamento próprios da localidade de Âncio, no Lácio. Hein é semelhante a hum, hã, hem, ah!, oh! e outras interjeições de surpresa, admiração ou reprovação.
Rumor: do latim rumore, declinação de rumor, ruído, murmúrio, notícia, boato. Rumor tomou ares de notícia preocupante ainda no nascedouro da palavra porque os povos latinos dos finais da Idade do Bronze e das primeiras fases da Idade do Ferro, ainda antes da chegada das culturas clássicas da Grécia e de Roma, já acreditavam que o farfalhar do vento nas folhas das árvores, o crepitar das fogueiras e a variação nas vozes dos animais eram presságios, avisos divinos. Eram muitas as divindades que queriam ser ouvidas e elas foram disciplinadas e organizadas pela civilização romana, que as personificou em deusas, principalmente: Flora, Fauna, Ninfas. Adivinhos e profetas surgiram dessas crenças. Esses ofícios existiram e ainda persistem em várias culturas, inclusive nos tempos modernos. A página de horóscopo, de bons índices de leitura em jornais e revistas, é exemplo da certeza ou da suspeita de que forças ocultas guiam nossos destinos. Vox Populi, "Voz do Povo", denomina conhecido instituto de pesquisa de opinião. O provérbio Vox populi, vox Dei (a voz do povo é a voz de Deus) traduz interesse pela opinião pública.
Sumidade: do latim summitate, declinação de summitas, a parte mais elevada de um lugar, o cume da montanha, o alto de uma torre. Veio a designar indivíduo que se sobressai dentre a maioria por sua inteligência, talento, saber. Exemplo: Fulano é uma sumidade em Medicina, em Língua Portuguesa, para indicar que ele é quem mais sabe dentre os que sabem mais, isto é, sabe tudo. Sumiço, porém, procede do verbo sumir, do latim sumere, agarrar, roubar, esconder.
Vernáculo: do latim vernaculus, escravo ou criado nascido em Roma, radicado em verna, escravo. Passou a designar a língua de determinado lugar e mais tarde o idioma próprio de um país, sem estrangeirismos. Tais cuidados com o vernáculo não podem, porém, ser exagerados, sob pena de se tornarem ridículos, como os propostos pelo médico homeopata Antônio de Castro Lopes (1827-1901). Como odiava estrangeirismos, propôs que fossem substituídas, entre outras, as seguintes palavras: menu, por cardápio; chofer, por cinesífero; abajur por lucívelo; anúncio por preconício; cachecol por castelete; turista por ludâmbulo; repórter por alvissareiro; e futebol por ludopédio. Vagalume, que Rafael Bluteau (1638-1734) já impusera em lugar de caga-lume, por ser vocábulo obsceno, já tinha sido objeto de um concurso em Portugal para que fosse substituído e resultara em palavra bonita, que afinal pegou no gosto popular: pirilampo. Rejeitando a proposta, Machado de Assis (1839-1908) escreveu: "Nunca comi croquettes, por mais que me digam que são boas, só por causa do nome francês. Tenho comido e comerei filet de boeuf, é certo, mas com restrição mental de estar comendo lombo de vaca." De lá para cá, filet de boeuf tornou-se filé de bife e depois bife. E o francês croquette, do verbo croquer, quebrar com estalo, tornou-se croquete apenas. Os gramáticos, como o sapateiro de Apeles, não podem ir além das sandálias. À semelhança dos sexólogos, podem orientar-nos, jamais nos substituir na hora de falarmos ou escrevermos.
Hein: do latim hem, ai!, ah!, interjeição pronunciada em geral em forma de pergunta, dando a entender que a pessoa não ouviu o que lhe foi dito. Comumente expressa dor, indignação, alegria, aflição, espanto. Há controvérsia sobre a origem ser latina. Alguns defendem que seja onomatopaica, como atchim, zunzum, epa. Outros dão como origem o antigo francês ainz, radicado no latim antius, fala ou comportamento próprios da localidade de Âncio, no Lácio. Hein é semelhante a hum, hã, hem, ah!, oh! e outras interjeições de surpresa, admiração ou reprovação.
Rumor: do latim rumore, declinação de rumor, ruído, murmúrio, notícia, boato. Rumor tomou ares de notícia preocupante ainda no nascedouro da palavra porque os povos latinos dos finais da Idade do Bronze e das primeiras fases da Idade do Ferro, ainda antes da chegada das culturas clássicas da Grécia e de Roma, já acreditavam que o farfalhar do vento nas folhas das árvores, o crepitar das fogueiras e a variação nas vozes dos animais eram presságios, avisos divinos. Eram muitas as divindades que queriam ser ouvidas e elas foram disciplinadas e organizadas pela civilização romana, que as personificou em deusas, principalmente: Flora, Fauna, Ninfas. Adivinhos e profetas surgiram dessas crenças. Esses ofícios existiram e ainda persistem em várias culturas, inclusive nos tempos modernos. A página de horóscopo, de bons índices de leitura em jornais e revistas, é exemplo da certeza ou da suspeita de que forças ocultas guiam nossos destinos. Vox Populi, "Voz do Povo", denomina conhecido instituto de pesquisa de opinião. O provérbio Vox populi, vox Dei (a voz do povo é a voz de Deus) traduz interesse pela opinião pública.
Sumidade: do latim summitate, declinação de summitas, a parte mais elevada de um lugar, o cume da montanha, o alto de uma torre. Veio a designar indivíduo que se sobressai dentre a maioria por sua inteligência, talento, saber. Exemplo: Fulano é uma sumidade em Medicina, em Língua Portuguesa, para indicar que ele é quem mais sabe dentre os que sabem mais, isto é, sabe tudo. Sumiço, porém, procede do verbo sumir, do latim sumere, agarrar, roubar, esconder.
Vernáculo: do latim vernaculus, escravo ou criado nascido em Roma, radicado em verna, escravo. Passou a designar a língua de determinado lugar e mais tarde o idioma próprio de um país, sem estrangeirismos. Tais cuidados com o vernáculo não podem, porém, ser exagerados, sob pena de se tornarem ridículos, como os propostos pelo médico homeopata Antônio de Castro Lopes (1827-1901). Como odiava estrangeirismos, propôs que fossem substituídas, entre outras, as seguintes palavras: menu, por cardápio; chofer, por cinesífero; abajur por lucívelo; anúncio por preconício; cachecol por castelete; turista por ludâmbulo; repórter por alvissareiro; e futebol por ludopédio. Vagalume, que Rafael Bluteau (1638-1734) já impusera em lugar de caga-lume, por ser vocábulo obsceno, já tinha sido objeto de um concurso em Portugal para que fosse substituído e resultara em palavra bonita, que afinal pegou no gosto popular: pirilampo. Rejeitando a proposta, Machado de Assis (1839-1908) escreveu: "Nunca comi croquettes, por mais que me digam que são boas, só por causa do nome francês. Tenho comido e comerei filet de boeuf, é certo, mas com restrição mental de estar comendo lombo de vaca." De lá para cá, filet de boeuf tornou-se filé de bife e depois bife. E o francês croquette, do verbo croquer, quebrar com estalo, tornou-se croquete apenas. Os gramáticos, como o sapateiro de Apeles, não podem ir além das sandálias. À semelhança dos sexólogos, podem orientar-nos, jamais nos substituir na hora de falarmos ou escrevermos.
* Deonísio da Silva (62), escritor, é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), professor, pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, e autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa). Seus livros já foram premiados pelo MEC, Biblioteca Nacional e Casa de las Américas. E-mail: deonisio@terra.com.br
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