NOME DE POBRE NO BRASIL
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
OS REIS MAGOS: QUE REIS SÃO ELES?
Os ossos dos três reis magos foram descobertos por Santa Helena, que os levou para Constantinopla, na atual Turquia, no século IV. Ela era mãe do imperador Constantino, o Grande, e já descobrira também a manjedoura em que o Menino Jesus foi posto ao nascer, cujas tábuas estão hoje na Catedral de Santa Maria Maior, em Roma, e a cruz e o local em que Jesus tinha sido crucificado. Em Belém, onde ele nasceu, foi erguida a Igreja da Natividade, e em Jerusalém, onde ele morreu, a Igreja do Santo Sepulcro.
Nos séculos seguintes, tendo sido declarada religião oficial do Império Romano, o cristianismo e os cristãos passaram de perseguidos a muito poderosos. Apossaram-se dos aparelhos de Estado e construíram catedrais, mosteiros, igrejas, capelas e diversos prédios.
A troca de relíquias sagradas foi intensa desde então e serviu para arrecadar imensas quantias. Assim, os restos mortais dos reis magos tinham ido parar em Milão, na Itália, quando o imperador Frederico Barba Roxa os levou para Colônia, na Alemanha, em 1164, onde desde então são venerados e visitados com frequência por turistas do mundo inteiro.
São Beda, monge inglês e doutor da Igreja que viveu entre os séculos VII e VIII, foi o primeiro a sistematizar a lenda dos reis magos. Ele diz quais seus nomes, de onde vinham, que idade tinham e o que levaram ao Menino Jesus. Assim, os cristãos ficaram sabendo que Merquior tinha setenta anos, vinha da Caldeia e levou ouro. Gaspar, de vinte anos, vinha de uma região montanhosa do Mar Cáspio e levou incenso. Baltasar, de quarenta anos, viera da Pérsia e levou mirra.
Outro doutor da Igreja que se ocupou dos magos foi São João Crisóstomo, que viveu entre os séculos IV e V. Ele diz que os magos, depois de terem sido batizados por São Tomé, ajudaram muito na evangelização e morreram na Turquia, todos já em idade muito avançada.
Estes famosos reis do presépio resultam da interpretação de um pequeno trecho do Evangelho de São Mateus, mas ele não diz que eram três, nem que eram reis, nem que tinham nomes. Diz apenas: “Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: “onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?. Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. O rei Herodes e toda a Jerusalém ficaram perturbados com esta notícia”.
A seguir, Mateus diz que os magos, informados por Herodes, chegaram ao destino e visitaram Jesus: “Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram”. Como se vê, Mateus não fala em gruta, o cenário preferencial do presépio. Presépio veio do Latim praesepium, estábulo. Isto explica a presença da manjedoura e dos animais.
Estas foram as bases da lenda, palavra oriunda do latim medieval legenda, vocábulo empregado para designar o que estava sendo lido e o modo como eram proferidas as narrativas heroicas, as novelas de cavalaria e a vida de personalidades referenciais das religiões.
Poucos ouvintes sabiam ler. As histórias eram lidas em voz alta para que analfabetos pudessem compreendê-las. Pessoas do povo memorizavam lendas inteiras ou fragmentos delas e assim as narrativas mesclavam muitas versões faladas àquela que tinha sido escrita e recitada. Estas últimas eram repetidas e traduzidas, com variações de estilo, de conteúdo e de personagens.
Todavia lendas não são tiradas do nada, são construídas com elementos históricos e imaginários. Na Idade Média, o número de reis magos chegou a duzentos. Na Europa ainda hoje são vendidas miniaturas de antigos presépios com mais de uma centena de personagens, entre os quais muitos reis. Como os magos levaram três presentes ao Menino Jesus (ouro, incenso e mirra), seu número foi fixado em três.
Mas por que reis magos? Mágos, em Grego, não designava reis. Identificava sacerdotes que praticavam a astronomia e a astrologia. Eles estavam investidos de poder, tanto religioso como político, mas não eram reis!
O Evangelho de Mateus que serviu de base às traduções foi escrito originalmente em Grego, resultante de uma série de apontamentos feitos por Mateus em Aramaico.
Quem levou os três reis magos para o presépio foi São Francisco de Assis, que inventou este tipo de instalação no século XIII. Com o tempo, os reis magos ganharam até nomes: Gaspar, Merquior e Baltasar, cada um deles com uma das três cores básicas da raça humana (branca, amarela, negra)!
Lenda não é mentira. É um modo de contar. Mateus diz que, avisados em sonhos, os magos voltaram por outro caminho e não informaram a Herodes que o rei dos judeus tinha nascido. Furioso, ele ordenou a matança dos inocentes, representada em tantas imagens, com o fim de eliminar todas as crianças nascidas nos últimos dois anos e assim executar o Menino Jesus, que já estava no Egito, para onde tinha sido levado pelos pais, uma vez que um anjo avisou São José. São José, aliás, não diz uma única palavra em toda a Bíblia. Ele não fala, ele faz, sempre faz o que é necessário fazer como pai adotivo do menino para protegê-lo.
Todo Natal, os reis magos são lembrados no presépio, adorando o Menino Jesus, o rei recém-nascido. Os reis verdadeiros, de existência comprovada, estão ausentes. Ficaram só os reis imaginários. A bonita lenda cristã triunfou sobre a História sem abalar a fé dos cristãos! Quem pouco tem a ver com o Natal é Papai Noel...Mas esta é outra história, outra lenda. (xx)
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
NATAL, MEMÓRIA, CHARITAS E LIBIDO
No primeiro Natal de que me lembro, eu tinha pouco mais de quatro anos, nosso pai me levou ver o presépio e eu achei que o Menino Jesus tinha dente de ouro. Deveria ser algum reflexo de luz na boca da imagem.
No café da manhã de 25/12 de 1952, nossa mãe partiu uma grande bolacha em forma de cabrito, deu um pedaço a cada um e.... sobrou cabrito...
Naquele Natal, eu ganhei um caminhãozinho azul. Pedi ao pai para cortar o brinquedo ao meio e ele fez isso com uma serrinha. Nosso pai era muito habilidoso com trabalhos manuais. Ele ficou triste, pois tinha acabado de comprar o presente, mas quis me atender. Pedi para ele pôr um arame que ligasse os dois pedaços e saí brincando feliz com o caminhãozinho pelo assoalho da casa, fazendo com a boca o barulho do motor. Foi um dia muito feliz.
Com o tempo aprendi que a felicidade não é indispensável...Indispensável é o amor, que os antigos gregos designam por "charitas" e que São Jerônimo e seus ajudantes traduziram para o Latim da Vulgata por "caridade", diferenciando-a de ágape e de libido, ainda que o étimo deste último persista no Alemão "LIEBEN" e seus compostos, sem o sentido de libido e libidinoso consolidados no Português.
domingo, 18 de dezembro de 2016
OLHO NO OLHO, O CORPO FALA E DIZ MAIS
Um pinta ou implanta cabelos. Outro ajeita a gravata bem abaixo ou bem acima do cinto ao pé do ventre, contrariando todas as regras da etiqueta. E não faltam também outras que, mesmo sem repetir o vestido e os sapatos, têm cabeleireiros e maquiadores que seriam reprovados ainda na preparação das múmias do Egito antigo!
Todos devemos muito a fotógrafos e cinegrafistas. Uma coisa é ler a frase proferida pelo parlamentar que não domina sequer a língua falada, sua ferramenta de trabalho por excelência, ou ouvi-la de terceiros. Mas outra, bem diferente, é ver a cara dos brutos proferindo a infâmia. E que delícia contemplá-los naquelas vestes e pompas!
Mas ainda mais forte é ver e ouvir o cara de pau olhando meio de lado para a câmera e atestando o contrário, não apenas do que diz, mas do que sente e pensa.
O corpo fala, mede, fixa a altura, a profundidade, a largura, o tamanho e é capaz de evidenciar verdades ocultas e realçar ainda mais as mentiras profissionais.
A língua portuguesa mostra isso em numerosas palavras e expressões. A polegada, medida fixada em dois centímetros e meio pelo rei inglês Eduardo I, no século XVI, ainda hoje mede a tela de celulares, smartphones, tablets e televisores em que contemplamos a face mais sinistra daqueles que elegemos.
O que vimos em tantos deles para os elevar a tão altos cargos, sem que possamos imputar a má escolha a ninguém mais, só mesmo aos eleitores, isto é, a nós mesmos, que votamos protegidos no último reduto da liberdade, a sacrossanta urna?
Dois dedos de prosa podem servir para descomplicar a questão emaranhada. O dedo-duro, simbolizado no gesto do alcagueta esticando o indicador, espanta-nos à simples menção, mesmo tanto tempo depois de governos impostos contra a democracia, quando se mostrou ferramenta de exercício do poder.
Nos tempos atuais, o gesto migrou da mão para a língua no bater de línguas nos dentes nas delações premiadas, sem as quais provavelmente jamais o distinto público saberia de coisa alguma. Só sabe porque os arrependidos ou flagrados com a boca na botija resolveram falar para salvar a própria pele.
Estes políticos que traíram o público serão julgados olho por olho, dente por dente ou vão cumprir as sentenças apenas com o adereço da tornozeleira eletrônica?
A coisa pode também não nos cheirar bem, por faltar vergonha na cara de quem proferiu, expressou ou escreveu a infâmia da semana passada.
A democracia, à semelhança da baiana, tem ‘graça como ninguém’ e ‘requebra bem’, itens que as réguas não medem, para evitar equívocos. Afinal, por duas polegadas a mais, já passaram a baiana pra trás. E sempre restará a questão vista de outro modo: Marta Rocha tinha duas polegadas a mais ou a americana Miriam Stevenson tinha duas polegadas a menos?
Naquela oportunidade, quem decidiu, usou outras medidas ou usou as medidas de outro modo, como hoje fazem tantos poderes da República, esta nossa frágil plantinha, nascida de um golpe de Estado liderado por um marechal monarquista amigo do imperador mais republicano que tivemos, a quem o amigo depôs e despachou para o exílio no meio da noite, pois se aguardasse a manhã, o povo talvez o entronizasse de volta.
E com que medida os novos aliados medirão os antigos? Afinal, eles são sempre os mesmos, não são? Eles sempre se entenderam. Não se entenderão apenas desta vez? O que mudou para eles mudarem tanto, se é que vão mudar?
(de minha coluna na Veja on-line, em 18.12.2016)
domingo, 11 de dezembro de 2016
POR QUE O 13 É O NÚMERO DO AZAR?
O medo tem um nome complicado: triscaidecafobia.
As explicações são muitas, mas pouco claras.
Judas (século I) completou o número 13 na Última Ceia, pois Jesus (século I) estava ali com os 12 discípulos. Os dois morreram logo após aquele jantar: Jesus, crucificado; Judas, enforcado.
O navegante português Pedro Álvares Cabral (1467 ou 1468-1520) veio descobrir o Brasil com 13 naus, mas voltou só com seis, porque sete naufragaram.
A superstição deve ser mais antiga: o Código de Hamurábi (1792-1750 -1730-1685 a.C.) pula o número 13, saltando do 12 ao 14 em sua lista de prescrições. Na cabala judaica, são 13 os espíritos malignos. Satanás é justamente o 13º.
DURA LEX, SED LEX: NO CABELO, SÓ GUMEX
“Os dois não podem estar certos”, disse o escrivão ao sufi, designação de soberano persa que atuava também como juiz supremo e dera razão a cada um dos litigantes. Replicou o sufi: “O senhor também tem razão”.
“Sufi” no Árabe é lã, provável alusão à capa do magistrado, equivalente à toga usada sobre a túnica pelos cidadãos da Roma antiga em ocasiões solenes e hoje vestimenta privativa de juízes e ministros de tribunais superiores como o STF.
Toga, que passou ao Português com a mesma grafia do Latim, é do mesmo étimo de coisas que servem para cobrir, como telha, tugúrio, teto, de detetive, originalmente o policial encarregado de procurar o transgressor ou o ladrão onde ele se escondera, em geral no teto de residências ou prédios.
A etimologia tem destes encantos e curiosidades. Certas palavras não significam mais o que no berço significaram. Diferentemente do que fizeram nos primórdios do direito romano, os juízes não precisam mais espetar uma vara no chão, cuja ponta superior possa ser avistada de longe pela turba, identificando o tipo de litígio que atendem (se cível, se criminal, se questões familiares, se outras disputas), nem pendurar suas sentenças em varas erguidas na horizontal ou na transversal para delas os interessados tomarem conhecimento. Assim nasceu também a comarca, que em Latim significa “com marca”, isto é, identifica a área de atuação dos juizados.
A propósito, juiz designou originalmente aquele que dizia ou escrevia a justiça, o direito, que não é torto nem tortuoso sequer na etimologia: direito é do mesmo étimo de direto.
Mas sentença é do mesmo étimo do verbo sentir. Cada cabeça produz uma sentença diferente, uma vez que cada juiz sente diferentemente um mesmo problema.
O Supremo, como é conhecido o STF, é palavra que aparece em muitos outros contextos. O mais conhecido é o da culinária: supremo de frango, supremo de chocolate, supremo de abacaxi, embora não exista supremo de pizza! Supremo designa o que é ou está superior a tudo ou a todos.
Alguns advogados, adeptos do juridiquês, já se referiram ao Supremo, em desjeitosas petições, como “alcândor conselho”, esquecendo-se de que o étimo árabe desta palavra dá conta de que alcândor é poleiro de papagaios. Mas o fizeram sem ironia, apesar da insuportável enxúndia das intervenções de alguns ministros.
Não são poucos os que identificam uma fogueira de vaidades no STF. A vaidade parece inerente a certos cargos. Múmias de mais de três mil anos conservaram para a posteridade o costume de homens arrumarem as madeixas com glostora ou gumex quando estes fixadores eram conhecidos por outros nomes.
A votação de 6 x 3 foi acachapante para os que venceram, e gloriosa para os que perderam. A palavra acachapante veio justamente do modo com o guazapo, espécie de coelho em Espanhol, se estende sobre o chão antes de receber a cajadada do caçador. E gloria, de que se formou glorioso/a, veio do Latim, que por sua vez se radica em dois verbos gregos: klýo e kléo, que significam respectivamente entender e celebrar.
Que os ministros perdedores recebam deste modesto escritor e professor os mais sinceros cumprimentos. Seus colegas vencedores mostraram que glostora e gumex são menos maleáveis do que a dura lex.
PS. Dura lex quer dizer "A lei é dura, mas é a lei".
(Publicado originalmente na VEJA ON-LINE, na coluna de Augusto Nunes).
O POEMA "INSTANTES" NÃO É DE BORGES
"Que outros se orgulhem do que escreveram, eu me orgulho do que li".
Estas frases são de Jorge Luís Borges. Mas na internet fazem o seguinte: trocam autores, atribuem a conhecidos escritores obras que eles não escreveram etc.
E assim aparecem textos de qualidade sofrível e outros até bem escritos, cuja autoria nem sempre é possível de ser rastreada. Enfim, o luxo e lixo convivem.
Na semana passada, todo dia era anunciada uma entrevista de Sérgio Moro. Curiosamente um destes informes chegou a meu e-mail acompanhado, por acaso, da carta de despedida do Prêmio Nobel García Márquez, falecido em 2014, aos 87 anos.
GGM nunca escreveu a tal carta, e ninguém sabe, ao que eu saiba, que é seu autor. Sabe-se até que Fidel Castro fazia revisão de originais de García Márquez, aliás...
Mas 'INSTANTES' não é de Borges!
Quem me perguntou foi Mariângela Luna, minha amiga há décadas, acho que ela estudava ainda no Pequeno Polegar quando a conheci, tanto tempo faz, protegida, como sempre, por Bete Calligaris, esposa do Jorginho, Jorge Brennand Jr. Mari, como a chamamos, dedica atenção especial a autores & livros, partilha preciosas dias de leitura e está sempre atenta à Galáxia Gutenberg.
Muito citado, este poema é atribuído a Jorge Luís Borges, a Nadine Stair e a outros mais. Seu verdadeiro autor talvez seja o americano Don Herold, falecido em 1966, aos 77 anos, e autor de quase vinte livros. Diz num dos trechos: “Se eu pudesse novamente viver a minha vida,/ na próxima trataria de cometer mais erros./ Não tentaria ser tão perfeito,/ relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido".
O poema é ruinzinho, me desculpem aí aqueles que gostam dos versos, impossível serem de Borges, cujos escritos são marcados por sofisticadas reflexões filosóficas. Numa das estrofes é dito inclusive que se o poeta vivesse outra vez, tomaria menos banho. Borges faleceu em 1986, aos 86 anos. Tudo o que ele escreveu, está publicado, a menos que sua viúva, Maria Kodama, hoje com 79 anos, nos informe algo inédito, pois é ela quem ficou com tudo o que era de Borges. E por que "Instantes", cujo titulo em inglês é outro, foi atribuído a Borges? Por uma sucessão de erros, quem citava ia repetindo o anterior e assim por diante.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
O JUIZ SÉRGIO MORO FAZ PALESTRA EM HEIDELBERG
https://www.facebook.com/deonisio.dasilva/posts/1270399962982321?notif_t=like¬if_id=1481286451738215
O juiz Sérgio Moro aguarda o embarque. Parece apreensivo. "O tempora, o mores!" (que tempos, que costumes!). Juízes, procuradores e promotores de Justiça estão apreensivos, como estão apreensivas também as pessoas de bem. Estamos à beira de acontecimentos decisivos.
Que vergonha para quem subscreve a "carta" à Universidade de Heidelberg (55 Prêmios Nobel estudaram ou ensinaram ali, e 10% dos alunos vêm de 130 países) reprovando o convite que a prestigiosa universidade alemã fez a Sergio Moro!
Não discuto as ideias nela expostas. Acho repugnante, neste contexto, brasileiros falarem mal de um brasileiro do qual discordam, enviando documento para uma universidade que o distingue com um convite tão honroso. Quem o convidou não está dizendo de antemão que com ele concorda ou dele discorda, está convidando o magistrado, que é também professor universitário, dois ofícios obtidos por concurso público, para uma palestra, seguida de debate.
Lembremos o caso Carlos Chagas, que perdeu o Prêmio Nobel - naquele ano não foi concedido a ninguém - porque, depois de atribuído e antes de ser divulgado e concedido, aconteceu algo inusitado: brasileiros caluniaram o cientista nos bastidores, sem que ele pudesse se defender.
Há algum tempo está na moda o seguinte: universidades brasileiras adestradas e algemadas só convidam para palestras quem concorda com os dirigentes eventuais, esquecendo-se de que estes são provisórios e alguns dos ex-reitores, pasmem, estão nas listas de delações da Odebrecht. Ah, então agora entendemos o que alguns fizeram no verão passado...
Sem o trabalho dos procuradores da Lava-jato quando saberíamos disso?
domingo, 4 de dezembro de 2016
A TOQUE DE CAIXA, COM A PULGA ATRÁS DA ORELHA
Muitas frases célebres foram invocadas na semana passada, como estas com que Augusto Nunes encerrou uma de suas intervenções, aqui na Veja on-line. “A Constituição avisa que todo o poder emana do povo. Cumpre ao Parlamento fazer o que o povo quer”.
É que o senador Renan Calheiros, ora presidente do Senado, esqueceu-se do Art. 1º da Constituição: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
Ele e os 14 senadores que o seguiram, não fosse a oposição de outros colegas, teriam validado um projeto sinistro. Com a espada de Dâmocles sobre a cabeça — no dia seguinte, ele seria declarado réu no STF — e com a pulga atrás da orelha, Renan e os 14 sequazes projetaram fazer o contrário do que o povo quer, endossando a sabotagem urdida antes na Câmara naquele mesmo dia.
Eles tentaram, a toque de caixa, acabar com o trabalho heróico que promotores de Justiça e juízes, respaldados pelo povo nas ruas, vêm fazendo para combater a septicemia da roubalheira, palavra até elegante para designar o apodrecimento do sangue que circula pelas instituições brasileiras.
Mas de onde vêm estas frases e expressões? Vejamos:
1. A toque de caixa
Os árabes conquistaram Portugal nos anos 700. Ali permaneceram por sete séculos. Os exércitos mouros tinham uma estratégia militar que os diferenciava das forças portuguesas: quase não usavam mensageiros nas batalhas. As ordens eram dadas pelo rufar de tambores, chamados caixas. A expressão daquele costume tornou-se conhecida de geração em geração como “a toque de caixa”.
Depois que os árabes saíram, os portugueses passaram a usar também o toque de caixa para expulsar vagabundos e arruaceiros das tabernas, isto é, batiam os tambores e, sem discussão alguma, colocavam todos para fora do recinto.
Desde então, diz-se de qualquer coisa feita às pressas que foi “a toque de caixa”.
2. Com a pulga atrás da orelha
Durante séculos houve grande infestação de pulgas em todo o mundo. Inseto pequeno, mas irritante, sua picada doía, coçava, incomodava muito e transmitia doenças.
Se a pulga picasse atrás da orelha, pior ainda. Era um de seus lugares preferidos, por esconder-se entre os cabelos, e uma picada ali fazia correr mais facilmente o sangue.
O incômodo e o mal-estar causados pela pulga atrás da orelha foram comparados a toda preocupação que nos assola o espírito.
3. Espada de Dâmocles
Entre os séculos IV e III a.C., reinou em Siracusa, atual Sicília, na Itália, o tirano Dionísio. Cansado da inveja que Dâmocles tinha de seu poder, o rei ofereceu-lhe um banquete para que o invejoso pudesse comer e beber à vontade , cercado de belas cortesãs.
Mas, presa ao teto por apenas um fio de rabo de cavalo, a espada de Dionísio pairava sobre a cabeça de Dâmocles. O invejoso olhou para cima e abandonou o recinto, sem degustar os prazeres ensejados pelo poder interino.
O episódio lendário tem sido lembrado desde Cícero, célebre político e orador da Roma antiga, para designar os perigos e as ameaças inerentes a quem detém o poder. Ele mesmo morreu assassinado, tendo o vencedor, o general Marco Antônio, pendurado as mãos e a cabeça do vencido no Fórum Romano.
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