NOME DE POBRE NO BRASIL
domingo, 31 de julho de 2016
RELEMBRANDO WILSON MARTINS, SUSPENSO EM O GLOBO
http://observatoriodacritica.com.br/arquivos/polemicas/necrologios/5.Treplica%20de%20Deonisio%20da%20Silva%20publicada%20no%20Observatorio%20da%20Imprensa%20em%2027-04.pdf
Tréplica de Deonísio da Silva a Flora Süssekind
Observatório da Imprensa
27/04/2010
Disponível em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=587JDB
001#
Acesso em 29 abr. 2010.
WILSON MARTINS (1921-2010)
Crítico é atacado depois de morto
Por Deonísio da Silva
Quando o escritor Josué Montello morreu, fui procurado para
falar (mal) dele. Em entrevista a Geneton Moraes Neto, no Jornal
do Brasil, e em artigos assinados noEstado de S. Paulo, eu tinha
feito várias ressalvas, não apenas à sua obra, mas à sua
atuação como personalidade literária que era. Josué Montello
respondera-me em grandes jornais, eu dera a tréplica no Verve,
pequeno jornal editado por uma equipe presidida por Ricardo
Oiticica, em Niterói (RJ).
Há quase trinta anos mantenho coluna semanal no Primeira
Página, pequeno jornal de São Carlos (SP). Acredito muito nos
pequenos jornais. Eles completam as falhas geológicas dos
grandes. E a imprensa do período, ainda mais agora com os
mecanismos de busca, jamais será a de um jornal apenas, como já
foi no passado.
Ao me negar a falar de Josué Montello depois que ele morreu,
comentei a advertência que, na Odisséia, Ulisses faz à Ericléia,
que se alegra com o massacre dos pretendentes, popularizada
pela seguinte expressão do latim vulgar: "De mortuis nil nisi
bene" (Dos mortos nada, a não ser o bem).
Escrevera aqueles artigos e dera aquelas declarações a Geneton
Moraes Neto quando eu tinha 35 anos! Hoje, aos 61, diria tudo o
que disse de modo diferente. O outono nos ensina a moderação,
mas fazer o quê? Pedro Nava definiu a experiência como um
automóvel com os faróis virados para trás. Quer dizer, de pouco
serve, pois o percurso já foi feito.
Sem espaços
Flora Süssekind, professora altamente qualificada, não deve
desconhecer a recomendação que da literatura migrou para a
vida cotidiana, mas perpetrou várias indelicadezas e equívocos
no caderno "Prosa&Verso" de O Globo (24/4/2010). Não apenas com
o que disse, mas com o que costuma silenciar, pois ela deve
conhecer a qualidade de livros e autores que omite em suas
pesquisas. Como disse Eduardo Portella, "o silêncio é aquilo que
se diz naquilo que se cala".
O pior de tudo é que jamais discordou de Wilson Martins quando
ele era vivo. Em cima de seu caixão, com o profissional morto,
ela, não só desanca sua obra, como ainda fala mal de quem falou
bem do crítico, aí incluídos referências da crítica literária,
como é o caso de Alcir Pécora e Miguel Sanches Neto,
comentaristas de inegável qualidade. Qual foi o erro dos dois?
Discordar dela?
Destaco trecho do que escrevi na coluna de Augusto Nunes
na Veja on-line, no dia seguinte ao falecimento do crítico:
"Wilson Martins dizia: `não comento autores,
comento livros´. Fez a história da literatura
brasileira de 1500 a 2009, acompanhando os
lançamentos e garimpando neles o que achava
relevante. Antonio Candido data sua história de
nossas letras na segunda metade do século XVIII
e vem até 1930. E nas universidades só ele é
citado. Há décadas. Wilson Martins integra a
multidão de esquecidos para que poucos possam
aparecer louvados pelos mesmos de sempre".
A militância política dos professores não pode ser exercida em
sala de aula. Ali há programas, ementas, objetivos e
bibliografias bem definidos a cumprir. Sejam pagos por escolas
públicas ou privadas, os mestres estão submetidos a hierarquias
baseadas em relações de saber, não de poder, e precisam
ministrar aos alunos um ensino de qualidade. Aqueles que
substituem ações docentes por proselitismo estão traindo os
alunos. Não é esta a única razão do notório fracasso escolar,
mas é uma força considerável no rebaixamento da qualidade de
ensino. O artigo de Flora Süssekind logo estará sendo citado e
multiplicado em universidades para ajudar a deformar nossos
cursos de Letras. A mídia vem sistematicamente negando espaço a
quem faz literatura de qualidade, aí incluída a crítica,
naturalmente, e por isso enseja a consagração de mediocridades.
Colunas suspensas
Há algo muito mais grave do que ensinar que não houve ou não
há literatura brasileira. É fazer de conta que obras e autores
do gosto do mestre sejam impostos aos alunos como únicas
referências literárias. Naturalmente, o mestre tem seu gosto,
que é também uma categoria estética, mas quem experimenta o
prato é o cliente, não o garçom. E neste caso, críticos e
professores são garçons.
Por melhor crítico que tenha sido Armando Nogueira, quem fez a
jogada foi Pelé, foi Garrincha, foi Romário, foi Maradona, não
ele. Ele não jogava, ele comentava. Exagerando um pouco, Sartre
disse que "os críticos são guardiães de cemitérios". E ademais já
não somos poucos os que achamos que é urgente uma revisão em
nosso cânone literário, que consagra tantas mediocridades.
Os editores de cadernos literários usam sempre como recurso de
argumentação que não há espaço para comentar mais livros ou
outros livros, revelar outros autores, sair da geléia geral em
que a maioria deles está há muitos anos. Por que, então, dedicar
duas páginas inteiras para um solilóquio desses contra Wilson
Martins? Não teria sido melhor abrir o mesmo espaço para uma
saudável controvérsia?
Wilson Martins e Affonso Romano de Sant´Anna tiveram suas
colunas suspensas em O Globo em agosto de 2005. Comentando o
afastamento dos dois, escreveu Alberto Dines
neste Observatório (8/8/2005):
"A maior empresa de comunicação do país, uma
das maiores do mundo, não tem os caraminguás
para manter uma instituição que dá à combalida
cultura carioca o suporte erudito para o seu
renascimento. De diferentes gerações (um é poeta
e professor mineiro; o outro ensaísta e
professor curitibano) ARS e WM são dois
expoentes da cultura brasileira que O
Globo oferecia ao seu público no mesmo dia e
mesmo caderno".
Pois é. Olhem só para quem ocupou o lugar deles. Os leitores
façam as suas comparações!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário