Bater, verbo que tem grande número de sentidos, a ponto ocupar uma coluna inteira no dicionário Houaiss impresso, por exemplo, veio do latim vulgar battere, significando surrar. Sujar, de outro lado, teve origem em sujo, do latim succidus, úmido, molhado, gorduroso.
por Deonísio da Silva*
Bater: do latim vulgar battere, significando surrar, mas aplicando-se também a bater a massa do pão; bater a porta na cara de alguém, para impedir a entrada; bater à porta de alguém para solicitar alguma coisa; bater a falta, bater o pênalti; bater no rochedo, como as ondas; bater em Brasília, isto é, ir lá para pleitear algo; bater recorde; bater em retirada; bater na casa dos 100 anos, isto é, chegar ao centenário, como o fez o arquiteto Oscar Niemeyer (103) há três anos; bater asas, isto é, partir; bater cabeça, variante para quebrá-la de tanto preocupar-se; bater o santo, isto é, entender-se com alguém cujo gênio é semelhante ao nosso; e, em não sendo, dizer "meu santo não bate com o dele"; bater a cidade toda, isto é, procurar por todos os lugares, centro e bairros. A expressão "bateu, levou" está presente em Mil Dias de Solidão: Collor Bateu e Levou, de Cláudio Humberto Rosa, porta-voz da presidência da República no governo de Fernando Collor de Mello (61). O livro chegava aos leitores no mesmo ano em que a revista CARAS estreava no Brasil, novembro de 1993.
Livre-comércio: de livre, do latim liber, entrecasca de árvore sobre a qual se escrevia antes da descoberta do papiro; Liber era também o nome de uma divindade itálica com as funções de Baco; e de comércio, do latim commercium, de merx, mercadoria. Quando a revista CARAS estreou no Brasil, o presidente era Itamar Cautiero Franco (80), vice de Fernando Collor, a quem substituiu porque o titular tinha sido afastado em sessão conjunta do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, em 29 de dezembro do ano anterior. Os dois são atualmente senadores. Nos Estados Unidos, o presidente Bill Clinton (64) festejava a aprovação do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (a sigla em inglês é Nafta) na Câmara dos Representantes, por uma vantagem superior à esperada: 234 a 200 votos. O presidente teve que contrariar os sindicalistas do Partido Democrata, pelo qual se elegera, que combateram sua iniciativa, temendo desemprego. Mais tarde, além dos Estados Unidos e do México, o Chile passou a integrar o tratado. Eleito em 3 de novembro de 1992, Clinton fez um dos melhores governos dos Estados Unidos, mas quase sofreu impeachment por ter mentido ao povo, negando que tivera relações sexuais com a estagiária Monica Levinski (37). O Senado concedeu-lhe perdão, e o povo também.
Parador: do espanhol parador, hotel oficial mantido por organismos públicos; de parado, de parar, do latim parare, preparar, tendo também o sentido de interromper. No caso, interrupção da viagem para descanso, com o fim de visitar a cidade ou a vila onde está sediado o parador. Os paradores espanhóis são hotéis especiais, cujos aposentos ocupam monumentos históricos restaurados em toda a Espanha. Faturam 245 milhões de euros por ano e empregam mais de 5000 pessoas. Foram criados em 1928. Por preços abaixo dos praticados pela rede hoteleira, o turista fica em castelos bem decorados, em que predominam o bom gosto das instalações, serviçais preparados e bem treinados, além de culinárias especiais. Em alguns deles, é possível hospedar-se e comer como um cavaleiro medieval, por exemplo. E nos quartos, despir a roupa, não a armadura, naturalmente.
Repto: de reptar, do latim reputare, refazer as contas, recalcular, ligado a putare, limpar, cortar, que é o étimo também de podar; as plantas, no sentido denotativo; as pessoas, no sentido conotativo, impondo limites semelhantes àqueles fixados para árvores, arbustos, gramas. Lançar um repto a alguém é desafiá-lo.
Sujar: de sujo, do latim succidus, úmido, molhado, gorduroso. O homem suja tudo, pois a sujeira decorre do próprio ato de existir e para isso sempre tomou providências ao longo da história, erguendo cidades à beira de rios, não apenas para aproveitar água limpa em bebidas e comidas, mas também em higiene, retirando o suor que molhava e sujava a roupa, lavando talheres e utensílios, limpando a casa. Mais recentemente, vem cuidando de limpar também os rios, as ruas, os lagos e o próprio mar, depositários de tantas impurezas. Rafael Greca de Macedo (54) assumiu a prefeitura de Curitiba quando CARAS chegava pela primeira vez às bancas de todo o Brasil e a ecologia consolidava-se como tema freqüente na mídia por causa da ECO-92. Ele disse a um grupo de moradoras que reclamavam de um rio, sujo porque havia na localidade centenas de ligações clandestinas que levavam a sujeira diretamente para o pobre rio: "O Barigui está sujo porque vocês o sujaram; rio não faz cocô".
* Deonísio da Silva (62), escritor, é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), professor, pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, e autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa). Seus livros já foram premiados pelo MEC, Biblioteca Nacional e Casa de las Américas. E-mail: deonisio@terra.com.br
NOME DE POBRE NO BRASIL
terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
PETIÇÃO PROLIXA, SENTENÇA INJUSTA
Deonísio da Silva *
A maioria de nossos advogados não sabe escrever. Quem os denuncia são eles mesmos nas petições que protocolam. De vez em quando a sociedade, irritada, ameaça tomar alguma atitude contra eles e em defesa do direito e do idioma. Em notável autocrítica, frequentemente o Judiciário e o Ministério Público manifestam insatisfação com o estilo dos advogados. Por força dessas críticas, já houve alguns progressos, mas ainda falta muito.
Na semana passada, mais um passo relevante foi dado na direção de simplificar a aplicação do Direito. Foi lançado, no Palácio da Justiça, em Porto Alegre (RS), o Projeto Petição 10, Sentença 10, que tem apoio do Judiciário e do Ministério Público. (Zero Hora, 25/11/20, p. 14, e http://www2.tjrs.jus.br/peticao10sentenca10/index.html). Entre outras providências, o Projeto recomenda concisão em petições e sentenças, aconselhando seus autores a não usar mais do que dez páginas. Informa ainda que:
1) “A produção de 1 kg de papel consome 540 litros de água”;
2) “As plantações extensivas de eucalipto para produção de celulose esgotam os recursos hídricos, ressecando o solo e reduzindo drasticamente a biodiversidade”;
3) “O branqueamento do papel, no Brasil, é feito com o uso, entre outros produtos, de dióxido de cloro, que libera dioxinas, substâncias comprovadamente cancerígenas”.
Não é possível que para garantir a aplicação do Direito ainda se gaste tanto com impressoras, tinta e papel. E os funcionários certamente têm mais o que fazer do que cópias excessivas de calhamaços que, enxugados no estilo, dizem muito pouco a respeito dos temas que ocuparam os construtores das conhecidas Torres de Papel, cujo conteúdo é muito difícil de ser decifrado. Determinadas petições são entendidas apenas por quem as escreveu e às vezes nem por seus autores ou signatários.
No ano passado o Judiciário gastou no Rio Grande do Sul 100 milhões de folhas de papel para cumprir suas funções. Nos outros Estados não deve ter sido muito diferente, uma vez que os gaúchos são muito cuidadosos com a escrita, pois começaram cedo a aprender. Primeiro com os jesuítas, que, ainda nos séculos XVII e XVIII, ergueram naquelas plagas o complexo urbano dos Sete Povos Missioneiros, antes mesmo de o Rio Grande do Sul existir política, social e juridicamente. E nos séculos seguintes tiveram Júlio de Castilhos e os imigrantes europeus, sobretudo os alemães, que cuidaram de ter escolas e jornais em todos os lugares em que se estabeleciam.
Foram-se os tempos dos discípulos de Paulo Brossard, a quem Leonel Brizola, sem a cultura do desafeto, mas quase invencível num debate, qualificava de “Rui Barbosa em compota”. O caso é que Paulo Brossard sabia e sabe escrever bem, como demonstra ainda hoje nos artigos esparsos que publica na mídia. E Leonel Brizola sabia falar! E pouco escreveu!
Atualmente, os juízes, assoberbados com tantos processos, são obrigados a lidar com montanhas de detritos retóricos e figuras de linguagem de mau gosto, fora de lugar e de propósito, que não os ajudam a formar sua convicção. Afinal, "sentença" vem de "sentir" e, para sentir o que se passa entre os litigantes, é necessário que as petições sejam objetivas; do contrário, o juiz não sabe o que é que está sendo pleiteado.
Toda Torre de Papel acaba numa Torre de Babel. Nem o juiz entende o que está sendo reivindicado, nem as partes, depois de tantos floreios e divagações, lembram o que solicitaram.
Em resumo, faltam clareza, concisão e objetividade à maioria de nossos advogados. E esta insuficiência prejudica em primeiro lugar os seus clientes e em segundo lugar todo mundo. Pois quem paga tanto papel, tanta árvore derrubada para atendê-los? O distinto público, é claro.
Qual é a principal vítima do juridiquês? O cidadão. Exercer o direito requer os trabalhos de um advogado que o represente. Quando o advogado é incompetente, o prejudicado não é o representante, é o representado. No Judiciário, são mínimas as chances de um cidadão ser atendido quando seu advogado não é objetivo e não reivindica claramente o essencial. Fica ainda pior quando, jejuno em direito e em língua portuguesa, para disfarçar tais insuficiências recorre a floreios esquisitos, citações longas, impertinentes, fora de contexto, desnecessárias, que fazem seus autores revirarem nos túmulos.
Foram advogados grandes escritores brasileiros. Todavia, de umas décadas para cá, com o rebaixamento do ensino de língua portuguesa em quase todas as escolas de todos os níveis, temos advogados atuantes que, conquanto entendam da profissão que exercem, não a dominam com eficiência justamente porque as faculdades que cursaram não deram ao ato de escrever a importância essa profissão requer. Se não sabem escrever, é claro que também não sabem ler nem interpretar as leis que, se não as leem, deveriam lê-las. Comportam-se como Tiriricas do Judiciário.
Ainda que a Ordem dos Advogados do Brasil submeta os portadores de diploma de Bacharel em Direito a exames adicionais, ainda há muito que fazer. Os profissionais de Letras precisam ajudar o Judiciário e o Ministério Público nessa tarefa de erradicar o juridiquês, que é o analfabetismo empolado do Direito.
Talvez o STF pudesse fazer com a Suprema Corte dos EUA, que limitou o tamanho das petições entre 3.000 e 15.000 caracteres, isto é, entre duas e dez laudas, no máximo, que é exatamente a proposta agora feita pelos gaúchos.
Seria um reforço no processo de ensino e de aprendizagem de alfabetizados que, lendo menos do que devem, aumentam suas insuficiências na hora de escrever. (xx)
A maioria de nossos advogados não sabe escrever. Quem os denuncia são eles mesmos nas petições que protocolam. De vez em quando a sociedade, irritada, ameaça tomar alguma atitude contra eles e em defesa do direito e do idioma. Em notável autocrítica, frequentemente o Judiciário e o Ministério Público manifestam insatisfação com o estilo dos advogados. Por força dessas críticas, já houve alguns progressos, mas ainda falta muito.
Na semana passada, mais um passo relevante foi dado na direção de simplificar a aplicação do Direito. Foi lançado, no Palácio da Justiça, em Porto Alegre (RS), o Projeto Petição 10, Sentença 10, que tem apoio do Judiciário e do Ministério Público. (Zero Hora, 25/11/20, p. 14, e http://www2.tjrs.jus.br/peticao10sentenca10/index.html). Entre outras providências, o Projeto recomenda concisão em petições e sentenças, aconselhando seus autores a não usar mais do que dez páginas. Informa ainda que:
1) “A produção de 1 kg de papel consome 540 litros de água”;
2) “As plantações extensivas de eucalipto para produção de celulose esgotam os recursos hídricos, ressecando o solo e reduzindo drasticamente a biodiversidade”;
3) “O branqueamento do papel, no Brasil, é feito com o uso, entre outros produtos, de dióxido de cloro, que libera dioxinas, substâncias comprovadamente cancerígenas”.
Não é possível que para garantir a aplicação do Direito ainda se gaste tanto com impressoras, tinta e papel. E os funcionários certamente têm mais o que fazer do que cópias excessivas de calhamaços que, enxugados no estilo, dizem muito pouco a respeito dos temas que ocuparam os construtores das conhecidas Torres de Papel, cujo conteúdo é muito difícil de ser decifrado. Determinadas petições são entendidas apenas por quem as escreveu e às vezes nem por seus autores ou signatários.
No ano passado o Judiciário gastou no Rio Grande do Sul 100 milhões de folhas de papel para cumprir suas funções. Nos outros Estados não deve ter sido muito diferente, uma vez que os gaúchos são muito cuidadosos com a escrita, pois começaram cedo a aprender. Primeiro com os jesuítas, que, ainda nos séculos XVII e XVIII, ergueram naquelas plagas o complexo urbano dos Sete Povos Missioneiros, antes mesmo de o Rio Grande do Sul existir política, social e juridicamente. E nos séculos seguintes tiveram Júlio de Castilhos e os imigrantes europeus, sobretudo os alemães, que cuidaram de ter escolas e jornais em todos os lugares em que se estabeleciam.
Foram-se os tempos dos discípulos de Paulo Brossard, a quem Leonel Brizola, sem a cultura do desafeto, mas quase invencível num debate, qualificava de “Rui Barbosa em compota”. O caso é que Paulo Brossard sabia e sabe escrever bem, como demonstra ainda hoje nos artigos esparsos que publica na mídia. E Leonel Brizola sabia falar! E pouco escreveu!
Atualmente, os juízes, assoberbados com tantos processos, são obrigados a lidar com montanhas de detritos retóricos e figuras de linguagem de mau gosto, fora de lugar e de propósito, que não os ajudam a formar sua convicção. Afinal, "sentença" vem de "sentir" e, para sentir o que se passa entre os litigantes, é necessário que as petições sejam objetivas; do contrário, o juiz não sabe o que é que está sendo pleiteado.
Toda Torre de Papel acaba numa Torre de Babel. Nem o juiz entende o que está sendo reivindicado, nem as partes, depois de tantos floreios e divagações, lembram o que solicitaram.
Em resumo, faltam clareza, concisão e objetividade à maioria de nossos advogados. E esta insuficiência prejudica em primeiro lugar os seus clientes e em segundo lugar todo mundo. Pois quem paga tanto papel, tanta árvore derrubada para atendê-los? O distinto público, é claro.
Qual é a principal vítima do juridiquês? O cidadão. Exercer o direito requer os trabalhos de um advogado que o represente. Quando o advogado é incompetente, o prejudicado não é o representante, é o representado. No Judiciário, são mínimas as chances de um cidadão ser atendido quando seu advogado não é objetivo e não reivindica claramente o essencial. Fica ainda pior quando, jejuno em direito e em língua portuguesa, para disfarçar tais insuficiências recorre a floreios esquisitos, citações longas, impertinentes, fora de contexto, desnecessárias, que fazem seus autores revirarem nos túmulos.
Foram advogados grandes escritores brasileiros. Todavia, de umas décadas para cá, com o rebaixamento do ensino de língua portuguesa em quase todas as escolas de todos os níveis, temos advogados atuantes que, conquanto entendam da profissão que exercem, não a dominam com eficiência justamente porque as faculdades que cursaram não deram ao ato de escrever a importância essa profissão requer. Se não sabem escrever, é claro que também não sabem ler nem interpretar as leis que, se não as leem, deveriam lê-las. Comportam-se como Tiriricas do Judiciário.
Ainda que a Ordem dos Advogados do Brasil submeta os portadores de diploma de Bacharel em Direito a exames adicionais, ainda há muito que fazer. Os profissionais de Letras precisam ajudar o Judiciário e o Ministério Público nessa tarefa de erradicar o juridiquês, que é o analfabetismo empolado do Direito.
Talvez o STF pudesse fazer com a Suprema Corte dos EUA, que limitou o tamanho das petições entre 3.000 e 15.000 caracteres, isto é, entre duas e dez laudas, no máximo, que é exatamente a proposta agora feita pelos gaúchos.
Seria um reforço no processo de ensino e de aprendizagem de alfabetizados que, lendo menos do que devem, aumentam suas insuficiências na hora de escrever. (xx)
domingo, 28 de novembro de 2010
RIO DE BALAS, AMBULÂNCIAS E MOTOLÂNCIAS
Vi no dispositivo eletrônico do táxi que me levava ao Galeão, no caminho Barra da Tijuca-Linha Amarela-Linha Vermelha, o aviso da cooperativa: “os motoristas podem recusar as corridas sem dar nenhuma explicação”.
A tristeza desses dias podia ser medida por tal licença. Corridas para a Rocinha, Rio Comprido, Del Castilho, Baixada Fluminense e principalmente para a Penha, ninguém queria fazer. Eram todas recusadas. Como ficariam aquelas pessoas que precisavam com urgência de um táxi? Tomar ônibus ou vans era o maior perigo. Dezenas deles vinham sendo incendiados.
Essa operação é o modo mais fácil de assustar os habitantes. Um jovem a serviço de traficantes desde do morro, ordena que os passageiros desembarquem, espalha gasolina ou qualquer outro líquido inflamável e risca um fósforo ou isqueiro. Pronto! Está instituído o pânico. E como pode a polícia identificá-lo? Ele é o mais competente dos guerrilheiros urbanos nessa hora. Sai dali e pega um ônibus ou van e ainda reclama de que estão incendiando os veículos de transporte, que assim não dá etc.
O governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes estão com uma batata quente nas mãos. O governo federal também faz o que pode. Carros de guerra da Marinha ajudaram no policiamento.
Quem não está no Rio, não entende muito bem o que se passa. Em primeiro lugar, há aqueles lugares que a violência parece não atingir. Parece. Moro na Barra da Tijuca, um desses bairros, e do 13º andar vi várias ambulâncias chegarem aos hospitais. Naturalmente, nem todos eram feridos de guerra, mas o número de ambulâncias era maior do que nos outros dias. E chegavam também motolâncias, neologismo nascido com o uso de motos que transportam quem está precisando de socorro médico. A maioria tem problemas de pressão, taquicardia, arrependimentos, remorsos etc, coisas do coração! Muitos se perguntam: por que ainda moro aqui?
Um percurso que em quintas-feiras normais levaria até duas horas, nesse dia levou quarenta minutos. Da avenida Aírton Senna em diante, passando pela Linha Amarela e pela Linha Vermelha, havia poucos carros e nenhum ônibus ou van. Era aterrador. As pessoas, assustadas, não saíam de casa. Nessas horas, a televisão reina soberana, assustando mais ainda.
As redes cumprem também, com muito esmero, a tarefa de, sem querer, auxiliar os bandidos, que acompanham pela televisão a estratégia da polícia e vão descobrindo modos de fugir do cerco. As autoridades reclamaram que os traficantes eram ajudados pelos repórteres do rádio e da televisão, mas fazer o quê? A mesma informação que serve às pessoas de bem, serve aos bandidos também.
Não nos enganemos. Essa guerra vai demorar. Enquanto houver quem compra drogas, haverá quem as vende. E a polícia ataca apenas quem as vende. Eis um assunto mais complexo do que o Complexo do Alemão, reunião de favelas onde os fugitivos se escondiam da polícia na semana que passou e de onde vinham sendo também desalojados.(xx)
Transcrito do Primeira Página, São Carlos, SP, 28/11/2010.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
O SACERDÓCIO DO INTELECTUAL
por Deonísio da Silva (texto publicado em 1999, extraviado e agora encontrado)
É desconcertante o que vou declarar, mas facilmente comprovável. A remuneração do trabalho intelectual é quase sempre rebaixada pelos próprios membros das diversas confrarias ou comunidades.
Tomemos o caso de uma conferência, palestra ou mesa redonda. Várias vezes, participando desses eventos, refleti com meus suspensórios: aqui o único que está trabalhando de graça sou eu. O telefonema do convite foi cobrado. A Telesp, portanto, ou qualquer outra companhia telefônica, recebeu o seu bem antes de eu dizer sim ou não. O papel em que o convite foi confirmado não foi doado. Foi vendido à instituição que fez o convite. O carro que levou o conferencista ao local, rodou com combustível que não foi doado. A água mineral servida à mesa para o conferencista regar seu jardim de palavras na garganta, foi comprada. A luz que ali nos ilumina foi vendida pela Companhia Paulista de Força e Luz ou qualquer outra empresa congênere, o mesmo valendo para a força que move condicionadores de ar. A água utilizada para lavar o recinto antes e depois, não foi doada. E, é claro, as faxineiras não trabalham de graça.
Por fim, o coordenador, organizador ou ocupante de qualquer dos cargos que planejou o evento, tem um salário ou remuneração para fazer o que faz. Em geral, uma remuneração incompatível com sua qualificação, porque a mão-de-obra no Brasil é a coisa mais barata do mundo, mas é uma remuneração. Mais barata para quem recebe. Porque, para quem emprega, custa o dobro. De todo modo, não é zero.
Somente o conferencista está trabalhando de graça. Vá você, meu caro leitor, solicitar remuneração pelo seu trabalho. Se você for encanador, eletricista, faxineira, mecânico, manicure, cabeleireiro etc, se exerce enfim qualquer profissão semelhante às citadas, você será remunerado. Bem ou mal, mas será. Ninguém terá o topete de solicitar que você desentupa o banheiro, conserte uma lâmpada, limpe uma casa, arrume um carro, faça unhas ou lave o cabelo de ninguém de graça. Imagine o diálogo: “prontinho, seu cabelo ficou uma graça!” E a freguesa: “muito obrigado!” E abandone o cabeleireiro sem pagar-lhe o devido! Será um caso de histeria e de polícia.
Mas com o trabalho intelectual dá-se o contrário. A primeira dificuldade, a primeira incompreensão vem do seu colega de ofício, ou de alguém que exerça funções em áreas de domínio conexo. Os diálogos se repetem mais ou menos assim: “estamos convidando você para uma palestra no dia tal e qual, no tal lugar, às tantas horas”. E o convidado: “e o que vocês oferecem?” “Como? Não entendi! O que nós oferecemos?” “É. Quanto vou receber pelo serviço para o qual vocês estão me requisitando?”
Desconcerto e perplexidade. No fundo, os que convidam devem pensar assim: “olha a petulância e arrogância desse aí”. Sim, porque antes do convite éramos um brilhante profissional, cujas credenciais nos levaram à súbita honra de receber um convite feito por gente tão digna e chique. Mas, feita a exigência de um pagamento, ainda antes de estipular um valor, por mínimo que seja, fomos imediatamente rebaixados à condição de “esse aí”.
Pois então tendo mais o que fazer, para preservar nosso “vitae” e aperfeiçoarmos nosso ofício, a fim de não sermos mais um “desses aí”, os que me convidam, que me desculpem, mas que não tomem meu tempo e vão convidar qualquer um “desses aí”. Pois, se há tanta gente qualificada, disposta a trabalhar de graça, por que vêm eles bater justamente à porta de quem, a duras penas, se esforça para trabalhar profissionalmente?
Que espanto ser profissional no Brasil! Se o trabalho do professor ou do escritor é um sacerdócio, queremos casa, comida e roupa lavada, como os padres. E a cobertura da maior multinacional do mundo, a Igreja católica, com sedes, representações e demais instâncias em todo o universo conhecido. Sei que em qualquer lugar do mundo, um padre será bem tratado por sua Igreja. Mas um professor ou escritor, para ser bem tratado, dependerá de muitas outras sutis complexidades, entre as quais cartão de crédito e qualquer outra moeda que não seja a brasileira. Como se sabe, você não pode viajar ao exterior com nossa moeda. Só se você for para alguns países — como direi? — do nosso nível.
Ocorre, porém, uma exceção nos tais convites. Uma Nestlé, uma IBM — uma da indústria da alimentação, fazendo chocolates; outra produzindo computadores —, um Banco, uma rede de lojas, enfim, quaisquer outros profissionais que atuem em outros ramos, que não o ensino ou a dita cultura, jamais nos farão propostas tão indecorosas, como estas de trabalhar de graça.
Portanto, aviso aos navegantes desses mares: a escravidão foi abolida muito tarde entre nós, é verdade; mas já foi abolida. Em 1888. Mesmo trabalhando de graça, o escravo tinha direito a casa, comida e roupa lavada.
Então, o que propõe quem faz um convite desses? Um recuo até um pouco antes da escravidão. Aceitando a dita proposta de trabalhar de graça seríamos um pré-escravo.
Agora, me digam: não é espantoso que sejam nossos colegas de ofício os autores de propostas tão indecorosas? (xx)
É desconcertante o que vou declarar, mas facilmente comprovável. A remuneração do trabalho intelectual é quase sempre rebaixada pelos próprios membros das diversas confrarias ou comunidades.
Tomemos o caso de uma conferência, palestra ou mesa redonda. Várias vezes, participando desses eventos, refleti com meus suspensórios: aqui o único que está trabalhando de graça sou eu. O telefonema do convite foi cobrado. A Telesp, portanto, ou qualquer outra companhia telefônica, recebeu o seu bem antes de eu dizer sim ou não. O papel em que o convite foi confirmado não foi doado. Foi vendido à instituição que fez o convite. O carro que levou o conferencista ao local, rodou com combustível que não foi doado. A água mineral servida à mesa para o conferencista regar seu jardim de palavras na garganta, foi comprada. A luz que ali nos ilumina foi vendida pela Companhia Paulista de Força e Luz ou qualquer outra empresa congênere, o mesmo valendo para a força que move condicionadores de ar. A água utilizada para lavar o recinto antes e depois, não foi doada. E, é claro, as faxineiras não trabalham de graça.
Por fim, o coordenador, organizador ou ocupante de qualquer dos cargos que planejou o evento, tem um salário ou remuneração para fazer o que faz. Em geral, uma remuneração incompatível com sua qualificação, porque a mão-de-obra no Brasil é a coisa mais barata do mundo, mas é uma remuneração. Mais barata para quem recebe. Porque, para quem emprega, custa o dobro. De todo modo, não é zero.
Somente o conferencista está trabalhando de graça. Vá você, meu caro leitor, solicitar remuneração pelo seu trabalho. Se você for encanador, eletricista, faxineira, mecânico, manicure, cabeleireiro etc, se exerce enfim qualquer profissão semelhante às citadas, você será remunerado. Bem ou mal, mas será. Ninguém terá o topete de solicitar que você desentupa o banheiro, conserte uma lâmpada, limpe uma casa, arrume um carro, faça unhas ou lave o cabelo de ninguém de graça. Imagine o diálogo: “prontinho, seu cabelo ficou uma graça!” E a freguesa: “muito obrigado!” E abandone o cabeleireiro sem pagar-lhe o devido! Será um caso de histeria e de polícia.
Mas com o trabalho intelectual dá-se o contrário. A primeira dificuldade, a primeira incompreensão vem do seu colega de ofício, ou de alguém que exerça funções em áreas de domínio conexo. Os diálogos se repetem mais ou menos assim: “estamos convidando você para uma palestra no dia tal e qual, no tal lugar, às tantas horas”. E o convidado: “e o que vocês oferecem?” “Como? Não entendi! O que nós oferecemos?” “É. Quanto vou receber pelo serviço para o qual vocês estão me requisitando?”
Desconcerto e perplexidade. No fundo, os que convidam devem pensar assim: “olha a petulância e arrogância desse aí”. Sim, porque antes do convite éramos um brilhante profissional, cujas credenciais nos levaram à súbita honra de receber um convite feito por gente tão digna e chique. Mas, feita a exigência de um pagamento, ainda antes de estipular um valor, por mínimo que seja, fomos imediatamente rebaixados à condição de “esse aí”.
Pois então tendo mais o que fazer, para preservar nosso “vitae” e aperfeiçoarmos nosso ofício, a fim de não sermos mais um “desses aí”, os que me convidam, que me desculpem, mas que não tomem meu tempo e vão convidar qualquer um “desses aí”. Pois, se há tanta gente qualificada, disposta a trabalhar de graça, por que vêm eles bater justamente à porta de quem, a duras penas, se esforça para trabalhar profissionalmente?
Que espanto ser profissional no Brasil! Se o trabalho do professor ou do escritor é um sacerdócio, queremos casa, comida e roupa lavada, como os padres. E a cobertura da maior multinacional do mundo, a Igreja católica, com sedes, representações e demais instâncias em todo o universo conhecido. Sei que em qualquer lugar do mundo, um padre será bem tratado por sua Igreja. Mas um professor ou escritor, para ser bem tratado, dependerá de muitas outras sutis complexidades, entre as quais cartão de crédito e qualquer outra moeda que não seja a brasileira. Como se sabe, você não pode viajar ao exterior com nossa moeda. Só se você for para alguns países — como direi? — do nosso nível.
Ocorre, porém, uma exceção nos tais convites. Uma Nestlé, uma IBM — uma da indústria da alimentação, fazendo chocolates; outra produzindo computadores —, um Banco, uma rede de lojas, enfim, quaisquer outros profissionais que atuem em outros ramos, que não o ensino ou a dita cultura, jamais nos farão propostas tão indecorosas, como estas de trabalhar de graça.
Portanto, aviso aos navegantes desses mares: a escravidão foi abolida muito tarde entre nós, é verdade; mas já foi abolida. Em 1888. Mesmo trabalhando de graça, o escravo tinha direito a casa, comida e roupa lavada.
Então, o que propõe quem faz um convite desses? Um recuo até um pouco antes da escravidão. Aceitando a dita proposta de trabalhar de graça seríamos um pré-escravo.
Agora, me digam: não é espantoso que sejam nossos colegas de ofício os autores de propostas tão indecorosas? (xx)
terça-feira, 23 de novembro de 2010
WILSON MARTINS (1921-2010): O ARTESANATO DA CRÍTICA
Por Deonísio da Silva em 23/11/2010 | |
A floração da inteligência brasileira vai começar. Estamos em 1550 e já começamos tarde. Perdemos meio século! Os jesuítas começam a ensinar latim no Colégio dos Meninos, em São Vicente, prosseguindo na Bahia em 1553, em São Paulo em 1554, no Rio em 1567, chegando ao Pará, no Norte, e à colônia de Sacramento, no Sul. Ensinam latim porque quem aprende latim, aprende a pensar, aprende lógica, aprende História, aprende Geografia, aprende cultura e civilização e, principalmente, aprende a ler e a escrever. Não que esse seja o caminho único, mas porque é o que melhor dominam, paradoxais homens do Renascimento e da Reforma no alvorecer do século 16, mas que servem à Contrarreforma. Padres e letrados, ou melhor, padres letrados, plantaram a inteligência no Brasil. Ou, no dizer de Nelson Werneck Sodré, transplantaram-na. Ainda hoje a nação deve muito a ordens religiosas, masculinas ou femininas, e a igrejas confessionais e a outras religiões, o cuidado com a escola, com a cultura, sempre abandonadas pelo poder público, nos tempos monárquicos como nos republicanos, com pequenos períodos de bons tratos, nem sempre aplicados a todos os níveis de ensino. Ora se cuidava mais do ensino superior, ora do ensino fundamental, médio e secundário, como hoje se cuida mais da pós-graduação do que de todos os outros. E assim temos verdadeiros brutamontes, desprovidos de qualquer verniz cultural, com a arrogância comum a PhD’s que, às vezes, sabem da caspa e da unha encravada, ou da ponta da língua de um biguá, mas se mostram incapazes de entender o Brasil ou fazer algo relevante pelo país que proveu suas condições de estudo, aqui ou no exterior. Para tomar coca-colaMas como começou e como se formou a inteligência no Brasil? A Editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa acaba de relançar, acrescida de textos até então inéditos, a obra referencial de Wilson Martins, a coleção História da Inteligência Brasileira, agora em sete volumes. É a terceira edição de uma obra lançada originalmente pela Cultrix, entre 1976 e 1979, e reeditada pela T, A. Queiroz, entre 1992 e 1994. O autor, paulista de nascimento, passou a viver em Curitiba aos nove anos e na adolescência estudou em Ponta Grossa (PR), a mesma cidade que hoje sedia a universidade que ousou relançar esta obra indispensável. Seu percurso intelectual revela sutis complexidades das vantagens propriamente de formação que recebia quem cursasse Direito antes da rude predominância das exigências do mercado sobre esse curso. Fazia-se Direito nas famílias, não com o objetivo estreito e específico de obter um emprego definido, mas como um valor absoluto na educação. Houve um tempo, no Brasil, em que o ato de estudar não estava submetido ao mercado, como hoje. Afinal, a cultura não tem esta estreiteza que lhe querem atribuir a ferro e fogo. Você pode querer aprender mandarim para entender o universo cultural do país mais antigo do mundo, sem que tal aprendizado cumpra o objetivo de você tornar-se tradutor profissional ou professor. Naturalmente, acima do lastro cultural que a língua e sua literatura lhe darão, estará também a notável ferramenta de trabalho que o mandarim é hoje no mundo, dada a relevância da China, não apenas no mercado, mas no cenário internacional. E nem se estuda inglês para tomar coca-cola e comer hambúrguer nas viagens quase compulsórias a Disney, mas para ler e entender melhor Shakespeare, assim como o francês, o italiano, o espanhol e o alemão, ao lado de outras línguas de cultura, nos tornarão mais homens depois de lermos Proust, Dante, Cervantes, Goethe e as notáveis florações de seus companheiros de letras em todas as épocas. Enganando o distinto públicoTanto que, concluído o curso de Direito, Wilson Martins vai fazer o curso de Letras, estudando em Paris e concluindo seu doutorado pela Universidade Federal do Paraná, a mais antiga do Brasil. Seu saber, conquanto atento à realidade brasileira, jamais foi provinciano ou paroquial, sobretudo porque, além de leitor compulsivo, ele procurou e obteve, sem quotas e por mérito, apoios importantes para prosseguir seus estudos e pesquisas na forma de bolsas de estudos na Europa e nos EUA. E acabou por lecionar em universidades americanas, de 1962 a 1991, quando se aposentou pela Universidade de Nova York. Por muito menos, colegas de ofício receberam da mídia os mais estabanados e exagerados destaques. Wilson Martins, não. Dada sua independência intelectual, desarrumava com frequência arranjos como esses que hoje nos querem impor, ora com um, ora com outro escritor, enganando o distinto público, ao apresentá-los como expoentes de nossas letras, quando o prestígio dos aclamados provém de razões extraliterárias. Desastre totalFoi no exercício da docência e da crítica que Wilson Martins mais desconcertou o status quo da inteligência brasileira, isto é, dos aparelhos que a formam e constituem. Num tempo em que os turiferários de praxe na mídia queimavam incenso a pretensos críticos que, no máximo, tinham estudado a obra de um único autor, quando não um único livro do escritor escolhido, usufruindo por muitas décadas de um prestígio epocal obtido há tempos, pondo-se improdutivos para o resto de seus dias, ele estava no batente crítico todas as semanas, desde que estreara como comentarista de livros no jornal O Dia, em 1942, de lá migrando para O Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e Gazeta do Povo, em Curitiba, onde viria a morrer, em janeiro de 2010. Estão aí os sete volumes na praça. Naturalmente, as livrarias talvez os escondam lá no fundo das lojas, nas últimas prateleiras, ou, pior ainda, terão registrado nos computadores – ah, a modernidade! –, mas não os terão disponíveis quando o leitor quiser. Mas – que boa a modernidade! –, se você tem acesso à rede mundial e um cartão crédito, pode adquirir todos os volumes já, com algumas simples dedilhadas no teclado do seu computador. Será, adicionalmente, uma forma de gratidão a quem dedilhou a vida inteira para levar aos leitores a sua interpretação dos autores referenciais de nossa inteligência. Wilson Martins faria falta a qualquer país. No Brasil, sua falta é um desastre total. Não há mais nenhum crítico em atividade. A crítica foi confinada aos minimalismos universitários, quando não à própria ignorância de mestres e alunos sobre quem tanto fez pelo Brasil. |
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
QUANTOS PAÍSES TEM O MUNDO?
A Organização das Nações Unidas (ONU) conta 191. O Banco Mundial diz que são 229. O Comitê Olímpico Internacional reconhece 202 países, e a Fifa, 209.
Mr. Miles, pseudônimo de autor das deliciosas colunas de viagem do Estadão, escreveu que um alto executivo do cartão Visa, (ele pediu para não ser identificado: onde há dinheiro, há segredo), informou que estabelecimentos de 249 países enviam, mensalmente, suas faturas para a empresa.
Mr. Miles respondeu ao leitor que fez a pergunta: “Ora, me parece impossível inventar um país apenas para aceitar um cartão de crédito. Don’t you agree?". No pé de página, é dito que Mr. Miles é o homem mais viajado do mundo. Esteve em 132 países e 7 territórios ultramarinos. Seu texto é enfeitado com palavras do inglês. Don’t you agree (você não concorda?) não é a única expressão do latim do império. Na última coluna, além desta, usou as seguintes: "É uma boa pergunta, my friend” (meu amigo). Lamento, however (entretanto), que ela se repita”. “Therefore (consequentemente), nunca tive a preocupação de contá-los”. “ I’m afraid (temo que), ele não tem nenhum critério”. “Nevertheless (todavia), surpreende-me o interesse das pessoas por tais pormenores”. “Oh, my God! (Oh, meu Deus!) - eu já estive em todos os países do planeta”. “Já visitei, for instance (por exemplo), a União Soviética”. “What I’m supposed to do?”. (O que eu posso fazer?) “Do you see?” (Você percebe?). “In fact, my friend, (De fato, meu amigo) nem se sabe quantos países existem. Diversas fontes confiáveis divergem sobre o tema”. “Besides England (além da Inglaterra), participam das competições mundiais a Escócia, o País de Gales e a Irlanda do Norte”.
A ONU não conta o Vaticano nem Taiwan. O primeiro é observador permanente da organização, mas está fora do cadastro. O segundo, porque a China não reconhece sua independência.
Também os territórios e as possessões não entram na lista da ONU. É o caso de Aruba e Ilhas Cayman, que são da Holanda e da Inglaterra.
Há pouco mais de cem anos, no início no século XX, havia apenas 57 países. A Áustria e o Iraque, por exemplo, surgiram depois da 1ª Guerra Mundial, com o fim dos impérios austro-húngaro e turco-otomano.
Índia, Paquistão, Moçambique e Angola, entre outros, surgiram depois da 2ª Guerra Mundial. Daqui a pouco talvez sejam países independentes a Caxemira, na fronteira com a Índia, e a Chechênia, que irrompeu no noticiário há alguns anos com as sangrentas lutas de independência, que entretanto ainda não foi alcançada.
Na década de 1990, surgiram diversos países, como Ubequistão e Ucrânia, mas desapareceram a Iugoslávia e a República Democrática Alemã. A propósito, este escritor estava na casa do embaixador do Brasil na Alemanha Oriental quando ele passou a cônsul. O cargo de embaixador ficou com a ex-Alemanha Ocidental.
As diferenças entre os mais de duzentos países são apavorantes. Os habitantes do mais pobre, a Etiópia, ganham 90 dólares por ano. Em Luxemburgo, o mais rico, a renda mensal é de 3.661 dólares, quantia superior aos 3.330 dólares os brasileiros ganham por ano, 3.330 dólares por ano.
A China é o país mais antigo do mundo. Existe desde 1.500 a.C. Egito e Iraque existem há 3.000 anos a.C., mas não como países. Timor Leste é o caçulinha. Desmembrou-se da Indonésia entre 1999 e 2002.
Os países estão cheios de mistérios. Esses dados dizem pouco, mas algo dizem. Nosso peso, nossa idade e onde nascemos e moramos também dizem algo de nós. (xx).
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
ETIMOLOGIA
Expressão que caiu em desuso, porém está no Hino do Flamengo, ai-jesus formou-se de ai, interjeição que designa queixa e dor, mas também alegria, e de Jesus, do hebraico tardio Iexu. Já heim, que muitos dizem quando não ouvem direito o que lhes foi dito, veio do latim hem.
por Deonísio da Silva*
Ai-jesus: de ai, interjeição de origem onomatopaica, designando dor, queixa, mas também alegria, e de Jesus, do hebraico tardio Iexu, com a variante Iexua, forma abreviada de Iehoxua, Javé ajuda na salvação. No grego foi escrito Ieosous, tornado Jesus no latim, conservando a mesma grafia no português. Ai-jesus designa o queridinho, o muito amado, o xodó, o predileto. A expressão caiu em desuso, mas está no Hino do Flamengo: "Consagrado no gramado/ Sempre amado/ Mais cotado nos Fla-Flus/ É o ai-jesus". Outro verso diz: "Ele vibra, ele é fibra, muita libra já pesou". O peso dos barcos do Clube de Regatas Flamengo era medido em libras.
Hein: do latim hem, ai!, ah!, interjeição pronunciada em geral em forma de pergunta, dando a entender que a pessoa não ouviu o que lhe foi dito. Comumente expressa dor, indignação, alegria, aflição, espanto. Há controvérsia sobre a origem ser latina. Alguns defendem que seja onomatopaica, como atchim, zunzum, epa. Outros dão como origem o antigo francês ainz, radicado no latim antius, fala ou comportamento próprios da localidade de Âncio, no Lácio. Hein é semelhante a hum, hã, hem, ah!, oh! e outras interjeições de surpresa, admiração ou reprovação.
Rumor: do latim rumore, declinação de rumor, ruído, murmúrio, notícia, boato. Rumor tomou ares de notícia preocupante ainda no nascedouro da palavra porque os povos latinos dos finais da Idade do Bronze e das primeiras fases da Idade do Ferro, ainda antes da chegada das culturas clássicas da Grécia e de Roma, já acreditavam que o farfalhar do vento nas folhas das árvores, o crepitar das fogueiras e a variação nas vozes dos animais eram presságios, avisos divinos. Eram muitas as divindades que queriam ser ouvidas e elas foram disciplinadas e organizadas pela civilização romana, que as personificou em deusas, principalmente: Flora, Fauna, Ninfas. Adivinhos e profetas surgiram dessas crenças. Esses ofícios existiram e ainda persistem em várias culturas, inclusive nos tempos modernos. A página de horóscopo, de bons índices de leitura em jornais e revistas, é exemplo da certeza ou da suspeita de que forças ocultas guiam nossos destinos. Vox Populi, "Voz do Povo", denomina conhecido instituto de pesquisa de opinião. O provérbio Vox populi, vox Dei (a voz do povo é a voz de Deus) traduz interesse pela opinião pública.
Sumidade: do latim summitate, declinação de summitas, a parte mais elevada de um lugar, o cume da montanha, o alto de uma torre. Veio a designar indivíduo que se sobressai dentre a maioria por sua inteligência, talento, saber. Exemplo: Fulano é uma sumidade em Medicina, em Língua Portuguesa, para indicar que ele é quem mais sabe dentre os que sabem mais, isto é, sabe tudo. Sumiço, porém, procede do verbo sumir, do latim sumere, agarrar, roubar, esconder.
Vernáculo: do latim vernaculus, escravo ou criado nascido em Roma, radicado em verna, escravo. Passou a designar a língua de determinado lugar e mais tarde o idioma próprio de um país, sem estrangeirismos. Tais cuidados com o vernáculo não podem, porém, ser exagerados, sob pena de se tornarem ridículos, como os propostos pelo médico homeopata Antônio de Castro Lopes (1827-1901). Como odiava estrangeirismos, propôs que fossem substituídas, entre outras, as seguintes palavras: menu, por cardápio; chofer, por cinesífero; abajur por lucívelo; anúncio por preconício; cachecol por castelete; turista por ludâmbulo; repórter por alvissareiro; e futebol por ludopédio. Vagalume, que Rafael Bluteau (1638-1734) já impusera em lugar de caga-lume, por ser vocábulo obsceno, já tinha sido objeto de um concurso em Portugal para que fosse substituído e resultara em palavra bonita, que afinal pegou no gosto popular: pirilampo. Rejeitando a proposta, Machado de Assis (1839-1908) escreveu: "Nunca comi croquettes, por mais que me digam que são boas, só por causa do nome francês. Tenho comido e comerei filet de boeuf, é certo, mas com restrição mental de estar comendo lombo de vaca." De lá para cá, filet de boeuf tornou-se filé de bife e depois bife. E o francês croquette, do verbo croquer, quebrar com estalo, tornou-se croquete apenas. Os gramáticos, como o sapateiro de Apeles, não podem ir além das sandálias. À semelhança dos sexólogos, podem orientar-nos, jamais nos substituir na hora de falarmos ou escrevermos.
Hein: do latim hem, ai!, ah!, interjeição pronunciada em geral em forma de pergunta, dando a entender que a pessoa não ouviu o que lhe foi dito. Comumente expressa dor, indignação, alegria, aflição, espanto. Há controvérsia sobre a origem ser latina. Alguns defendem que seja onomatopaica, como atchim, zunzum, epa. Outros dão como origem o antigo francês ainz, radicado no latim antius, fala ou comportamento próprios da localidade de Âncio, no Lácio. Hein é semelhante a hum, hã, hem, ah!, oh! e outras interjeições de surpresa, admiração ou reprovação.
Rumor: do latim rumore, declinação de rumor, ruído, murmúrio, notícia, boato. Rumor tomou ares de notícia preocupante ainda no nascedouro da palavra porque os povos latinos dos finais da Idade do Bronze e das primeiras fases da Idade do Ferro, ainda antes da chegada das culturas clássicas da Grécia e de Roma, já acreditavam que o farfalhar do vento nas folhas das árvores, o crepitar das fogueiras e a variação nas vozes dos animais eram presságios, avisos divinos. Eram muitas as divindades que queriam ser ouvidas e elas foram disciplinadas e organizadas pela civilização romana, que as personificou em deusas, principalmente: Flora, Fauna, Ninfas. Adivinhos e profetas surgiram dessas crenças. Esses ofícios existiram e ainda persistem em várias culturas, inclusive nos tempos modernos. A página de horóscopo, de bons índices de leitura em jornais e revistas, é exemplo da certeza ou da suspeita de que forças ocultas guiam nossos destinos. Vox Populi, "Voz do Povo", denomina conhecido instituto de pesquisa de opinião. O provérbio Vox populi, vox Dei (a voz do povo é a voz de Deus) traduz interesse pela opinião pública.
Sumidade: do latim summitate, declinação de summitas, a parte mais elevada de um lugar, o cume da montanha, o alto de uma torre. Veio a designar indivíduo que se sobressai dentre a maioria por sua inteligência, talento, saber. Exemplo: Fulano é uma sumidade em Medicina, em Língua Portuguesa, para indicar que ele é quem mais sabe dentre os que sabem mais, isto é, sabe tudo. Sumiço, porém, procede do verbo sumir, do latim sumere, agarrar, roubar, esconder.
Vernáculo: do latim vernaculus, escravo ou criado nascido em Roma, radicado em verna, escravo. Passou a designar a língua de determinado lugar e mais tarde o idioma próprio de um país, sem estrangeirismos. Tais cuidados com o vernáculo não podem, porém, ser exagerados, sob pena de se tornarem ridículos, como os propostos pelo médico homeopata Antônio de Castro Lopes (1827-1901). Como odiava estrangeirismos, propôs que fossem substituídas, entre outras, as seguintes palavras: menu, por cardápio; chofer, por cinesífero; abajur por lucívelo; anúncio por preconício; cachecol por castelete; turista por ludâmbulo; repórter por alvissareiro; e futebol por ludopédio. Vagalume, que Rafael Bluteau (1638-1734) já impusera em lugar de caga-lume, por ser vocábulo obsceno, já tinha sido objeto de um concurso em Portugal para que fosse substituído e resultara em palavra bonita, que afinal pegou no gosto popular: pirilampo. Rejeitando a proposta, Machado de Assis (1839-1908) escreveu: "Nunca comi croquettes, por mais que me digam que são boas, só por causa do nome francês. Tenho comido e comerei filet de boeuf, é certo, mas com restrição mental de estar comendo lombo de vaca." De lá para cá, filet de boeuf tornou-se filé de bife e depois bife. E o francês croquette, do verbo croquer, quebrar com estalo, tornou-se croquete apenas. Os gramáticos, como o sapateiro de Apeles, não podem ir além das sandálias. À semelhança dos sexólogos, podem orientar-nos, jamais nos substituir na hora de falarmos ou escrevermos.
* Deonísio da Silva (62), escritor, é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), professor, pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, e autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa). Seus livros já foram premiados pelo MEC, Biblioteca Nacional e Casa de las Américas. E-mail: deonisio@terra.com.br
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
ENEM 2010: ELES NÃO ESTÃO NEM AÍ
Por Deonísio da Silva em 16/11/2010 | |
Era o 14º Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), passaporte para as universidades públicas ou para uma bolsa do Programa Universidade Para Todos (ProUni). Os estudantes estavam apreensivos. Não era para menos. Em passado recente, tinha havido vazamento das provas e de dados pessoais de cerca de 11,7 milhões de estudantes que tinham feito o Enem em anos anteriores. Veio, então, a decisão da doutora Karla de Almeida Miranda Maia, que ganhou as luzes da mídia pelo entrevero havido entre a sociedade e as autoridades educacionais. Ela suspendeu o Enem em todo o país. A sociedade há de perguntar: e quem paga a conta? De quem foi a responsabilidade de mandar imprimir uma prova com erros tão simplórios? É preciso apurar quem foi o responsável por enviar à impressão o material com erros. Todavia a mídia tem sido muito rigorosa com os tropeços do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais "Anísio Teixeira"), mas excessivamente generosa ou omissa com seus próprios erros. O Inep e a mídia erram pela falta que faz um revisor. Os tropeços de um e de outra não vão nos deixar de infernizar tão cedo. O acento e o corteComo os erros do Inep já foram comentados ad nauseam, vamos refrescar a memória dos críticos da mídia. A conversa clara e o trato justo são os melhores detergentes. Eis pequeno exemplo, recolhido de qualquer jornal, rádio ou televisão. As matérias começavam assim: "A juíza federal do Ceará Karla de Almeida Miranda Maia...". Para, para, para! Não existe juíza federal do Ceará, nem juíza federal de qualquer outro Estado da federação. E se estivesse certo, ainda assim por que não pôr vírgula depois de Ceará? Ela pode ser juíza federal no Ceará, jamais do Ceará. Muitos jornais deram a notícia corretamente: "A juíza federal no Ceará, Karla de Almeida Miranda Maia..." (alguns escreveram "Carla"). Adiante prosseguiam e, comentando a ação de Oscar Costa Filho, autor da ação que pediu a anulação do Enem, designavam o procurador da República no Ceará por "procurador federal do Ceará". E mais: "Em seu gabinete na Procuradoria Geral da República do Ceará..." (O Globo, 14/11/2010, pág. 13). O Ceará é república independente desde quando? Ah, a falta que faz um revisor! Esse profissional não se ocupa apenas de erros de língua portuguesa. Ocupa-se de todos os erros que podem desvirtuar um texto. Desvirtuar é perder a virtus, a força. E a palavra, bem operada, é arma mais poderosa do que a espada, o revólver, o canhão, o míssil, a bomba. Do jeito que escrevem, o leitor tem todo o direito de perguntar, de matutar em dúvidas de diversa natureza. Se erraram os cargos, não erraram mais nada? O médico que diz ao cliente rouco que ele precisa fazer uma cirurgia para extirpar um "polípo" (errado) e não um "pólipo" (certo), deixa o paciente em dúvida: se o doutor errou o acento, acertará o corte? A juíza é integrante do Poder Judiciário e o procurador da República é integrante do Ministério Público, que é assim descrito no artigo 127 da Constituição: No âmbito estadual, atua pelo Ministério Público o promotor de Justiça da Procuradoria Geral do Estado. A chefia da instituição está a cargo do Procurador Geral de Justiça, porque não há hierarquia funcional no MP. No âmbito federal é o procurador da República, chefiado pelo procurador geral da República. O atual ocupante desse último cargo é o doutor Roberto Monteiro Gurgel Santos, nascido no Ceará e formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Antes de ser nomeado, foi sabatinado pelo Senado. Não era sábado... Mas ano sabático também não é aquele ano em que você não trabalha aos sábados. As palavras enganam. Escrever é discernir, esclarecer sutilezas, pois nos detalhes mora o demônio das pequenas coisas que causa grandes prejuízos e pode derrubar um avião, como sabemos, quanto mais uma tese, quanto mais uma notícia. Se essência e aparência fossem a mesma coisa, a ciência seria desnecessária. Roberto Gurgel, por exemplo, é muito parecido com Jô Soares, e a mídia vive brincando com as fotos de um e de outro em "separados ao nascer". Ah, para escrever, assim como para ler, são indispensáveis sutis complexidades. [Atualizado às 14h15 de 17/11] *** PS. Parabéns à Editora Record, que levantou a discussão do Prêmio Jabuti. O cantor e compositor Chico Buarque, nem bem lança um romance, ganha o Jabuti. Já foram três! E os escritores brasileiros? Devem lançar cedês para serem percebidos e premiados? |
sábado, 13 de novembro de 2010
MONTEIRO LOBATO JÁ FOI PROIBIDO. CHAPEUZINHO E A BÍBLIA AINDA NÃO!
Tentaram proibir Monteiro Lobato! Estão sempre tentando ressuscitar a censura. Usam artifícios daqui e dali. Uma hora é o controle da mídia, outra hora é não se sabe bem que tipo de regulamentação desnecessária. O certo é que volta e meia tentam. Desta vez prevaleceu a conhecida lei de Murphy: "Se há possibilidade de uma coisa dar errado, dará." Um sicofanta do Conselho Nacional de Educação (CNE) tentou censurar o livro Caçadas de Pedrinho, do escritor Monteiro Lobato, o verdadeiro pai da Petrobras, que esteve nos cárceres por defender que "o petróleo é nosso". Felizmente, o ministro da Educação, Fernando Haddad, atendeu a apelos e vetou o veto. Nota dez para a ABL, que desta vez reagiu e apelou ao ministro. Haddad foi cauteloso. Nem bem irrompeu a polêmica, declarou que ia ouvir opinião de acadêmicos e educadores sobre o parecer do CNE, que considerou racista o livro. Afinal, Tia Anastácia não pode ser... negra! Nem poderia também ser escrava. Daqui a pouco proíbem também O Navio Negreiro, então. E Castro Alves fará companhia a Monteiro Lobato. Só assim para a mídia ocupar-se dos escritores brasileiros. A caçada de uma onçaComo é habitual em desgraças, essa também começou com uma ninharia. O Estado de S.Paulo de domingo (31/10) resumiu a ópera bufa: Continua o Estadão, atualmente sob censura judicial, já que é vítima habitual de tais desmandos, tendo publicado Os Lusíadas na primeira página de muitas edições, na década de 1970, para mostrar aos leitores que estava censurado: Aliás, começam recolhendo livros e depois recolhem também os autores, quem é que não sabe o enredo desse manjadíssimo filme? Quando, no governo Ernesto Geisel, o ministro da Justiça, Armando Falcão, proibiu o livro Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós, o então secretário da Segurança (?) de São Paulo, coronel Erasmo Dias, recolheu também o autor. Mas Geisel queria a distensão, enfrentava os "bolsões sinceros, mas radicais" e o escritor foi solto. Trechos da Bíblia, dos contos de fadas, trechos de tudo, fora do contexto, levam a interpretações equivocadas. Foi o que aconteceu. Mas não foi a última vez! PS. Mas talvez tenham querido apenas alertar os professores para que explicassem aos alunos o contexto das narrativas. Do contrário, daqui a pouco condenam também o Visconde de Sabugosa por ser transgênico e o Sítio do Picapau Amarelo por ser improdutivo. |
Assinar:
Postagens (Atom)