NOME DE POBRE NO BRASIL

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A SABEDORIA PAI D'ÉGUA DOS ALMANAQUES

Fim de 2014. Rotação e translação. A Terra vai enfim completar mais uma volta em torno do Sol, depois de 365 dias e algumas horas. Em torno de si mesma, ela faz o percurso todos os dias. O “quando” tem muito a ver com o “onde”. O tempo e o espaço são irmãos gêmeos. Júpiter leva 11 anos e 314 dias para dar uma volta completa ao redor do Sol. Você descobre a sua idade em Júpiter dividindo-a por 11,3. Este colunista tem 66 anos. Se vivesse em Júpiter (teria 66:11,3=) 5,8. O ano de Plutão é 248,09 vezes maior do que o da Terra. Parece paradoxal, mas se eu vivesse lá, ainda não teria nascido. Como se vê, a volta ao passado não é impossível. A sabedoria dos almanaques é, além do mais, divertida. E onde entram os bichos, as narrativas ficam ainda melhores. O chimpanzé (não é “chipanzé”, como tantos escrevem) adora formigas. E, para caçá-las, mete um galho seco no formigueiro. Os insetos atacam o inimigo, grudando no graveto. E ele se banqueteia com o espeto corrido. Já formigas africanas, ditas caçadoras, atacam um búfalo ferido e de lasquinha em lasquinha, em apenas dez horas, levam os 400 quilos do animal para o formigueiro. Em Jerusalém descobriram um tipo de barata atleta, capaz de correr um metro por segundo. Se jogasse futebol, seria um Garrincha: é capaz de mudar de rumo 25 vezes por segundo durante a corrida. A abelha não morre quando ataca outro inseto. Mas quando pica uma pessoa, a pele dos humanos não lhe permite retirar as pequenas hastes do ferrão: sai junto o abdome, e a abelha morre. Na Idade Média, por superstição, faziam armadilhas para matar gatos. Curiosos, eles iam verificar as arapucas, gerando o ditado: a curiosidade matou o gato. A maioria dos gatos mortos era de cor preta. Desde então é má sorte encontrá-los. Almanaque designa no Árabe o descanso das caravanas de camelos. É quando se contam histórias de todos os gêneros. Afinal, Xerazade ensina: narrar é adiar a morte. (*) Escritor e professor, da Academia Brasileira de Filologia, autor de De onde vêm as palavras (17ª edição) e de Avante, soldados: para trás (publicado também em outros países).

domingo, 21 de dezembro de 2014

O QUARTO REI MAGO

O QUARTO REI MAGO DEONÍSIO DA SILVA º Para Arlinda Volpato, artista plástica Recente manuscrito, encontrado em cavernas próximas de Quram, na região do Mar Morto, traz novas e surpreendentes informações sobre a vida de Jesus. A começar pelo título, que, diferentemente dos anteriores, aparece em letras grandes, encimando a narrativa, e não se chama Evangelho de Fulano, Beltrano, Sicrano ou Outro, mas simplesmente A Vida do Menino Jesus.
Escrito em sânscrito e de autoria feminina, é obra de uma donzela vinda da Índia, acompanhando Jesus, que lá esteve dos doze aos trinta anos, isto é, desde o episódio em que se perde propositalmente dos pais na visita ao templo de Jerusalém, quando então desaparece de todas as narrativas, até sua volta para a Galileia, onde começa a pregar, aos trinta anos. Um dos parágrafos mais desconcertantes é a visita dos magos ao menino, narrada até agora exclusivamente pelo Evangelho de Mateus, uma vez que todos os outros evangelistas o ignoravam ou o omitiram, por razões que desconhecemos. Afinal, os textos sobre o que se entende por A Vida de Jesus, isto é, sua biografia, principalmente os quatro canônicos ou oficiais, mais do que os apócrifos, estão repletos de insólitas contradições, de complexas sutilezas e de mistérios mirabolantes que já duram mais de dois milênios. Mas o que diz Mateus neste parágrafo que todos os outros omitiram? Não sabemos. O original perdeu-se e talvez um dia seja encontrado em outra caverna, preservado por bibliotecário ou bibliotecária anônima – sabemos que mulheres gostam muito de guardar tudo, começando por guardar o sêmen que recolhem dos homens para gerar outros homens, do contrário a espécie desapareceria. Guardar é, pois, prosseguir. Esta é a concepção que elas têm da vida. O que sabíamos da visita dos magos até agora estava exclusivamente nas traduções do texto de Mateus, que fez uma longa viagem, cheia de escalas em muitos portos e portas, fossem de entrada, fossem de saída. Partiu do aramaico, passou pelo hebraico, pelo grego, pelo latim e dali seguiu para muitas outras línguas, incluindo o português, trazido da Europa para o Brasil pelos primeiros navegadores que aqui aportaram entre os séculos XV e XVI. Diz Mateus em alguns poucos versículos do capítulo dois que “nascido Jesus em Belém da Judeia nos dias do rei Herodes, magos vieram do Oriente a Jerusalém para adorá-lo”. Mateus não disse que eram três, nem que eram reis. Não disse também o que nos informa Pradusta – só sabemos o nome da autora no final, pois ela data e assina o documento -, que entre os magos havia uma mulher chamada Asherath, que também estava grávida, e que não trouxe nem ouro, nem incenso, nem mirra, mas um jarro com água fresca. Mulher é assim: pode dar atenção a metais, unguentos e essências que melhorem o ambiente, mas jamais se esquece do essencial. Terminada a adoração, Pradusta diz que os outros magos deixaram a gruta, mas Asherath, não! Ficou conversando mais um pouquinho com o casal e com o menino. Entre as revelações surpreendentes estão estas: José e o menino também falaram. Sabemos que nenhuma criança nasce falando, língua é preciso aprendê-la, qualquer que seja ela, e que José jamais disse coisa alguma em nenhum dos evangelhos. Ele apenas faz o que é necessário para proteger e criar o menino. Desconfia, mas faz. Desconfia que não é o pai do menino, mas fica com Maria, por conselho recebido de um anjo em sonhos. Desconfia que Herodes quer matar o menino e, a conselho do mesmo anjo, de novo em sonhos, foge com a sagrada família para o Egito. Na História da Salvação, foi necessário que José morresse antes do Filho, do contrário teria impedido que ele fosse crucificado. O manuscrito está incompleto, mas vai fazer uma reviravolta na biografia de Jesus. Um comentarista já escreveu que o baralho foi o primeiro documento a reconhecer Asherath na rainha, mas Carlos Magno determinou que ela fosse representada no coringa. O manuscrito continua em exames, pois, sendo apócrifo, pode ser falso. (xx) º Da Academia Brasileira de Filologia, é escritor e professor. Seus livros mais recentes são De onde vêm as palavras (17ª edição) e o romance Lotte & Zweig, já publicado também em outros países.

MISTÉRIOS E SEGREDOS DO CALENDÁRIO

O ano de 2014 envelheceu e vai morrer no dia 31. No dia seguinte, vai nascer um bebezão que já tem nome: 2015. O calendário é irmão da agricultura e da pecuária, surgidas no Neolítico, quer dizer pedra nova (10 mil anos a.C.). Os homens tinham aprendido a fazer ferramentas e passaram a viver em povoações ou aldeias próximas aos rios, de modo a terem água para si mesmos e para os animais que tinham domesticado, como a vaca, a camela e a cabra, que davam leite para eles e para as crianças; e o boi, o camelo e o cavalo, nos quais eles montavam ou aos quais adaptavam carroças e arados, para irem de um lugar a outro, transportarem mercadorias e lavrar a terra para o plantio.
Tal como hoje, eles já precisavam de autoridades para dirimir rivalidades, palavra do mesmo étimo de “rio”. As primeiras autoridades foram os mais velhos. Tais resquícios ainda permanecem em modernos sistemas de poder. Senado tem o mesmo étimo de senex, velho, ancião. E as crianças sabem que podem recorrer aos avós, o STF delas. Os primeiros homens olharam para o Céu para organizar a vida na Terra. A agricultura, a pecuária e o calendário estão ligados ao poder, dado como de origem divina, a teocracia, em que a política é exercida por sacerdotes, intermediários da vontade dos deuses. Dois vestígios deste tempo quase imemorial são o papa e o calendário, chamado gregoriano, porque foi o papa Gregório XIII que, em 24/02/1582, decretou que naquele ano o dia seguinte a 4 de outubro fosse o dia 15. Aqueles dez dias foram para as calendas gregas. Calendário veio de calendae, o primeiro dia de cada mês, palavra do mesmo étimo de calare, convocar. Autoridades religiosas e jurídicas convocavam a todos para nesse dia pagar as contas.
No calendário, o dia e a noite são as medições mais antigas. Em segundo lugar vêm a semana e o mês, medidos pelas quatro fases da Lua. Em último, o ano, que mede o tempo (52 semanas, 12 meses) que a Terra leva para dar uma volta ao redor do Sol. O primeiro dia de nossas vidas é o aniversário. O último é um mistério. (xx) (xx) º da Academia Brasileira de Filologia, escritor, professor federal aposentado, dá videoaulas à distância na Estácio (RJ), é colunista da Caras (SP) e da Bandnews (RJ), e diretor-adjunto da Editora da Unisul (SC).

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

ALGARISMOS ROMANOS. MAS, ALGARISMOS?

Este foi um dos programas mais ouvidos no ano de 2014! Foi sobre ALGARISMOS ROMANOS. MAS, ALGARISMOS? Por que razão os números têm a forma atual: o número 1 tem um ângulo; o número 2 tem porque tem dois; e assim por diante. ZERO, em árabe, tem o significado de VAZIO. Os romanos entretanto tinham apenas letras; I (um), V (5), X (10), L (50), C (100), D (500), M (1.000). O ano de 2014 é escrito assim: MMXIV De 1 a 10: I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X. De 20 a 100: XX, XXX, XL, L, LX, LXX, LXXX, XC, C. De 200 a 3000: CC, CCC, CD, D, DC, DCC, DCCC, CM, M, MM (2.000), MMM (3.000). Deonísio tem LXVI anos (66). Nasceu em MCMXLVIII (1948). Os algarismos arábicos na verdade são indo-arábicos, pois houve contribuição dos hindus na pesquisa que levou à invenção dos algarismos pelo matemático e astrônomo Abu Jafar Muhammad Ibn Musa Al-Khwarizm (nascido em 780; morto m 850), natural da localidade de Kharizm. Ele foi para Bagdá, no atual Iraque, a convite do califa Abû al-`Abbâs al-Ma'mûn `Abd Allah ben Hârûn ar-Rachîd, mais conhecido por Al-Mamum (nascido em 786; morto em 833). Esse califa (lugar-tenente de Deus na Terra, vigário, mesmo título do Papa) queria reunir os sábios do mundo inteiro na capital de seu império, com vistas a fazer de seu reino um centro que contemplasse todos os saberes. Os romanos não precisavam do zero porque não estavam interessados em cálculos e, sim, em determinar quantidades, contando animais, armas, objetos, soldados, pessoas. E durante muitos séculos toda a Europa, ignorando o zero, viveu muito bem sem ele. Mas a numeração romana persistiu nos nomes de papas, de reis, de séculos, de ruas, das horas nos relógios, dos capítulos de livros etc. números e ângulos.jpg

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

SETE COISAS QUE EU SEI SOBRE GAÚCHOS

SETE COISAS QUE EU SEI SOBRE GAÚCHO.
Morei muito tempo no Brasil meridional e aprendi o seguinte: 1) O Rio Grande é o único estado da federação que faz divisas com três países: Uruguai, Argentina e Brasil. 2) Os gaúchos acham que o Atlântico tem água salgada porque a indiada batia os espetos do churrasco perto de sangas, riachos e rios, que, claro, levaram toda essa água salobra para o mar. 3) Eles acham que o Sol é um fogo de chão que alastrou e ficou fora de controle e ninguém mais pôde apagar; de repente fica fraquinho, quando desce lá pelos lados de Uruguaiana, porque bate o minuano ou uma brisa vinda de Alegrete e ele diminui bastante; 4) Ensinam ciência errado nas escolas: a extinção dos dinossauros deu-se em razão de uma churrascada muito do exagerada que se fez; 5) O Saara antigamente era uma floresta com madeira muito apropriada para canzil, canga e... espeto; navegadores que saíram da Lagoa dos Patos em busca de lenha, trouxeram uns galhos de lá e desde então sempre voltaram para buscar mais; 6) Gaúchos vão pro céu: O Coiso não quer saber de pelear com eles na eternidade; 7) Gaúchas vão pro céu também porque lá o capataz é São Pedro: ele gosta de organizar uns fandangos aos quais até o Patrão comparece com Muié, Filho e Espírito Santo.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

DEONÍSIO DA SILVA: ENTREVISTA A BRUNA FÜCHTER NOS 130 ANOS DA HOEPCKE

Confira a entrevista com Deonísio da Silva, etimologista da revista CARAS 09/12/2014 Isto se chama etimologia, uma atividade fascinante em busca da origem das palavras. Ninguém melhor que ele, professor, etimologista brasileiro e autor de diversos livros premiados para falar conosco sobre o assunto: DEONÍSIO DA SILVA. Deo, como gosta de ser chamado pelos amigos, escreve há 20 anos uma coluna semanal de etimologia na revista CARAS, onde traz curiosidades sobre a origem das palavras. Conversamos com ele sobre seu trabalho e de onde vêm suas inspirações. Confira esta entrevista exclusiva abaixo (Bruna Füchter)
1- Você assina uma coluna na revista Caras sobre etimologia, ou seja, sobre a origem e o significado das palavras. Como você faz para escolher as palavras que serão abordadas? As palavras são escolhidas por vários critérios, mas damos atenção especial àquelas que estão na ordem do dia. Se os leitores repararem bem, as palavras que se destacam no dia a dia estão na revista CARAS. E de seis delas, toda semana, os assinantes e os leitores eventuais sabem a origem, de onde vieram, que escalas fizeram em outras línguas, o que significavam anteriormente e o que hoje significam. 2- O que “palavra” significa para você? Tudo! Com ela amamos, trabalhamos, lutamos, vivemos. Gente de palavra é gente séria. Os vários significados de "palavra", de que é exemplo a expressão "ser pessoa de palavra", isto é, honesta, faz coincidir o que diz com o que é e com o que faz. Mas "palavra" tem suas complexas sutilezas. Ela é meio estranha, provém de uma adaptação feita pela Igreja, que dominou o império romano do século IV ao XV: sua origem é o Hebraico "párehál", que passou ao Grego como "parabolé", virou "parabola" no Latim e "palavra" no Português. "No princípio era o Verbo". "In principio erat Verbum", na tradução do Grego ou do Aramaico, feita por São Jerônimo, para a versão Vulgata, da bíblia, diz o Evangelho de São João, o mais culto dos quatro narradores oficiais. O Alemão prefere "Wort", sempre com inicial maiúscula, mesmo no meio das frases, porque é um substantivo. E mesmo as palavras cruzadas os alemães chamam "Kreuzworträtsel" (eles nunca mexeram no trema!), em que o étimo de "Wort" está ali no meio. O Inglês prefere "word", que, aliás dá nome a um programa de informática para escrever. Mas línguas neolatinas, muito influenciadas pelo Latim eclesiástico, mantiveram o étimo vindo do Hebraico, do Grego e do Latim. "Parola", em Italiano; "parole", em Francês; "palabra", em Espanhol. Veja que, quando os Ingleses inventaram o sistema dos aristocratas consultarem também a burguesia urbana e os produtores rurais para as decisões de governo, eles trouxeram uma palavra de origem francesa, o "parliament", do Latim "parabolare", que deu "parlare" em Italiano e "parler" em Francês. Até o Alemão respeitou este étimo, aceitando "Parlament" em lugar de "Bundeshaus". 3- Qual o poder da palavra no dia a dia? Respondo com um trecho do romance "Avalovara", do escritor Osman Lins, professor da USP, que sei de cor, pois acho memorável: "A palavra sagra os reis, exorciza os possessos, efetiva os encantamentos. Capaz de muitos usos, é também a bala dos desarmados e o bicho que corrói as carcaças podres". Ou com Carlos Drummond de Andrade: "Lutar com palavras é a luta mais vã, entanto lutamos, mal rompe a manhã". Quanto a mim, me defino como "botânico e jardineiro das palavras". Botânico, porque as pesquiso e as ensino aos alunos e aos leitores. "Jardineiro", porque nos romances e contos, eu as trato como flores, para fazer buquês que, espero, levem bons aromas, novos significados, mensagens, entretenimento e segredos embutidos, como as flores. Não sou "gigolô das palavras", como se autodefiniu Luís Fernando Veríssimo. Eu as trato com amor! Aliás, não sou o único a fazer isso, claro. Sérgio da Costa Ramos, para mim o maior cronista do Brasil, faz isso tão bem ou melhor do que eu. 4- Você vem da literatura, já publicou diversos romances e contos. Como é para você escrever para uma revista? Quanto à linguagem, é preciso adaptar-se. O estilo não é o mesmo dos contos e dos romances, não pode ser o mesmo dos "papers" acadêmicos, senão meus textos não seriam entendidos pelo grande público, nem sequer lidos. Quanto a tamanhos e prazos, eu aprendi desde os meus verdes anos a ter disciplina no trabalho e em tudo o que eu faço, ou em quase tudo. Nunca atrasei uma coluna. 5- Há alguma palavra com significado especial pra você? Sim, muitas. Gosto muito de "açucena", uma planta ornamental, que veio do Árabe "as-susana", cujo étimo foi parar em nomes femininos em várias línguas, e que significa lírio, o tal copo-de-leite, como é mais conhecido no Brasil meridional. O "sim" é muito bonito, não apenas nos casamentos, mas nas concessões, nas ajudas, na solidariedade. João Cabral de Melo Neto tem um verso que diz "é tão belo como um sim numa sala negativa", em canção que o Chico Buarque gravou. "Não" também é bonito, ainda mais que tem este xibolete que só o Português, a língua do "ão", tem. 6- O que você gosta de fazer nos momentos de lazer? Ouvir música, principalmente clássica, ler, conversar com amigos, principalmente à beira de pratos e copos, comendo e bebendo, vinho principalmente, pois "in vino veritas" (no vinho, a verdade), e minha maior paixão, inclusive diante das pessoas, é pelo conhecimento, que, como sabemos, desde os tempos míticos do Paraíso traz a morte, pois morreremos disso desde a velha praga divina: "No dia em que comerdes do fruto da árvore do conhecimento, morrereis". Era o fruto proibido! 7- Atualmente mora onde? Vem com frequência vem a Florianópolis? Moro no Rio de Janeiro há doze anos! Desde que, pelo romance "Teresa D´Ávila", já adaptado para teatro, meus ex-colegas da infância e da adolescência me redescobriram, venho com muita frequência a Florianópolis para encontrá-los, principalmente ao Wilson Volpato, seus familiares e amigos comuns. Eu adoro a prosa catarinauta, tão rara em minha vida de expatriado do estado. Os catarinenses têm uma melodia na voz, falam cantadinho, um diapasão que eu perdi no rude sotaque de gaúchos e parananenses, nas palatais retroflexas fortes de paulistas e paulistanos, no chiado de cariocas e fluminenses. E desde há alguns anos, passo uma semana por mês em Florianópolis para desenvolver com Laudelino Sardá um projeto editorial na Unisul, a convite do reitor Salésio Herdt.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

PANDORA, LILI, EVA: TRÊS MULHERES COMPLICADAS

Os antigos gregos consideraram a esperança um dos males que afligiam o mundo. Por isso a colocaram lá no fundo da caixa de Pandora. Mas a caixa foi aberta e os males se espalharam. A esperança era um dos males porque poderia enganar os homens sobre o futuro, fazendo-os acreditar em coisas que jamais aconteceriam.
A doutrina da Igreja pensou diferentemente. Elaborada por sábios, homens experimentados, quase todos anciães, trouxe a esperança ao lado da fé e da caridade para que o trio formasse as três virtudes teologais. Se não foram velhos que as elaboraram, foram velhos que as sancionaram. A Igreja sempre deu preferência aos velhos em seus quadros dirigentes. Ainda hoje é dirigida por um colégio de cardeais, quase todos sessentões ou setentões, presididos por um deles, eleito por seus pares.
Depois, para alcançar o mágico número sete, vieram as quatro virtudes cardeais: temperança, justiça, fortaleza, prudência. Pandora, para os gregos; Lili, para os judeus; Eva para os cristãos. Três versões da criação da primeira mulher. Pandora foi encomenda de Zeus a dois outros deuses: Hefesto e Atena. Ela tem todos os dons, como o nome indica. Cada um dos deuses lhe deu uma qualidade: graça, beleza, persuasão, inteligência, paciência, meiguice, habilidade na dança e nos trabalhos manuais. Prometeu avisou a Epimeteu, seu irmão, que não recebesse nenhum presente dos deuses. Mas ele se esqueceu da advertência e casou-se com Pandora.
A caixa que ela abriu era dele. Tinha ganhado de outros deuses de presente de casamento, mas deveria permanecer fechada. Nas três versões, a mulher leva o homem para maus caminhos. Esses mitos nascem na passagem do matriarcado para a patriarcado. Bom domingo para todos, na companhia de suas Pandoras, Lilis, Evas ou outros nomes. A essência feminina está em todas elas. (xx) º da Academia Brasileira de Filologia, escritor, professor de videoaulas à distância na Estácio (RJ), colunista da Rádio Bandnews (RJ) e diretor-adjunto da Editora da Unisul (SC).