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quarta-feira, 8 de setembro de 2021
A OCASIÃO FAZ O LADRÃO?
Machado de Assis discordou. Está no romance "Esaú e Jacó", cap. LXXV, intitulado PROVÉRBIO ERRADO: “- Não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito".
Diversos códigos penais basearam-se em tão triste concepção do gênero humano para vazar seus artigos. Segundo tal hipótese, o que garante não haver ladrões é um eficiente sistema de punição.
Nas 282 cláusulas do Código de Hamurábi, baixado pelo rei da Babilônia no século XVIII a.C., as punições a furtos e roubos ocupam boa parte do diorito, a rocha em que estão gravadas: “Se o comprador não apresenta o vendedor e as testemunhas perante as quais ele comprou, o comprador é o ladrão e morrerá. E o proprietário retoma o objeto”; “se alguém comete roubo e é preso, ele é morto.”.
Machado de Assis (1839-1908), ainda que tão cínico e mordaz, corrigiu a máxima com muita propriedade para: “Não é a ocasião que faz o ladrão, o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: a ocasião faz o furto; o ladrão já nasce feito”. Pensando bem, é quase pior.
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